CONVERSA ENTRE TRÊS CRIANÇAS
__“Eu tenho nove, ela
tem sete e o senhor quantos anos tem? ”
__"Mais
de
sessenta, mas estou desenvolvendo um remédio para começar a usar, com
este remédio, em
vez de ganhar, vou perder um ano por ano, até chegar aos trinta,
nesta época deixarei de tomar, ficarei eternamente com trinta anos".
A menina botou a mão no rosto, de soslaio olhou para
a sua mãe, a prima menor e caiu no riso,
riu que as lágrimas derramaram-se pela fina e delicada face, provavelmente pensou
só para si: “ Esse menino é meio tam-tam , parece que não tem juízo”
Todos os olhos presentes marejaram . Enxugadas as lágrimas perguntou em voz baixa, desconfiada:
___ " E pode? é possível? Eu nunca soube disso” .
A pré-adolescente é muito
esperta. O sessentão não teve palavras para continuar. O item em pauta
foi vencido, ninguém tocou mais no assunto, para não virar querela, fora
arquivado.
O ancião falou que, anos atrás , conheceu
uma criança com
seis anos de idade, hoje uma moça bonita, sonha em ser cirurgiã,
quer operar as pessoas,
diz que vai ser médica e muito humana. Depois olhou nos olhos de cada uma e explanou para as duas crianças :
__"Quem
tem foco consegue realizar os seus sonhos, tudo é questão de
tempo , esforço e escolaridade."
Perguntou se gostavam de estudar e
se acordavam cedo.
A de 09 anos respondeu primeiro :
__" Acordo cedo, as vezes tenho
um pouquinho de preguiça, mas acordo para ir para a escola, gosto muito de estudar” .
A mais nova completou :
__ “ Eu não tenho nenhuma preguiça, acordo logo. Na nossa casa
sou a primeira a levantar”.
O senhor fez uma revelação para as três. Falou que quando criança estudava num Grupo Municipal
que ficava defronte a sua, bastava atravessar uma
pracinha e já estava na escola. Todo mundo
era conhecido, não existia, como hoje, tanto perigo para as
crianças.
Frisou
que ia só, com os seus irmãos ou com os colegas, naquela época não
havia tanta maldade. Quando aparecia uma pessoa que não era do bairro,
era considerado um estranho. Todos ficavam de olhos bem aberto .
A
Escola Municipal era muito boa, ensinava até o fundamental. Quase
todos que moravam no bairro estudavam neste grupo. Os professores
eram amigos dos pais das crianças e muitos foram colegas de infância e
estudaram nesta escola. Nela estudavam os filhos do professores,
dos diretores, vereadores e até do Prefeito. Hoje é patrimônio
histórico, foi tombado por um ex-aluno que virou prefeito, é uma
Escola
eternizada.
Todas as vezes que vai à sua cidade, visita o grupo e senta na mesma carteira que estudou, pode não ser a mesma, mas é a do mesmo lugar. Naquele tempo a carteira da professora era chamada de birô, de bureau em Francês. Afirmou para as duas, que só a escola salvará os pobres, elas logo rebateram:
__“ Nós sabemos disso, nós
sabemos e gostamos muito de estudar” .
Falou a mais velha.
A
surpresa é que trouxeram para o
velho amigo, a mais linda xícara
do mundo. Uma bela caneca branca de louça, que
de um lado tem o retrato da sua caricatura, do outro
uma mensagem muito bonita e o retrato das duas.
O abraço da despedida foi longo, muito longo,
foi aconchegante. Mesmo sendo longo, pareceu curto, muito curto, havia
chegado o momento da volta e elas se foram em busca de conhecimentos para as suas casas.
Veio na sua mente
criança, que se diz adulta, um lampejo de preocupação que todos deveriam saber. Explanou para a jovem e para atenta mãe:
__"O mundo ainda tem solução, vamos salvar a nossa juventude, exigir isonomia no ensino básico para todos, vamos exercer a
cidadania. Olhem para os dias de hoje, vejam que dez anos atrás, muitos destes
marginais que assolam a nação tinham
de oito a dez anos, hoje são homens formados, sem nenhuma noção de cidadania, faltou-lhes
escola, ética, família e respeito. Os dirigentes sãos são maiores culpados, o pior é que muita gente esclarecida apoia.
A menina de 09 anos entedeu a fala do idoso e compenetradamente falou :
__"Eu
acredito na ESCOLA e nos bons ensinamentos, eu vou uma médica e a minha prima também, ela quer ser uma pediatra. "
O papo perdurou por mais de trinta minutos sobre diversos assuntos.
Iderval Reginaldo Tenório
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