A MORTE DE NANÃ-RESUMO. OBRA COMPLETA APÓS ESTA MATERIA.ESCUTE O POETA RECITANDO NO FIM DA MATÉRIA,É EMOCIONANTE.
Não consigo ficar calado diante de tão fidedigna narrativa do Patativa do Assaré em 1932, quando mostra a importância de um filho, a insignificância de um ser humano, a fragilidade de um homem, a maldade de um explorador, o abandono de um povo, o fechamento dos olhos daqueles que deviriam cuidar, o descaso de quem não vive e não conhece aquela desvivida vida, a desigualdade social entre um mesmo povo e a grande pergunta: Como exigir que cada cidadão independente do nível sócio-econômico-cultural conheça a Constituição Federal se os direitos são desiguais, secularmente desiguais.
Algumas Estrofes de A Morte de Nana de Patativa do Assare.
Veja como descreve na primeira estrofe a sua NANA. Sinta o valor atribuído a NANÃ, o que sofre este Pai na hora do enche bucho, quando NANÃ via o Angu. Contamine e transporte esta cena para os dias de hoje, viva os movimentos da boca, a palidez do rosto, o encatracado movimento das mãos, o balbuciar do sofrimento, o fechamento dos olhos e a libertação da fome com A MORTE DA FILHA NANÃ.
Todos os dirigentes atuais conhecem o recado do Patativa e nada de novo acontece. Eu sou do Ceará.
Iderval Reginaldo Tenório
A Morte de Nanã
Patativa do Assaré.
Nanã tinha mais primô
De que as mais bonita jóia,
Mais linda do que as fulô
De un tá de Jardim de Tróia
Que fala o dotô Conrado.
Seu cabelo cachiado,
Prêto da cô de viludo.
Nanã era meu tesôro,
Meu diamante, meu ôro,
Meu anjo, meu céu, meu tudo,
De que as mais bonita jóia,
Mais linda do que as fulô
De un tá de Jardim de Tróia
Que fala o dotô Conrado.
Seu cabelo cachiado,
Prêto da cô de viludo.
Nanã era meu tesôro,
Meu diamante, meu ôro,
Meu anjo, meu céu, meu tudo,
Todo dia, todo dia,
Quando eu vortava da roça,
Na mais compreta alegria,
Dento da minha paioça
Minha Nanã eu achava.
Por isso, eu não invejava
Riqueza nem posição
Dos grandes dêste país,
Pois eu era o mais feliz
De todos fio de Adão.
Quando eu vortava da roça,
Na mais compreta alegria,
Dento da minha paioça
Minha Nanã eu achava.
Por isso, eu não invejava
Riqueza nem posição
Dos grandes dêste país,
Pois eu era o mais feliz
De todos fio de Adão.
Quando ela via o angu,
Todo dia demenhã,
Ou mesmo o rôxo beju
De goma de mucanã,
Sem a comida querê,
Oiava pro dicumê,
Depois oiava pra mim
E o meu coração doía,
Quando Nanã me dizia:
Papai, ô comida ruim!
Todo dia demenhã,
Ou mesmo o rôxo beju
De goma de mucanã,
Sem a comida querê,
Oiava pro dicumê,
Depois oiava pra mim
E o meu coração doía,
Quando Nanã me dizia:
Papai, ô comida ruim!
Por ali ninguém chegou,
Ninguém reparou nem viu
Aquela cena de horrô
Que o rico nunca assistiu,
Só eu a minha muié,
Que ainda cheia de fé
Rezava pro Pai Eterno,
Dando suspiro maguado
Com o rosto seu moiado
Das água do amó materno
Ninguém reparou nem viu
Aquela cena de horrô
Que o rico nunca assistiu,
Só eu a minha muié,
Que ainda cheia de fé
Rezava pro Pai Eterno,
Dando suspiro maguado
Com o rosto seu moiado
Das água do amó materno
Na sua pequena bôca
Eu via os laibo tremendo
E, naquela afrição lôca,
Ela também conhecendo
Que a vida tava no fim,
Foi regalando pra mim
Os tristes oínho seu,
Fêz um esfôrço ai, ai, ai,
E disse: "Abença, papai!"
