ZÉ
PIANCÓ
Zé Piancó
nascera sem coração, vivera apenas por viver, a sua sina era trabalhar,
labutar, brigar, cansar o corpo moído. Da boca para o bucho e desta para o mundo
para alimentar outras bocas. O Piancó nascera bicho , para quebrar ossos e queimar o mundo , para maltratar a terra sem ferir a natureza, era um selvagem,
um bruto, era um animal.
Coração
seco , vida real e dura , tão real como o morrer. O Piancó não era pouco
esforço, era exagero, era o sol ardente sem piedade a sapecar as costas da
terra, as descargas dos raios e os estrondos dos trovões nos dias de tempestades. O macho era a poeira, a ventania, o redemoinho a destronar os invasores, o
tronco grosso que resiste ao fogo , a capoeira fechada de gravetos , capim e cipó, na seca tão inflamável como a gasolina.
O Zé era pau
de bater em bicho, corda de amarrar doido, era o amargo do jiló, às vezes o doce da cana caiana, o assobio da cobra, o mormaço da evaporação
e do calor. O Zé era a trama, o trauma e a lama. O sujeito era duro, era escuro como
as noites de trevas, era o miolo da dura madeira, era o fundo lá dos fundos dos
profundos mares, o cabra era a fronde da moita, era o oco do pau, era o manto
do monte, era o centro da terra e o ferro do núcleo. Era pedra, gás, água,
era o incandescente, Piancó era tudo e ao mesmo tempo não era nada.
O Zé era o Zé
e nada mais, nascera sem pai, sem mãe, sem nada, sem beira e talvez sem eira, o
Piancó nascera sozinho, sem rumo, sem prumo e vivera na solidão, na defesa da
vida, da natureza e na defesa do pão.
O Zé da Silva Piancó era um piancó e nada mais, apenas
um piancó, um Dassilva , um Corema, um Cariri. O Zé era um CARIRI.
Iderval Reginaldo Tenório
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