domingo, 13 de julho de 2025

A grande seca no Ceará, Patativa do Assaré e o Gov. PASSIVAL BARROSO.

Iderval Reginaldo Tenório

Seu dotô me conhece?

Poesia do grande Patativa do Assaré, uma das relíquias do meu Cariri, meu Ceará e do Brasil .

A seca de 1960 no Ceará, também conhecida como a "Grande Seca", foi um período de grande escassez hídrica que afetou severamente a região do Sertão Nordestino, causando fome, miséria e êxodo populacional. As consequências foram tão graves que o governo federal precisou intervir com medidas emergenciais e a criação de órgãos como a Sudene para lidar com a situação.

Seu dotô, só me parece
Que o sinhô não me conhece
Nunca sôbe quem sou eu
Nunca viu minha paioça,
Minha muié, minha roça,
E os fio que Deus me deu.

Se não sabe, escute agora,
Que eu vô contá minha história,
Tenha a bondade de ouvi:
Eu sou da crasse matuta,
Da crasse que não desfruta
Das riqueza do Brasil.

Sou aquele que conhece
As privação que padece
O mais pobre camponês;
Tenho passado na vida
De cinco mês em seguida
Sem comê carne uma vez.

Sou o que durante a semana,
Cumprindo a sina tirana,
Na grande labutação
Pra sustentá a famia
Só tem direito a dois dia
O resto é do  patrão.

Sou o sertanejo que cansa
De votá, com esperança
Do Brasil ficá mió;
Mas o Brasil continua
Na cantiga da perua
Que é: pió, pió, pió..

Senhô dotô, não se enfade
Vá guardando essa verdade
Na memória, pode crê
Que sou aquele operário
Que ganha um nobre salário
Que não dá nem pra comê

Sou ele todo, em carne e osso,
Muitas vez, não tenho armoço
Nem também o que jantá;
Eu sou aquele rocêro,
Sem camisa e sem dinhêro,
Cantado por Juvená.

Sim, por Juvená Galeno,
O poeta, aquele geno,
O maió dos trovadô,
Aquele coração nobre
Que a minha vida de pobre
Muito sentido cantou.

Há mais de cem ano eu vivo
Nesta vida de cativo
E a potreção não chegou;
Sofro munto e corro estreito,
Inda tou do mermo jeito
Que Juvená me deixou.

Sofrendo a mesma sentença
Tou quase perdendo a crença,
E pra ninguém se enganá
Vou deixá o meu nome aqui:
Eu sou fio do Brasil,
E o meu nome é Ceará

                       Patativa do Assaré.

Patativa do Assaré, nome artístico de Antônio Gonçalves da Silva (Assaré, 5 de março de 1909 – Assaré, 8 de julho de 2002), foi um poeta, compositor, cantor e violeiro brasileiro, reconhecido por sua poesia popular do Nordeste brasileiro. Ele é conhecido por sua linguagem coloquial e realismo social, retratando a vida no sertão nordestino, suas agruras e belezas, com consciência ética e política. 


Assaré é um município brasileiro do interior do estado do Ceará. Localiza-se a oeste da Chapada do Araripe, na mesorregião do Sul Cearense e na microrregião da Chapada do Araripe.


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