-CAUSOS DA MEDICINA-
UMA VISITA DE ENFERMARIA
Todas as sexta-feiras discutiam-se, na enfermaria de cirurgia, os casos médicos, o que deveria se realizado, isto é, as condutas.
Professores perfilados, inclusive o titular, médicos residentes e os seus internos, todos lado a lado ao redor do leito do paciente, este, no meio de tiroteio, enclausurado num cordão humano em forma de U.
Discutia-se a doença, os métodos diagnósticos, os planos medicamentosos, as melhores drogas e os procedimentos cirurgicos.
Chega-se ao leito 05, um grande queimado, geralmente um tratamento difícil, caro e demorado. Demanda banhos, curativos, analgesias, antibióticos, hidratação, reposição dos eletrólitos e muito cuidado.
Existiam
diversos tipos de antibióticos em forma de pomadas, um deles a famosa pomada FURACIN. Uma pasta mole, amarelada, de odor forte, oleosa, causadora de sujeiras
nos lençóis e nas roupas. Colocada nas lesões matava muitos tipos de bactérias, era a salvação dos queimados. À época, lá
pela década de 70, o FURACIN era o suprassumo farmacológico, os hospitais compravam em latas de mais de kilo.
No meio da visita, após acaloradas discussões, bem estudado o caso, analisado a melhor terapia e qual o prognóstico, foi aprovado por unanimidade o uso da maravilha do momento, a pomada FURACIN. O professor titular, numa mesa redonda, indagava aos membros da equipe algo sobre a milagrosa pomada ou creme. Para encerrar a vista dirige-se em voz alta a um dos internos, um sexto anista de medicina, e o indaga:
" Dr. Clemente, depois de tudo posto, pergunto: O senhor gosta de furacin?"
O Interno descontraído, com a voz empostada, olhou para todos do grupo e falou:
" Professor, eu nunca comi, mas deve amargar que só o diabo".
Tornaram-se grandes amigos.
Salvador 18 de outubro de 1986
Iderval Reginaldo Tenório
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