Capítulo 1 – 1960 a 1986 – da juventude universitária católica ao grupo “Luz”
Por Ubiratan Félix*
Na década de 1960, o Movimento Estudantil (ME) universitário baiano
estava praticamente restrito à Universidade Federal da Bahia (UFBA), e a
principal entidade organizativa dos estudantes foi a União dos
Estudantes da Bahia (UEB). O Diretório Central dos Estudantes (DCE–UFBA)
era uma entidade com finalidade de prestação de assistência aos
estudantes, principalmente em relação à residência e ao restaurante
universitário.
No movimento estudantil baiano havia duas grandes forças políticas,
entre elas o Partidão (Partido Comunista Brasileiro) que tinha entre os
seus quadros Jorge Medaur e a JUC (Juventude Universitária Católica –
que depois se tornaria a famosa Ação Popular, AP), que tinha Haroldo
Lima, Severo, Jorge Leal Gonçalves e Paulo Mendes como lideranças, e
eram conhecidos como os “três mosqueteiros da Politécnica”.
Em 1961, o I Seminário de Reforma Universitária da União Nacional dos
Estudantes (UNE) aconteceu em Salvador. Na época, o presidente da UNE
era o estudante goiano, Aldo Arantes que, no futuro, seria membro da
comissão executiva da AP e do PCdoB e eleito Deputado Federal por duas
legislaturas.
Após o golpe de 1964 com a crise do PCB em nível nacional, surgiram
na Bahia as dissidências estudantis do PCB, que se aliavam a POLOP local
e nacionalmente, formando um bloco cuja prioridade era a luta “sindical
ou específicas dos estudantes”. Por outro lado, o bloco AP/PCdoB
defendia que a tarefa central do movimento estudantil era a denúncia do
regime fascista de 1964, organizando, inclusive, grandes atos que eram
violentamente reprimidos pela ditadura. Esta atuação tinha a finalidade
de mostrar às grandes massas operárias e camponesas que não havia ilusão
para uma saída democrática.
No período pós-golpe na Bahia, entre as principais lideranças do
bloco AP/PCdoB se destacou José Fidelis Sarno, que assumiu a presidência
da UNE em 1965 em substituição a Altino Dantas. Hoje, Fidelis é
engenheiro e empresário. Já do bloco POLOP/DISSIDÊNCIAS, podemos
destacar o estudante de engenharia química da POLI–UFBA, Pery Falcon,
atual dirigente do PT–BA; e pelo PCB, o estudante de arquitetura Sérgio
Passarinho, presidente da UEB em 1968 e que seria, em 1982, vereador
pelo PMDB de Salvador.
No inicio da década de 1970, a UNE e a UEB estavam na ilegalidade. O
último presidente eleito da UNE foi Honestino Guimarães, considerado
desaparecido político. Outros diretores, como José Genoino, estavam na
luta armada no Araguaia. Antigos militantes da década de 1960, como
Fidelis Sarno, Haroldo Lima, Severo e Jorge Leal Gonçalves estavam na
clandestinidade, no exílio, presos ou também contabilizados como
desaparecidos políticos.
Em 1973, estudantes iniciam um movimento de reconstrução do DCE–UFBA e
dos diretórios acadêmicos. Eles eram ligados principalmente ao
PCdoB/AP, com destaque para Olival Freire, que atualmente é professor de
Física da UFBA; e Manoel José, que foi professor da Faculdade de
Arquitetura, falecido em 2005.
No período de 1973 a 1983, a corrente “Viração” (braço estudantil do
clandestino PCdoB) hegemonizou o ME baiano e da UFBA. Nesse processo de
luta, quadros importantes surgiram, como Luiz Nova (foi Deputado
Estadual do PMDB e PCdoB); Vandilson Costa (foi Deputado Estadual do
PMDB e PCdoB); Clara Araújo (foi presidente da UNE); Ruy César (foi
presidente da UNE); Javier Alfaya (foi presidente da UNE e Deputado
Estadual); Lídice da Mata (foi presidente do DCE–UFBA, prefeita de
Salvador e atualmente é Deputada Federal); Sidônio Palmeira (foi
presidente da UEB e atualmente é empresário do setor publicitário).
Na oposição ao PCdoB destacava-se a corrente “Combate” com muita
inserção em Cruz das Almas, que era liderada por Jersulino Moraes
(Binho) que, no futuro, seria Engenheiro Agrônomo, presidente da Empresa
de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado da Bahia (EMATER-BA) e
Deputado Estadual pelo PDT; Wilton Cunha (Betânia) que seria secretário
de finanças de Vitória da Conquista e Diretor Geral da Secretaria de
Educação da Bahia. Também na oposição havia a corrente “Unidade”, que
tinha Zulu como sua principal expressão e os membros da União dos
Residentes Livres e Comensais (URLC), que tinha forte base de apoio na
residência estudantil e usuários do Restaurante Universitário. O seu
principal expoente era Lu Cachoeira.
