...e o sono da razão ainda produz monstros. Um breve ensaio contemporâneo acerca da ignorância e do desprezo pela intelectualidade
É factível termos um assomo subconsciente, quase epifânico,
diria- outros talvez necessitem algum tempo para vir à sua mente-, quando
ouvimos, mais uma vez, depois de ter sido essa máxima histórica usada em discursos
de índole filosófica, escritos eruditos e entraves políticos, éticos, sociais e
de múltiplas naturezas, que o sono da razão produz monstros.
A robustez desta redação concebida por Francisco de Goya, artista
plástico espanhol contemporâneo ao período do romantismo e rococó europeus,
numa de suas telas em que a oração faz-se mais inolvidável do que a própria
pintura, versa acerca da aversão aos estudos; apego à ignorância; desprezo pela
intelectualidade e a fácil sujeição à constante sugestionabilidade. Mentes
perigosas; antros das mais insensatas conclusões; das mais insustentáveis
convicções pautadas na desinformação, estão fadadas a cair na vala comum, sem
qualquer licença e propriedade argumentativa.
É a figura humana provida da capacidade de deliberar acerca de
um objeto, de uma tese ou de argumento, por tão somente ser dotada da razão,
não obstante uma ignóbil parcela de indivíduos prefira não se utilizar desta
faculdade tão poderosa. Mais do que nunca o cenário global está polarizado, as
opiniões se dividem entre certos e errados, dificilmente entre quem respeita as
duas óticas e esses, não raro, são quase
rechaçados por não tomarem um dos lados.
A formação e o cumprimento do papel de cidadão com a prática
da justiça, com a idoneidade, com a música, com a leitura, com a escrita –
atreladas à práxis da gramática e das artes-, formam o homem perfeito idealizado
por Platão. Todavia sem buscar a maestria, que não nos utilizemos da falsa
erudição, de pensamentos corrompidos, de opiniões respaldadas na necessidade que
iludem o incauto que, atraído como que inseto pela luz ofuscante não enxerga os
fatos à sua frente.
Marcus Alves – 10/04/2020
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