Fechó os óio e morreu
Eu via os laibo tremendo
E, naquela afrição lôca,
Ela também conhecendo
Que a vida tava no fim,
Foi regalando pra mim
Os tristes oínho seu,
Fêz um esfôrço ai, ai, ai,
E disse: "Abença, papai!"
Fechó os óio e morreu
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· A morte de Naná
Eu vou contá uma histora
Que eu não sei como comece,
Pruquê meu coração chora,
A dô no meu peito cresce,
Omenta o meu sofrimento
E fico uvindo o lamento
De minha arma dilurida,
Pois é bem triste a sentença
De quem perdeu na isistença
O que mais amou na vida.
Já tou velho, acabrunhado,
Mas inriba dêste chão,
Fui o mais afortunado
De todos fios de Adão.
Dentro da minha pobreza,
Eu tinha grande riqueza:
Era uma querida fia,
Porém morreu muito nova.
Foi sacudida na cova
Com seis ano e doze dia.
Morreu na sua inocença
Aquêle anjo incantadô,
Que foi na sua isistença,
A cura da minha dô
E a vida do meu vivê.
Eu bejava, com prazê,
Todo dia, demenhã,
Sua face pura e bela.
Era Ana o nome dela,
Mas, eu chamava Nanã.
Nanã tinha mais primô
De que as mais bonita jóia,
Mais linda do que as fulô
De un tá de Jardim de Tróia
Que fala o dotô Conrado.
Seu cabelo cachiado,
Prêto da cô de viludo.
Nanã era meu tesôro,
Meu diamante, meu ôro,
Meu anjo, meu céu, meu tudo,
Pelo terrêro corria,
Sempre sirrindo e cantando,
Era lutrida e sadia,
Pois, mesmo se alimentando
Com feijão, mio e farinha,
Era gorda, bem gordinha
Minha querida Nanã,
Tão gorda que reluzia.
O seu corpo parecia
Uma banana-maçã.
Todo dia, todo dia,
Quando eu vortava da roça,
Na mais compreta alegria,
Dento da minha paioça
Minha Nanã eu achava.
Por isso, eu não invejava
Riqueza nem posição
Dos grandes dêste país,
Pois eu era o mais feliz
De todos fio de Adão.
Mas, neste mundo de Cristo,
Pobre não pode gozá.
Eu, quando me lembro disto,
Dá vontade de chorá.
Quando há sêca no sertão,
Ao pobre farta feijão,
Farinha, mio e arrôis.
Foi isso que aconteceu:
A minha fia morreu,
Na sêca de trinta e dois.
Vendo que não tinha inverno,
O meu patrão, um tirano,
Sem temê Deus nem o inferno,
Me deixou no desengano,
Sem nada mais me arranjá.
Teve que se alimentá
Minha querida Nanã,
No mais penoso matrato,
Comendo caça do mato
E goma de mucunã.
E com as braba comida,
Aquela pobre inocente
Foi mudando a sua vida,
Foi ficando deferente.
Não sirria nem brincava,
Bem pôco se alimentava
E inquanto a sua gordura
No corpo diminuía,
No meu coração crescia
A minha grande tortura.
Quando ela via o angu,
Todo dia demenhã,
Ou mesmo o rôxo beju
De goma de mucanã,
Sem a comida querê,
Oiava pro dicumê,
Depois oiava pra mim
E o meu coração doía,
Quando Nanã me dizia:
Papai, ô comida ruim!
Se passava o dia intêro
E a coitada não comia,
Não brincava no terrêro
Nem cantava de alegria,
Pois a farta de alimento
Acaba o contentamento,
Tudo destrói e consome.
Não saía da tipóia
A minha adorada jóia,
Infraquecida de fome.
Daqueles óio tão lindo
Eu via a luz se apagando
E tudo diminuindo.
Quando eu tava reparando
Os oínho da criança,
Vinha na minha lembrança
Um candiêro vazio
Com uma tochinha acesa
Representando a tristeza
Bem na ponta do pavio.
