UM CASAMENTO CELESTIAL , O SOL COM A LUA
Dizia dona Toinha , uma velha professora, que os índios, os negros, os orientais, os povos do início do mundo, os nossos ancestrais sabiam deste casamento desde os tempos da pré-história.
Falava que o sol era o pai, o rei, o deus , o médico e o cuidador do globo terrestre , enquanto a lua era a rainha, a deusa , a companheira inseparável do sol e também uma grande cuidadora, falava com tanta ênfase, com tanta certeza que todas as crianças literalmente acreditavam.
No decorrer dos anos o Zezinho começou a contestar estas verdades, perguntas surgiram : Como pode o sol se casar com a lua se a lua é filha da terra e a terra é filha do sol? Pode o avô se casar com a neta? outro fator importante que aprendeu , é que o sol é milhões de vezes maior do que a terra e esta cinco dezenas de vezes maior do que a lua, seria um casamento muito extravagante , estranho e exdrúxulo , viu também que o sol é uma bola de fogo muito quente, é encadescente e a lua muito fria . Outras perguntas surgiram: pode uma baleia se casar com uma piaba, um elefante se casar com uma abelha?. O Zezinho passou a não acreditar piamente na estória da professora Toinha, ficou convicto que se tratava de um conto de carochinha , um conto de fada .
Veio a adolescência, a idade adulta e a fase do amadurecimento . Como um despertar, o Zezinho voltou a acreditar naquela estonteante estória, começou a entender que além do estudo material, existencial e real, existe o estudo abstrato, virtual, invisível, o estudo dos fenômenos naturais e do imaginário humano .
O menino tomou conhecimento do mundo mitológico criado para dar vida aos fatos inanimados, aos fatos da imaginação , foi nesta ciência que enxergou a realeza do sol e o seu endeusamento, foi nesta atmosfera que sentiu a real aproximação dos dois corpos celestes , o astro rei, o sol, com a lua , um simples satélite .
Chegou a imaginar na adolescência que a terra fosse filha dos dois, pois
durante o dia o sol a alimentava com a luz da vida , à noite a mãe
lua recebia a luz do sol , purificava-a e
enviava para a sua filha terra, segundo dona Toinha, a inesquecível
professora, a luz do sol é a fonte da vida.
Na fase adulta confirmou os seus pensamentos com mais propriedades,
teve conhecimento que em nenhum momento, nem o sol e nem a lua
abandonam a terra, eles continuam eternamente a seu dispor, ora de um
lado, ora do outro, mas sempre a lhe proteger e prover o néctar da vida,
coisa que só os pais conseguem realizar . Daí passou a acreditar
neste belo casamento, passou também a enxergar nestes corpos celestes não
só a santidade , acrescentou mais algumas propriedades.
Concluiu que são os pais da terra e de todos que vivem nela, independente de qual reino pertençam , uma vez que não escolhem e nem selecionam para quem enviar os seus raios reepletos de energia. Inclusive são muito sábios, pois mandam muitos para determinadas regiões e poucos para outras, esta distribuição é apenas questão de tempo e de estratégia.
As regiões que recebem muito sol são secas e pobres em determinadas riquezas, principalmente na agricultura e pecuária, porém ricas noutras, muitas ainda desconhecidas pela civilização atual. Como no futuro, provavelmente, será o sol a única e promissora fonte de energia não poluente, a situação será invertida, ricos serão aqueles que mais receberão raios solares , é questão de tempo , de reverberação, coisa que só os luminosos possuem.
Hoje o Zezinho acredita na sua professora , acredita de corpo e alma que realmente o sol é o rei, a lua a rainha, a terra a sua filha e todos que nela habitam são seus dependentes.
Diariamente o Zezinho dá viva a mitologia, acredita nos fenômenos da natureza, que os corpos celestes interagem entre si , que Dona Toinha estava repleta de razão e as suas palavras não saem de sua cabeça.
Para o Zezinho a velha professora é uma filósofa, uma guru, uma sábia, é eterna , como eternos são o sol, a lua e a terra. Viva os professores, a natureza , a mitologia e a vida.
Zezinho é hoje mais um pecador, um vivente , um homem que acredita na vida, um dos filhos da Terra e neto do Sol e da Lua.
08 de abril de 1998
Iderval Reginaldo Tenório
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