No início da década de 1980, o PCdoB atingiu o ápice de sua hegemonia
no ME baiano, elegendo Lídice da Mata presidente do DCE da UFBA e
vereadora, a terceira mais votada de Salvador em 1982 e mais dois
ex-militantes eleitos vereadores do movimento estudantil: Jane
Vasconcelos e Ney Campelo. Além disso, o partido ainda dirigia o
DCE–UFBA e UEB. Dos cinco presidentes da UNE eleitos até 1983, três eram
baianos e todos do PCdoB.
Em 1983, a chapa “Solidariedade” – que reunia militantes estudantis
da “Correnteza” (corrente ligada a OCDP, antiga AP – Ação Popular) com o
apoio dos independentes – conseguiu, pela primeira vez, derrotar a
“Viração”. É importante destacar a atuação do então estudante do
Estudante de Medicina Jorge Solla, atual Deputado Federal do PT- BA e
Luís Eugenio Portela, atual Professor de Medicina da UFBA.
Em 1984, a “Viração” retomou o DCE–UFBA, reelegendo em 1985, quando
foram apresentadas três chapas: “Transformar” (novo nome da Viração),
“Diretas Já” (correntes petistas) e “Luz” (grande novidade do Movimento
Estudantil, pois se autoproclama independente, apartidária e tem como
principal bandeira à priorização das lutas específicas dos estudantes). A
chapa “Luz”, com amplo apoio dos estudantes independentes, dos oriundos
de “Combate” e da URLC, fica em segundo lugar derrotando a chapa ligada
às correntes do PT.
Em 1986, o desgaste do PCdoB/Viração é evidente. A chapa ligada à
“Correnteza” – corrente estudantil ligada à organização MCR (Movimento
Comunista Revolucionário) que atuava no PT – conquista o DCE da
Universidade Católica de Salvador (UCSAL). E, na UFBA, a chapa “Luz” tem
uma vitória arrasadora, sem o apoio ou simpatia das correntes
organizadas do PT. Esta chapa foi liderada pelos estudantes Reinaldo Neto (Engenharia Mecânica e atualmente empresário do setor de manutenção e projetos industriais),Edson Brochado (Engenharia Elétrica), Ronney Greve (Direito), Zé Neto (estudante de Física e atual deputado federal do PT-BA), Zé Luiz (Direito), Zeca Diabo (Veterinária), Rosan (Farmácia), Bonfim (Museologia), entre outros.
É importante ressaltar o papel que o Engenheiro Agrônomo Jersulino
Moraes (ex-líder estudantil da corrente “Combate”) e Luis Cachoeira
(sociólogo da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR)
tiveram na formação da chapa e do grupo “Luz”. A gestão à frente do
DCE-UFBA é inovadora e realizam palestra sobre o pacote econômico com
Eduardo Suplicy; Festival de Cinema Eisenstein; debate sobre reforma
universitária; e avaliação dos docentes pelos discentes, por exemplo. Em
vista deste quadro, a chapa “Luz” resolve em 1987 lançar a chapa
“FAÇA–SE A LUZ (FIAT LUX)”, única inscrita, configurando fato inédito na
história da UFBA e que refletia a desorganização politica da “Viração” e
das forças organizadas que atuavam naquele momento no movimento
estudantil.
A chapa “Faça–se a Luz” é liderada por Ubiratan Félix (Engenharia
Civil); Edson Valadares (Sociologia); Marquinhos (História); Afonso
Florence (História e atual Deputado Federal do PT-BA); Bocão (Física);
Paulo Vasconcelos (Medicina); Carlito (Medicina); e André Luís
(Engenharia Civil). O Grupo de São Lázaro não apoia a esta construção e
prefere se abster da votação. Esta aliança era liderada por Robson
“Dinossauro”, Eduardo (atual Professor da UNEB), Amélia Malraux (que foi
vice–Reitora da UNEB), André Cafezinho (atual professor da UEFS), assim
como a “Caminhando” (José Geraldo G-2 estudante de Sociologia e futuro
secretário de Meio Ambiente do Estado da Bahia no Governo Rui Costa do
PT e Jorge Solla atual deputado Federal do PT-BA) e da “Correnteza”
Nelson Pelegrino (que era estudante de Direito da UFBA e atual deputado
federal e Rafael Luchessi, estudante de Economia e atual diretor da
Confederação Nacional da Indústria.
