HISTÓRIAS DA CHAPADA DO ARARIPE.
DONA
DUZINHA
CAPITULO I
I
Dezembro de 1954, o
país em frangalhos, o mais popular de todos os presidentes, o Getúlio
Vargas, cometera suicídio no mês de agosto, o Tancredo Neves renuciára ao ministério da Justiça e passou a ser oposição ao Café Filho, o vice que assumira a presidência.
A elite atropelava
a nação com os seus caprichos e em todos os recantos grassavam as doenças, a
fome, o crime organizado e o abandono dos pobres. A atenção estava virada para os desentendimentos políticos e a eleição de Juscelino Kubistchek dali a dez meses, outubro de 1955.
Sofriam os Estados mais pobres, notadamente do norte e nordeste, aqueles que não possuíam infra estruturas, os mais distantes da capital , o Rio de Janeiro. A malária, a febre amarela, a dengue , mazelas virais e bacterianas matavam nos rincões do norte, nordeste , Brasil central , nas zonas rurais de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas, Paraná e Rio de Janeiro mesmo sendo Estados ricos.
Sofriam os Estados mais pobres, notadamente do norte e nordeste, aqueles que não possuíam infra estruturas, os mais distantes da capital , o Rio de Janeiro. A malária, a febre amarela, a dengue , mazelas virais e bacterianas matavam nos rincões do norte, nordeste , Brasil central , nas zonas rurais de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas, Paraná e Rio de Janeiro mesmo sendo Estados ricos.
II
Zé Manoel, um pequeno produtor rural, nascido nas alagoas,
morava no topo da Chapada do Araripe divisa do Ceará com
Pernambuco, hoje patrimônio Nacional. Orientado pelo Padre Cícero vivia da lavoura do feijão , fava , milho, batata doce, mandioca,
da criação de bovinos pé duro , porcos, bodes, carneiros, cavalos , jumentos, galinhas d'angola , carijó e perus.
Era um
trabalhador incansável, inteligente e muito diligente. Num raio de vinte quilômetros era quem comandava, e ao mesmo tempo o intermediário
daquele povo com os centros urbanos; Crato, Bodocó e Exu na venda da lavoura de subsistência.
Pioneiro em quase tudo, do motor a gasolina para a produção da farinha , modernizando
os aviamentos, ao primeiro caminhão. O
primeiro carro de passeio, bicicletas e o primeiro
rádio daquele sertão. Foi mestre na construção de estradas , era quem abastecia a região de gasolina e querosene , foi o responsável por introduzir os utensílios
domésticos e tudo que se consumia na região.
Incentivou
as famílias a comprarem casas no Exu, Poço Verde, Bodocó, Ouricuri, Araripe,
Crato , Juazeiro do Norte, Caruaru e Petrolina com a finalidade de colocar os jovens na
Escola, aqueles que não tinham condições recebiam a sua ajuda, muitos foram beneficiados.
Era um incansável visionário
e futurista, dizia que só a educação poderia salvar os mais pobres e assim se
pronunciava para todos os habitantes da Chapada do Araripe com muita ênfase.
“No futuro a
força muscular não terá mais valor, quem vai comandar é o cérebro. As maiores ferramentas serão os lápis, as canetas, os livros e os
cadernos. Pegar peso, carregar sacos, tijolos, lenhas, areias, arar a terra
, inclusive plantar e colher serão tarefas para as
máquinas . O cérebro será o senhor todo poderoso para a humanidade, quem quiser
viver bem e melhor terá que estudar, o mundo está mudando”
Zé Manoel .
Instituiu
e aplicou a reforma agrária na região , antecipando os poderes públicos. Doou
terras aos mais próximos e aos seus melhores trabalhadores, nunca negou o
fornecimento da maior dádiva da natureza, a
água potável dos seus barreiros e reservas.
Zé Manoel um
baluarte alagoano deste sofrido Brasil. Só quem com ele conviveu sabe das suas ações, muitos foram os seus legados, o principal, o gosto contumaz pela educação dos habitantes da serra do Araripe.
III
Dezembro de 1954, a malária grassava no Estado do Maranhão, o Zé Manoel recebera uma inusitada carta escrita três meses antes, datada do mês de outubro, no conturbado início do governo Café Filho, um dos desafetos do Getúlio Vargas.
