terça-feira, 1 de maio de 2012

Revolta dos Malês



Revolta dos malês

Rebelião de escravos muçulmanos em Salvador

Reprodução
Negro muçulmano, em gravura de Jean-Baptiste Debret
Uma revolta de escravos africanos ocorreu em Salvador, na madrugada de 25 de janeiro de 1835. O movimento envolveu cerca de 600 homens. Tratava-se, em sua imensa maioria, de negros muçulmanos, em especial da etnia nagô, de língua iorubá. Vem daí o nome que a rebelião recebeu: Revolta dos Malês. A expressão "malê" provém de "imalê", que no idioma iorubá significa muçulmano.

O primeiro alvo dos rebeldes - inicialmente um grupo de 60 homens - foi a Câmara Municipal de Salvador, em cujo subsolo localizava-se uma prisão onde estava preso o velho Pacífico Licutan, um dos mais populares líderes malês. Entretanto, o ataque à prisão não obteve sucesso, devido à reação conjunta dos carcereiros e da guarda do palácio do governo, situada na mesma praça (a atual praça Tomé de Sousa).

Esse primeiro grupo de rebeldes espalhou-se então pelas ruas da cidade, convocando os outros escravos a se unirem a eles. Durante algumas horas, a revolta expandiu-se por diversas regiões de Salvador, traduzindo-se em confrontos violentos entre os revoltosos e as forças policiais. Os malês foram duramente reprimidos e, afinal, vencidos. Mais de 70 rebeldes e cerca de dez soldados morreram nos combates.

Não se conhecem os planos dos revoltosos no caso de uma vitória do movimento. O historiador João José dos Reis, estudioso do episódio, afirma que "há indícios de que não tinham planos amigáveis para as pessoas nascidas no Brasil, fossem estas brancas, negras ou mestiças. Umas seriam mortas, outras escravizadas pelos vitoriosos malês".

Morte, prisão e desterro

Dezesseis dos acusados pela revolta foram sentenciados à morte, mas, posteriormente, 12 deles conseguiram ter sua pena comutada. Quatro foram executados no Campo da Pólvora, no dia 14 de maio de 1835, por um pelotão de fuzilamento. Os outros malês receberam diversos tipos de punição: prisão simples, prisão com trabalho, açoite e deportação para a África.

Para se ter uma idéia do rigor do castigo, convém mencionar que a pena de açoites variava de 300 até 1.200 chicotadas, que foram distribuídas ao longo de vários dias. O idoso Pacifico Licutan recebeu 1.200 chibatadas e outro condenado à mesma sentença morreu em decorrência disso.

Na época da revolta, Salvador contava com aproximadamente 65 mil habitantes, dos quais cerca de 40 % eram escravos. No entanto, incluídos homens livres e alforriados, os negros e os mestiços representavam 78 por cento da população. De qualquer modo, a identidade étnica e religiosa teve grande importância no movimento. Os negros nascidos no Brasil, por exemplo, não participaram da revolta. Ela se deveu exclusivamente aos africanos islâmicos, em especial de origem nagô.

O medo de uma nova revolta se instalou durante muitos anos entre os habitantes livres de Salvador, bem como nas demais províncias brasileiras. Em quase todas elas, principalmente no Rio de Janeiro, sede do Império do Brasil, os jornais noticiaram o ocorrido na Bahia. Por isso, as autoridades passaram a submeter a população africana a uma vigilância mais cuidadosa, bem como, muitas vezes, a uma repressão abusiva
  



            Trabalho completo 


   Universidade Federal da Bahia


A REVOLTA DOS MALÊS EM 1835


João José Reis


Universidade Federal da Bahia




Na madrugada de 25 de janeiro de 1835, um domingo, aconteceu em Salvador a   revolta de escravos africanos. O movimento de 1835 é conhecido como Revolta dos Malês,por serem assim chamados os negros muçulmanos que o organizaram. A expressão male vem de imalê, que na língua iorubá significa muçulmano. Portanto os malês eram especificamente os muçulmanos de língua iorubá, conhecidos como nagôs na Bahia. Outros grupos, até mais islamizados como os haussás, também participaram, porém contribuindo com muito menor número de rebeldes.

A revolta envolveu cerca de 600 homens, o que parece pouco, mas esse número equivale a 24 mil pessoas nos dias de hoje. Os rebeldes tinham planejado o levante para acontecer nas primeiras horas da manhã do dia 25, mas foram denunciados. Uma patrulha chegou a uma casa na ladeira da Praça onde estava reunido um grupo de rebeldes. Ao tentar forçar a porta para entrarem, os soldados foram surpreendidos com a repentina saída de cerca de sessenta guerreiros africanos. Uma pequena batalha aconteceu na ladeira da Praça, e em seguida os rebeldes se dirigiram à Câmara Municipal, que funcionava no mesmo local onde funciona ainda hoje.

