sábado, 30 de setembro de 2023

ZEZINHO CRESCEU E COMPREENDEU O MUNDO

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ZEZINHO  AS COMPLEXIDADES E OS ENIGMAS  SOCIAIS

Zezinho, 10 anos de idade,  não compreendia a diferença entre as classes sociais.  Cresceu ouvindo que Deus é o pai de  todos os homens, e que todos têm os mesmos direitos, pelo menos   por parte do Criador.

Indagava para si o porquê  da fome, dos sofrimentos financeiros e de outras  demandas peculiares aos pobres.  Não digeria a ideia de tanta diferença entre as pessoas no tocante as dificuldades da vida se todos têm o mesmo pai, e por cima,  milagroso.

Se Deus é o pai de todos, quais são os  motivos de tantas mazelas, de tantas diferenças dentro da mesma família?  Não aceitava os ditados: filho de peixe, peixinho é e sempre será, filho de gato, gatinho será. Para os animais não humanos, o Zezinho achava  natural, uma vez que uma piaba jamais evoluirá para uma  baleia ou um tubarão, um  gato jamais se transformará em um leão ou em um   tigre de bengala, ao nascer gato, morrerá gato. 

Na  espécie humana, é literalmente  diferente, o filho do  pedreiro, marceneiro, gari ou zelador pode muito bem ser  professor,  médico,  advogado,  jornalista, filósofo, técnico qualificado, empresário de sucesso ou ter diploma de outros cursos superiores,  basta ser assistido pelos poderes públicos, pela sociedade, com seriedade e respeito,  e  fazer a sua parte, estudar,  dedicar esforços nas suas tarefas e ser aceito sem amarras preconceituais. 

O Zezinho, apesar de ser  apenas uma criança, tem  pensamentos cientificamente comprovados e com lucidez.  Revela para a sociedade, notadamente para os de sua convivência e os gestores,  que todos os seres humanos normais  nascem com inteligência e são capazes de  evoluir, precisa apenas explorar o cérebro com todos os meios disponíveis,  esta  é a afirmativa  do menino Zezinho. 

Perguntava o porquê alguns tinham escolas, casas, hospitais, roupas, mordomias  e outros são desprovidos destas demandas e propriedades, mesmo sendo filhos do mesmo pai e protegidos pela constituição do país. Na sua cabeça estes fatos não encontravam paradeiros, não estavam ao alcance dos seus pensamentos. Um pai tem que olhar para todos os filhos sem diferenciação e a nação dedicá-los os mesmos cuidados, era este o padrão que  Zezinho  possuía na vivência familiar.

Chegava em casa e não encontrava os utensílios domésticos que existiam na casa do patrão do seu pai, não entendia porque teria que dormir num girau, enquanto o filho do patrão dormia numa cama alta, cheirosa e fofa. Como explicar, se Deus é o pai de todos? Será que Deus gosta mais de um filho do que de outro? Será que ele só gosta dos ricos? Será? A cabeça do Zezinho vivia em eterna polvorosa, vivia em  voçoroca.

O Menino cresceu, passou a entender o teorema da vida, as engrenagens sociais e  a enxergar que existiam as classes sociais desde o surgimento da humanidade. Encontrou indícios   que as poderosas oligarquias faziam e fazem de tudo para que cada indivíduo se perpetue na sua clausura social, preso, fechado e blindado, ali nasceu e ali morrerá, principalmente nas nações do terceiro mundo onde o coletivo é suplantado pela individualidade e o sobrenome é um grande fator de peso social.

Passou a entender que para passar de um degrau a outro, de uma classe  a outra, o indivíduo tem que ser ousado e ir em busca  dos seus  direitos.  Entendeu que o humano  não pode baixar a cabeça, não deve rezar na cartilha da subserviência e sempre dizer amém numa ladainha decorada e conformativa.   

