terça-feira, 7 de setembro de 2010

CRIME NA SERRA DO ARAIPE

CRIME NA SERRA DO ARARIPE




Era noite do dia 23 de junho de 1928, o estrategista desconhecido chegou sorrateiramente e sem nenhuma dúvida ou remorso metralhou toda uma família de dezoitos componentes, do mais velho ao mais novo dos Pereiras e alguns serviçais, vasculhou todos os aposentos,conferiu cada um dos corpos,montou no seu alazão,arrumou a sua geringonça noutro animal e sumiu estrada afora. No nascer do sol os caseiros da fazenda que moravam nos recantos mais distantes da sede jamais imaginariam que aqueles estrondos de bombas de artifícios juninos fossem balas da mais afamada metralhadora nordestina apelidada de costureira dizimando toda a família patronal, o autor não deixou pistas, não deixou um único rastro do autoria do crime cometido, em nada mexeu, a mesa continuo posta,cadeiras caídas no chão,sangue salpicados nas paredes, alguns animais domésticos circulando pelo ambiente, panelas no fogão de lenha,algumas com os alimentos esturricados, todos os potes e barricas aos cacos,água ensopando os corpos e estes com vários orifícios transpassando os tórax na altura dos peitos,todos sem vida.



O AMANHÃ



Na Serra do Araripe não ficou um só cristão que não tomasse conhecimento da fatídica tragédia,quem era aquele forasteiro,porque aniquilou toda uma família que até aqueles dias se mostrava pacata,trabalhadora e honesta, não se conhecia inimigos num raio de 50 léguas, os Pereiras eram respeitados naquela redondeza, Lampião e o seu bando já se encontrava pelos lados da Bahia, naquele arrebol já reinava a paz, muitos núcleos familiares se expandiam com os casamentos consangüíneos morando em casas eqüidistantes desde quando uma avistasse a entrada ,a lateral e a saída da outra,era uma maneira de um proteger o outro. A dúvida tomou conta da pequena população, quem foi o forasteiro que cometeu tão sanguinário crime. Os familiares distantes apareceram, os corpos foram contados, muitos não possuíam documentos,os serviçais só tinham apelidos, todos foram sepultados em covas enfileiradas nos aceiros da velha estrada e fincado uma cruz na cabeceira de cada monte de terra, primeiro o chefe e depois os outros por ordem de importância. A polícia foi informada, compareceu timidamente e pelo pequeno contingente tres soldados, dois cabos,um sargento ,pouca munição e seis mulas esquálidas foi a primeira a fugir com receio de ser atacada de surpresa pelo o assassino ou os assassinos dos Pereiras, nunca mais apareceu ou tomou conhecimento dos fatos a partir daquela data. A sede da Fazenda ficou abandonada por pouco tempo, os moradores mais antigos aos poucos foram se acostumando com o acontecido, os parentes mais distantes voltaram para os seus distritos, ficando apenas as indagações sobre o horrendo crime, quem tinha motivos para tal desventura, roubo não foi, só pode ter sido vingança, a melhor maneira de cobrar dos desafetos os males cometidos em datas anteriores, só poderia ser vingança.



O PASSADO





Conta o velho Malaquias que tempos atrás, lá pelos meados de 1871 quando um jovem padre de 27 anos de idade assumiu a capela do povoado Tabuleiro Grande no Sul do Ceará, duas famílias de Alagoanos foram morar nesta região para ajudar este jovem missionário. Com as duas famílias completas o jovem Padre aconselhou aos amiguinhos que fosse morar na Serra do Araripe plantar feijão de pau, conhecido como o serial ANDÚ muito apreciado naquele mundo. As famílias se deslocaram e começaram a habitar a mesma gleba de terra por manterem parentesco e viviam em paz até o dia que o governo resolveu legalizar a posse e criar uma escritura, houve desentendimento entre os líderes de cada família e numa noite escura do dia 23 de junho de 1897 ano em nasceu Virgulino Ferereira Lampião uma das famílias aniquilou todos os componentes adultos da outra familia, cometeu um grande pecado, não vistoriou os aposentos da pequena casa e lá deixou vivo um criança de 09 meses que engatinhava por debaixo da cama do infeliz casal aniquilado . A criança sem pais ,sem parentes foi assumida por tropeiros que cruzavam a velha serra Pernambucana com destino à mais nova vila Nordestina no sul do Ceará, a famosa vila do Juazeiro devido o milagre da Beata Maria Araújo em 1889 quando na comunhão a hóstia saída das mãos do Padre Cícero se transformava em sangue e derramava pelos cantos da boca da jovem beta de 28 anos de idade, a criança foi criada no mais diferente mundo que deveria ser criado, não tinha paradeiro,não tinha endereço fixo e à proporção que crescia tomava conhecimento da grande chacina que aniquilou uma determinada família no topo da Serra do Araripe no idos de 1897, a criança virou homem . Naquela redondeza não se conhecia o seu destino. A família que cometera a esquecida e distante chacina se encontrava bem instalada e próspera, o cangaço que reinava na região estava em baixa e grassava no arrebol o sentimento de congraçamento devido o grande número de parentes casados entre si, existia calmaria.





A VINGANÇA



O Jovem morava num sítio próximo a vila Juazeiro e conhecia muito bem a Chapada do Araripe,divisa do Ceará com Pernambuco,grande celeiro fóssil das Americas ,hoje fazendo parte do Geopark do Araripe,procurou se familiarizar com os moradores do distrito e aos poucos foi mapeando o fatídico acontecimento de 1897 e localizando os familiares que junto com os seus pais se mudaram para a velha serra a pedido do jovem padre em 1871, ficou claro e ciente de cada componente,colheu a história da época e como mercante compareceu à sede da fazenda e conheceu cada membro. Voltou aos seus afazeres e numa noite de são João quando os fogos de artifícios pipocam nos ares da silenciosa serra, o jovem estrategista executou o seu mirabolante plano tomando o cuidado de vistoriar o ambiente para não cometer o mesmo erro da chacina de 1897, com esta atitude fechou o ciclo do grande ditado nordestino: quem comete um mal um dia será vingado pela vitima,pelo filho da vítima,pelo neto ou bisneto da vítima, um dia o crime será vingado.E foi assim que se desenrolou a grande chacina de 1897.



Iderval Reginaldo Tenório

Salvador,12 de Janeiro de 2008

Um comentário:

Elba disse...

Vi há pouco que Salvador é a terceira cidade do MUNDOOOOOOOOO!(antecedida apenas por duas cidades da América Central das quais uma é Honduras e a outra, não lembro), onde se cometem mais homicídios. Que lastimável, levando-se em conta o tamanho do dom que é a vida e ninguém é capaz de criá-la, a não ser Deus. Ainda vivemos na barbárie mesmo após tantos milênios na Terra.