.
DR
ADIL DUARTE SUB SECRETÁRIO SAÚDE DA BAHIA- DR PAULO BENIGNO
DIRETOR DO HOSPITAL SAN RAFAEL E COORDENADOR DE CURSO DA UNIVERSIDADE UNIME.
LEIAM O DISCURSO DE POSSE
DISCURSO DO NOVO PRESIDENTE
DR ANDRÉGUSMÃOCUNHA
Prezados convidados,
Quero agradecer enormemente a presença de todos aqui nesta noite,
quando, juntos, celebramos um modo de viver... o modo de vida do
cirurgião...
Ao longo da história o cirurgião tem sido um personagem importante...
sempre necessário... nem sempre querido... mas sempre disponível aos
chamados daqueles que, em dificuldade, clamam por ajuda, por apoio, por
decisão, por pragmatismo, por atitude... e muitas vezes encontram tudo
isso na figura, no amparo, ou até mesmo na lâmina do bisturi do
cirurgião...
Hoje sabemos que o pai da medicina ocidental,
Hipócrates, foi muito influenciado por uma medicina ainda mais antiga do
que a grega... a medicina egípcia... o primeiro tratado escrito da
medicina, o papiro de Edwin Smith, com data estimada em 1500 anos antes
de Cristo, é na verdade um tratado de cirurgia traumática, um compilado
de 48 casos, em sua maioria ferimentos de guerra... e não é à toa que
Hipócrates sabiamente nos legou esta máxima: “a guerra é a melhor escola
do cirurgião”...
E assim fomos e continuamos a ser personagens
importantes em momentos difíceis vivenciados pela humanidade... nem
sempre queridos... mas sempre necessários... e sempre disponíveis.
Enquanto a medicina se desenvolvia em escolas, a arte cirúrgica foi
passada adiante, ao longo da história ocidental, por cirurgiões
barbeiros a seus aprendizes... por vezes sem o conhecimento adequado...
mas com a prática e a experiência do dia a dia exigidas para a solução
de problemas múltiplos, frequentes, alguns graves, contudo considerados
menos dignos para que médicos deles se ocupassem... e enquanto esses
mesmos médicos cuidavam, por vezes sem sucesso, de doenças internas (daí
o termo medicina interna), cirurgiões eram os técnicos da medicina
externa...
Gosto muito de filmes... e gosto mais ainda de
assistir novamente aqueles que mais me agradaram, que mais me tocaram...
a cada vez que os revejo percebo algo que não havia notado antes...
Filmes históricos estão entre meus preferidos...
Retornando ao filme “Mestre dos Mares”, após a primeira batalha um
marinheiro ferido é operado pelo médico de bordo... uma craniotomia
descompressiva no convés inferior do navio... enquanto isto uma imensa
plateia de marinheiros no convés superior observa a cena, em respeitoso
silêncio, quase sem respirar, percebendo estupefata a delicadeza e a
firmeza dos movimentos do doutor, até que um marinheiro, sem mais
conseguir se conter, comenta com o colega ao lado: “este, sim, é um
verdadeiro médico e não apenas um cirurgião...”
Assim, aos
poucos, fomos nos tornando “verdadeiros médicos”... nem sempre
queridos... mas sempre necessários... sempre disponíveis...
Na
mesma época retratada nesse filme, Dom João VI deixou Portugal fugindo
da invasão francesa das lusas terras pelas tropas do corso Bonaparte.
Chegou ao Brasil nesta cidade do Salvador trazendo sua corte, e, no dia
18 de fevereiro de 1808, fundou a Escola de Cirurgia da Bahia. Assim,
nossa escola, a escola de medicina mais antiga do Brasil, a nossa
Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia, nasceu
CIRÚRGICA...
Cirúrgica, nossa escola sempre foi necessária... sempre disponível...
E assim foi, nos episódios mais sangrentos ocorridos no Brasil e na
Bahia a então Faculdade de Medicina e Pharmacia da Bahia, por
solicitação do governo central, monarquista ou republicano, enviou
alunos e professores para a Guerra do Paraguai, e alunos para a Guerra
de Canudos, quando atuaram incansáveis, tanto no palco de operações, nos
chamados Hospitais de Sangue instalados a alguns metros da linha de
fogo, onde se dedicavam a imobilizar fraturas e tamponar hemorragias,
quanto também em enfermarias em Salvador, no Terreiro de Jesus e no
Hospital Santa Izabel.