O homem tem que lutar e insistir contra os pensamentos dominantes das castas superiores, partir para uma luta democrática e exigir melhores dias para todos os seres humanos.  Para sair do fosso, tem que usar as ferramentas que as castas superiores  utilizam, tem que estudar, esforçar-se e não cair nas tentações impostas pelos dominantes. Deve ser resistentes  aos oferecimentos crônicos do pão e circo, como se a vida fosse apenas entretenimento e bucho cheio. Pensava, para os irracionias esta é a receita do sucesso, porém para os humanos não, os humanos possuem cérebro,   são seres   pensantes. Este modus operadi coaduna com os irracionais domésticos,   notadamente os cães, pois os silvestres lutam cotidianamente pela vida e pela  liberdade. Muitos chegam à morte na defesa de sua prole e na continuidade dos seus gens, veja  como exemplo a perspectiva de vida de um leão; na floresta vive no máximo 14 anos e em eterna luta, já no zoológico, com casa, comida, roupa lavada, sombra, cuidados diários, fotografias, filamagens  e   médico pode  atingir os 40 anos. Agora, pergunte ao mesmo qual a vida que escolherá.

 O Zezinho botou na cabeça, que apesar de existir uma carta nacional, chamada Constituição Federal, só lutando, brigando, exigindo, cobrando, esforçando-se, dedicando-se e correndo  é que conseguirá subir na escala social e sair do fosso no qual  nasceu. Compreendeu que o único e melhor caminho é no aproveitamento escolar, principalmente na base, na raiz, no caule, na primeira fase da vida, dos zero aos dezoito anos, notadamente nos prirmeiros oito anos, diz que esta é chave para um mundo melhor. 

 Compreendeu que até os 18 anos, o homem  tem que dedicar todos os esforços no aprendizado para um bom futuro. O aprendizado de uma profissão, uma atividade esportiva ou artística, tudo com a tutela da Escola. Sem estes predicados continuará eternamente na base da pirâmide social, sempre fazendo força e sendo esmagado pelas demais camadas. Continuará na famigerada renda baixa, viverá sem pensamentos próprios e sem autoestima. Sobreviverá das ajudas sociais e sem persosnalidade, viverá como folhas secas entregues aos ventos.

 O Zezinho acordou em tempo, venceu todas as barreiras e pede que todos lutem e acordem. Descobriu  que  a caixa é  blindada, quente e  as paredes  grossas, porém existe uma saída, uma porta  estreita, esguia, dolorosa e requer muitos esforços, coragem e força de vontade para transpô-la.

Requer foco, resiliência e determinação,  é a única comunicação honesta   entre as classes sociais. A porta existe e cabe a cada um encontrá-la. A chave, segundo Zezinho, encontra-se nos bancos escolares, que é  uma das propriedades para a sua conquista.  Ao vencer esta etapa a porta deixa de ser invisível. 

O que deixava e ainda deixa  o Zezinho indignado é  que ainda hoje, o ingresso numa boa escola é o normal para os que estão nas classes sociais mais altas e para os da raia baixa as dificuldades são abissais, não se conforma com este modelo. Se antes a preocupação era com a cama, o estômago e as vestimentas, hoje a sua preocupação é com a mente, a liberdade, os direitos e deveres, a isonomia nas oportunidades  e o futuro da humanidade  . 

Zezinho faz uma observação  cabal, diz que as crianças que nascem nas   altas classes sociais e de pais que estudaram, ao sair do útero da mãe recebem uma ferramenta para abrir a tão importante porta, uma  chave mestra  universal,  muitos não dão importânia  e ficam perambulando  sem rumo, porém é bem claro para os que nascem nas camadas baixas. Estes  têm que procurar a sua chave e ao encontrá-la não podem  perder  a oportunidade de utilizá-la com sabedoria e dedicação durante a vida. Com esta chave universal todas as outras portas ficarão mais fáceis de abrir.

Viva o Zezinho e que os outros sigam o seu caminho.

 Basta força, insistência, coragem e resiliência.   

Basta ser mais um ZEZINHO.

Iderval Reginaldo Tenório


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