E, numa noite de agosto,
Noite escura e sem luá,
Eu vi crescê meu desgôsto,
Eu vi crescê meu pená.
Naquela noite, a criança
Se achava sem esperança
E quando vêi o rompê
Da linha e risonha orora,
Fartava bem pôcas hora
Pra minha Nanã morrê.
Por ali ninguém chegou,
Ninguém reparou nem viu
Aquela cena de horrô
Que o rico nunca assistiu,
Só eu a minha muié,
Que ainda cheia de fé
Rezava pro Pai Eterno,
Dando suspiro maguado
Com o rosto seu moiado
Das água do amó materno.
E, enquanto nós assistia
A morte da pequenina,
Na menhã daquele dia,
Veio um bando de campina,
De canaro e sabiá
E começaro a cantá
Um hino santificado,
Na copa de um cajuêro
Que havia bem no terrêro
Do meu rancho esburacado.
Aqueles passo cantava,
Em lovô da despedida,
Vendo que Nanã dexava
As misera desta vida.
Pois não havia ricurso,
Já tava fugindo os purso.
Naquele estado misquinho,
Ia apressando o cansaço,
Seguido pelo compasso
Da musga dos passarinho.
Na sua pequena bôca
Eu via os laibo tremendo
E, naquela afrição lôca,
Ela também conhecendo
Que a vida tava no fim,
Foi regalando pra mim
Os tristes oínho seu,
Fêz um esfôrço ai, ai, ai,
E disse: "Abença, papai!"
Fechó os óio e morreu.
Enquanto finalizava
Seu momento derradêro,
Lá fora os passo cantava,
Na copa do cajuêro.
Em vez de gemido e choro,
As ave cantava em coro.
Era o bendito prefeito
Da morte do meu anjinho.
Nunca mais os passarinho
Cantaro daquele jeito.
Nanã foi, naquele dia,
A Jesus mostrá seu riso
E omentá mais a quantia
Dos anjo do Paraíso.
Na minha maginação,
Caço e não acho expressão
Pra dizê como é que fico.
Pensando naquele adeus
E a curpa não é de Deus,
A curpa é dos home rico.
Morreu no maió matrato
Meu amô lindo e mimoso.
Meu patrão, aquele ingrato,
Foi o maior criminoso
Foi o maió assassino.
O meu anjo pequenino
Foi sacudido no fundo
Do mais pobre cimitero
E eu hoje me considero
O mais pobre dêste mundo.
Soluçando, pensativo,
Sem consôlo e sem assunto,
Eu sinto que inda tou vivo,
Mas meu jeito é de defunto.
Invorvido na tristeza,
No meu rancho de pobreza,
Tôda vez que eu vou rezá,
Com meus juêio no chão,
Peço em minhas oração:
Nanã, venha me buscá!
Que eu não sei como comece,
Pruquê meu coração chora,
A dô no meu peito cresce,
Omenta o meu sofrimento
E fico uvindo o lamento
De minha arma dilurida,
Pois é bem triste a sentença
De quem perdeu na isistença
O que mais amou na vida.
Já tou velho, acabrunhado,
Mas inriba dêste chão,
Fui o mais afortunado
De todos fios de Adão.
Dentro da minha pobreza,
Eu tinha grande riqueza:
Era uma querida fia,
Porém morreu muito nova.
Foi sacudida na cova
Com seis ano e doze dia.
Morreu na sua inocença
Aquêle anjo incantadô,
Que foi na sua isistença,
A cura da minha dô
E a vida do meu vivê.
Eu bejava, com prazê,
Todo dia, demenhã,
Sua face pura e bela.
Era Ana o nome dela,
Mas, eu chamava Nanã.
Nanã tinha mais primô
De que as mais bonita jóia,
Mais linda do que as fulô
De un tá de Jardim de Tróia
Que fala o dotô Conrado.
Seu cabelo cachiado,
Prêto da cô de viludo.