Atendiam não apenas aos feridos nas batalhas, mas
também lidavam com os diversos males inseparáveis da guerra, como
beribéri, disenteria, impaludismos e outras febres (varíola, pneumonia,
hepatite, tifo), além de fome e sede e miséria... aplacaram o sofrimento
e consolaram perdas...
inclusive as infelizes vidas ceifadas de jovens e
promissores alunos desta faculdade... no ano de 1897, a cerimônia de
formatura aconteceu sem festejos devido a morte de 3 alunos na Guerra de
Canudos... Sempre necessários... sempre disponíveis...
No
início do século XX, a Bahia precisava de melhores equipamentos de
saúde... atuando como professor e diretor da Faculdade de Medicina da
Bahia, o cirurgião Edgard Santos, primeiro Mestre deste capítulo do
Colégio Brasileiro de Cirurgiões, quem eu tenho o privilégio de pisar em
suas pegadas, conseguiu mobilizar junto aos governos federal e estadual
recursos para construir dois hospitais , dois eternos ícones de
Salvador: o Hospital das Clínicas, mais tarde merecidamente renomeado
Hospital Universitário Professor Edgard Santos, e o Hospital Getúlio
Vargas.
Intencionalmente construídos próximos, o professor Edgard Santos
sabia o que estava fazendo... o primeiro serviria como um hospital
especializado, e o segundo como pronto-socorro deste...
visionário,
Edgard Santos enviou nomes como Tomás Cruz, Heonir Rocha e Álvaro Rabelo
para estudar nos melhores serviços especializados nos Estados Unidos e
retornar para nossa cidade, para o Hospital das Clínicas... Durante
décadas os dois hospitais funcionaram na mesma calçada... muitos
professores da Faculdade de Medicina da Bahia atuavam em ambos...
Quando criança, indo para o Colégio Maristas, passei diversas vezes em
frente ao pronto-socorro, como era então conhecido o Hospital Getúlio
Vargas... jamais entrei... e jamais entrarei, pois em 1990 sua equipe
foi transferida para o bairro de Brotas, onde hoje é o Hospital Geral do
Estado, nosso HGE, e o Hospital das Clínicas perdeu seu
pronto-socorro... foi um grande baque no que havia planejado tão
cirurgicamente Edgard Santos, que ainda fundaria a Universidade da
Bahia, hoje Universidade Federal da Bahia...
O HUPES, o HGE e a
UFBA nasceram da visão e do trabalho de um cirurgião... nem sempre
querido... mas sempre necessário... sempre disponível...
A vida,
amigos, é feita de várias coisas... mas uma vida plena é feita também de
simbioses... o cirurgião vive uma simbiose muito forte e muito intensa
com os hospitais... assim como não há cirurgião sem hospital, não há
hospital sem cirurgião...
Por isso, quando um hospital não
permite o desenvolvimento e o fortalecimento de sua atividade
cirúrgica... quando o hospital sufoca o cirurgião... quando o hospital
sucateia seu centro cirúrgico, seu internamento cirúrgico... quando
oferece toda sorte de dificuldades ao cirurgião... este hospital
simplesmente morre... pois não há hospital sem cirurgião... sempre
necessário... sempre disponível...
E é muito triste, doloroso,
incompreensível notar que hospitais, que desta maneira insana agem,
habitualmente são dirigidos por nossos próprios colegas... médicos.
Da mesma forma, o nascer de uma nova vida muitas vezes requer a
cooperação simbiótica de outra vida já constituída... e assim, hospitais
quando nascem sempre nascem cirúrgicos...
Este é o nosso estilo
de vida... isto é o que somos... cirurgiões... necessários e
disponíveis aos chamados de quem precisa de nossa resolução... nosso
apoio... nossa ajuda... nosso consolo...
Não é um estilo de vida
fácil... também não é simples... e não vem sem grandes renúncias... sem
grandes sacrifícios... sem grandes sofrimentos por parte dos
cirurgiões...
Nós tomamos burnout no café da manhã... atualmente
50% dos cirurgiões americanos sofrem de síndrome de burnout... nós
comemos burnout no almoço... nós jantamos burnout em casa, mas apesar
disto 90% dos cirurgiões com burnout escolheriam ser cirurgiões
novamente... contudo, pasmem amigos e por favor reflitam, 90% dos
cirurgiões com burnout não gostariam que seus filhos se tornassem
cirurgiões...
