Num debate sobre o Nordeste , lá no Recife, fui provocado a definí-lo
.
De supetão , sem uma escrita prévia , com a ajuda de Deus, do meu Padim
Ciço do Juazeiro, da minha mãe e do meu passado iniciei o meu
prosear.
Diante de uma plateia seleta com artistas, escritores e outros
nordestinos de valor , olhando para cada um assim me pronunciei.
No fim do arrazoado e para a minha surpresa o organizador falou:
" ficou gravado, vamos transformar em escrita e enviaremos para o
senhor"
Três meses depois recebo pelos correios este texto, achei
incompleto, porém como sou corajoso resolvi publicar neste blog.
Boa leitura.
Iderval Reginaldo Tenório
O QUE É O NORDESTE.
Olhei para os participantes, fileira por fileira, cadeira por cadeira,
nome por nome, cidade por cidade, origem por origem e pensei, ficou
fácil. O Nordeste está na minha mente e parte dele está sentado à minha
frente.
Fui olhando , falando , apontado para cada um dos nobres nordestinos da
plateia e saiu estas palavras.
O QUE É O NORDESTE.
O Nordeste é poesia, realidade e ilusão, o Nordeste é
seca, chuva e chão, é a fome e a razão.
O Nordeste
é o homem forte, é a mulher guerreira, é a Paraíba e o sertão. O
Nordeste é Juazeiro do Norte, Caruaru, Exu, Vitória da Conquista ,
Palmeira dos Índios, Feira de Santana, Itapebi, Paramirim, Piranhas, Bom
Jesus da Lapa , Crato, Canudos, o Pacto dos Coronéis e
a Guerra de Sediçao. É a Chapada do Araripe, da Diamantina, o Raso
da Catarina, a Serra do Sincorá, o Rio São Francisco, o Delta do
Parnaíba, os Lençóis Maranhenses, a Serra da Capivara e o Vale do Capão.
O Nordeste é o Padre Cícero, a Beata Mocinha, a Beata Maria de Araújo e o
milagre do Juazeiro. O Padre Ibiapina, Antonio Conselheiro, o Beato Zé
Lourenço, Dr Floro Bartolomeu, a Irmã Dulce e o Frei Damião.
É a Bahia, Pernambuco, Ceará , o Cariri, o
horto e o sertão. O Nordeste é Aroiras, é Dudé, José ,
Damião e o Patativa do Assaré. É o João Silva, o João Gonçalves, João do Pife, Xico
Bizerra, Zabé da Loca, o Dominguinhos, o Genival, o Onildo Almeida
e Luiz o Rei do Baião. É o Chico Anysio, Xangai,
Raymundo Sodré, Elomar, Bule Bule e Riachão.
O Nordeste é Luiz Vieira, Dorival Caymmi, Capiba, Gilberto
Gil, Caetano, Fagner, Ednardo, Luiz Fidelis, Pedro Bandeira
de Caldas, Rosário Lustosa, Rosangela Tenório, Raquel de Queiroz, o Coronel Ludugero, Belchior e o seu medo de avião.
É o meu primo Lunga e o
menestrel Marcos Sales, é o amigo Zé Leite, é Zé Miguel e dona
Tonha, minha mãe, meu pai e meus irmãos, é a Serra do Araripe,
os padres salesianos e o meu torrão.
O Nordeste é o Chico, o Francisco , o cabeça chata, o Zé
Marcolino e o seu Pássaro Carão. É Campina Grande, a
cabeça de galo e o pirão. É o amigo, o padre, o cantor e o
irmão, é a reza, o batismo, o compadre, a comadre, a fogueira e a
renovação.
O Nordeste é o
Suassuna, Perfilino Neto, Daniel Walker, o
Casimiro, o Frederico Pernambucano de Melo, Israel Filho, Lenine e o Assisão, é o Alceu Valença, os
Calixtos, o Byron Sarinho, o Jorge Amado e sua Gabriela, é Antonio
Nóbrega, José de Alencar, Ruy Barbosa, Dom Helder Câmara, Antonio Costa,
Herberto Sales e o seu cascalho, é Maria Bonita, Corisco, Volta Seca , Dadá e
Lampião.
O Nordeste é o jumento esperto, o cabrito que berra, o
carneiro valente, o bode e o pai de chiqueiro que fede.
É o burro velhaco, a mula que trota,
a égua esquipadeira e o cavalo alazão.
É a vaca parida,
a novilha bonita, o bezerro apartado, é o boi com careta e o boi
cambão, é o cavalo de corrida, o vaqueiro encourado, o macho
valente e a festa de apartação. É a vaquejada, o feijão de
corda, o queijo de coalho, a carne de sol , o baião de dois e a
carne de sertão. É a buchada de bode, a cabocla bonita,
a sanfona solta e a exposição.
O Nordeste é poeira, garrancho, jiquiri, caatinga, maniçoba, pedra e
chão . É o Paraíso, é a Asa Branca, a Jurit , o mocó, o calango
verde, o Teiú, o preá, a cascavel, o anum e o
Gavião.
É o verde, o mandacaru, o aveloz, o
espinho, a cabeça de frade, o homem e o bicho furão.
O Nordeste
é o céu, o inferno, o purgatório, o pecado, Deus e muitas vezes o
nordeste é o cão.
O Nordeste é brega, forró, xote, bolero,
valsa, xaxado, samba apracatado, a oito baixos, o triangulo,
o zabumba e o baião. O Nordeste é o repente, o cordel, o desafio, a
embolada, a sanfona, a xilogravura, o pandeiro, o triangulo,
a festa da padroeira, a lapinha, são Pedro, Santo Antonio e a festa
de São João.
O Nordeste é isso e isto, o Nordeste é nosso,
é cultura, sol e poeira, é a viola e o violão, é a rabeca, o
chifre de boi, o rapé, o cigarro de palha, o cachimbo e o artesão. É o
maneiro pau, o Bigode, Meu Mano, Nair Silva, o reizado, a lapinha, o
repente, a força, a coragem e a razão.
O Nordeste é a
currulepe, a cangalha, o cambito, o borná, a baladeira, o arco e
flecha, a garrucha, o bacamarte e a lazarina, é o cachorro pé duro,
a cachorra magra, o cabra, o coiteiro, o jagunço , o cangaceiro, a gruta
de angico, a cabroeira, o chapéu de couro, a cartucheira, a volante, a
faca e o punhal , o coroné e o patrão.
O Nordeste é o Salesiano, o Diocesano, os Franciscanos e os intermunicipais. É
amor, canção, Maria, José e João, é o milho, a canjica
e o pão, é o choro, a tristeza, a alegria e o perdão. É o dia, a
noite, a lua, o sonho, o pesadelo e a emoção, é o sol,
o vento , o mormaço, a miragem, a incerteza, a dúvida e a razão.
O Nordeste é o meu pai, é a minha mãe e
os meus irmãos, é o seu pai , a sua mãe, a sua casa, o seu terreiro, o seu
reduto , é a união.
O NORDESTE É FOGO, FRIO ,
LUTA E PAIXÃO.
O NORDESTE, meus conterrâneos,
somos todos nós, com muito orgulho e muita paixão.
Amigos, nós somos o Nordeste, o
Nordeste somos nós .
08 de outubro de 2002
Iderval Reginaldo Tenório.
Juazeiro do Norte
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