Dados do IBGE apontam que Feira tem o 3º maior PIB do estado desde 2004
Com uma
população de 614 mil habitantes - a segunda maior da Bahia, depois de
Salvador - Feira de Santana é o município baiano que mais cresceu em
contribuição para o PIB (Produto Interno Bruto) do estado nos últimos 16
anos. Desde 2004, a cidade tem o terceiro maior PIB da Bahia, atrás
somente de Salvador e Camaçari (confira todos os valores no final da
matéria). Os dados são de 2018 e pertencem à pesquisa PIB dos
Municípios, divulgada, nesta quarta-feira (16), pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com a
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI).
Em 2002, de R$ 100 gerados no território
baiano, R$ 3,7 eram de Feira. Já em 2018, a participação do município
cresceu para R$ 5,1, ou seja 5,1% do que é produzido na Bahia tem origem
feirense. Segundo o IBGE, a cidade tem forte presença de serviços
privados, os quais representaram 65,1% do valor gerado em 2018. A
contribuição deste segmento pelo município subiu de 4,8% para 6,4% da
receita do estado. O aumento da participação de Feira também foi forte
no setor industrial, onde a produção cresceu de 2,9% para 4,5% em
relação à Bahia, entre 2002 e 2018.
De acordo com o secretário de planejamento de Feira
de Santana, Carlos Brito, esse destaque se deu, em primeiro lugar, pelo
compromisso com os gastos públicos. “Temos um governo que tem
responsabilidade com o recurso público e uma política de incentivos bem
sólida, atraindo um polo de serviços, de universidades, mostrando que
Feira é o lugar para se investir. Temos responsabilidade fiscal e um
nível de adimplência muito alto e isso tem levado a cidade a ter um
comércio forte e pujante”, observa o secretário.
Brito também ressalta as obras de construção civil
que modificaram a cidade. Segundo ele, foram gerados mais de 800
empregos diretos, a partir de um investimento de R$ 130 milhões na
construção de viadutos, túneis e pistas exclusivas para o BRT (sigla em
inglês para Ônibus de Trânsito Rápido). Fora os viadutos, que foram
construídos em 2005, o secretário não informou o período em que esses
investimentos ocorreram nem a quantidade. Brito estima que existe uma
população flutuante de 1 milhão de habitantes, que dinamizam o comércio
na cidade, principalmente o de rua - há quem diga que a Feiraguai é a 25
de março dos baianos.
Localização estratégica
Mas, um dos principais fatores para o sucesso do PIB em Feira de Santana
se deve a sua localização, como apontou a técnica da Superintendência
de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), Simone Pereira. “É um
dos maiores entroncamentos rodoviários do país, cortado por rodovias
estaduais e federais. Então tem uma localização estratégica, porque liga
o Nordeste ao Centro-Sul do Brasil e favorece um grande fluxo de
população, tem muita passagem de mercadoria e funciona como um pólo de
distribuição, fazendo com que seja atrativo para as empresas”, destaca
Simone. Dentre as federais, estão a BRs 324, 116 e 101. Já as
estaduais são a BAs 052, 502, 503 e 504.
A técnica aponta que a atividade de serviços é, de
fato, a que mais tem peso na composição da economia da cidade e
corresponde a 80%. Em segundo lugar, está a indústria, com 19,6%,
seguido da agropecuária, que representa 0,4% da geração de emprego e
renda.
Comércio competitivo
Além da
facilidade do escoamento de produtos, outro fator que contribui para o
PIB em Feira de Santana é a forte presença do comércio. “O comércio de
Feira de Santana é muito competitivo. Além da facilidade do escoamento
da produção, Feira tem um comércio atraente, que, para quem quer
instalar um negócio, é uma grande vitrine para a empresa. Você tem a
proximidade com o porto, com o aeroporto, com a Região Metropolitana de
Salvador e com grandes centros de consumo, que são ingredientes muito
fortes”, argumenta Cloves Cedraz, presidente da Federação das
Associações Comerciais da Bahia.
Quando foi presidente da Associação Comercial
de Feira de Santana, entre 12 e 15 anos atrás, Cedraz relembra um dos
incentivos que pleiteou com a prefeitura, de reduzir a porcentagem do
tributo ISS (Imposto Sobre Serviço) de 5% para 2%. O acordo fechou em
3%, para que universidades e laboratórios, hospitais e clínicas pudessem
se instalar no município com menos custos. A contrapartida era o
oferecimento de bolsas de estudo para servidores públicos municipais.
