O ACORDAR NO SERTÃO
UMA MEMÓRIA VISUAL E OLFATIVA
Levanta ainda no breu da madrugada, lava o rosto numa bacia esmaltada, dentro meio litro de água barreta livre dos girinos, dos insetos , dos ciscos e de outras estruturas que existem nos barreiros.
Coloca lenha no fogão feito de tijolos e pedras cruas, junta duas touceiras de capim seco entre as finas toras de madeira , com um palito de fósforo, contado, ateia fogo na inflamável gramínea. Com a cabeça lateralizada, assopros rítmicos, alguns gravetos , fumaça a arder os contraídos olhos e impregnando o ressecado rosto ajuda o surgimento das labaredas, fogo em chamas, esboço de sorriso .
Das ripas selvagens que sustenta as telhas pretas, devido a fumaça do dia a dia , desce um grosso arame que termina em gancho, neste uma lata de flandres redonda , com uma marca de óleo quase que apagada devido as labaredas cotidianas nas fervuras da água .
Assopra-se o chumaço de capim ressecado entre os gravetos , labareda alta, lata pelo meio de água, duas colheres de café em pó e uma de açúcar.
Antes do precioso preparo transbordar com a fervura , puxa-se o arame, a lata e num coador feito de saco de algodão passa-se o aromático café. Esta é uma das cenas gravadas na cabeça do sertanejo onde ele se encontre.
É na infância que se forja um homem.
Salvador, 18 de setembro de 2006
Iderval Reginaldo Tenório
É a história do sertanejo.
Iderval Reginaldo Tenório
A VOLTA DA ASA BRANCA - LUIZ GONZAGA - YouTube
Um comentário:
(...) lata pelo meio de água, duas colheres de café em pó e uma de açúcar.
Pois é meu Dr. Antes mesmo, bem antes, era rapadura cortada aos pedaços ou raspada.
Já raspei rapadura para a minha mãe coar o café.
Postar um comentário