Nanã era meu tesôro,
Meu diamante, meu ôro,
Meu anjo, meu céu, meu tudo,
Pelo terrêro corria,
Sempre sirrindo e cantando,
Era lutrida e sadia,
Pois, mesmo se alimentando
Com feijão, mio e farinha,
Era gorda, bem gordinha
Minha querida Nanã,
Tão gorda que reluzia.
O seu corpo parecia
Uma banana-maçã.
Todo dia, todo dia,
Quando eu vortava da roça,
Na mais compreta alegria,
Dento da minha paioça
Minha Nanã eu achava.
Por isso, eu não invejava
Riqueza nem posição
Dos grandes dêste país,
Pois eu era o mais feliz
De todos fio de Adão.
Mas, neste mundo de Cristo,
Pobre não pode gozá.
Eu, quando me lembro disto,
Dá vontade de chorá.
Quando há sêca no sertão,
Ao pobre farta feijão,
Farinha, mio e arrôis.
Foi isso que aconteceu:
A minha fia morreu,
Na sêca de trinta e dois.
Vendo que não tinha inverno,
O meu patrão, um tirano,
Sem temê Deus nem o inferno,
Me deixou no desengano,
Sem nada mais me arranjá.
Teve que se alimentá
Minha querida Nanã,
No mais penoso matrato,
Comendo caça do mato
E goma de mucunã.
E com as braba comida,
Aquela pobre inocente
Foi mudando a sua vida,
Foi ficando deferente.
Não sirria nem brincava,
Bem pôco se alimentava
E inquanto a sua gordura
No corpo diminuía,
No meu coração crescia
A minha grande tortura.
Quando ela via o angu,
Todo dia demenhã,
Ou mesmo o rôxo beju
De goma de mucanã,
Sem a comida querê,
Oiava pro dicumê,
Depois oiava pra mim
E o meu coração doía,
Quando Nanã me dizia:
Papai, ô comida ruim!
Se passava o dia intêro
E a coitada não comia,
Não brincava no terrêro
Nem cantava de alegria,
Pois a farta de alimento
Acaba o contentamento,
Tudo destrói e consome.
Não saía da tipóia
A minha adorada jóia,
Infraquecida de fome.
Daqueles óio tão lindo
Eu via a luz se apagando
E tudo diminuindo.
Quando eu tava reparando
Os oínho da criança,
Vinha na minha lembrança
Um candiêro vazio
Com uma tochinha acesa
Representando a tristeza
Bem na ponta do pavio.
E, numa noite de agosto,
Noite escura e sem luá,
Eu vi crescê meu desgôsto,
Eu vi crescê meu pená.
Naquela noite, a criança
Se achava sem esperança
E quando vêi o rompê
Da linha e risonha orora,
Fartava bem pôcas hora
Pra minha Nanã morrê.
Por ali ninguém chegou,
Ninguém reparou nem viu
Aquela cena de horrô
Que o rico nunca assistiu,
Só eu a minha muié,
Que ainda cheia de fé
Rezava pro Pai Eterno,
Dando suspiro maguado
Com o rosto seu moiado
Das água do amó materno.
E, enquanto nós assistia
A morte da pequenina,
Na menhã daquele dia,
Veio um bando de campina,
De canaro e sabiá
E começaro a cantá
Um hino santificado,
Na copa de um cajuêro
Que havia bem no terrêro
Do meu rancho esburacado.
Aqueles passo cantava,
Em lovô da despedida,
Vendo que Nanã dexava
As misera desta vida.
Pois não havia ricurso,
Já tava fugindo os purso.
Naquele estado misquinho,
Ia apressando o cansaço,
Seguido pelo compasso
Da musga dos passarinho.
Na sua pequena bôca
Eu via os laibo tremendo
E, naquela afrição lôca,
Ela também conhecendo
Que a vida tava no fim,
Foi regalando pra mim
Os tristes oínho seu,
Fêz um esfôrço ai, ai, ai,
E disse: "Abença, papai!"
Fechó os óio e morreu.
Enquanto finalizava
Seu momento derradêro,
Lá fora os passo cantava,
Na copa do cajuêro.
Em vez de gemido e choro,
As ave cantava em coro.