Nós vencemos o burnout... somos cirurgiões e estamos
acostumados a grandes batalhas... e como tal somos também nadadores,
remadores, corredores, dançarinos, pintores, músicos, cozinheiros,
tenistas... jogamos futebol, vôlei, pólo aquático... ou montamos modelos
de aviões e navios durante as madrugadas... ou simplesmente lemos um
bom livro... ou nos reunimos para discussões clínicas, boas conversas
entre amigos, com boa comida, bom vinho e boa companhia...
Aproveito para pedir desculpas a minha família... acho que arranjei
coisas demais para fazer! Disse à Andréa, minha esposa, que este ano eu
não iria conseguir equilibrar tudo... e realmente não consegui... a
Influenza me derrubou 15 dias atrás... mas eu voltei... e não caio nessa
de novo...
Só existe um trabalho pior do que ser André Gusmão...
é suportar André Gusmão... e nisso minha família, a quem tudo devo, é
mestre... muito, muito obrigado mesmo!...
Eu gostaria também de
apresentar aqueles que, juntamente comigo, seremos responsáveis pelo
Capítulo da Bahia do Colégio Brasileiro de Cirurgiões... responsáveis
sim... pois já recebi do nosso presidente, Dr. Savino Gasparini, a
procuração que nos dá essa responsabilidade...
Ana Celia Diniz
Cabral Barbosa Romeo... minha vice-mestre... como toda cirurgiã, melhor
do que qualquer cirurgião... afinal as mulheres são mais delicadas...
mais ternas... mas também mais rigorosas... e mais rígidas... o
companheirismo profissional que desenvolvi com Ana me dá muito orgulho,
pois eu, que já conhecia seus predicados cirúrgicos, passei também a
conhecer e a reconhecer seus predicados de gestora... juntos
apresentamos diversos trabalhos com nossos alunos, internos e
residentes...
ganhamos prêmios... publicamos em revista internacional...
mas nada disso é maior em Ana do que o fato dela ser esposa do meu
queridíssimo amigo romano André Barbosa Romeo, que já foi mestre deste
capítulo, outro que tenho o privilégio de pisar as pegadas, e cujo
discurso de despedida de sua gestão me marcou enormemente... Ana, muito
obrigado por aceitar mais esta missão... você é ONA 3...
Luiz
Vianna de Oliveira, meu primeiro secretário, grande amigo desde a
diretoria passada deste capítulo, entusiasta por natureza... com ele
tudo parece possível...
Pedro Carlos Muniz de Figueiredo, meu
segundo secretário... se algum cirurgião não for disponível suficiente é
porque Pedro é disponível demais... com ele não há tempo ruim...
Marcus de Almeida Correia Lima, meu primeiro tesoureiro... eu só
aceitei ser mestre porque você aceitou ser meu tesoureiro, posto da mais
alta confiança e eu tenho a mais completa em você...
Augusto
Jesuíno Lacerda Santos, meu segundo tesoureiro e colega de hospital...
escolha pessoal de Dr. Marcus, prontamente acolhida... Jesú, como
carinhosamente o chamamos, e sua família têm o CBC no sangue...
Sílvio Prisco Vilasbôas Filho... nosso Depro... Sílvio tem uma das mais
importantes missões dentro desta diretoria que é a de buscar a defesa
profissional dos cirurgiões em nosso estado...
E por fim, nosso
vice-presidente do Setor IV, Professor Izio Kowes, que viveu o CBC com
uma vontade e entusiasmo de uma criança na gestão passada, contagiando a
todos nós, é o atual presidente do nosso congresso, que se realizará em
setembro aqui em Salvador, e é o responsável por este período de
renovação que o Capítulo da Bahia está passando...
Muito obrigado a todos por depositar em mim a confiança para liderar esta diretoria...
Antes de encerrar, gostaria de anunciar que, mesmo que nossa diretoria
seja destituída amanhã, ela já logrou seu maior êxito na noite de
hoje... hoje finalmente nosso amigo Marcus Lima se tornou Titular do
CBC... e recebemos 11 novos membros em nosso colégio, dentre eles nosso
mais que querido amigo, Márcio Rivison... um feito que nenhuma diretoria
havia conseguido até então...
Agradeço mais uma vez a todos por
prestigiarem a posse desta diretoria, e dizer que podem contar com o
Colégio Brasileiro de Cirurgiões... podem contar com os cirurgiões...
estaremos lá... para curar e confortar... para ajudar... para
consolar... para chorar... seremos sempre necessários e sempre
disponíveis...
Muito obrigado!
André Gusmão Cunha
Bienio 2018/2019
Presidente
Postado por
ID |