Na gestão “Faça-se Luz” dois grupos foram formados. O primeiro foi
liderado por Afonso Florence, Edson Valadares e Robinson Almeida,
configurando a composição majoritária que daria origem à corrente
“Democracia Socialista” (D.S). O segundo foi liderado por Ubiratan
Félix. Embora com força minoritária, o grupo tinha maioria nos
diretórios acadêmicos. Entre os quadros estavam Zé Luis, Jadir, Augusto
Bocão, Chambinho, Vitor Sarno que, mais tarde, iriam compor o núcleo
fundador da futura Articulação Estudantil (A.E), também conhecida como
“É preciso ousar”, cujo símbolo é a borboleta.
Capítulo 2 – A crise de hegemonia do grupo “Viração” na UNE
A partir da reconstrução da UNE, em 1979, no Congresso de Salvador, a
corrente “Viração” – que no Sul se chamava “Caminhando” – hegemonizou o
movimento estudantil nacional, elegendo todos os presidentes, Rui
César, Aldo Rebelo, Clara Araújo, Javier Alfaya, Renildo Calheiros e
Gisele Mendonça. Foi neste congresso de reconstrução que o grupo elegeu,
por meio de chapa de unidade, o estudante de comunicação, Rui César.
Sua eleição foi fruto de sua eficiente atuação na presidência do
DCE–UFBA. Na direção do XXXI Congresso da UNE havia outros candidatos
como Valdelio Silva (Viração), Paulo Massoca, Marcelo Barbieri
(Refazendo) etc.
É importante reafirmar que a indicação de Rui César não foi em função
de um veto da “Viração” a Valdélio Silva por este ser negro. Este
rumor, que foi muito difundido na Bahia na década de 1980, não tem base
histórica. Durante a minha gestão na UNE, em 1988, eu tive a
oportunidade de conhecer e conversar com diversos dirigentes estudantis
como Marcelo Barbieri (que foi Deputado Federal pelo PMDB-SP); José
Genoino (foi Deputado Federal pelo PT–SP), José Dirceu (foi Deputado
Federal pelo PT–SP); Jean Marc Van Der Weid (presidente da UNE em 1968);
Wladimir Palmeira (que foi Presidente da UME–RJ e também Deputado
Federal PT–RJ); Luis Guedes (presidente da UNE em 1967); José Serra
(presidente da UNE em 1964 e Ex-Governador de São Paulo pelo PSDB); e
Candido Vacarreza (baiano que foi Deputado Federal do PT–SP). Destes,
todos foram unânimes em reconhecer como natural a indicação de Rui César
para Presidente, devido a seu papel na direção e articulação do
Congresso de Reconstrução da UNE.
Em 1984, na eleição de Renildo Calheiros (atual deputado federal do
PCdoB–PE), pela primeira vez, a “Viração” foi minoria entre os delegados
do Congresso da UNE. Diante deste cenário, a “Viração” compôs uma chapa
com a “Caminhando” (corrente estudantil ligada à dissidência do PCdoB,
futuro PRC, Partido Revolucionário Comunista) que indicou, entre outros,
o vice–presidente José Utizig. Já a “Correnteza” (grupo ligado à OCDP)
indicou o estudante de direito da UFBA, Nelson Pelegrino (atual Deputado
Federal PT-BA).
EM 1985, à revelia da “Viração”, o CONEB da UNE realizado em Vitória
da Conquista (BA) aprovou eleições diretas para diretoria da UNE. Foram
apresentadas as seguintes chapas “UNE LIVRE” (Viração/PCdoB), “Pra Sair
Dessa Maré” (“Caminhando”, “Correnteza” e demais correntes do PT), “Pra
Arrebentar a Boca do Balão”, entre outras. A eleição foi bastante
tumultuada e todas as chapas – com exceção da “UNE LIVRE” – não
reconheceram o resultado da eleição devido às denuncias de fraudes
“patrocinadas pela Viração” que ocorreram principalmente em São Paulo.
Na Bahia, a corrente “Luz” que dirigia o DCE–UFBA e o grupo de “São
Lázaro”, assim como o que restava das composições “Caminhando” e
“Correnteza”, apoiaram a chapa ”Pra Sair Dessa Maré”. Esta aliança
permitiu que o pessoal do Grupo Luz aprofundasse a sua relação com o
PT.