Era o bendito prefeito
Da morte do meu anjinho.
Nunca mais os passarinho
Cantaro daquele jeito.
Nanã foi, naquele dia,
A Jesus mostrá seu riso
E omentá mais a quantia
Dos anjo do Paraíso.
Na minha maginação,
Caço e não acho expressão
Pra dizê como é que fico.
Pensando naquele adeus
E a curpa não é de Deus,
A curpa é dos home rico.
Morreu no maió matrato
Meu amô lindo e mimoso.
Meu patrão, aquele ingrato,
Foi o maior criminoso
Foi o maió assassino.
O meu anjo pequenino
Foi sacudido no fundo
Do mais pobre cimitero
E eu hoje me considero
O mais pobre dêste mundo.
Soluçando, pensativo,
Sem consôlo e sem assunto,
Eu sinto que inda tou vivo,
Mas meu jeito é de defunto.
Invorvido na tristeza,
No meu rancho de pobreza,
Tôda vez que eu vou rezá,
Com meus juêio no chão,
Peço em minhas oração:
Nanã, venha me buscá!
Neste texto o Mestre Patativa deslumbra a inocência e a sagacidade do bem e do mau do homem do campo, mesmo sem leitura mostra a sensibilidade no exercício da cidadania. Mostra as filigranas de alguns candidatos profissionais ,não englobando a todos,a maioria sem compromissos , com o pensamento puramente pessoal e pecuniário. Escola e Educação a Salvação da Humanidade.
Conversa de Matuto –
Patativa do Assaré (NASCIDO EM 05/03/1909- FALECIDO EM 08/07/2002)-Assaré-Ce
Obra-Cante Lá Que Eu Canto Cá- Editôra VOZES em todas as Livrarias
Meu amigo João Moirço,
Eu agora fiquei certo
Que nóis já tá bem perto
De sair do sacrifico.
Eu onte uvi num comiço
De um dotô candidado,
Home sero e muito isato
E ele garantiu que agora
Vai havê grande miora
Para o pessoá do mato.
No comiço ele falou
Que depois que ele vencê,
Vai com gosto protegê
A cada um inleitô.
O povo trabaiadô
Que padece no roçado
Pode votá sem coidado
Que depois das inleição
Com a sua proteção
Vai tudo recompensado
Aquele é home de bem,
Quando desceu do palanco,
Falô com preto, com branco,
Com rico e pobre tombém;
Ali não ficou ninguém
Pra ele não abraçá,
Veve sempre a conversá,
É alegre e satisfeito,
Num home daquele jeito
Faz gosto agente votá
Que depois que ele vencê,
Vai com gosto protegê
A cada um inleitô.
O povo trabaiadô
Que padece no roçado
Pode votá sem coidado
Que depois das inleição
Com a sua proteção
Vai tudo recompensado
Aquele é home de bem,
Quando desceu do palanco,
Falô com preto, com branco,
Com rico e pobre tombém;
Ali não ficou ninguém
Pra ele não abraçá,
Veve sempre a conversá,
É alegre e satisfeito,
Num home daquele jeito
Faz gosto agente votá
Do palanco ele desceu
Alegre e dezendo graça
E mais tarde lá na praça
Palestrando apareceu,
Se assentou pertinho deu
Lá num banco da venida,
Perguntou por minha vida
E disse na mesma hora
Que a sua vitóra
Já tá quage dicidida.
E pediu que eu precurasse
Com muita delicadeza
Aqui nesta redondeza
Gente que nele votasse
Que depois que ele ganhasse
Ia as coisas resorvê.
A premêra era fazê
Aqui no nosso lugá
Um grande grupo escolá
Pra nossos fio aprendê.
Depois,um mioramento
Pra nois pudê trabaiá,
Semente pra nóis prantá
Sem precisá pagamento,
Quarqué coisa no momento
È nóis querê e pedi
E depois que conseguí
Esta premêra vantange,
Vem uma bela rodage
Da cidade até aqui.
Eu tenho esperança e fé
Na promessas do doto
E pedi a ele eu vou
Um imprego pra José.
