quinta-feira, 18 de agosto de 2022

O Coronel Tenório e o Capitão Virgolino Ferreira Lampião

 

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O Coronel Tenório 


o Capitão Virgolino Ferreira Lampião

I-
A CHEGADA DO BANDO

O Coronel  Tenório era um homem de fibra, valente e decidido, porém calmo e respeitador, foram estas as propriedades que lhe deram grande liderança  em todo o sertão das terras dos marechais.

Historiam  os mais velhos da família , os amigos e alguns dos seus funcionários,  que num belo domingo ensolarado , na Fazenda Alvorada,  nos sertões das Alagoas, lá pelos idos de 1930, adentrou na sua fazenda o bando do famigerado e facínora Capitão Virgolino Ferreira Lampião, naquela época  o capitão  era considerado o terror do nordeste, o destruidor das famílias e dos homens de bem e de bens, e  que para se manter popular e protegido,  deixava para os mais pobres uma pequena parte do apurado, com esta estratégia, raro era o capiau que o denunciasse, foi assim que construiu o seu condado e a sua governança. 

Conta-se que Lampião ao chegar à casa principal, bem na hora do almoço, quando o sol batia verticalmente sobre a cabeça dos sitiantes, foi recebido pelo velho Tenório com muito respeito e entusiasmo, Lampião adentrou com seis capangas , a  Maria Bonita ficou na varanda.

          II- 

A RECEPÇÃO DO CORONEL TENÓRIO E A REAÇÃO DO CAPITÃO VIRGOLINO

O Velho  Tenório, que prandiava um saboroso ensopado de carneiro com muita pimenta, levantou-se e com voz firme e alta falou dirigindo-se ao nobre visitante:

"Seja bem vindo a esta morada Capitão Virgolino Ferreira Lampião, há muito que espero e aguardo por sua aconchegante visita , se aproxime e se aprochegue, ajunte-se a nós e traga os seus cabras, aqui tem comida para todos e da boa, depois tiraremos uns bons dedos de prosa."

 Lampião ficou calado e perplexo com a  inusitada e   corajosa recepção, um dos seus homens preparou o fuzil mauser 1908 e avançou o polido pente cheio de  cápsulas para a culatra , encaixou a coronha no peitoral à direita ,  colou o grosso e calejado  dedo indicador no gatilho e mirou o velho Tenório.

O Capitão Lampião na bucha falou:

"Abaixe a arma cabra, abaixe a arma e volte os cartuchos, fique Carmo, deixe de liotria ."

O Tio Tenório emendou.

"Onde anda a guerreira Maria Bonita capitão, eu e a minha mulher ficaríamos muito grato em conhecê-la e termos a mesma na nossa mesa , seria um orgulho para todos nós."

Lampião olha para trás e fala em voz firme.

"Pode entrar Santinha, o Coroné Tenório  e a sua patroa quer  lhe conhecer, pode entrar o coroné é de paz."

Quando Maria Bonita entrou o coroné falou.

"Capitão Virgolino Lampião , a mulher é muito mais bonita e formosa do que eu pensava e imaginava, o senhor está de parabéns em viver com uma senhora tão bonita, forte, firme, educada, inteligente , valente e muito corajosa, o capitão é na verdade um cabra muito macho, é um homem altivo e vencedor.

Os cabras de Lampião não agüentaram as cortantes palavras e todos armaram os seus fuzis 1908 e apontaram para o dono da casa.
 
Lampião não suportou a ofensa dos seus cangaceiros  para com o corajoso anfitrião e falou com o dedo em riste e voz em trovão

"Baixem as armas seus cabras  mal agradecidos e aprendam a respeitar um homem que é homem, um homem de valor. Um homem deste tipo, valente, decidido, macho e corajoso não merece morrer e nem ser importunado, temos é que elogiar as suas ações , mirar na sua coragem, na sua força e nos seus ensinamentos, são homens deste tipo que o Brasil precisa".
 
o silêncio foi sepulcral. 

Lampião e o seu bando almoçaram, confabularam até o anoitecer,  encheram  os seus alforjes de mantimentos oferecidos pelo coronel, Maria Bonita ganhou da esposa do coronel alguns frascos de Perfume Phebo, o melhor da época , tomaram  o rumo do sertão e nunca mais se soube de qualquer invasão do Capitão Lampião naquelas paragens, o velho  Tenório além de forte e corajoso foi muito macho.