A gestão “UNE LIVRE” – presidida pela estudante mineira Gisela
Mendonça e atual editora da revista Fórum – não foi reconhecida pela
maioria das entidades estudantis brasileiras. Em vista disto, o PCdoB
propôs a criação de uma comissão paritária com as forças de oposição
para organizar o XXXVIII Congresso da UNE, em Campinas (SP).
O DCE–UFBA, que era dirigido pela gestão “Faça–se a Luz” teve um
papel importante nesse processo representando os DCE’s Independentes do
Nordeste. A liderança que representava esta articulação na comissão
organizadora era Ubiratan Félix, estudante de engenharia civil da UFBA.
O congresso de Campinas, realizado em 1987, pôs fim à hegemonia do
PCdoB/Viração na direção da UNE. Pela primeira vez, os petistas
apresentavam uma chapa unitária representando todas as correntes do
partido. A diretoria da UNE era encabeçada pelo estudante de História da
UFPA e militante da “Caminhando”, Valmir Santos. Esta corrente tinha,
além da presidência, mais cinco diretorias. Já a “Democracia Socialista”
compunha a vice–presidência com o estudante gaúcho Milton Pantaleão e
mais uma diretoria. A “Articulação Estudantil” tinha a Secretaria-Geral
com Eugenio Pasqualini e mais cinco diretorias e a “Convergência
Socialista” com duas diretorias. Por fim, o Coletivo Gregório Bezerra
conquistou uma diretoria.
No Congresso de São José dos Campos (SP), em 1988, o PCdoB foi
novamente derrotado. Pela primeira vez, houve uma convenção dos
delegados petistas para indicar quem encabeçaria a chapa do campo do PT.
Foram apresentados dois candidatos: Juliano Corbelini da “Caminhando” e
Hamilton Lacerda da “Articulação Estudantil” com apoio da D.S., sendo
que o Juliano Corbelini foi o vencedor.
A “Articulação Estudantil” (AE) tinha oito diretorias, formando a
maior força política da UNE. Em uma reunião da Comissão Executiva
Nacional da AE foi decidido que seus principais quadros deveriam ocupar a
posição de vice nas regionais da UNE, com objetivo de ampliar a
influência da corrente nos DCE’s e UEE’s. Desta forma, Hamilton Lacerda
foi vice-presidente regional de São Paulo, Bira vice-presidente Regional
da Bahia e de Sergipe e Eugenio Pasqualini, vice-presidente da regional
de Minas Gerais.
A partir da sua indicação para vice–regional da UNE, Bira começou a
construção da “Articulação Estudantil” na Bahia. No final de 1988, Julio
Rocha foi eleito Presidente do DCE–UFBA. Já o DCE–UNEB era dirigido por
Carrilho Guanaes e por outros membros da “Articulação Estudantil”, na
UESC. Adeilton e outros companheiros da AE dirigiam o DCE, na UCSAL. Por
meio do Centro Acadêmico de Direito – que era dirigido por Adriano
Romariz, Elder Verçosa, Jânio Coutinho, Marta Simone, Ariadne Murici,
entre outros – houve uma composição com o grupo de Serginho São Bernardo
que era militante da D.S., com o objetivo de formar uma chapa de
unidade do campo PT, que derrotou novamente o PCdoB.
A partir da UNE, a “Articulação Estudantil” tornou-se a corrente
hegemônica no movimento universitário baiano e revelou alguns quadros
que, hoje, são pessoas importantes na sociedade baiana como: Paulo
Gabriel, que ex-reitor da UFRB (LUZ); Zé Neto, deputado federal do PT–BA
(LUZ); Jerônimo Rodrigues, atual secretário estadual de educação da
Bahia (AE); Julio Rocha diretor da faculdade de Direito da UFBA;
Alexandre Chambinho, advogado e professor universitário.
Capítulo 3 – Nasce Articulação Estudantil
No congresso da UNE de 1987, em Campinas (SP), nasce a corrente Articulação Estudantil
(AE), que contou com o apoio do então Deputado Federal do PT–RJ
Vladimir Palmeira (Presidente da UME–RJ em 1968) e do então Deputado
Estadual do PT–SP José Dirceu (Presidente da UEE–SP em 1968). Dirceu
achava importante o surgimento de uma corrente petista no movimento
estudantil que tivesse como finalidade a construção do PT como um
partido estratégico, já que as correntes que atuavam no PT na época o
consideravam um partido tático e eleitoral, sendo que algumas
organizações como PRC atuava no paralelamente no PT e no PMDB. Estas
organizações, na visão de Dirceu e Palmeira, eram verdadeiros partidos
dentro do partido.
