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FRAGMENTO DO CAP 100 DA MAIOR OBRA SOBRE OS NEGROS
AMERICANOS- NEGRAS RAÍZES
DE
ALEX HALEY
......
"E todas as noites, ao que consigo recordar-me, a
menos que ouvisse alguma notícia local, elas falavam sobre as mesmas coisas. Só mais
tarde é que eu viria saber que era a longa e acumulada história da família, transmitida de
geração para geração.
Era essa conversa que gerava os únicos atritos que me
lembro de ter visto surgir entre mamãe e vovó. Vovó, às vezes, se punha a falar sobre o
assunto, mesmo quando as mulheres mais velhas, suas convidadas do verão, não estavam
presentes.
Não demorava muito para que mamãe dissesse
rispidamente algo assim:
— Ora, Mamãe, eu gostaria que você parasse com toda
essa bobagem ultrapassada do tempo da escravidão. É muito embaraçoso.
Ao que vovó
reagia prontamente:
— Se você não se importa quem é e de onde veio, eu me
importo!
E as duas podiam passar um dia inteiro sem se falarem,
às vezes mais.
Seja como for, fiquei com a impressão inicial de que
aquela conversa entre vovó e as outras mulheres de cabelos brancos, o que quer que
fosse, era algo que remontava a um passado distante. Quando uma delas recordava algo da
infância, apontava para mim e
dizia:
— Eu não era maior do que esse menino!
A noção de que uma pessoa tão velha e encarquilhada
pudesse ter sido da minha
idade era algo que escapava-me à compreensão. Mas foi
isso que me fez pensar que as coisas de que elas falavam eram muito antigas.
Sendo apenas um menino, eu não podia entender boa
parte do que elas falavam. Não sabia o que era um “massa” ou uma “missis”, não
entendia o que era uma “plantação”, embora julgasse tratar-se de algo parecido com uma
fazenda. Mas, aos poucos, de ouvir as histórias todos os verões, comecei a reconhecer nomes
frequentemente repetidos e a lembrar de coisas que haviam sido ditas a respeito de
tais pessoas. A pessoa mais antiga de quem falavam era um homem a quem davam o nome de
“Africano”, que fora trazido para
aquele país por um navio e desembarcado num lugar
chamado “Naplis”.
Elas contavam também que ele fora comprado por um “Massa
John Waller”, que tinha uma plantação num lugar chamado “Condado de
Spotsylvania, Virgínia”.
Contavam como o Africano tentara fugir diversas vezes.
Na quarta tentativa, tivera o infortúnio de ser
capturado por dois brancos caçadores profissionais de escravos, os quais aparentemente
haviam decidido fazer dele um exemplo.
Haviam dado ao Africano a opção de ser castrado ou ter
o pé cortado.
E, “graças a Jesus ou não estaríamos hoje aqui
contando a história, o Africano preferira o pé. Eu não podia entender como homens brancos eram
capazes de fazer uma coisa tão terrível.
A vida desse Africano, contavam as mulheres, fora
salva pelo irmão do Massa John, um Dr. William Waller.
Ele ficara tão furioso com a mutilação desnecessária
que comprara o Africano para trabalharem sua própria plantação. Embora o Africano
estivesse aleijado, podia sempre trabalhar em alguma coisa e fora cuidar do jardim e da
horta. Fora por isso que o Africano fora mantido na mesma plantação por tanto tempo, numa
época em que os escravos especialmente os homens, eram vendidos com tanta
frequência que a maioria das crianças escravas não tinha a menor ideia de quem eram seus
pais.
Vovó e as outras diziam que os africanos que
desembarcavam dos navios negreiros recebiam nomes novos, dados por seus massas. No caso
particular do Africano, fora-lh dado nome de “Toby”. Mas elas diziam que, sempre que
algum outro escravo chamava-o assim, ele reagia imediatamente, declarando que seu
nome era “Kinty”.
Capengando de um lado para outro, cuidando do jardim e
da horta, depois tornandose o cocheiro do massa, “Toby”
— ou “Kintay” — terminara conhecendo e casando-se com
uma escrava, a qual vovó e as outras mulheres chamavam de “Bell, a cozinheira da
casa grande”. Haviam tido um filha, a quem deram o nome de “Kizzy”. Quando ela
tinha quatro para cinco anos, o pai Africano começara a levá-la a passear, sempre que
tinha uma oportunidade.
Apontava-lhe diversas coisas e repetia os nomes em sua
língua nativa. Ele apontava, por exemplo, para uma guitarra e dizia algo que se
parecia com “ko”. Ou então apontav para o rio que corria perto da plantação, o Rio
Mattaponi, e dizia algo que soava como “Kamby Bolongo”. E falava ainda muitas e muitas outras
coisas.
A medida que Kizzy foi crescendo, o pai Africano havia
aprendido inglês um pouco melhor, passando a contar-lhe histórias a respeito de
si mesmo, de sua gente, de sua terra e como fora roubado de lá. Ele dissera que estava na
floresta, não muito longe de sua aldeia, cortando madeira para fazer um tambor, quando fora
surpreendido por quatro homens subjugado e levado para a escravidão.
Quando Kizzy tinha 16 anos, contaram vovó Palmer e as
outras mulheres da família Murray, fora vendida para um novo massa, Tom Lea, que
possuía uma pequena plantaçã na Carolina do Norte. E fora nessa plantação que Kizzy
tivera um filho, cujo pai era Tom Lea, que dera ao menino o nome de George.
Quando George tinha quatro ou cinco anos, a mãe
começara a contar-lhes as histórias e as palavras que ouvira do Africano, até que ele as
conhecesse profundamente. Quando George tinha 12 anos, fora entregue a um certo Tio
Mingo, contavam as mulheres na varanda. Era esse Tio Mingo quem cuidava dos galos de
briga do massa, e George tornara-se o ajudante dele. Ainda adolescente, George conquistara
tamanha reputação entre os aficionados de brigas de galo que ganhara o apelido
que levara para o túmulo:
“Chicken George”.
Quando tinha 18 anos, George conhecera e casara-se com
uma moça escrava
chamada Matilda, que acabara lhe dando oito filhos.
A cada criança que nascia, diziam vovó e as outras,
Chicken George reunia a família em sua cabana de escravo, contando novamente a
história de seu avô Africano chamado “Kintay”, que chamava uma guitarra de “ko”, um rio na
Virgínia de “Kamby Bolongo” e outros nomes estranhos, que dissera estar cortando
madeira para fazer um tambor quando fora capturado e reduzido à escravidão.
As oito crianças cresceram, casaram-se, tiveram seus
próprios filhos. O quarto filho, Tom, era um ferreiro quando fora vendido com o resto
da família para um “Massa Murray”, que possuía uma plantação de tabaco no Condado de
Alamance, Carolina do Norte. Lá, Tom conhecera e casara-se com uma moça escrava que era
meio índia, chamada Irene, qu vinha de uma plantação de um certo “Massa Holt”, que
tinha também uma fábrica de
algodão. Irene tivera também oito filhos. A cada
criança que nascia, Tom mantinha atradição do pai, Chicken George, reunindo a família e
contando a história do Africano e de seus descendentes.
Desse segundo grupo de oito filhos, a caçula era uma
menina chamada Cynthia. Ela tinha apenas dois anos, quando o pai, Tom, e o avô,
Chicken George, haviam liderado uma caravana de carroções de escravos recentemente
libertados a caminho do Oeste, até Henning, Tennessee. E fora lá que, aos 22 anos de
idade, Cynthia conhecera e se casara com Will Palmer.
Quando eu estava profundamente imerso a escutar as
histórias dessas pessoas
misteriosas que tinham vivido há muito tempo e em
lugares distantes, a longa narrativa finalmente chegava a Cynthia… e eu me empertigava,
espantado, olhando para vovó! olhava também, aturdido, para Tia Viney, Tia Matilda,
Tia Liz, que eram irmãs mais velhas de vovó e tinham viajado também no tal carroção.
Continuei com vovó em Henning até depois que dois
irmãos nasceram, George em
1925 e Julius em 1929. Papai vendeu a serraria para
vovó e tornou-se professor de
Agricultura. Vivíamos onde quer que ele ensinasse. O
período mais longo foi no A&M College, em Normal, Alabama. Certa manhã, quando eu
estava na escola, recebi um recado para ir correndo para casa. Ao chegar, ouvi os soluços
desesperados de Papai.
Mamãe, que volta e meia estava doente desde que
partíramos de Henning, estava
estendida na cama, morta. Corria o ano de 1931.Ela
tinha 36 anos.
Todos os verões, George, Julius e eu íamos para
Henning, ficar com vovó. Era evidente que algo nela desaparecera, depois que vovô e mamãe
tinham morrido. As pessoas que passavam pela rua sempre a cumprimentavam.
— Irmã Cynthy, como é que tem passado?
— Apenas passando…
Dois anos depois, papai casou-se novamente, com uma
colega professora, Zeona
Hatcher, de Columbus, Ohio, onde ela conseguira fazer
o mestrado, na Universidade Estadual de Ohio. Ela se encarregou’ de cuidar e criar
três meninos que cresciam depressa e ainda nos deu uma irmã, Lois.
Eu tinha acabado o segundo grau e me alistado na
Guarda Costeira dos Estados
Unidos, aos 17 anos, quando a segunda Grande Guerra
começou. No meu navio de transporte de munição, cruzando o Pacífico Sudoeste,
encontrei a longa estrada que me levou a escrever NEGRAS RAÍZES."
CORAL AGBÁRA - VOZES DA ÁFRICA - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=4uIL4QcZ1hU
29 de dez de 2011 - Vídeo enviado por InstitutoYorubaTV
Coral de música Africana-Yorùbá no Brasil Criado em 2008, por iniciativa do Instituto de Arte e Cultura ...Música Africana - Afrikan Sisters/Quem Acredita em Deus - Missão ...
https://www.youtube.com/watch?v=Za5v-EEIFTo
25 de out de 2010 - Vídeo enviado por Lamuka Thay
QUEM ACREDITA EM DEUS, LOUVOR EM AFRICANO Interpretada pelo grupo Afrikan Sisters ...Coro Vosu - Syahamba - Tradicional Africano - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=1epyMdEAiew
29 de set de 2013 - Vídeo enviado por Kenshin Trek
La canción tradicional africana "Syahamba". Interpretada por el coro de no videntes "Vosú" (Voces y ..
Alexander Murray Palmer Haley (Alex Haley) (Ithaca, 11 de agosto de 1921 - Seattle, 10 de fevereiro de 1992) foi um escritor estadunidense. É conhecido principalmente por seus relatos sobre a escravidão
Sua obra mais conhecida é "Roots: The Saga of an American Family", publicado em 1976. O romance foi adaptado duas vezes para a televisão. Suas obras se baseiam principalmente nas histórias de sua própria família, dando uma interpretação da viagem de um Africano kunta Kinte para a América durante o período da escravidão.
O sucesso da primeira obra foi fundamental para que Haley pudesse continuar escrevendo sobre a mesma temática. A história rendeu debates incessantes na televisão sobre a questão do preconceito contra negros nos EUA. Os debates aconteceram até a década de 1990.
Sua obra mais conhecida é "Roots: The Saga of an American Family", publicado em 1976. O romance foi adaptado duas vezes para a televisão. Suas obras se baseiam principalmente nas histórias de sua própria família, dando uma interpretação da viagem de um Africano kunta Kinte para a América durante o período da escravidão.
O sucesso da primeira obra foi fundamental para que Haley pudesse continuar escrevendo sobre a mesma temática. A história rendeu debates incessantes na televisão sobre a questão do preconceito contra negros nos EUA. Os debates aconteceram até a década de 1990.
Data da primeira publicação: 17 de agosto de 1976
Gênero: Ficção
Adaptações: Raízes (1977), Raízes (2016)
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