Mais tarde,se Deus quisé,
O meu fio faz figura,
Saindo da agricurtura.
Este cansado chamego
E arranjando um bom imprego
Lá dentro da Prefeitura.
È tanto, que vou caçá
Argum voto por aqui;
Já cunversei com Davi,
Com Vicente e Vardemá,
Fuloriano,Mozá,
Mane Chico e Zé Lavo,
Dona Suzana e Lindo,
Napoleão e Romeu,
E tudo me prometeu
Que vai votá no dotô.
João Moiriço ,meu amigo,
Sei que você acredita,
Não venhop fazê visita
Hoje aqui no seu abrigo;
Oiça bem o que lhe digo
Você nunca me faltou
E a ocausião chegou
De pedi seu voto isato
Para o doto candidado
De pretijo e de valô.
Isto que eu tou lhe falando
É bom para nosso futuro,
Nóis tamo num grande escruro
E uma ESTRELA vem briando;
Veja que você votando
Neste home de tanto brio,
Em quem com gosto confio,
É um negoço importante
Vai havê de agora em deante
Escolas pra nossos fio!
João Moiriço:
Meu amigo Zé Fulô,
Vou lhe dizê a verdade:
É véia a nossa amizade
Porém você se enganou.
Pode pedi, que eu lhe dou
Uma quarta de feijão
Uma arroba de argodão
E cinco metro de fumo,
Tudo com gosto lhe arrumo,
Porém o meu voto, não!
Lhe dou se você quisé
Minha boa lazarina
E o meu galo de campina
Que eu amo com muita fé,
Dou minha porca Baié
E o meu cachorro Sultão,
Maria dá um capão
E o Chico dá um cabrito,
Isso tudo eu admito
Porém o meu voto, não!
Meu amigo Zé Fulo,
Não siga por esta tria,
Você ainda confia
Em premeça de doto?
Auilo que elefalou
É somente imbromação.
Quando é tempo de inleição
Esse home se eprepara
Trazendo um santo na cara
E o diabo no coração.
Você não dê confiança,
Pois quando a campanha vem,
Com ela chega tombem
A pabulage e a lembrabça.
As vez os matutos dança
Com as fia do dotô,
É aquele grololô,
Tudo elegre e satisfeito,
Antes do dia do preito ,
Tudo é prefume e fulô.
Mas depois que passa o preito,
O desmantelo renova,
Palavriado não prova
A bondade do sujeito.
Pra garrafa desse jeito
Não iziste sacarrôia,
Não quera fazê iscôia
Se não você sai perdendo,
Este dotô tá inchendo
A sua venta de fôia.
Isto já vem do passado
E a pisada ainda é essa,
Por causa dessas premessas
Meu avô foi inganado,
Omeu pobre pai coitado!
Foi inganado tobém
E eu,que já conheço bem,
Pra votá sou muito franco,
Ma porém só voto em branco,
E não confio em ninguém.
Em branco eu tenho votado,
Pois só assim me convém
Proquê votando em arguém,
Traz o mesmo risurtado,
Com certos palavreados
Ninguém pode me iludi,
Vivo trabaiando aqui
Nesta vida aperreada,
Mas não dregrau de escada
Pra seu fulano subi.
Xé Fulo repare bem,
As premessa é só na hota,
Porém,depois da vitóra,
Premessa valo não tem
E esperá por quem não vem
Martrata,dói e acabrunha,
Digo e tenho testemunha,
Quage todo candidato
Tem a mamparra do gato,
Dá um bote e esconde a unha.
Na campanha eleitorá
Quando ele encronta agente,
Chama de amigo e parente,
Nauqle parrapapá,
Mas, depois de eles ganhá
E recebê posição,
A ninguém presta tenção,
Assim que agente repara,
Vê logo a cara do cara
Como cara de lião.
Zé Fulo não seja bruto
Seja mais inteligenete,
Repare que aquela gente
Não faz conta de matuto.
Não dou vrença e nem escuto
Premessa dese doto,
Pra não passá o que passou
Sendi inganado e inludido,
O meu pobre pai querido
E o finado meu avô.
