Texto: Herton Escobar
ENVIADO ESPECIAL
CURITIBA
Fonte: Jornal O Estado de São Paulo
TERRA E MAR EM PERIGO
Somente 9% da superfície terrestre do planeta ainda é coberta por florestas
"intactas", nas quais estão concentradas mais de 50% das espécies
terrestres conhecidas. Ao lado dos oceanos, outro principal reservatório de
biodiversidade, as florestas estão criticamente ameaçadas, assim como as
espécies que ali residem.
0 alerta vem de dois estudos apresentados ontem
pelo Greenpeace na 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade
Biológica (COP 8), em Curitiba. Segundo a ONG, cerca de um quinto das
formações florestais da Terra já foi significativamente degradada ou alterada
pelo homem. Nos oceanos, onde o declínio de espécies também avança em ritmo
acelerado, a organização propõe a criação de uma rede de áreas protegidas que
cobriria nada menos do que 40% da superfície marítima do planeta.
"Os mais importantes hábitats na Terra são
as florestas e os oceanos", disse o pesquisador Christoph Thies, da
campanha internacional de Florestas do Greenpeace. "Só nas florestas,
temos mais de metade das espécies terrestres em menos de 10% de território. É
uma combinação extremamente perigosa." Segundo o relatório, 60% dos
países (82 de 148) que originalmente apresentavam formações florestais não
têm nenhum remanescente intacto dessas formações.Segundo Thies, não há
informações suficientes para dizer exatamente qual era a cobertura florestal
original do planeta, em comparação aos atuais 9%.A estimativa, entretanto, é
que, sem a interferência do homem, cerca de 45% da superfície terrestre hoje
seria coberta por algum tipo de formação florestal.
Os pesquisadores definem "floresta
intacta" como uma área de no mínimo 500 quilómetros quadrados que não
tenha sido significativamente alterada pelo homem. A seleçao foi feita por
uma combinação de imagens de satélite (com resolução de 30 metros) e mapas
topográficos. Foram excluídas as áreas com alterações visíveis do espaço ou
conectadas por algum tipo de infra-estrutura de maior escala, como estradas e
linhas de energia (uma indicação de ocupação humana). Não significa que sejam
desabitadas, mas que a influência do homem não foi suficiente para alterar a
cobertura vegetal.
Por esses critérios, mais de 95% das florestas
intactas estão concentradas em 20 países entre eles o Brasil, que, segundo o
relatório, "derruba mais áreas de floresta por ano que qualquer
outro".A América Latina é a campeã entre os continentes,com 35% dos
remanescentes intactos (55% no País).
Apenas 8% estão rigorosamente protegidos em todo
o mundo. "Deveria ser no míninio 50%."
OCEANOS
No ambiente marítimo, os ambientalistas estão
preocupados principalmente com a pesca predatória em águas
internacionais(além das 200 milhas náuticas de jurisdição dos países), que
correspondem a 64% dos oceanos. "É a região menos regulamentada do
planeta", disse o pesquisador Karen Sack, da campanha de Oceanos do
Greenpeace. "Fora do alcance da fiscalização, os barcos de pesca fazem o
que querem. O resultado tem sido uma incrível destruição da vida selvagem e
dos ecossistemas marinhos."
Como solução, o Greenpeace propõe a criação de
uma rede de 25 áreas protegidas que proibiria a pesca em 40% dos oceanos do
planeta. Hoje, menos de 1% dos mares está protegido por unidades de
conservação. Além disso, a organização reinvindica uma moratória
internacional imediata sobre a pesca de arrasto em águas profundas,
considerada a atividade mais destrutiva dos oceanos.
"Esperamos que esta conferência envie uma
mensagem muito importante às Nações Unidas comrelação a isso", disse
Sack. "É preciso agir imediatamente. Negociações levam tempo, mas os
oceanos não têm esse tempo a perder."
A proposta teria um impacto económico gigantesco
sobre a indústria pesqueira.
Mas, segundo Sack, beneficiaria a atividade a
longo prazo, ao proteger as áreas mais importantes para reprodução e
sustentabilidade das espécies e dos estoques pesqueiros.
Entre elas, os topos e encostas de montanhas
submersas, que concentram grande parte da biodiversidade oceânica.
Segundo Sack, estudos indicam que populações de
grandes peixes oceânicos, como atum, tubarão e espada, já foram reduzidas em mais de 90%
por causa da pesca. "Os pescadores estão acabando com seu próprio
negócio."
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