Iderval Reginaldo Tenório
 
 
 
 
 

FATOS HISTÓRICOS DO TEXTO

ANEXO I 

  O PACTO DOS GOVERNADORES
E
 O RASO DA CATARINA-

 “Neste período o rei do cangaço  vivia uma fase difícil, estava se adaptando ao seu novo reinado e procurava ampliar o seu território, pois em 1926 na cidade do Recife , foi feito entre os dirigentes dos Estados     que o Lampião atuava, um pacto de perseguição e eliminação do cangaço  em todo o nordeste , o Pacto dos Governadores, que possuía duros e diretos artigos, o principal dizia mais ou menos isto:     “ Para a perseguição de meliantes , cangaceiros e marginais, os estados não possuirão mais divisas,  a policia,  isto é , a volante do estado perseguidor  ao localizar um bando,   pode adentrar em qualquer estado sem  pedir licença prévia, o objetivo é acabar com o cangaço, depois os comandantes e os governadores se entenderão”. Iderval 

Muitos bandos foram ceifados, Lampião agüentou dois anos, sem apoio e sempre fugindo  perdeu muitos cabras e foi procurar reduto na região de Euclides da Cunha nos idos de 1928 na Bahia, o maior e mais rico Estado do Nordeste , depois migrou para o   Raso da Catarina, região banhada pelo Velho Rio São Francisco ( O VELHO CHICO),  Paulo Afonso, Piranhas, Água Branca , Delmiro Gouveia, Poço Redondo, Pão de Açúcar e outros municípios dos Estados de Alagoas, Sergipe e Bahia , onde reconstruiu o seu principado.



 Nesta região se homiziou, construiu família e deu continuidade ao seu oficio, dizia o capitão que o que fazia era justo , era como qualquer outra profissão, só não admitia ser chamado de ladrão, isto era uma ofensa, o cangaço era um oficio, um meio de vida. Iderval


ANEXO  II
Maria Bonita- 

Maria Bonita , “Cabocla  nascida na Cidade de Paulo Afonso , BA no dia 08 de março de 1911 , à época com 19 anos de idade, mulher  taluda, olhar brilhante e certeiro, decidida,  nova, pernas torneadas, busto eletrizante, firme e saliente , aprumada, com todo o fulgor da vida  e recém chegada ao bando .”Iderval 



ANEXO III
OS FUZIS -PADRE CÍCERO- DR FLORO E JUAZEIRO DO NORTE

Fuzil Mauser 1908- “Estes fuzis foram entregues ao bando do Lampião no ano de 1926 na cidade do Juazeiro do Norte, fruto do acerto do médico baiano,  Dr. Floro Bartolomeu, formado no ano de 1904 na antiga faculdade de Medicina da Bahia no Terreiro de Jesus, o maior aconselhador do Padre Cícero,  foi deputado Estadual e Federal pelo Estado do Ceará,  foi um dos baluartes da emancipação do Juazeiro , antigo distrito  da cidade do Crato,no ano de 1911. Em 22 de Julho de 1911 , a emancipação é concedida através da lei n° 1.028 , o novo município passa a se chamar Joaseiro (uma referência à árvore típica da região), e Padre Cícero é eleito o primeiro Prefeito   O Dr Floro Bartolomeu homem de comportamento forte e explosivo , chegou no municipio em 1907, lutou até a morte a favor do seu reduto , naquela   época   foi considerado o maior inimigo do Senador Ruy Barbosa, um dos maiores críticos do Padre Cicero;  em todas o Dr. Floro saiu vencedor, morreu jovem no Rio de Janeiro  como Deputado Federal em 1926” Iderval . 

“O pacto entre Juazeiro do Norte, Lampião, Dr. Floro e o Padre Cícero no ano de 1926, era armar o bando com armas modernas e muita munição, uma patente de capitão do Batalhão Patriota  do Governo Federal , intuito era que o Bando do Lampião se unisse à Força  Nacional e combatesse a Coluna Prestes, este episódio tem o dedo do Padre Cícero e dos coronéis do Sul  do Ceará. O Capitão , de posse de todo o arsenal do exército brasileiro, achou que era uma emboscada, desconfiou da patente , abandonou o caso , porém não devolveu as armas” Iderval.
                  