A Câmara foi atacada porque em seu subsolo existia uma prisão onde se encontravapreso um dos líderes malês mais estimados, o idoso Pacifico Licutan, cujo nome muçulmano era Bilal. Este escravo não estava preso por rebeldia, mas porque seu senhor tinha dívidas vencidas e seus bens, inclusive Licutan, foram confiscados para irem a leilão em benefício dos credores.

O ataque à prisão não foi bem sucedido. O grupo foi surpreendido no fogo cruzado entre os carcereiros e a guarda do palácio do governo, localizado na mesma praça.Daí este primeiro grupo de rebeldes saiu pelas ruas da cidade aos gritos, tentando acordar os escravos da cidade para se unirem a eles. Dirigiram-se à Vitória onde havia um outro grupo numeroso de malês que eram escravos dos negociantes estrangeiros ali residentes. Após se unirem nas imediações do Campo Grande, os rebeldes atravessaram em frente ao Forte de São Pedro sob fogo cerrado dos soldados, indo dar nas Mercês, de onde retornaram para o centro da cidade. Aqui atacaram um posto policial ao lado do Mosteiro de São Bento, outro na atual Rua Joana Angélica (imediações do Colégio Central), lutaram também no Terreiro de Jesus e outras partes da cidade. Em seguida desceram o Pelourinho, seguiram pela Ladeira do Taboão e foram dar na Cidade Baixa. Daqui tentaram seguir na direção do Cabrito, onde tinham marcado encontro com escravos de engenho. Mas foram barrados no guartel da cavalaria em Água de Meninos. Neste local se deu a última batalha do levante, sendo os malês massacrados. Alguns que tentaram fugir a nado terminaram se afogando. A revolta deixou a cidade em polvorosa durante algumas horas, tendo sido vencida com a morte de mais de 70 rebeldes e uns dez oponentes. Mas o medo de que um novo levante pudesse acontecer se instalou durante muitos anos entre os seus habitantes livres. Um medo que, aliás, se difundiu pelas demais províncias do Império do Brasil. Em quase todas elas, principalmente na capital do país, o Rio de Janeiro, os jornais publicaram notícias sobre o acontecido na Bahia e as autoridades submeteram a população africana a uma vigilância cuidadosa e muitas vezes a uma repressão abusiva.

Salvador tinha na época da revolta em torno de 65.500 habitantes, dos quais cerca de 40 por cento eram escravos. Entre a população não-escrava a maioria era também formada por africanos e seus descentes, chamados na época de crioulos quando eram negros nascidos no Brasil, além dos mestiços de branco e negro, chamados de pardos, mulatos e cabras. Juntando os negros e mestiços escravos e livres, os afro-descendentes representavam 78 por cento da população. Os brancos não passavam de 22 por cento. Entre os escravos, a grande maioria (63 por cento) era nascida na África, chegando a 80 por cento na região dos engenhos de açúcar, o Recôncavo.

Esses escravos eram trazidos de diversos portos da costa africana. Um grande número vinha de Luanda, Benguela, Cabinda, mas na época da revolta de 1835 a grande maioriaera embarcada nos portos do golfo do Benim (portos de Ajudá, Porto Novo, Badagri, Lagos).
Foram alguns desses últimos grupos os mais diretamente ligados à revolta. Eles podiam ser de diversas origens, segundo a língua que falavam: iorubá, haussá, fon, mahi, nupes, bornus etc. Na Bahia a maioria desses escravos era conhecida por nomes diferentes daqueles que tinham na África: os de língua iorubá chamavam-se nagôs, os fon e mahi eram conhecidos como jejes, os nupes como tapas. Em 1835 a grande maioria dos escravos da Bahia nascidos na África era realmente de língua iorubá, cerca de 30 por cento. Eram como nagôs. Muitos deles professavam a religião muçulmana, embora a maioria dos nagôs fosse de fato adepta do candomblé dos orixás. A cidade de Salvador tinha uma economia baseada na escravidão, que girava em torno da  cana-de-açúcar produzida na região denominada de Recôncavo, terras que circundam a Baía de Todos os Santos. Ali também se plantava o fumo, que era exportado para a Europa e para a África. Na África o fumo era utilizado na compra de escravos.

No Recôncavo, os escravos eram empregados em todo tipo de atividade rural, não apenas no setor açucareiro e fumageiro. Eles também labutavam na criação de gado e nocultivo da mandioca. A farinha de mandioca já era naquela época um item fundamental da dieta de ricos e pobres, senhores e escravos. Como o fumo, a farinha estava também ligada ao tráfico, pois constituía um dos principais alimentos a bordo dos navios negreiros.Da mesma forma, os escravos eram utilizados nas vilas e cidades, sobretudo na capital, onde se ocupavam no trabalho doméstico, nos diversos ofícios (pedreiro, sapateiro,ferreiro), nas atividades do mar (marinheiro, remador, canoeiro, pescador). Eles lavravam a terra em pequenas plantações existentes na periferia da cidade, trabalhavam em variados tipos de construção pública e privada, vendiam uma grande variedade de pequenas mercadorias, principalmente comida pronta, verduras, peixe, carne. E eram empregados no transporte de volumes grandes e pequenos, como caixas de açúcar, barris de cachaça, mercadorias importadas, água de gasto e potável, dejetos humanos, balaios de compras e até cartas eram levadas ao correio por escravos. Eles também transportavam pessoas nas cadeiras de arruar, talvez a mais típica atividade dos escravos nas ruas de Salvador.



As ocupações dos presos por suspeita de participação na revolta de 1835 refletem a

variedade de atividades desempenhadas pelos escravos urbanos. Havia entre eles lavradores, remadores, domésticos, pedreiros, sapateiros, alfaiates, ferreiros, armeiros, barbeiros, vendedores ambulantes, carregadores de cadeira, entre outras atividades. A grande maioria dos rebeldes se empregava em ocupações tipicamente urbanas. Foram pouquíssimos os ocupados na lavoura, por exemplo. Um ou outro tinha vindo do Recôncavo para participar do levante em Salvador.

Na escravidão urbana os cativos gozavam de maior independência do que na escravidão rural, e isso facilitou muito a organização do movimento de 1835. Em geral, os escravos percorriam por toda a cidade trabalhando para seus próprios senhores ou, principalmente,contratados por terceiros para serviços eventuais. Muitos escravos sequer moravam na casa senhorial. Chamados  negros ou negras de ganho, e também de  ganhadores  ou ganhadeiras, esses homens e mulheres escravizados contratavam com seus senhores entregar certa quantia diária ou semanal de dinheiro, e tudo que ultrapassasse esta quantia podiam embolsar. O escravo que trabalhasse muito e poupasse muito podia após cerca de nove longos anos comprar sua liberdade, e muitos assim o fizeram. Alguns chegavam se tornar prósperos homens de negócio, que era a ocupação mais comum dos que prosperavam. Muitos africanos, depois de libertos da escravidão, tornavam-se eles próprios senhores de escravos. Calcula-se em cerca de 7 por cento a proporção dos africanos libertos na população de Salvador na época da revolta dos malês. Eles representariam em torno de 25por cento da população africana na cidade.
Africanos escravos e libertos com freqüência trabalhavam e viviam juntos, desempenhando as mesmas tarefas, morando nas mesmas casas. No trabalho de rua organizavam-se em associações chamadas cantos de trabalho, nos quais se reuniam principalmente os da mesma etnia chefiados por um “capitão” encarregado de acertar os serviços desempenhados pelo grupo. Assim associados enfrentavam o trabalho diário e desenvolviam laços de amizade e solidariedade que constantemente se desdobravam em ações políticas. Esses grupos de trabalho foram essenciais na mobilização dos africanos para a revolta em 1835 e em outras ocasiões. Enquanto esperavam por serviço nas esquinas onde se reuniam, os africanos iam formulando e aperfeiçoando suas idéias de liberdade e de ataque à escravidão na Bahia. Infelizmente não sabemos detalhes do que planejavam fazer os rebeldes depois de

vitoriosos.
 Há indícios de que não tinham planos amigáveis para as pessoas nascidas no Brasil, fossem estas brancas, negras ou mestiças. Umas seriam mortas, outras escravizadas pelos vitoriosos malês. Isso refletia as tensões existentes no seio da população escrava entre aqueles nascidos na África e aqueles nascidos no Brasil. Que fique bem claro: os negros nascidos no Brasil, e por isso chamados crioulos, não participaram da revolta, que foi feita exclusivamente por africanos. Por isso, se o levante tivesse sido um sucesso, a Bahia malê seria uma nação controlada pelos africanos, tendo à frente os muçulmanos. Talvez a Bahia se transformasse num país islâmico ortodoxo, talvez num país onde as outras religiões predominantes entre os africanos e crioulos (o candomblé e o catolicismo) fossem toleradas. De toda maneira a revolta não foi um levante sem direção, um simples ato de desespero, mas sim um movimento político, no sentido de que tomar o governo constituía um dos principais objetivos dos rebeldes.

Apesar de apoiados por africanos não-muçulmanos, que também entraram na luta, os

malês foram os responsáveis por planejar e mobilizar os rebeldes. Suas reuniões — feitas

nas casas de libertos, nas senzalas urbanas, nos cantos de trabalho — misturavam conspiração, rezas e aulas em que se exercitavam a recitação, a memorização e a escrita de passagens do Corão, o livro sagrado do islamismo. O próprio levante foi marcado para

acontecer no final do mês sagrado do Ramadã, o mês do jejum dos muçulmanos. Os malês foram para as ruas guerrear usando um abadá branco, espécie de camisolão tipicamente muçulmano, além de também carregar em volta do pescoço e nos bolsos amuletos protetores, que eram cópias em papel de rezas e passagens do Corão dobradas e enfiadas em bolsinhas de couro ou pano. Esses amuletos eram confeccionados por mestres muçulmanos, muitos deles líderes da revolta, que teriam dado a seus seguidores suas bênçãos e a certeza da vitória.

Cientes de que constituíam minoria na comunidade africana da Bahia, composta de escravos e libertos de diferentes grupos étnicos e religiosos, os malês não hesitaram emconvidar escravos não-muçulmanos para o levante. Neste sentido, a identidade e a solidariedade étnicas constituíram um outro fator de mobilização a entrar em jogo.

De fato identidade étnica e religiosa foi muito importante para deslanchar o movimento.

 A maioria dos muçulmanos que viviam na Bahia em 1835 era nagô. Apesar de na África,e mesmo no Brasil, outros grupos, como os haussás, serem mais islamizados do que os nagôs, coube a estes o predomínio no movimento de 1835. Os nagôs islamizados não só constituíram a maioria dos combatentes, como a maioria dos líderes. Mais de 80 por cento dos réus escravos em 1835 eram nagôs, sendo eles apenas 30 por cento dos africanos de Salvador; dos sete líderes identificados, pelo menos cinco eram nagôs. Eram nagôs os seguintes líderes: os escravos Ahuna, Pacifico Licutan, Sule ou Nicobé, Dassalu ou Damalu e Gustard. Também nagô era o liberto Manoel Calafate. Os outros eram o escravo tapa Luís Sanim e o liberto haussá Elesbão do Carmo ou Dandará, que negociava com fumo. Vistos enquanto grupo étnico os nagôs eram na sua maioria não-muçulmanos, e sim devotos dos orixás, embora fizessem incursões no campo muçulmano. Por exemplo usavam os famosos amuletos malês, considerados de grande poder protetor, e provavelmente recorriam a adivinhos malês, entre outras práticas. Ou seja, naquela fronteira em que as duas religiões se encontrava, os nagôs como um todo, malês e filhos de orixá, também se encontravam. E se encontravam como entidade étnica, como pessoas que falavam a mesma língua, tinham histórias comuns, em muitos casos haviam obedecido aos mesmos reis africanos. Essas convergências facilitaram a mobilização em 1835 para além das colunas muçulmanas. Africano Nagô, que pode ser identificado pelas marcas étnicas no rosto.

Os nagôs vinham de uma parte específica da África, qual seja a região sudeste da

atual Nigéria e a parte leste da atual República do Benin. Eram de diversos reinos espalhados por esse território, como Oió, Queto, Egba, Yagba, Ijexá, Ijebu, Ifé entre outros. Esses reinos durante muito tempo viveram sob a égide do reino de Oió, embora numa espécie de federação imperial. Na época do levante de 1835 essa federação dominada por Oió estava em franca desintegração em função de lutas intestinas generalizadas. Os malês especificamente tiveram sua origem principalmente em Ilorin, que era uma dependência do reino de Oió que se rebelou sob a liderança de Afonjá. Este homem se aliou aos muçulmanos haussás, fulanis e iorubás contra o alafin, que era o título do rei de Oió. Essas guerras foram responsáveis pela transformação de milhares dos habitantes locais em prisioneiros, que eram vendidos como escravos aos traficantes do litoral, e daí exportados para a Bahia.

Embora a grande maioria dos interrogados em 1835 respondesse que era apenas

“nagô”, alguns fizeram questão de ser mais precisos, indicando também o local específico

de onde vinham. O carregador de cadeira Joaquim de Mattos, por exemplo, respondeu ser de “nação Nagô Gexá”, quer dizer de origem Ijexá, um grupo étnico do leste do território iorubá. Joaquim havia se alforriado há pelo menos sete anos e portanto deveria estar na Bahia há cerca de nove anos no mínimo. A liberta Edum disse ser de “nação nagô-bá” e um outro africano interrogado disse ser ela apenas “Bá”, significando ser oriunda de Egba ou Yagba. O liberto Lobão Machado foi bem claro: era de nação “Nagô-Ebá”, ou seja de Egba. Francisco, cerca de 25 anos de idade, escravo doméstico e comprador, que vivia em Salvador há cerca de 6 anos, era Yaba, ou, segundo suas próprias palavras, “Nagô-Abá”. E o escravo José se disse “nagô jabu”, provavelmente natural de Ijebu. A expressão nagô remetia à África descoberta no Brasil, pois só aqui eles se tornariam conhecidos por aquela expressão, enquanto Ijebu, Egba, Yagba, Oyo, Ijexá (ou  Ilesha) representavam a África deixada do lado de lá do Atlântico. O escravo nagô Antônio, doméstico e carregador de cadeira, resumiu bem a questão quando afirmou: “ainda que todos são Nagôs, cada um tem sua terra”.
Ao deporem sobre o grau de envolvimento com o islamismo, muitos interrogados se

reportaram a suas experiências africanas. Alguns disseram abertamente que haviam recebido instrução islâmica na África, possivelmente em escolas corânicas ou madrasas. O nagô Pedro, ao ser perguntado sobre um livro e vários manuscritos em árabe encontrados em seu poder, respondeu: “o livro continha rezas de sua terra e os papéis várias doutrinas cuja linguagem e sua ciência ele sabia antes de vir de sua terra”. Pompeo da Silva, nagô forro, com cerca de 30 anos de idade, “perguntado se ele sabia ou entendia das letras arábicas que usavam os Nagôs, disse, que tendo aprendido em sua terra pequenino que agora quase nada se lembrava”. Antônio, escravo Haussá, pescador, disse que sabia escrever em árabe, mas só escrevia “orações segundo o cisma de sua terra”. Ou seja, não escrevia coisas subversivas, políticas, só orações. Acrescentou que “quando pequeno em sua terra andava na escola”.Amuleto male O escravo nagô Gaspar, preso com grande quantidade de escritos árabes, amuletos,um tessubá (o rosário malê) etc, disse ter sido ele autor dos escritos, e que aprendera o árabe em sua terra. Ele leu trechos do que havia escrito, embora alegasse não saber traduzir para o português.

Observamos em todas essas declarações as lembranças de uma educação muçulmana

na África, às vezes lembranças de quando estes escravos eram ainda crianças. Isso acontecia mesmo no caso dos nagôs, que vinham de um lugar onde o islamismo era adotado por uma minoria, ao contrário do país haussá, onde a religião estava arraigada há tempos. Outras tradições islâmicas também atravessaram o Atlântico, como o já mencionado uso do amuleto. O liberto Lobão Machado acima mencionado, quando preso, levava diversos amuletos protetores em volta do pescoço. Perguntado para que usava aquilo, disse ser para proteger contra o vento. Provavelmente referia-se ao jinn ou anjonu, espécie de espíritos malês. Outros interrogados responderam como ele que os amuletos eram para proteger do vento. Pela quantidade de amuletos apreendidos pela polícia em 1835, muita gente se protegia desta forma contra espíritos malignos. O escravo haussá Antônio acima mencionado usava a educação muçulmana recebida em sua terra para escrever amuletos, que vendia por bom preço — equivalente ao jornal de um escravo de aluguel — a africanos que também desejavam se proteger dessas forças espirituais que haviam acompanhado os africanos ao Novo Mundo.

Tais informações têm o valor de explicitar, através da fala dos interrogados, tradições

aprendidas na África e mantidas na Bahia. Estes depoimentos mostram com muita nitidez

uma projeção da história africana na história brasileira.

É preciso esclarecer que nem todos os africanos muçulmanos existentes na Bahia em 1835 participaram da revolta. As autoridades, porém, usaram a posse de papéis malês como prova de rebeldia e por isso muitos inocentes foram presos e condenados. Os malês receberam diversos tipos de sentença. Foram elas: prisão simples, prisão com trabalho, açoite, morte e deportação para a África. Esta última pena foi atribuída a muitos libertos presos como suspeitos mas contra os quais nenhuma prova definitiva foi encontrada. Mesmo assim, apesar de absolvidos, foram expulsos do país. A pena de açoites variava de 300 até 1.200 chicotadas, que foram distribuídas ao longo de vários dias.
O idoso Pacifico Licutan foi sentenciado a 1.200 chibatadas. Sabe-se de pelo menos um condenado que morreu em decorrência desta pena de tortura, o escravo nagô Narciso.

A pena de morte, foi imposta, inicialmente a 16 acusados, mas posteriormente 12 deles conseguiram sua comutação. Quatro foram no final executados. Eram eles o liberto  Jorge da Cruz Barbosa, cujo nome iorubá era Ajahi, carregador de cal; Pedro, nagô, carregador de cadeira, escravo de um negociante inglês; Gonçalo e Joaquim, ambos escravos nagôs. Todos quatro foram executados por um pelotão de fuzilamento no Campo da Pólvora, no dia 14 de maio de 1835. E assim se findava um dos episódios mais empolgantes da resistência escrava no Brasil.


BIBLIOGRAFIA

Sobre a África dos malês, ler Robin Law, The Oyo Empire, c. 1600-c. 1836: A W est
African Imperialism in the Era of the Atlantic Slave Trade, Oxford: Claredon, 1977; Paul
Lovejoy, A escravidão na África, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003, capítulo 9;

Pierre Verger, Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benim e a Bahia de

Todos os Santos, Salvador, Corrupio, 1987; e Alberto da Costa e Silva, A manilha e o libambo,

Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2002, pp. 451-562.

Sobre trabalho escravo urbano, alforria e africanos libertos na Bahia, leia Maria Inês

C. de Oliveira, O liberto: seu mundo e os outros, Salvador, Corrupio, 1988; João José Reis,

“A greve negra de 1857 na Bahia”, Revist a U S P, nº 18 (1993), pp. 6-29; Stuart B. Schwartz,

“A Manumissão dos escravos no Brasil Colonial – Bahia 1684-1745, Anais de Historia,  nº 6

(1974), pp. 71-114; Kátia M. de Queirós Mattoso, “A propósito de cartas de alforria”, Anais

de História, nº 4 (1972), pp. 23-52.

Sobre a Revolta dos Malês especificamente, ler Joâo José Reis, Rebelião escrava no

Brasil: a história do levante dos malês em 1835, São Paulo, Companhia das Letras, 2003;

Décio Freitas, Insurreições escravas, Porto Alegre, Movimento, 1976; e o livro de Pierre

Verger, Fluxo e refluxo, capítulo IX.

Os depoimentos dos malês presos em 1835 se encontram nos inquéritos policiais e

processos judiciais depositados no Arquivo Público do Estado da Bahia. Esses documentos

já foram publicados em diversos números dos Anais do Arquivo do Estado da Bahia. Também estão sob a guarda do Arquivo

MITOS BRASILEIROS-Gonzaga e Patativa

Iderval Reginaldo Tenório
Crato ,terra do Dr Humberto Macário de Brito,cantado em verso e prosa ,o segundo amor do mestre Luiz Gonzaga com toda  certeza, o primeiro sem dúvida a minha querida Exú, que meu pai e o mestre Luiz chamavam de Novexú,como também a mais amada pelo imortal Patativa do Assaré,a sua primeira ,era a Serra de Santana no querido Assaré,de dona Tudinha.Cantei muito no Assaré na minha época de cantor nos Canarinhos do Cariri,Colégio Salesiano. Sou de Juazeiro do Norte,terra do meu Padim.
                                                           Quero a sua opinião.Iderval.






4Aeroporto Regional do Cariri-Em Juazeiro do Norte




Juazeiro do Norte hoje mais irmanada com o Crato,não existe mais aquele ranço entre estas metrópoles do Cariri. Crato é Crato  um eterno xodó,Juazeiro do Norte é trabalho e fé. De mãos dadas com a querida Barbalha,uma caboca pra dois cabocos,todos dançando e se revesando  no som do progresso  numa sala de reboco.
Iderval Reginaldo Tenório


Quando vinvin cantou
Corri pra ver você
Atrás da serra, o sol
Estava pra se esconder
Quando você partiu
Eu não esqueço mais
Meu coração, amor,
Partiu atrás





Trabaia dois ano,
Três ano e mais ano
E sempre nos prano
De um dia vortar
Meu Deus, meu Deus
Mas nunca ele pode
Só vive devendo
E assim vai sofrendo
É sofrer sem parar
Ai, ai, ai, a
i

Um presente para você que acessa este blog.Comente,Compartilhe,Divulgue, Seja um Seguidor.Iderval


Estas flores  é do acervo do escritor Jorge Cortás Sader Filho ,ofertadas por Mari Amorim sua grande amiga do Rio de Janeiro, como o Jorge é um homem eclético,universal e virado para o bem da humanidade, estou compartilhando para quem acessar este blog. É a vontade de todos que praticam o bem com consciência . 
Iderval Reginaldo Tenório

segunda-feira, 30 de abril de 2012

SERTÃO CARIRIENSE-SUL DO CEARÁ









Sertão  do Ceará-Cariri cearense.   Sul do Ceará logo depois de umas boas chuvas,é um verdadeiro oásis,basta água e lá vem fartura.O solo é rico,basta providencias politicas com decisões acertadas.O nordeste tem solução.Esta fotografia é do acervo do amigo Dr Lino Almeida,engenheiro nascido na Cidade do Exu Pe e radicado em Juazeiro do Norte,Ceará                                
Juazeiro do Norte-Crato e Barbalha

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sábado, 28 de abril de 2012

História de um Dr Invocado

HISTORIA DE UM DR INVOCADO

Após atender este meu amigo de infância, amigo este que considero irmão,fui tomado de surpresa com esta declaração de confiança e humildade por parte do querido Jorge.
Como servidor,como guardião da saúde de um povo maltratado ,de um povo sofrido e  esquecido ,que não é o caso do Jorge ,que além  de engenheiro,é um  intelectual ,um invejável professor,um exímio pai e  de uma família de peso no Estado do Ceará, na cidade do Juazeiro do Norte, seria egoísmo por minha parte, ficar guardando só para este mortal estas empolgantes palavras.
Amigo Jorge,muito obrigado,fiz apenas o que cabe a um ser humano diante de um mega ser humano,apenas agradeço.Apenas.
                                                      Iderval Reginaldo Tenório


  Jorge Luiz Almeida Marques    e o seu irmão Daniel Walker  Almeida Marques(de azul)
História de um Dr. da medicina, que se transforma em Dr. da poesia.


                                                      Título: DR. INVOCADO!!!

Dr. Iderval é mesmo um doutor diferente... No início foi assim: ele foi ao hotel Íbis em Salvador, me pegou com minha esposa Sandra para mostrar um pouco da cidade de Salvador, depois levou a gente para seu consultório médico, que ele abriu especialmente para nos atender. Comecei então a ver as coisas diferentes, que esse doutor tem: A decoração do seu consultório médico toda invocada com quadros com pensamentos, fotos, desenhos artísticos e uma variedade de peças folclóricas, artesanais, históricas e literárias em fim um verdadeiro acervo de arte e cultura nordestina.


O espanto foi grande, que eu e minha esposa sentimos quando o doutor mandou a gente sentar em duas cadeiras, e ele sentou no birô, colocou uma música nordestina que o som saia num rádio antigo do tempo da vovó, foi bom de mais!!! Por que lembrei dos programas de rádio que eu ouvia antigamente na rádio Araripe de Crato com o locutor Eloi Teles e na rádio progresso de Juazeiro do Norte com o locutor João Sobreira.

Eu já não me sentia doente, nem me lembrava do problema de saúde no meu fígado quando o Dr.Iderval se transformou num poeta nordestino, começou a recitar poesias e contos de literatura de Cordel. A cada poesia que ele lia, algumas até decoradas, eu e Sandra chorávamos de emoção e riamos de alegria ao ver aquela interpretação artística perfeita com sua voz de matuto nordestino, a cada declamação eu sentia voltar ao passado que ele estava me mostrando num cenário, onde sentia a presença de Luiz Gonzaga, Patativa do Assaré, Padre Cícero, Lampião, Maria Bonita, Romeiros nordestinos de chapéu de palha, Meu Mano e sua Banda de Pífano, e no fundo do cenário a cidade de Juazeiro do Norte, a Serra do Horto e a Chapada do Araripe. Nunca tive na minha vida um momento saudoso como aquele para me lembrar junto com meu melhor amigo de infância o meu passado tão feliz e inesquecível que desfrutei na cidade de Juazeiro do Norte.

Depois o Dr. da poesia se transformou em Dr. da Medicina, pediu meus exames com relação ao meu problema Gastro Hepático e por fim, fez uma valiosa avaliação médica.



Escrito por Jorge Luiz Almeida Marques.

Para: Dr. Iderval Reginaldo Tenório

Efigênia Coutinho



EFIGÊNIA COUTINHO - Nasci em Petrópolis/RJ. Formei-me em Artes, especializei-me em Tapeçaria de TEAR, buscando os seguimentos Indígenas e sua História Natural, tendo participado de várias exposições. Em 1977 fui residir em Florianópolis SC, sendo que em 1999 mudei-me para Balneário Camboriú/SC. A poesia surgiu em minha vida ainda nos sonhos de adolescente, quando menos esperava, lá estava eu com o papel e a caneta na mão, extravasando a minha emoção. Com o passar dos anos, acho que fui me perdendo, esquecendo de como era gostoso embarcar nesta viagem. Não segui carreira ligada ao mundo das letras, e pouco conhecimento tenho de Literatura. Escolhi Artes como profissão, mesmo sem haver retorno financeiro, pois nada se compara aos tesouros da alma. A vida tem sido muito generosa comigo, me deu uma família linda, amigos maravilhosos, reais e virtuais!! Vou seguindo os caminhos que o meu coração ditar.  Pertenço à Academia de Letras do Brasil, como Membro Correspondente da ALB-Mariana, representando o Município de Balneário de Camboriú e à Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes (AILCA) como Membro Acadêmico Correspondente. E sou Embaixadora Universal da Paz pelo Cercle Universel Des Ambassadeurs De La Paix - Genèbre/Suisse - France.

                                                                             





Quatro estações
Efigênia Coutinho



Os meus sonhos viajam pelas nuvens
Vai na leveza acariciando horizontes
Alcançando a quietude dos montes
Acompanhando a jornada dos ventos
Entre o sol e a chuva na bagagem
Vivem entre as quatro estações
Sendo todas elas infinitamente belas
Tem a doçura das flores na primavera
O vozeio dos pássaros no verão
No outono nos preparamos para colheita
Para no inverno nos aquecemos na lareira
Deixando tudo tatuado com ternura
No verdor de planíce distante...
Dentro do meu pequeno coração!
Então, venha se aquecer comigo,
Deixa sua pele de cor jambo
Roçar entre a minha cor de neve.
Aqueça meu coração com sua chama.
Perfazendo as quatro estações com Amor!
Balneário Camboriú
Abril/2012







TEMPO


 Efigênia Coutinho 

 

Mesmo quando a vida
transcende o espaço
e o imensurável tempo,
mesmo quando toda dor
 toda saudade nos correm,
ainda assim é possível
sentirmos dentro de nós
a presença constante daqueles
que tanto amamos,
pois os corpos se separam
mas não os nossos corações!
28/04/2012




28/04/2012
 
TEMPO
Ilda Maria Costa Brasil

Em algumas circunstâncias,
ó tempo, poderias ser infinito;
em outras, não existir.
Oh! Como seria fantástico
podermos torná-lo acelerado
ou estático, segundo nossos desejos.
Ao bater forte do coração,
pará-lo e, assim, vivenciarmos
intensamente nossos amores.
Tempo, ó tempo...
 

De ti, quero a cumplicidade
para resgatar o respeito
pelos valores do pluralismo,
da solidariedade e do amor


Acessem o Site da Efigênia e vivam momentos de alegrias e de reflexão.


Efigênia Coutinho - AVSPE

www.avspe.eti.br/efi/efigenia.html
ACADEMIA DE ARTES, CIÊNCIAS E LETRAS CASTRO ALVES POSSE ACADÊMICA DE MARIA EFIGÊNIA COUTINHO CADEIRA Nº. 21 – MEMBRO ...

ALDO SOUZA

ALDO SOUZA




Aldo Souza é um compositor da Bahia, nascido na região do Sisal,na cidade de Coité,detentor de mais de 400 letras e músicas ,canta e toca samba,baião e MPB do mais puro sangue.Está de volta depois de voar pelo Rio de Janeiro por mais de 30 anos.Postarei uma das pérolas da música brasileira do mestre Aldo. Valorizar o que tem de bom nesta  terra é o dever de quem gosta e tem compromisso com a Bahia e com o Brasil.
                                                                    Quero a sua opinião .  
                                                                  Iderval Reginaldo Tenório

Escutem e vejam a música,depois voltem e assistam  o documentário sobre o Cangaço,muito bom.

GUERRA DE CANUDOS - ALDO SOUZA - BRASIL - YouTube

www.youtube.com/watch?v=7awFa1AaGi014 ago. 2011 - 4 min - Vídeo enviado por annacarolinarimoli
Aldo Souza, mais uma brilhante composição, gostei muito mesmo, parabéns!!!! Helder de Almeida ..




O Cangaço

A VIOLENCIA OFICIALIZADA NO TEMPO DO CANGAÇOA VIOLENCIA OFICIALIZADA NO TEMPO DO CANGAÇOpor aderbalvideo