terça-feira, 28 de julho de 2020

O que Pasteur pensaria de hoje Por Margareth Dalcolmo 28/07/2020 • 04:30




Louis Pasteur 1
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Pensar à luz do momento grave em que vivemos, no imenso número de questões que nos desafiam, sobretudo com olhar prospectivo num porvir que nos é ambíguo, entre voltar à velha normalidade, com seus encantos e horrores, ou lutar por um genuíno novo tempo, nos traz de pronto a lembrança de mentes e cientistas excepcionais que marcaram os últimos séculos.


Entre eles, nos estimula a refletir sobre como reagiria, por exemplo, Louis Pasteur, esse genial aventureiro da ciência no século XIX, e cujas descobertas nos legaram tanta contribuição útil até os nossos dias. Dono de uma personalidade enigmática, com trajetória atípica para sua época, visto que, saindo de seu trabalho modesto em curtumes, onde descobriu seu veio para a química e a física, chegou ao cume do reconhecimento, sendo recebido nas Academias Francesa, de Medicina e de Ciências. Com uma vida permanentemente marcada por dramas pessoais de um destino implacável, vencendo sucessivamente as perdas de seus mais próximos, inclusive de três filhas, duas por febre tifoide, e sofrendo uma hemiplegia aos 46 anos, manteve a fleugma, a chama da curiosidade, a grandeza de espírito e a racionalidade em seu permanente compromisso com a ciência.


Descobridor da vacina antirrábica, Pasteur demonstrou que muitas doenças eram efetivamente causadas pela contaminação por microrganismos. Entendendo os mecanismos de transmissão infecciosa, também enfatizou a necessidade de melhorias nas práticas hospitalares, como a limpeza das mãos e esterilização de materiais e equipamentos. Veria sem dúvida com otimismo a perspectiva de controle da presente pandemia com o acesso às vacinas eficazes, hoje, mais do que qualquer fármaco, a grande arma contra as doenças virais.


Sabemos que todas as vacinas devem cumprir as mesmas fases de ensaios clínicos controlados, com número válido de participantes e protocolos aprovados eticamente. Com a pandemia, verifica-se uma sinalização positiva por parte das agências regulatórias, com cuidadosa aceitação dos resultados das fases 1 e 2 e preliminares de fase 3, estes com evidências de eficácia e segurança. Com isso pode-se potencialmente obter aprovação e registro regulatório para uso emergencial visando o enfrentamento da epidemia. Vale dizer que as vacinas mais promissoras em teste se valeram de resultados anteriores quando criadas para outros coronavírus como os da Sars e Mers, anos atrás, o que lhes que propiciou a aceleração de testes no momento atual.


Em relação à variação de sintomas causados por diferentes cepas de coronavírus, conforme divulgado por estudo recente do King’s College, na Inglaterra, podemos dizer que isso ocorre mesmo entre vírus de RNA; porém que as taxas de mutação do Sars-CoV-2 são sabidamente muito baixas até agora; e, sobretudo em termos de impacto vacinal, o que dará resposta de efetividade das novas vacinas é a farmacovigilância a ser implementada, como é rotina no Brasil para todos os produtos de uso humano. Vale lembrar, como sob o olhar atento de Louis Pasteur, “aquele cuja glória terá conquistado o mundo sem custar uma só lágrima à humanidade”, segundo seu filho espiritual Émile Duclaux, que toda a comunidade científica do planeta e a sociedade civil estarão atentas a esses resultados

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