                                                      IMPERDÍVEL

NÃO DEIXEM DE ASSISTIR O REI E O PRINCIPE DO BAIÃO

LUIZ GONZAGA E DOMINGUINHO TAMBÉM GONZAGA 

Olha a Pisada - Boiadeiro (Ao Vivo - Volta Pra Curtir - Teatro Tereza ...

https://www.youtube.com/watch?v=mnwhf3UWJmw
30 de jun de 2012 - Vídeo enviado por Músico Eclético
Assim era que cantava os cabras de Lampião Dançando e xaxando nos ... Cantando a rendeira se .

Luiz Gonzaga e Dominguinhos - Na Pisada de Lampião - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=gsQjk9gKLOw
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Num debate sobre o Nordeste , lá no Recife, fui provocado a definí-lo  .

De supetão , sem uma escrita prévia , com a ajuda de Deus, do meu Padim Ciço do Juazeiro, da minha mãe e do meu passado  iniciei o meu prosear. 

 Diante de uma plateia seleta com artistas, escritores  e outros nordestinos de valor  ,  olhando para cada um assim me pronunciei.

No fim do arrazoado  e para a minha surpresa o organizador falou: " ficou gravado, vamos transformar em escrita e enviaremos  para o senhor"    

Três meses depois recebo pelos correios este texto, achei  incompleto, porém como sou corajoso resolvi publicar neste blog. 

Boa leitura.

Iderval Reginaldo Tenório 



 

                                            O QUE  É O NORDESTE.

Olhei para os participantes, fileira por fileira, cadeira por cadeira, nome por nome, cidade  por cidade, origem por origem e pensei, ficou fácil.  O Nordeste está na minha mente e parte dele está sentado à minha frente. 

Fui olhando , falando , apontado para cada um dos nobres nordestinos da plateia e saiu estas palavras.

 

O QUE É O NORDESTE

                 O Nordeste é poesia,  realidade e   ilusão,  o Nordeste é seca,  chuva e chão, é a fome e a razão.

                 O Nordeste é o homem forte,  é a mulher guerreira, é a Paraíba e o sertão. O Nordeste  é Juazeiro do Norte, Caruaru, Exu, Vitória da Conquista , Palmeira dos Índios,  Feira de Santana, Itapebi, Paramirim, Piranhas, Bom Jesus da Lapa ,   Crato, Canudos, o Pacto dos Coronéis e   a Guerra de Sediçao. É a Chapada do Araripe,  da Diamantina, o Raso da Catarina, a  Serra do Sincorá, o  Rio São Francisco, o Delta do Parnaíba, os Lençóis Maranhenses, a Serra da Capivara  e o Vale do Capão. 

                 O Nordeste é o Padre Cícero, a Beata Mocinha, a Beata Maria de Araújo e o milagre do Juazeiro.  O Padre Ibiapina, Antonio Conselheiro, o Beato Zé Lourenço, Dr Floro Bartolomeu,   a Irmã Dulce e  o Frei Damião. 

                 É a Bahia,  Pernambuco,   Ceará ,  o Cariri,  o horto e o sertão. O Nordeste  é  Aroiras, é Dudé,  José ,  Damião e o Patativa do Assaré. É o João Silva, o João Gonçalves, João do Pife, Xico Bizerra, Zabé da Loca,  o Dominguinhos, o Genival, o Onildo Almeida  e Luiz o  Rei do Baião. É o  Chico Anysio,   Xangai, Raymundo Sodré, Elomar, Bule Bule e Riachão.

              O Nordeste   é Luiz Vieira,  Dorival Caymmi, Capiba, Gilberto Gil, Caetano, Fagner, Ednardo,   Luiz Fidelis,  Pedro Bandeira de Caldas, Rosário Lustosa, Rosangela Tenório,  Raquel de Queiroz, o Coronel Ludugero,  Belchior e o seu medo de avião. 

         É o meu primo Lunga e  o menestrel Marcos Sales, é o  amigo Zé Leite,  é Zé Miguel e dona Tonha,  minha mãe, meu pai e  meus irmãos,  é a Serra do Araripe, os padres salesianos e o meu torrão.