“ Compadre Zé, acuda nós, a
doença aqui está matando os homens, morre gente como morre passarinho, ajuda nós, se não nós vamos morrer de fome ou
de malária, o governo não sabe o que fazer, não existe ricurso, não tem escola, agasalhos e falta o pão, falta a dignidade , só existe fome e sofrimento”
Maria Duzinha era casada com o
irmão mais velho da esposa do Zé Manoel, o sr. Ginaldo, homem probo,
trabalhador e um dos mais respeitados da região. Nos idos dos anos 40, no pós seca de 1937, deixou a sua região
nas Alagoas, Palmeiras dos Índios, e foi escapar no Maranhão. Levou seis filhos
e lá nasceram mais cinco, com a morte do Getúlio e a crise no país vinheram as dificuldades, a
Maria Duzinha pediu socorro ao cunhado que não arredara das orientações do Patriarca do Juazeiro do Norte , o
Padre Cícero Romão Batista.
O Zé Manoel não
perdeu tempo , foi diligente. Comprou
mais um pedaço de serra , pura mata, levantou casa ,
construiu barreiro, chiqueiros, comprou alguns porcos,
cabras de
leite, dois ou
três
jegues de carga, plantou roças de feijão, milho, favas , andu e mandiocas, pegou o seu caminhão Chevrolet e mandou
buscar a família da
comadre Duzinha, doou a terra com as suas benfeitorias. Por mais de um ano , depois do regresso de toda a familia, ficaram morando na casa do Zé Manoel .
A Serra do Araripe ganhou a sua amazonas, a sua casa passou a ser
o ponto de encontro dominical para todos da familia . Durante muitos anos Dona Duzinha passou a ser a mais enérgica
mulher da Chapada , num raio de quarenta quilômetros foi a maior e mais importante amansadeira de burros e cavalos bravos .
Apesar
de ser os seus filhos exímios amansadores , era a matriarca
a preferida, principalmente quando os
animais eram encomendados para
transportarem mulheres, crianças e noivas nos dias de casamentos.
Diziam os
contratantes que os animais que Dona Duzinha amansava eram mais obedientes, delicados, mansos,
conheciam o aveludamento das vozes e os agudos estrogênicos das mulheres . Os animais respeitavam as mulheres , as crianças e as noivas.
Dona Duzinha era dura e exigente , porém delicada, mansa, compreensiva e respeitada, era uma dama , era a mais temida mulher da redondeza. Em pouco tempo assumira as rédeas da casa, o seu esposo falecera logo ao chegar do Maranhão .
Dona Duzinha era dura e exigente , porém delicada, mansa, compreensiva e respeitada, era uma dama , era a mais temida mulher da redondeza. Em pouco tempo assumira as rédeas da casa, o seu esposo falecera logo ao chegar do Maranhão .
IV
Zé Manoel , a sua esposa e Maria Duzinha
fazem parte da vida de todos os serranos. Bucho cheio ,
respeito coletivo e o incentivo à educação eram os alicerces para vencer as
agruras da vida sem se esquecer das enxadas, enxadecos, cavadores, foices, roçadeiras , facões , machados, pés de cabras na estica do arame , cangalhas , caçuás, ancoretas e dos cambitos na lida diária no transporte
da mandioca, farinha, água e da lenha .
A união familiar do Zé Manoel e de sua esposa com a Maria Duzinha, a amazonas da Serra do Araripe, fez
a
diferença, constituindo o maior laço familiar de toda a Chapada. A
luta foi árdua , dura e desgastante, porém profícua.
Valeu a pena e
como valeu.
Iderval
Reginaldo Tenório
MEU ARARIPE
-DE JOÃO SILVA COM LUIZ GONZAGA , 1968-
Luiz Gonzaga - Meu Araripe - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=mVFAJWJFTi0
24 de fev de 2016 - Vídeo enviado por Geylsson Ylsson
Música do CD: Luiz Gonzaga – 50 Anos de Chão. ... Luiz Gonzaga - Meu AraripeMeu Araripe - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=TrXCDamaYD4
18 de mar de 2012 - Vídeo enviado por apfrezende G
Música Me
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