Participaram do núcleo inicial da AE: Luis Martins (estudante de Física, diretor do DCE–UNICAMP e atualmente professor da Universidade Federal de Juiz de Fora); Takemoto (estudante de Engenharia Mecânica e Diretor do DCE–UNICAMP); Hamilton Lacerda (estudante de engenharia elétrica e diretor do DCE–UNICAMP), Kalil Bittar (estudante de Química, Diretor do DCE–UNICAMP e atual empresário do setor de informática); William Alberto (estudante de História, coordenador geral do DCE–USU e ex-Secretário de Educação do Rio de Janeiro); Flavio Dino (estudante de Direito, Presidente do DCE–UFMA e atual Governador do Maranhão pelo PCdoB); José Augusto Góes (estudante de Geografia, diretor da DCE-UFSE e ex-assessor da Presidência da PETROBRAS); Eugenio Pasqualini (estudante de Psicologia da UFMG); Ubiratan Félix (estudante de Engenharia Civil, coordenador geral do DCE-UFBA e atual Presidente do SENGE–BA e vice-presidente da Fisenge).
A “Articulação Estudantil” defendia a concepção de que o ME era um
espaço diferenciado de atuação política, que não era superior tampouco
inferior ao movimento operário e camponês. Em vista disto, a AE defendia
que a prioridade do movimento estudantil deveria ser as lutas relativas
ao acesso e à qualidade da educação universitária, como itens
prioritários do Programa Democrático Popular de transformações rumo à
sociedade socialista. A Articulação Estudantil
trabalhava com conceito de minoria ativa, em contraposição ao conceito
de vanguarda (defendido pelo PCdoB e pela quase totalidade das correntes
petistas). A minoria ativa dirige o movimento de acordo com os
interesses das grandes massas, impulsionando a suas reivindicações para o
campo democrático e popular.
As principais bandeiras da Articulação Estudantil
eram de reestruturação do movimento estudantil, visto que na sua
concepção existia uma crise na organização, oriunda das décadas de 1950 e
1960, que não era condizente com as demandas; bem como as
reivindicações dos estudantes da atualidade e a unidade da ação dos
militantes petistas no movimento. De forma sintética podemos relacionar
como principais propostas:
- Extinção das UEE´S e criação da UNE´s Regionais;
- Ampliação do Conselho Nacional de Entidades Gerais (CONEG) com inclusão das executivas e/ou federações de cursos;
- Eleição dos Delegados para o congresso nacional da UNE nas instâncias regionais;
- Priorização das lutas “sindicais e/ou especificas dos estudantes”;
- Atuação unitária do PT no movimento estudantil, ou seja, as correntes e/ou tendências não deveriam ter expressão externa;
- Fortalecimento
das instâncias partidárias, como ENEPT (Encontro Nacional dos
Estudantes Petistas) e secretarias nacionais, estaduais e municipais de
juventude.
A corrente teve, ainda, uma atuação relevante até 1993, quando o
racha na antiga “Articulação” do PT provocou o surgimento da
“Articulação Unidade na Luta” e da “Articulação de Esquerda”. É
importante ressaltar que a maioria das lideranças oriundas e/ou atuantes
na “Articulação Estudantil” tinha uma grande inclinação pela
“Articulação de Esquerda”. Questões relacionadas à luta política e de
espaço nos estados fez que muitos destes não se posicionassem e/ou
tentassem a neutralidade.
Com a evolução dos fatos, duas diferentes posições passaram a existir
na “Articulação Estudantil”: a primeira defendia que o racha da
“Articulação Estudantil” deveria ficar circunscrito ao PT e os
militantes deveriam continuar atuando de forma unitária no movimento,
independentemente da posição que cada um adotasse no PT (este
posicionamento foi adotado pela articulação sindical). A segunda – que
terminou majoritária – defendia o fim da “Articulação Estudantil” e que
as posições adotadas no PT fossem também assumidas no movimento
estudantil.
Na Bahia, Ubiratan Félix – que já era formado em Engenharia Civil –
defendeu a primeira posição, assim como Alexandre Sales Vieira, então
vice–presidente Nacional da UNE. Adriano Romariz e Jânio Coutinho
defenderam a segunda posição que, no futuro, seria a posição vitoriosa
no Brasil e na Bahia.
*Ubiratan Félix Pereira dos Santos (Bira) foi
Coordenador Geral do DCE – UFBA em 1987, vice-presidente da UNE em 1988
a 1989, membro da comissão executiva da Articulação Estudantil de 1988 a
1989. Atualmente é professor do IFBA e Presidente do Sindicato dos
Engenheiros da Bahia.