O VÍRUS HTLV
Diário Catarinense
Contagioso como Aids, perigoso como câncer
Em 18 anos como presidente do Grupo de Apoio e Prevenção à Aids (Gapa), em Florianópolis, Helena Lima Pires foi surpreendida, dias atrás, por um homem que buscou ajuda na instituição. "Sou portador do HTLV e preciso de apoio", disse o paciente de 52 anos. O que aos ouvidos de Helena, em princípio, parecia um erro, anunciava, na verdade, uma doença ainda pouco conhecida.
Acostumada a siglas como HIV (vírus da Aids), HCV (hepatite C) e HPV
(câncer de cólon de útero), entre outras denominações, Helena ouvia pela
primeira vez sobre a doença que tem formas de contágio muito parecidas
com as das Aids. O vírus é causador de leucemia e de uma doença
neurológica que leva à dificuldade de locomoção e atinge olhos, pele e
articulações.
Estima-se que cerca de 2 milhões de brasileiros estejam infectados.
Preocupada, Helena foi em busca de informações. "Não podemos deixar que
se transforme em epidemia, como ocorreu com a Aids", defende. "Existe a
necessidade de se implantar políticas públicas e de se reforçar as
existentes, como forma de conscientizar as pessoas", sugere a presidente
do Gapa de Florianópolis.
Helena diz que se preocupou ainda mais ao saber que não havia boletim
epidemiológico da doença em Santa Catarina. "Por acaso o paciente chegou
aqui. Mas como será que ele lida com a questão em relação ao sexo
seguro, por exemplo?"
Infelizmente, conta Helena, na vez que buscou informação na gerência de
DST Aids do Estado, e mesmo na prefeitura de Florianópolis, as pessoas
demonstram desconhecimento. Com relação ao Centro de Hematologia e
Hemoterapia de Santa Catarina (Hemosc), explica Helena, não existe o
exame confirmatório para a realização do teste.
Ontem à tarde Helena buscou mais dados junto ao Ministério da Saúde, em
Brasília. Foi informada sobre uma pesquisa realizada na Bahia e no
Maranhão, com a prevalência considerada alta.
"Historicamente Santa
Catarina lidera os casos de Aids no país. Temos um grande número de
idosos infectados, portanto, acho que o Estado deveria ter sido também
incluído na pesquisa", reclama.
O médico infectologista Antônio Miranda, que trabalha no Hospital Nereu
Ramos, reconhece a doença como nova e grave. Conforme ele, existe baixa
incidência e o paciente é crônico. "Não há o que fazer", diz.
O que é preciso saber
- O que é o vírus HTLV?
O vírus HTLV (sigla da língua inglesa que indica vírus que infecta
células T humanas) é um retrovírus isolado em 1980 a partir de um
paciente com um tipo raro de leucemia de células T. Apresenta dois
tipos: o HTLV-I, que está implicado em doença neurológica e leucemia, e o
tipo 2 (HTLV-II), que está pouco evidenciado como causa de doença.
- Todas as pessoas que estão infectadas pelo HTLV-I irão desenvolver alguma doença?
Não. A minoria dos portadores assintomáticos (sem sintomas) poderá desenvolver alguma doença.
- Quais os primeiros sintomas?
Estima-se que 99% das pessoas portadoras nunca irão desenvolver qualquer
problema relacionado ao vírus. Mas alguns pacientes poderão ter
problemas neurológicos, como dores nos membros inferiores
(panturrilhas), na região lombar, dificuldades de defecção e de urinar.
- Quais os modos de transmissão mais freqüentes do HTLV?
Os mesmos de vírus como o da Aids e da Hepatite C: relação sexual
desprotegida com pessoa infectada, uso em comum de seringas e agulhas
com pessoas contaminadas, mãe infectada para o recém-nascido
(principalmente pelo aleitamento materno).
- Existe risco de transmissão através da transfusão de sangue?
Desde 1993 os bancos de sangue do país fazem testes do HTLV para
doadores, o que leva ao descarte do sangue, caso seja identificado.
- Como se faz o diagnóstico da infecção pelo HTLV-I?
Somente por exame sorológico específico para pesquisa de anticorpos
anti-HTLV no sangue. Após os exames de triagem, geralmente utilizando o
teste de Elisa, existe uma necessidade, em caso de este ser reativo
(positivo), da realização do teste para confirmar e diferenciar
anticorpos anti-HTLV-I e anti-HTLV-II.
Tratamento.
Como o risco do desenvolvimento da doença associado ao HTLV é muito baixo, não há tratamento
específico para a infecção. O paciente deve ser acompanhado em serviço
de saúde especializado, para diagnosticar e tratar precocemente doenças
que podem estar associadas.
Tratamento geral e sintomático:
No que diz respeito ao tratamento sintomático da paresia, com intuito de
melhorar a força, manter a musculatura ativa, evitando a atrofia e
contraturas, sugere-se: Fisioterapia para o fortalecimento dos membros
superiores e do tronco; treinamento de equilíbrio estático e dinâmico;
manobras de reabilitação muscular; melhora da amplitude articular;
treinamento de marcha; uso de órteses, quando necessário; e nos
cadeirantes a terapia ocupacional.
Quanto ao tratamento sintomático da espasticidade, com a finalidade de
melhorar a mobilidade, sugere-se o uso de relaxantes musculares ou
toxina botulínica. O tratamento sintomático da bexiga neurogênica
inclui: cateterização vesical intermitente de 4/4 ou de 6/6 horas,
objetivando um volume residual inferior a 500 ml, além de alguns
medicamentos.
O tratamento para os sintomas decorrentes da constipação intestinal
crônica inclui: avaliação nutricional, objetivando uma dieta
anticonstipante, rica em fibras e com elevado teor hídrico; mucilóide
psyllium ou óleo mineral via oral de 1-3 vezes ao dia, dentre outros.
Dores neuropáticas de origem medular, radicular ou neural periférica:
Amitriptilina, Nortriptilina ou Imipramina, Gabapentina, Carbamazepina
ou Hidantoína.
Tratamento específico:
Não há consenso na literatura acerca da existência de um tratamento
específico comprovadamente eficaz para as manifestações neurológicas do
HTLV. Nessa circunstância, sugere-se o encaminhamento para centros
especializados.
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