sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

O VAQUEIRO E O SEU CACHORRO TRIGUEIRO. CAUSOS DA SERRA DO ARARIPE

                                              .    Nenhuma descrição de foto disponível.

                                             Inserção de estátua do 'Cachorro Trigueiro' em obra construída em 1973 gera  polêmica em Serrita, PE | Petrolina e Região | G1

 

O VAQUEIRO E O SEU CACHORRO TRIGUEIRO.

CAUSOS DA SERRA DO ARARIPE

 

O  pescador tem a pecha de acrescentar algo nas suas pescarias, pesca um  lambari e diz que pegou um tubarão,  uma piaba e fala sem ficar com a cara vermelha que era uma baleia, jura de pés juntos que pelo tamanho,  era um filhote e ainda tinha  a anjuda de um tapiador para confirmar. Lembram do "É MENTIRA TERTA!?"  "VERDAADE!".

Quando menino, na  minha Chapada do Araripe, tinha um vaqueiro, que não vou  citar o seu nome,  que  diza que conversava com o seu cachorro trigueiro e todo  mundo ria da cara dele, inclusive falava que o trigueiro sabia ler o tempo, os fatos e conhecia os fenômenos da natureza, sabia quando iria chover e conhecia    o trincolejar de cada chocalho, sabia até   qual o animal que estava com ele no pescoço.   

Muitas vezes lhe informava se o animal estava morto ou vivo pelo tilintar do chocalho, e o levava até ao animal sem vida ou com um membro  quebrado. 

Uma vaca, um bezerro ou um boi picado por uma cascavel ou em apuros, o trigueiro não falhava, todas  as suas chamadas eram verdadeiras. 

O que impressionava era que ele sabia se era um bezerro    que ainda mamava ou um animal adulto, pois a vaca ficava pulando de um lado para o outro, a revelar que o problema era com a sua cria e o trigueiro ficava atento e agitado nestes casos.

Dizia que, quando algo de estranho acontecia,  logo  pela manhã, o trigueiro ficava na calçada de orelhas levantadas e focinho ativo, depois ficava de pé, entre latidos e rosnados, chamava o vaqueiro para lhe acompanhar. Entrava  na capoeira e só parava  no cadáver, no moribundo  ainda quente ou num animal em apuros. O Trigueiro era um animal sábio, um orientador,  o povo dizia:  " ESTE CACHORRO É UM FEITICEIRO".

Ninguém tinha a audácia de falar mal do vaqueiro na presença do cachorro, era tiro e queda, no mesmo dia o homem sabia de tudo. Iam até a casa do fuxiqueiro, ele o cachorro, este não tirava os dois olhos brilhosos e mirava os olhos   do falador,  com receio e assombrado, apenas confirmava o que havia dito, depois divulgava para toda a serra o episódio, isto reforçava a fama  que o cachorro era realmente  feiticeiro,  adivinhão ou a  encarnação de uma alma penada.

Certo dia, o vaqueiro adoeceu, o patrão e amigo o levou para Juazeiro do Norte, o cachorro trigueiro entrou em banzo. Não comia e nem latia, ficava com o olhar perdido, orelhas baixas, focinho colado ao solo, sem balançar o rabo, ficava a cochilar debaixo da rede do seu tutor, que sempre ficava armada e só era lavada de tempos em tempos, para o trigueiro, aquela rede impregnada de suor  era o próprio vaqueiro.  

Numa noite, sem de nada saber e  passado mais de dez dias, o trigueiro se levantou, disparou a latir e a andar em círculo. Latiu tanto que os demais moradores foram até a casa do vaqueiro. A sua esposa aos 80 anos caiu em prato, algo aconteceu  e pela manhã, todos aboletados defronte ao rádio de pilha, na casa do irmão do seu patrão, a  Rádio Iracema de Juazeiro do Norte  anunciou a fatídica notícia. É bpm frisar que  naquela época eram as as ondas curtas do rádio os mais modernos celulares e  assim se pronunciou o locutor Alceli Sobreira: 

"Atenção, atenção  todos os amigos da Serra do Araripe, o senhor  FULANO DE TAL ... informa que o Vaqueiro da Fazenda Alvorada, senhor BELTRANO DE TAL faleceu ontem à noite em Juazeiro do Norte, onde encontrava-se  internado por mais de dez dias". 

No fim da mensagem   Pedíu que avisassem a todos para participar da Missa de corpo presente, o patrão levava um padre amigo para celebrar o evento, e depois particpar do enterro  que será colado à capelinha, junto a casa que o mesmo morou por mais de 80 anos, pois quando os seus pais morreram ele continuo na mesma casa.

Depois do enterro, o cachorro trigueiro  se deitou por cima da cova e durante 30 dias não comia, apenas bebia, até  o  dia que foi cavado uma nova cova e sepultado o Trigueiro ao lado do seu companheiro de longa s datas, apenas  couro e osso.

Dizem os moradores de hoje, que não passam por este local, muitas vezes escutam o aboio do vaqueiro e o latir do Cachorro Trigueiro. Isto aconteceu na minha Chapada do Araripe e  eu juro que  não sou pescador.

 

Iderval Reginaldo Tenório

 

A Morte do Vaqueiro

2:40
Provided to YouTube by RCA Records Label A Morte do Vaqueiro · Luiz Gonzaga Pisa No Pilão (Festa Do Milho) ℗ 1963 SONY MUSIC ENTERTAINMENT ...
YouTube · Luiz Gonzaga - Topic · 25 de jan. de 2017

Nenhum comentário: