RAMIRO, O MAIS QUE BELO
Xico Bizerra
.
Ramiro era muito feio e todos os bonitões da cidade riam de sua falta de beleza. Descaradamente. Até os que também eram feios riam de sua feiúra, tão feia que era.
Na verdade, ele era um dos últimos da fila quando se distribuiu beleza lá nas alturas do céu.
Ele não se importava e seguia a vida, carregando bagagens na estação de trem, trabalhando como chapead (era assim que se chamavam aqueles que transportavam malas, identificados por um número na chapa de bronze colada ao quepe: o seu era o 341).
Um dia Ramiro ganhou de um viajante um espelho encantado que refletia a alma das pessoas que nele se olhassem.
Ramiro olhou, viu-se e passou a rir da feiúra de todos os bonitões da cidade. Discretamente, sem que ninguém percebesse que estava rindo.
O espelho mágico revelou como era feio aquele povo, de alma arrogante, prepotente e podre. E como era belo o Ramiro!
XICO BIZERRA
Poeta, Escritor, compositor e intelectual do Crato-Ceará.
Nenhum comentário:
Postar um comentário