Tome esta boa lição,
Dêxi logo esta veneta,
Seja sero,não se meta
Com fuxico de inleição;
Este dpto sabidão
Que agora lhe apareceu
E tido lhe prometeu,
Depois da vitóra pronta,
Fica fazendo de conta
Que nunca lhe conheceu.
E se você se afobá,
E pegá com lerolero,
Zangado e falando séro,
Querendo se revortá,
Pedindo pra lhe pagá
Todas as premessas que fez,
Ele,com estupidez,
Fica cheio de maliça,
Dá logo quexa a poliça
E lhe leva pro xadrez.
Portanto, vá se aquetá
Não entre nesse curtiço,
Não vá dexá seu serviço
Pra sê cabo eleitorá.
Vá sua casa zelá,
Vá cuidá de seu trbaio,
Não pegue nesse baraio,
Se não você perde o jogo
Água é água e fogo é fogo
Cada macaco em seu gaio.
A triste partida* - Patativa do Assaré**
Setembro passou,
Setembro passou,
com oitubro e novembro
Já tamoem dezembro.
Meu Deus , que é de nós?
Assim fala o pobre
Já tamo
Meu Deus
Assim fala o pobre
do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.
A treze do mês ele
Com medo da peste,
Da fome feroz.
A treze do mês ele
fez a experiença,
Perdeu sua crença
Nas pedra de sá.
Mas nôta experiença
Perdeu sua crença
Nas pedra de sá.
Mas nôta experiença
com gosto se agarra,
Pensando na barra
Do alegre Natá.
Rompeu-se o Natá,
Pensando na barra
Do alegre Natá.
Rompeu-se o Natá,
porém barra não veio,
O só, bem vermeio,
Nasceu munto além.
Na copa da mata,
O só, bem vermeio,
Nasceu munto além.
Na copa da mata,
buzina a cigarra,
Ninguém vê a barra,
Pois barra não tem.
Sem chuva na terra
Ninguém vê a barra,
Pois barra não tem.
Sem chuva na terra
descamba janêro,
Depois, feverêro,
E o mêrmo verão
Entonce o rocêro,
Depois, feverêro,
E o mêrmo verão
Entonce o rocêro,
pensando consigo,
Diz: isso é castigo!
Não chove mais não!
Apela pra maço,
Diz: isso é castigo!
Não chove mais não!
Apela pra maço,
que é o mês preferido
Do Santo querido,
Senhô São José.
Mas nada de chuva!
Do Santo querido,
Senhô São José.
Mas nada de chuva!
tá tudo sem jeito,
Lhe foge do peito
O resto da fé.
Lhe foge do peito
O resto da fé.
Agora pensando
segui ôtra tria,
Chamando a famia
Começa a dizê:
Eu vendo meu burro,
Chamando a famia
Começa a dizê:
Eu vendo meu burro,
meu jegue e o cavalo,
Nós vamo a São Palo
Vivê ou morrê.
Nós vamo a São Palo,
Nós vamo a São Palo
Vivê ou morrê.
Nós vamo a São Palo,
que a coisa tá feia;
Por terras aleia
Nós vamo vagá.
Se o nosso destino
Por terras aleia
Nós vamo vagá.
Se o nosso destino
não fô tão mesquinho,
Pro mêrmo cantinho
Nós torna a vortá.
E vende o seu burro,
Pro mêrmo cantinho
Nós torna a vortá.
E vende o seu burro,
o jumento e o cavalo,
Inté mêrmo o galo
Vendêro também,
Pois logo aparece
Inté mêrmo o galo
Vendêro também,
Pois logo aparece
feliz fazendêro,
Por pôco dinhêro
Lhe compra o que tem.
Por pôco dinhêro
Lhe compra o que tem.
Em riba do carro
se junta a famia;
Chegou o triste dia,
Já vai viajá.
A seca terrive,
Chegou o triste dia,
Já vai viajá.
A seca terrive,
que tudo devora,
Lhe bota pra fora
Da terra natá.
O carro já corre
Lhe bota pra fora
Da terra natá.
O carro já corre
no topo da serra.
Oiando pra terra,
Seu berço, seu lá,
Aquele nortista,
Oiando pra terra,
Seu berço, seu lá,
Aquele nortista,
partido de pena,
De longe inda acena:
Adeus, Ceará!
De longe inda acena:
Adeus, Ceará!
No dia seguinte,
já tudo enfadado,
E o carro embalado,
Veloz a corrê,
Tão triste, o coitado,
E o carro embalado,
Veloz a corrê,
Tão triste, o coitado,
falando saudoso,
Um fio choroso
Um fio choroso
Escrama, a dizê:
- De pena e sodade,
papai, sei que morro!
Meu pobre cachorro,
Quem dá de comê?
Já ôto pergunta:
Meu pobre cachorro,
Quem dá de comê?
Já ôto pergunta:
- Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato,
Mimi vai morrê!
E a linda pequena,
Com fome, sem trato,
Mimi vai morrê!
E a linda pequena,
tremendo de medo:
- Mamãe, meus brinquedo!
Meu pé de fulô!
Meu pé de rosêra,
- Mamãe, meus brinquedo!
Meu pé de fulô!
Meu pé de rosêra,
coitado, ele seca!
E a minha boneca
Também lá ficou.
E assim vão dexando,
E a minha boneca
Também lá ficou.
E assim vão dexando,
com choro e gemido,
Do berço querido
O céu lindo e azu.
Os pai, pesaroso,
Do berço querido
O céu lindo e azu.
Os pai, pesaroso,
nos fio pensando,
E o carro rodando
Na estrada do Su.
Chegaroem São Paulo –
E o carro rodando
Na estrada do Su.
Chegaro
sem cobre, quebrado.
O pobre, acanhado,
Percura um patrão.
Só vê cara estranha,
O pobre, acanhado,
Percura um patrão.
Só vê cara estranha,
da mais feia gente,
Tudo é diferente
Do caro torrão.
Trabaia dois ano,
Tudo é diferente
Do caro torrão.
Trabaia dois ano,
três ano e mais ano,
E sempre no prano
De um dia inda vim.
Mas nunca ele pode,
E sempre no prano
De um dia inda vim.
Mas nunca ele pode,
só veve devendo,
E assim vai sofrendo
Tormento sem fim.
E assim vai sofrendo
Tormento sem fim.
Se arguma notícia
das banda do Norte
Tem ele por sorte
O gosto de uvi,
Lhe bate no peito
Tem ele por sorte
O gosto de uvi,
Lhe bate no peito
sodade de móio,
E as água dos óio
Começa a caí.
Do mundo afastado,
E as água dos óio
Começa a caí.
Do mundo afastado,
sofrendo desprezo,
Ali veve preso,
Devendo ao patrão.
O tempo rolando,
Ali veve preso,
Devendo ao patrão.
O tempo rolando,
vai dia vem dia,
E aquela famia
Não vorta mais não!
Distante da terra
E aquela famia
Não vorta mais não!
Distante da terra
tão seca mas boa,
Exposto à garoa,
À lama e ao paú,
Faz pena o nortista,
Exposto à garoa,
À lama e ao paú,
Faz pena o nortista,
tão forte, tão bravo,
Vivê como escravo
Nas terra do su.
* Verso cantado por Luiz Gonzaga
____________________________________________
**Antônio Gonçalves da Silva, dito Patativa do Assaré, nasceu a 5 de março de 1909 na Serra de Santana, pequena propriedade rural, no município de Assaré, no Sul do Ceará.
Vivê como escravo
Nas terra do su.
* Verso cantado por Luiz Gonzaga
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**Antônio Gonçalves da Silva, dito Patativa do Assaré, nasceu a 5 de março de 1909 na Serra de Santana, pequena propriedade rural, no município de Assaré, no Sul do Ceará.
Um comentário:
Dr. Tenório
Parabéns pelo dia dos médicos. Que Deus sempre te proteja.
abraços de Eliana Lins e toda família.
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