ZEZINHO E OS ABANDONADOS DO CARIRI CEARENSE
CEGO OLIVEIRA-JUAZEIRO DO NORTE-ESTE O ZEZINHO ESCUTOU MUITO.
Conta Zezinho, que quando criança, na sua
cidade natal, Juazeiro do Norte, lá no
Sul do Ceará, ficava impressionado e sempre que podia passava horas a observar os mendigos, os perambulantes e os moradores de rua da cidade. Estes cidadãos, sem cidadanias, eram chamados de esmolés. Todos que pediam eram
colocados no mesmo patamar, no mesmo balaio. Bastava um defeito físico,
visual, auditivo ou mental para serem tachados de mendigos.
Depois que atingiu a fase adulta, passou a entender o quadro sociológico e de invisibilidade daqueles humanos. Muitos eram doentes psiquiátricos e neurológicos esquecidos pela sociedade, alguns, vitimas do alcoolismo crônico, outros eram idosos e crianças abandonadas pelos familiares e pelos poderes publicos. A maior parte oriundo da camada mais baixa da pirâmide social, o que existia de comum era que todos viviam abaixo da linha de pobreza, no limbo social, na nação dos excluídos.
Agora
pasmem, diversos deles eram verdadeiros gênios das artes, das crendices populares e das matrizes religiosas universais. Muitos eram artistas natos, ícones do
regionalismo herdado das tradições milenares dos povos autóctones( os indíos, dos invasores estrangeiros, notadamente os portugueses e os holandeses, e dos africanos sudaneses originários da Nigéria, Daomé e Costa do Marfim, dos bantus capturados no Congo, Angola e Moçambique descarregados no país a partir do século XVI.
Estes abnegados poços de cultura, por serem deficientes físicos,
auditivos ou visuais utilizavam-se das artes, oferecidas por Deus, para as suas sobrevivências. Tocavam flautas, pífanos, pandeiros, lâminas de serrotes, cítaras, foles artesanais de oito baixos, a famosa pé de bode; rabecas,
triângulos, berimbaus, apitos, pratos, tambores, reco-recos, maracás, realejos, violões, cavaquinhos e diversos
outros instrumentos, às vezes, simultaneamente.
Perdia horas e horas a
ouvir os seus instrumentos, suas músicas e as suas vozes. Depois
de consciente e adulto, aquelas horas, de perdidas não tinham nada, foram horas achadas e importantes no forjamento da cidadania. Horas gravadas na mente e importantíssimas para a formação humana, social e cultural dos privilegiados que tiveram acesso aos legados daqueles descompromissados espetáculos.
O
que mais apreciava, eram as histórias cantadas nas suas características
vozes anasaladas, choradas, gemidas e arrastadas, como a pedir clemência.
Muitos
foram os
clássicos e os benditos gravados na mente de cada espectador, que durante a vida,
inconscientemente, repete e vive cada instante relembrado, cada rosto, cada gesto, cada acorde e cada tom de voz daqueles guerreiros Caririenses.
Zezinho tem gratidão eterna aos abnegados e
injustiçados gênios do seu Cariri, de sua serra do Araripe, de sua
Juazeiro do Norte e do seu abençoado Ceará.
Ao Cego Oliveira e a todos os
cantadores de rua, agradece pelas aulas não valorizadas à época e que
hoje cora de vergonha a face daqueles que viveram, nada fizeram e
não souberam valorizar aqueles professores que contavam a a história do seu povo através das artes.
Agradece aos professores da universidade da vida, aos difundidores das belas e democráticas culturas dos seus ancestrais.
Viva
os ícones que ficaram no esquecimento, mas que brotam de vez em quando dos infindáveis canteiros e pomares da sua mente.
Palavras do Zezinho:
"O meu muito obrigado aos meus eternos professores".
Salvador,18 de Março de 2023
Iderval Reginaldo Tenório
Adendo importante.
O que caracteriza a cidade de Juazeiro do Norte, é que foi fundada pelo Padre Cicero Romão Batista, padre que nasceu na cidade do Crato, da qual foi desgarrada a cidade de Juazeiro após o milagre da hostia sagrada em 1889, o estopim para a guerra da emacipação, chamada A SEDIÇÃO DE JUAZEIRO.
Muitos idosos, de todo o nordeste, tinham um compromisso com o Padim Ciço: Viver os seus últimos dias ao lado do fundador na meca do Cariri e lá ser sepultado no mesmo cemitério onde encontram-se os seus restos mortais.
Então, todos os anos, no mes de Novembro, dia de finados, muitos nordestinos visitam o Padre Cicero e uma parte finca residencia no município. Diferente das cidades praieiras como Santos, João Pessoa e Aracaju, nas quais migram para lá os grandes aposentados, homens e mulheres com boas rendas e muitos levam as suas familias. Para o Juazeiro migram os idosos pobres, doentes e sem paradeiros com a finalidade de honrarem o compromisso com o milagroso Padim.
É uma cidade com gente de todos os Estados do Nordeste. Muitos artesãos, violeiros, beatos, analfabetos e pedintes. Grandes comerciantes e industriais, centenas professores universitários e milhares de estudantes de nível técnico e superior de todo o país, por ser hoje um dos pólos universitarios, religioso e turístico do Brasil. É Juazeiro do Norte, hoje com 300mil habitantes, a metrópole finanaceira e aeroviária da região do Cariri Cearense. Num raio de 300 quilometros, é o seu moderno aeroporto, a ligação de mais de 1,5 milhão de habitantes com o resto do país.
Tudo tem que passar pela Meca do Cariri, A Capital da Fé.
Nas decadas de 50 , 60 e 70 iniciou o seu real crescimento para se transfornar na metrópole da região.
Era o seu slogan nestas décadas :
" Juàzeiro do Norte, a cidade que mais cresce no Nordeste e no Brasil"
Iderval Reginaldo Tenório
Pedro Oliveira nasceu em 1905, cego de nascença. Foi pedinte por muito tempo, quando aos 24 anos teve o primeiro contato com a rabeca, ...
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