“Com o passar do tempo, isso atraiu muitas empresas. Porque além de você
diminuir o imposto, você ofereceu uma demanda para o mercado”, avalia o
presidente.
Dentre as faculdades que foram atraídas para a
cidade, estão a Unifacs, a Pitágoras e a Uniasselvi. Há também a
instalação da Le Biscuit, que hoje é uma das 100 maiores empresas
varejistas do Brasil, assim como a rede de combustível Menor Preço. As
duas têm a base estabelecida em Feira de Santana. Na indústria, os
destaques vão para a fábrica da Nestlé, a Pirelli, que fabrica pneus, a
Belgo Bekaert, maior produtora mundial de arames, Vipal, fabricante de
borrachas, e a PepsiCo, produtora de salgadinhos.
Para o economista Danilo Peres, da Federação das
Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), o forte do comércio em Feira de
Santana é o setor de alimentos. “O principal é a parte de alimentos que
se instalaram, como a PepsiCo, a Nestlé, a Brasfrut, que utilizam aquele
local para distribuir produtos para o Nordeste todo. A Nestlé, que é a
principal, quando foi instalada, pensou em um local pequeno e duplicou
sua produção. Tem outros setores também, como a Pirelli, que também
dobrou sua produção. Então isso fez com que Feira crescesse muito”,
analisa Peres.
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Economista da FIEB Danilo Peres avalia que Feira de Santana tem forte presença do setor de alimentos |
O
economista sinalizou que o PIB não é o único fator que deve ser
analisado para medir o desenvolvimento econômico de uma cidade. “Muitas
vezes o PIB não reflete o desenvolvimento econômico da cidade. É preciso
levar em consideração outras características, como a presença de
hospitais, centros de pesquisa, universidades e serviços mais
sofisticados na área da saúde. Esse conjunto de atividades dão uma
dinâmica e forma a pujância de uma cidade, quando você tem na cidade
serviços que não precisa ir para outros lugares. E, mais do que isso,
ela acaba sendo um pólo atrativo”, pontua. Peres afirma que Feira também
tem essa característica, o que favorece ainda mais seu desenvolvimento
econômico, que ainda tem grande potencial.
O PIB é calculado a partir da soma de todos os bens e
serviços finais produzidos. O levantamento do IBGE analisa os valores
brutos de três setores da atividade econômica - agropecuária, indústria e
serviços - assim como impostos, líquidos de subsídios, o PIB e o PIB
per capita, de todos os 5.570 municípios do Brasil.
Concentração de riqueza
O PIB de Salvador foi estimado, em 2018, em R$
63,5 bilhões, avançando nominalmente (considerando a inflação) em
relação aos R$ 62,8 bilhões em 2017 (+1,1%). Considerando-se todas as
5.570 cidades do país, a capital baiana encerrou em 10º lugar no
ranking dos maiores PIBs municipais.
Na Região Nordeste, Fortaleza, com um PIB de R$ 67 bilhões, lidera o ranking.
De acordo com a pesquisa, Salvador, Camaçari e Feira
concentraram 50,8% do valor produzido na Bahia, em 2018. Só a produção
da capital baiana sozinha foi igual à soma do PIB dos 362 municípios
baianos com menor PIB em 2018, que representam 86,1% dos 417 municípios
do estado. Juntos, os 362 municípios geraram riqueza de R$ 62,9 bilhões e
Salvador gerou R$ 63,5 bilhões.
Principais mudanças do ranking
Apesar da concentração, as principais mudanças no ranking do 10
municípios com maior e menor PIB na Bahia foi a cidade de Luís Eduardo
Magalhães (R$ 6,2 bilhões em 2018) ter ultrapassado Simões Filho (R$5,8
bilhões) e passou a ser a 7ª maior Economia baiana. Já Barreiras passou
do 10º para o 9º lugar (R$ 4,7 bilhões) e Candeias (R$ 4,4 bilhões)
entrou no grupo, subindo de 11º para 10º. Por outro lado, Itabuna (R$
4,1 bilhões) deixou o top 10 e caiu de 9º para 13º lugar, entre 2017 e
2018.
No outro extremo, os três municípios da Bahia com os
menores PIBs, em 2018, foram Ibiquera (R$ 27,7 milhões), Dom Macedo
Costa (R$ 32,1 milhões) e Contendas do Sincorá (R$ 36,9 milhões) - que
não fazia parte desse trio em 2017, mas caiu duas posições de um ano
para outro, superado por Cravolândia e Lafaiete Coutinho.
