ZEZINHO E O PAI AUSENTE.
Conta Zezinho, que quando criança, a sua escola organizou uma palestra para explicar o que era um pai presente. Muitas foram as definições e algumas mexeram com a cabeça das crianças. A do Zezinho ficou marcada por uma das definições, de um palestrante, que o levou a concluir que o seu pai, o seu maior ídolo, era um pai ausente. A criança ficou entediada depois da palestra.
Disse a psicóloga Sabildes Alarmina:
"pai presente é aquele que anda
de bicicleta, joga bola, brinca todos os
dias com os filhos, viaja com a família, presenteia os
filhos nos seus aniversários e no natal. Para socializá-los, leva-os
aos restaurantes, cinema, shopping e futebol. Para que os filhos
não fiquem deprimidos, presenciando os colegas portarem objetos
modernos, compra quase todas as novidades do entretenimento. Este é
o verdadeiro pai presente, não tendo este perfil, é um pai ausente"
O menino contou esta história à sua mãe e esta de imediato contou-lhe outra versão, uma vez que o seu pai vivia da lavoura e sempre estava no trabalho.
O menino estranhou a definição da psicóloga e matutou que o seu pai, o seu herói, era um ausente, porém atentamente escutou a versão de sua mãe.
A matriarca, sem pestanejar, falou que o pai citado pela psicóloga é aquele que teve a chance de estudar, possui emprego com carga de trabalho padronizada, tem direitos trabalhistas, férias, licenças remuneradas, feriados e fins de semana. Muitos exercem cargos importantes na sociedade, postos conquistados por concursos, méritos ou nomeados por políticos, outros são empresários ou já nasceram ricos. Estes pais não dependem das chuvas, não trabalham com a terra, com os animais ou a lavoura e quando envelhecem têm garantido a aposentadoria. Chova ou faça sol, receberão os seus salários, salvo numa catástrofe financeira.
Outros, como o seu pai, têm uma vida diferente. Acordam cedo, trabalham diáriamente debaixo do sol causticante, chuvas, poeira e outros riscos para propiciar melhores dias aos filhos. Labutam de segunda a sábado, no domingo vão para a cidade vender a produção, comprar os utensilhos e ficar com a família por um ou dois dias. O domingo é mais um dia de trabalho. Muitos não estudaram, não entendem de futebol, de piscina, circos ou parques, nunca foram ao cinema, teatro ou a um estádio de futebol, todos os dias são dias de trabalho, não têm nem o direto de adoecer.
Diferente do pai ausente, o seu pai está presente em toda a sua vida. O que você come e bebe, as vestes, os calçados, a escola, livros, cadernos, lápis e o sabonete têm a presença do seu pai. O seu pai está presente no que falei e noutras propriedades, como a honestidade, ser um trabalhador incansável, guardar fidelidade para com a família, ser responsável, ético, justo, respeitador, solidário com os familiares, com os amigos e com a sua comunidade.
O seu pai é um dos exemplos de um pai presente. Vive da terra e enfrenta todas as dificuldades. Tudo na lavoura depende da sua presença e são muitas as dificuldades que aparecem. Quando chove tem fartura, quando não chove ou chove demais as coisas ficam ruins. A lida na lavoura tem muitas incertezas, nada é garantido, o que se ganha em dez anos, a seca come em apenas um. A vida é dura, o trabalho e a responsabilidade falam mais alto. Os brinquedos do seu pai são o cabo da enxada, do enxadeco, da foice e a lida com os animais.
Muitos pais, Zezinho, mesmo com diplomas, profissões defininidas e morando nas cidades têm que seguir esta mesma trajetória, trabalham todos os dias, inclusive aos domingos. Muitos são funcionários de grandes fábricas, farmácias, supermercados, jornais, rádios, hospitais e do estado. Outros são vendedores ambulantes, motoristas de coletivos, ambulâncias ou taxistas, policiais, bombeiros, pequenos comerciantes e dedicam a vida, quase que obrigatoriamente, ao trabalho. Muitas profissões exigem que sejam assim. Mesmo que quisessem, jamais seriam iguais a este pai arquitetado pela psicóloga. Existem várias maneiras de definir um pai presente. É um assunto complexo e não é fácil definí-lo.
O Zezinho
então resolveu divulgar o fato para os seus colegas e assim se pronunciou:
"o meu Pai nunca se ausentou da minha vida e está presente em todos os meus momentos.
Minha mãe afirmou que ele nunca foi um pai ausente. Quando não está em casa, encontra-se na labuta em busca do pão, da segurança, da saúde e da educação de sua prole e de todos os agregados que dependem do seu suor.
Diz minha mamãe, que em tudo o meu pai está presente. Está presente na mensalidade da escola, nos livros, cadernos, lápis, borrachas, alimentos, roupas e nos calçados. Está presente nas redes, lençóis, sabonetes, pasta de dentes e em diversas contas que aparecem. Enfim, tudo que consumimos tem o suor do meu pai.
Muitas vezes, minha mãe pega uma colher, raspa a pele do seu rosto, mostra aos seus filhos o suor que vem na colher, e complementa que aquele suor é fruto do seu trabalho, depois afirma que em nossa casa, tudo que nela existe, é fruto do suor do meu Papai.
Lembro-me de um dia muito especial. Estava eu saboreando um gostoso doce de leite, e no final da última colherada olhei para a minha mãe e falei :
” Mamãe, este doce está estranho, a senhora acredita que no final desta última colherada percebi um gostinho de sal? tenho certeza que foi colocado sal neste delicioso doce”
Minha mãe, de imediato falou.:
“meu filho, nunca esqueça que este doce foi feito e temperado com o suor do seu pai, está aí este gostinho de sal no final da última colherada. Seu pai está presente em tudo. Tenha certeza que este sal não é um sal qualquer, é um sal oriundo do suor de seu Pai “
Só depois de adulto consegui decifrar as suas palavras. Minha mãe ensinou muito, a muitos, era uma filósofa realista.
Todos os dias são dias dos
pais.
Abraços para todos
Zezinho
Iderval Reginaldo Tenório
Acordo às Quatro - YouTube
Composição: Marcondes Costa E LUIZ GONZAGA
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