              O Nordeste  é o Chico,  o Francisco ,  o cabeça chata, o Zé Marcolino e o seu   Pássaro Carão.   É Campina Grande,  a cabeça de galo e o pirão. É o amigo,  o padre,  o cantor e  o irmão, é a reza, o batismo, o compadre, a comadre, a fogueira   e  a renovação.

              O Nordeste é o Suassuna,   Perfilino Neto,   Daniel Walker,  o Casimiro,  o Frederico Pernambucano de Melo,   Israel Filho,  Lenine e o Assisão, é o Alceu Valença, os Calixtos,  o Byron Sarinho, o  Jorge Amado e sua Gabriela, é Antonio Nóbrega, José de Alencar, Ruy Barbosa,  Dom Helder Câmara, Antonio Costa, Herberto Sales e o seu cascalho, é Maria Bonita, Corisco, Volta Seca , Dadá e Lampião.

                 O Nordeste   é o jumento esperto, o cabrito que berra,  o carneiro  valente,  o bode e  o pai de chiqueiro que fede. É  o burro velhaco,  a mula que trota,     a  égua  esquipadeira e   o cavalo alazão.

              É a vaca parida,  a novilha bonita,  o bezerro apartado, é o boi com careta e  o boi cambão, é o cavalo de corrida,  o vaqueiro encourado,  o macho valente e  a festa de apartação.  É a vaquejada, o feijão de corda,  o queijo de coalho, a carne de sol ,   o baião de dois e a carne de  sertão.  É a buchada de bode,  a cabocla bonita,  a sanfona solta e  a exposição.

                 O Nordeste é poeira, garrancho, jiquiri, caatinga, maniçoba,  pedra e chão .  É o Paraíso, é a Asa Branca,  a Jurit , o mocó, o calango verde, o Teiú,   o preá,  a cascavel, o anum e   o Gavião. 

       É o verde, o mandacaru, o aveloz,  o espinho, a cabeça  de frade, o homem e o  bicho furão.

      O Nordeste é o céu,  o inferno, o purgatório, o pecado, Deus e muitas vezes  o nordeste é o cão.


             O Nordeste é  brega,  forró,  xote,  bolero,  valsa,   xaxado,  samba apracatado, a oito baixos, o triangulo, o zabumba e o baião. O Nordeste é o repente, o cordel,  o desafio, a embolada, a sanfona, a xilogravura,  o pandeiro, o triangulo,   a festa da padroeira, a lapinha,  são Pedro, Santo Antonio  e a festa de São João.

              O Nordeste é isso e  isto, o Nordeste é nosso, é cultura, sol e   poeira, é a viola e  o violão, é a rabeca, o chifre de boi, o rapé, o cigarro de palha, o cachimbo e o artesão.  É o maneiro pau, o Bigode, Meu Mano, Nair Silva, o reizado,  a lapinha,  o repente,  a força, a coragem  e  a razão.

               O Nordeste é a currulepe, a cangalha, o cambito, o borná,  a baladeira, o arco e flecha,  a garrucha, o bacamarte e  a lazarina, é o cachorro pé duro, a cachorra magra, o cabra, o coiteiro, o jagunço , o cangaceiro,  a gruta de angico, a cabroeira, o chapéu de couro, a cartucheira, a volante,  a faca e o punhal ,  o coroné e    o patrão.

               O Nordeste é o Salesiano, o Diocesano, os Franciscanos e os intermunicipais. É   amor,  canção,  Maria,  José e  João, é o milho, a canjica e o pão, é o choro,  a tristeza,  a alegria e o perdão. É o dia, a noite,  a lua,  o sonho, o pesadelo e a emoção,  é o sol,  o vento , o mormaço, a miragem, a incerteza, a dúvida   e a razão.

 O Nordeste  é o meu pai, é a minha mãe e os meus irmãos, é o seu pai , a sua mãe, a sua casa, o seu terreiro, o seu reduto , é a união. 

O NORDESTE  É FOGO,  FRIO ,

LUTA  E  PAIXÃO.

O NORDESTE, meus conterrâneos, somos todos nós, com muito orgulho    e muita  paixão.

Amigos, nós somos o Nordeste, o Nordeste somos nós . 

                                                                08 de outubro de 2002

Iderval Reginaldo Tenório.

Juazeiro do Norte

 

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