(ABC, Espanha, 4 de setembro de 2019)
O recorde de incêndio foi registrado em 2005 com 89.315, o dobro do registrado neste ano
O desastre na Amazônia causado pelos incêndios registrados durante a presidência de Luis Inácio Lula da Silva não atraiu tanta atenção internacional como os que ocorreram nos últimos meses com Jair Bolsonaro na presidência do Brasil, mas continuam se destacando nas estatísticas nacionais.
Se forem analisados os focos de incêndios registrados na Amazônia brasileira entre janeiro e agosto (para comparar melhor com os oito meses em que Bolsonaro está na presidência do país), o registro das últimas duas décadas corresponde a cinco anos da presidência de Lula.
Em seu primeiro ano de mandato, em 2003, houve 63.229 incêndios até o final de agosto (com Jair Bolsonaro houve 45.283). Nesse mesmo período anual, houve 78.239 incêndios em 2004 e 89.315 em 2005; outros picos também foram registrados em 2007 (60.651) e no último ano da presidência de Lula, em 2010 (57.194), segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil.
Os cinco anos negros da era Lula para a biosfera Amazônica também constituíram um recorde em termos de área queimada, cada um superior a 100.000 quilômetros quadrados, com os picos de 2004 (157.007) e 2005 (160.858) ) Até o momento, entre janeiro e julho deste ano, 18.629 quilômetros quadrados foram queimados.
Desmatamento
Esses dados não prejudicam a perda ecológica que os últimos incêndios supõem, nem servem para garantir o pouco respeito demonstrado por Bolsonaro à realidade das mudanças climáticas, mas contextualizam o que está acontecendo na região.
O desmatamento da região amazônica vem de trás, impulsionado principalmente pela extensão do cultivo de soja, destinado a imensos mercados como a China. O enorme peso dos interesses agrícolas - algumas das mais importantes multinacionais de alimentos do mundo são brasileiros - determina a vida política do país e decide o voto de muitos governadores, senadores e deputados. Bolsonaro contou com seu triunfo eleitoral com o apoio de grande parte desse "lobby", como em seus dias com Lula, embora o novo presidente tenha demonstrado menos sensibilidade ambiental e alinhamento mais claro com esses interesses.
A área de cultivo de soja e a produção alcançada nas lavouras tiveram um crescimento exponencial nos últimos anos. Os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) representam 50% da produção mundial de um alimento que se tornou estratégico. Brasil e Argentina são os produtores de segundo e terceiro mundo, respectivamente, depois dos Estados Unidos. A Bolívia também aderiu a uma colheita muito atraente para os agricultores, que nos diferentes países da região vêm ganhando terras para esse uso na Amazônia e no Gran Chaco.
Entre 2012 e 2017, o ano mais recente em que a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) oferece dados, no Brasil o número de hectares com esta safra aumentou 35,8%, de 24 milhões de hectares para 33,9 milhões. O salto foi ainda maior em termos de produção de soja, com um aumento de 74%, de 65 milhões de toneladas para 114 milhões.
Por sua parte, o presidente Evo Morales também teve que lidar com a proliferação de incêndios na Amazônia boliviana. Embora a extensão da soja também esteja sendo forçada aqui, muito provavelmente parte das áreas queimadas acabam destinadas à coca. Morales chegou à presidência de seu cargo de líder sindical cocalero e, durante seus 13 anos de governo, confiou no voto desse setor. Em 2017, quase dobrou o limite do cultivo autorizado de folhas de coca (considerado parte da vida indígena), de 12.000 para 22.000 hectares. No entanto, o cultivo de coca excede em muito esses números todos os anos. Segundo Washington, em 2016, 37.500 hectares deveriam ter sido contabilizados.
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