Bahia tem os dois maiores PIBs agropecuários do Brasil
O destaque da pesquisa vai para dois municípios que ficam no Oeste da
Bahia, São Desidério e Formosa do Rio Preto, que tiveram o primeiro e o
segundo maior PIB agropecuário do Brasil. São Desidério teve uma
produção de R$ 2,5 bilhões e cresceu 65,2% em relação a 2017 (R$ 1,5
bilhão). O setor corresponde a 70,5% da economia da cidade. Já Formosa
do Rio Preto produziu o equivalente a R$ 1,8 bilhão e cresceu 71,6% em
relação a 2017 (R$ 1,1 bilhão). O principal produto da região é a soja,
segundo a SEI, mas o IBGE também ressaltou a produção de algodão.
A boa situação das lavouras de commodities fez com
que São Desidério e Formosa do Rio Preto estivessem ainda entre os
municípios que mais ampliaram sua participação no PIB baiano entre 2017 e
2018, com o maior ganho e o terceiro maior, respectivamente. São
Desidério avançou de uma participação de 0,88% para 1,27% do PIB do
estado, enquanto Formosa do Rio Preto aumentou de 0,65% para 0,94%.
Além desses dois municípios, Barreiras também passou
a figurar entre os 10 maiores valores gerados pela agropecuária
brasileira, na 9ª colocação em 2018 (frente à 24ª em 2017), com um valor
de R$ 1,1 bilhão. Estes três municípios baianos são os únicos fora da
região Centro-Oeste no “top-10” do PIB agropecuário.
São Francisco do Conde cai de 7º para 10º maior PIB per capita do Brasil
A cidade de São Francisco do Conde, na Região Metropolitana de Salvador
(RMS), caiu no ranking nacional de PIB per capita, que é o valor do PIB
dividido pela população. Ela saiu da 7ª para 10ª posição, mas se mantém
o maior PIB per capita da Bahia, com R$ R$ 225.290,31. Esse valor
corresponde a 7 vezes o valor do país e 12 vezes o valor do estado.
Camaçari, que também fica na RMS, perdeu o posto de segundo maior PIB
per capita para São Desidério (R$ 109.841,86), e também foi ultrapassada
por Formosa do Rio Preto (R$ 106.481,34), município que ocupa agora o
terceiro lugar.
Administração pública é mais da metade do PIB de 26,1% dos municípios da Bahia
A administração pública foi a maior parte do PIB de quase 3 em cada 10
cidades baianas, em 2018. Segundo o IBGE, as atividades ligadas à
administração, defesa, educação e saúde públicas e seguridade social
representavam mais da metade do valor gerado em 109 dos 417 municípios
da Bahia, isto é, 26,1% do total.
Além disso, se fosse somado às cidades em que, mesmo
quando não era mais da metade do PIB, a administração pública ainda
tinha o maior valor adicionado, chegava-se a 306 dos 417
municípios baianos. Ou seja, a administração pública era a principal geradora de
riqueza para pouco mais de 7 em cada 10 cidades do estado (73,4%). O
Instituto avalia que uma maior dependência da administração pública
reflete menor dinamismo da economia municipal.
10 maiores PIBs da Bahia / participação no PIB da Bahia
Salvador: R$ 63,5 Bilhões / 22,19%
Camaçari: R$23, 8 Bilhões / 8,32%
Feira de Santana: R$ 14,7 Bilhões / 5,13%
São Francisco do Conde: R$ 8,8 milhões / 3,1%
Vitória da Conquista: 7 Bilhões / 2,46%
Lauro de Freitas: R$ 6,5 Bilhões / 2,25%
Luís Eduardo Magalhães: R$ 6,2 Bilhões / 2,16%
Simões Filho: R$ 5,8 Bilhões / 2,03%
Barreiras: R$ 4,7 Bilhões / 1,66%
Candeias: R$ 4,3 Bilhões / 1,52%
10 menores PIBs da Bahia/ participação no PIB da Bahia
Macururé: R$ 43.463 mil / 0,02%
Ichu - R$ 43.130 mil / 0,02%
Aiquara - R$ 41.111 mil / 0,01%
Pedrão - R$ 40.542 mil / 0,01%
Gavião - R$ 38.835 mil / 0,01%
Lafaiete Coutinho - R$ 37.916 mil / 0,01%
Cravolândia - R$ 37.416 mil / 0,01%
Contendas do Sincorá - R$ 36.873 mil / 0,01%
Dom Macedo Costa - R$32.123 mil/ 0,01%
Ibiquera - R$27.699 mil / 0,01%
(EM VEZ DE MIL SÃO MILHÕES)
*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro