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HISTÓRIAS
REGIONAIS DA CHAPADA DO ARARIPE.
DONA
MARIA DUZINHA , SEU JOSE MANOEL E DONA QUITONHA, TRÊS HUMANOS QUE FIZERAM A
DIFERENÇA.
I
O ano era 1954, o mês era dezembro, o
país em frangalhos, o mais popular de todos os presidentes, o Getúlio Vargas, cometera suicídio no dia 24 de agosto , ainda
hoje pairam tenebrosas dúvidas. A elite atropelava
a nação com os seus caprichos, em todos os recantos grassavam as doenças, a
fome, o crime organizado e o abandono das classes mais pobres.
Sofriam os Estados mais dependentes, aqueles que não possuíam infra estruturas, os que ficavam mais distantes da capital da nação, o Rio de Janeiro. A malária, a febre amarela, a dengue , outras mazelas virais e bacterianas matavam a rodo nos rincões do norte, do nordeste e do Brasil central, como também nas zonas rurais dos mais apaniguados, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas, Paraná e Rio de Janeiro.
Sofriam os Estados mais dependentes, aqueles que não possuíam infra estruturas, os que ficavam mais distantes da capital da nação, o Rio de Janeiro. A malária, a febre amarela, a dengue , outras mazelas virais e bacterianas matavam a rodo nos rincões do norte, do nordeste e do Brasil central, como também nas zonas rurais dos mais apaniguados, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas, Paraná e Rio de Janeiro.
II
José Manoel um pequeno produtor rural
morava no topo da serra do Araripe, uma chapada que fica na divisa do Ceará com
Pernambuco, hoje patrimônio Nacional, fora orientado pelo Padre Cícero do
Juazeiro do Norte , vivia da plantação do feijão de pau, feijão de corda, feijão
de arranca, fava, milho, batata doce, da vermelha e, da mandioca,
da criação dos animais bovino pé duro e indubrasil, do porco, do bode, do carneiro,
do cavalo, do jumento e do burro, vivia da galinha dangola , carijó e do peru, era um
trabalhador incansável, inteligente e muito diligente, num raio de quarenta quilômetros era quem comandava e ao mesmo tempo o intermediário
daquele povo com os centros urbanos da região na comercialização dos seus produtos .
Foi pioneiro em quase tudo, o
primeiro motor a gasolina para a produção da farinha de mandioca, modernizando
os aviamentos, o primeiro caminhão, o
primeiro carro de passeio, bicicletas,
rádio, foi mestre na construção de estradas para o escoamento da lavoura , era quem abastecia a região de gasolina e querosene
para os pequenos produtores, foi também o responsável por introduzir os utensílios
domésticos e tudo que se consumia na região, foi seu José Manoel quem incentivou
as famílias da região a comprarem casas no Exu, Poço Verde, Bodocó, Ouricuri, Araripe,
Crato , Juazeiro do Norte, até Caruaru e Petrolina com a finalidade de colorarem os jovens na
Escola, aquele que não tinha condições , ele comprava e doava
a fundo perdido, muitos foram beneficiados.
O Zé Manoel era um incansável visionário
e futurista, dizia que só a educação poderia salvar os mais pobres e assim se
pronunciava para todos os habitantes da Chapada do Araripe, era enfático:
“Num futuro bem próximo, a
força muscular não terá mais valor, quem vai comandar é o cérebro, as maiores ferramentas serão os lápis, as canetas, os livros e os
cadernos, pegar peso, carregar sacos, tijolos, lenhas, areias, arar a terra
para a lavoura , inclusive até mesmo plantar e colher serão tarefas para as
máquinas, o cérebro será o senhor todo poderoso para a humanidade, quem quiser
viver bem e melhor terá que estudar, o mundo está mudando”
Seu Zé.
Foi também o único proprietário de
terras que instituiu e aplicou a reforma agrária na região , antecipando os poderes públicos,
doou terras aos mais próximos e aos seus melhores trabalhadores, nunca negou o
fornecimento da maior dádiva da natureza, a
água potável dos seus barreiros e reservas, era o José Manoel um
baluarte deste sofrido Brasil, só quem com ele conviveu sabe das suas ações, os demais apenas as usufruem hoje em dia, muitos foram os seus legados, o principal, o gosto doentio pela educação dos habitantes da serra do Araripe.
III
Era 1954, a malária grassava no Estado do Maranhão, o Zé
Manoel recebera um inusitada carta :
“ compadre Zé, acuda nós, a
doença aqui está matando os homens, morre gente como morre passarinho, ajuda nós, se não nós vamos morrer de fome ou
de malária, o governo não sabe o que fazer, não existe ricurso, não tem escola, agasalhos e falta o pão, falta a dignidade , só existe fome e sofrimento”
assinado Maria Duzinha.
Dona Maria Duzinha era casada com o
irmão mais velho da esposa de seu Zé Manoel, seu Totonho Ginaldo, homem probo,
trabalhador e um dos mais respeitados da região, na seca de 1937 deixou a sua região
nas Alagoas, Palmeiras dos Índios, e foi escapar no Maranhão, levou seis filhos
e lá nasceram mais cinco, com a morte do Getúlio e a crise no país surgiram as dificuldades, a Sra
Maria Duzinha pediu socorro a seu
cunhado que não arredara das orientações do Patriarca do Juazeiro do Norte , o
Padre Cícero Romão Batista.
O seu José Manoel não perdeu tempo e foi diligente, comprou
mais um pedaço de serra , pura mata, levantou uma casa de alvenaria,
construiu um pequeno barreiro, chiqueiros com alguns porcos, algumas cabras de
leite, plantou roças de feijão, milho, favas , andu e mandiocas, dois ou três
jegues de carga, pegou o seu caminhão Chevrolet e mandou buscar a família da
comadre Duzinha, doou a terra com as suas benfeitorias e todos os parentes
ganharam os melhores primos do mundo, a região foi florificada.
A Serra do Araripe ganhou a sua amazonas, a sua casa passou a ser
o ponto de encontro dominical para todos os viventes , durante muitos anos Dona Duzinha passou a ser a mais enérgica
mulher da Chapada , num raio de quarenta quilômetros foi a maior e mais importante amansadeira de burros e cavalos bravos, apesar
de ser os seus filhos exímios amansadores de animais arredios, era a matriarca
a preferida, principalmente quando os
animais eram encomendados para
transportarem mulheres, crianças e noivas nos dias de casamentos, diziam os
contratantes que os animais que Dona Duzinha amansava eram mais obedientes, mansos,
conheciam o aveludamento das vozes e os agudos estrogênicos, eram delicados , respeitavam as mulheres , as crianças e as noivas, porém arredios quando
serviam de montaria para os homens. Dona Duzinha era dura e exigente , porém
delicada, mansa, compreensiva e respeitada, era uma dama , era a mais temida
mulher da redondeza, pois assumira as rédeas da casa pouco tempo depois que chegara à serra, uma vez que, o seu esposo falecera
em menos de cinco anos de sua chegada.
IV
José Manoel , a sua esposa dona Quintonha e a sra. Maria Duzinha
fazem parte da vida de todos os serranos, apesar do pouco e das dificuldades pertinentes
ao nordeste os familiares sentem-se irmãos, unidos e felizes. Bucho cheio ,
respeito coletivo e o incentivo à educação eram os alicerces para vencer as
agruras da vida, sem esquecer o cabo das enxadas, dos enxadecos, dos cavadores, das foices, das roçadeiras , dos facões e dos machados na lida diária.
A união familiar de seu José Manoel e de dona Quitonha , de dona
Maria Duzinha, a amazonas da Serra do Araripe e, dos seus descendentes, junto a solidariedade e a
visão de um homem que só pensava na comunidade , seu José Manoel, fizeram a
diferença, viva a união, hoje todos agradecem.
Iderval
Reginaldo Tenório
Eternas Ondas/Vento Forte - 1980 - CBS (Sony Music) Vaca Estrela e Boi Fubá (Patativa do Assaré) Seu dotô me de licença Pra minha história contá Hoje eu tô
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