A MEDICINA BRASILEIRA EM APUROS
A DERROCADA DE UMA PROFISSÃO
O cenário político e econômico vaticina dias difíceis para os Esculápios brasileiros.
Muitos foram, são e serão os eventos que os levarão à bancarrota, jogando-os para as laterais.
A abertura indiscriminada de Escolas Privadas sem hospitais que alberguem os estudantes, a chegada de milhares de médicos sem o Revalida, o abandono das Escolas públicas, a desvalorização dos professores, dos assistentes e dos mestres, o sucateamento dos Hospitais Escolas, o fechamento de milhares de leitos SUS, nos pequenos hospitais dos 5700 municípios brasileiros, inclusive fechando quase todos com menos de 50 leitos, a entrega da medicina aos políticos, transformando-a em manobra eleitoreira, e aos grandes grupos privados, retirando das mãos dos médicos a sua condução. A implantação deste cenário, leva os médicos a simples prestadores de serviços, temporários, em vez de integrantes plenos de uma unidade de Saúde e perdem o poder administrativo.
Atrelado a estas condições, vem a medicina Suplementar atuando como intermediária entre o profissional e o paciente, o fechamento dos consultórios artesanais e humanos, sendo substituídos por Empresas Médicas que encaram a medicina, literalmente, como comércio e a invasão do ato médico por outros profissionais em quase todas as especialidades. Atrelados a estas propriedades vem o desgaste social e humano, os baixos salários, a necessidade de labutar cotidianamente em vários empregos, sendo uma das formas de óbitos de profissionais jovens, por acidentes automobilísticos, nas estradas da morte, de município em município, como também o aumento de distúrbios mentais, como as depressões e a síndrome de Burnout, que culminam muitas vezes com a prática do suicídio.
Esta propriedades trouxeram diversos malefícios.
A) Os médicos perderam a prioridade nos cargos diretivos tanto Municipais, Estaduais e Federais.
B)Os Secretários de Saúde e o Ministro não precisam ser médicos, e quando médicos de formação, transformam-se em executivos tecnocratas descompromissados com a saúde e focados nos lados adminstrativo, político ou do assistencialismo a farejar um alto cargo público, muitas vezes vitalício, ou uma cadeira parlamentar.
C) O afastamento dos cargos administrativos nas unidades hospitalares, no programa da família (PSF) e nos demais serviços pertinentes à medicina .
Hoje os médicos estão em segundo plano, forças contrárias aos interesses dos médicos e da medicina incutem na cabeça dos médicos que o seu conselho regional é obsoleto, inerte e prejudicial à classe, é apenas um órgão punitivo. Os médicos encampam estas ideias, passam a não acreditar e nem participar da sua mais importante instituição, tornando-a numa autarquia fraca e sem representavidade.
Caberia uma reflexão mais apurada, que os médicos arregaçassem as mangas e partissem para ocupar espaços nas suas entidades e nas suas autarquias, tanto a Estadual como a Federal. Conselhos fracos, culmina com categoria fraca, na vacância dos Conselhos, serão os leigos os seus julgadores.
O prestígio de uma classe profissional, numa sociedade, está ligado ao poder político (voto), econômico(poder aquisitivo), social(ações) e no domínio dos conhecimentos .
O médico e a medicina humana estão em franca decadência. A informática e a engenharia, da imagem, dominam nos médios e nos grandes centros, para um bom atendimento, basta entrar numa máquina. O raciocínio na propedêutica e o relacionamento médico paciente encontram-se em desuso, a medicina, aos poucos, caminha para ser uma ciência exata, primeiro as máquinas e por derradeiro a clinica, que era soberana.
Não menosprezando a tecnologia, que é
importante e indispensável, porém a
semiologia e a fisiologia não deveriam ser nocauteadas, levando a medicina a um ato frio, tenso e sem compaixão. Sobram máquinas sofisticadas e faltam médicos
médico.
A soberania da clínica, o toque do médico, a
semiologia aplicada, as cãs dos esculápios, a benevolência,
a beneficência e a generosidade da ética ficaram para trás.
Politicamente, os médicos e a medicina, há muito que perderam os seus postos, estão muitas frágeis . No setor financeiro, a medicina virou mercadoria, e os médicos profissionais baratos.
O relacionamento dos médicos com a sociedade
é comercial, segue o código do consumidor com todas as suas
mazelas. Enquanto os médicos utilizam-se da ética, do
conhecimento e da compaixão, os outros são partidários da pecúnia .
Consumindo os suspiros sociais da Medicina, os poderes (Municipal, Estadual, Federal e Judiciário) retiram vagarosa e continuamente as últimas gotas de sangue da velha medicina com taxas, tributos, ditames e impostos exorbitantes.
O Liberal autônomo, devido a intermediação do sistema médico suplementar, os grandes grupos empresariais da saúde, a pejotização e a terceirização do Sistema Público encontra-se sem força, fraco e subserviente.
A medicina e o médico caíram na vala comum, é uma contenda entre a Medicina, a pecúnia e o poder, na qual um dos lados tem como arma a ética, e esta é mansa, educada, paciente, benevolente, caridosa, responsável e respeitadora, enquanto os outros têm a força, a truculência, a política e a saga da enganação. Pela desinformação, propositadamente aplicada à população, vencem os lados da pecúnia, da força e da política.
Apesar deste quadro, é a medicina um dos sonhos dos jovens e de todas as famílias do país, fruto da lisura e da importância da profissão.
A medicina é a mais sagrada das ciências, ela entra na vida de cada um dos cidadãos que vão em busca da cura, do remediar ou do paliar os seus sofrimentos.
O novo sempre vem.
Salvador 18 de Outubro de 2022
Iderval Reginaldo Tenório
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