sábado, 2 de abril de 2011

CURIOSIDADE SOBRE LUIZ GONZAGA

CURIOSIDADES DA VIDA E DA CARREIRA DE LUIZ GONZAGA
QUE ACHO IMPORTANTE  QUE TODOS CONHEÇAM.
POR DANIEL BUENO

O REI DO BAIÃO


· Vamos começar pelo começo: Luiz Gonzaga do Nascimento, segundo filho de Januário dos Santos e de Ana Batista de Jesus, neto de José Moreira Franca de Alencar, NASCEU na Fazenda Caiçara, município de Exu/PE, no dia 13 de dezembro de 1912.


· Luiz Gonzaga foi batizado na matriz de Exu no dia 5 de janeiro de 1913 pelo padre José Fernandes de Medeiros, que sugeriu chamar o menino de Luiz por ter nascido no dia de Santa Luzia, e Gonzaga, porque o nome completo de São Luiz era Luiz Gonzaga; Nascimento, porque dezembro era o mês de nascimento do Menino Jesus.



· E por que Luiz não recebeu o sobrenome da família, Januário dos Santos, como se chamaram os oito irmãos e irmãs dele? NINGUÉM SABE ATÉ HOJE!



· A mãe de Gonzaga, Santana, teve nove filhos; a irmã dela, Nova, também teve nove; Baía teve sete e Vicença, oito. As irmãs criaram os filhos todos juntos. Uma molecada só.





Foto: Luiz Gonzaga


 

· Certa vez, Januário que era tocador e consertava sanfonas, pediu a Gonzaga, ainda menino, para ajudá-lo na afinação e nos consertos do instrumento. Januário percebeu que Gonzaga não tinha lá muito jeito para a roça, e sim, para a sanfona. Daí então passou a chamar Gonzaga para se revezar com ele nos bailes.


· Com a grande cheia de 1924, o riacho do Brígida inundou os arredores e encheu a casa de Januário de água. A família foi obrigada a se mudar para o povoado do Araripe, na Fazenda Várzea Grande.



· O coronel Manoel Aires foi quem ajudou Gonzaga a comprar sua primeira sanfona, que custou 120 mil réis. Foi numa loja da cidade de Ouricuri, em 1926, ano em que Luiz Gonzaga passou a tocar sozinho (sem a companhia do pai) e se tornar um sanfoneiro profissional.



· Gonzaga participou durante três meses de um grupo de escoteiros em Exu e foi ali que ele aprendeu a ler e escrever. Mas como precisava ajudar os pais na roça, teve que voltar para casa.



· A iniciação sexual de Luiz Gonzaga foi com uma prostituta da região chamada Maria dos Lajes. Pegou logo uma blenorragia e foi tratado pela mãe, Santana, com remédios caseiros.



· O primeiro grande amor de Gonzaga, segundo ele mesmo declarou, foi uma moça chamada Nazarena, que pertencia à família Olindo, branca e importante na cidade de Exu.



· O pai da moça, seu Raimundo, quando soube do namoro, ficou furioso e disse que não queria sua filha namorando com um sanfoneirinho sem futuro e, ainda por cima, negro. Gonzaga sabendo disso, foi num sábado de feira tirar satisfações com o velho. Tomou uma lapada de cana, comprou uma faca pequena e encarou seu Raimundo. Este, percebendo que Gonzaga estava meio bêbado, desconversou e contou o atrevimento do negrinho para Santana. Chegando em casa, Luiz tomou uma surra da mãe.



· Por causa dessa surra, Gonzaga resolveu sair de casa. Disse aos pais que ia tocar no interior do Ceará e, com a ajuda do tangedor José de Elvira, foi s'imbora pro Crato. Chegando lá, separou-se do amigo, vendeu a sanfona e foi para Fortaleza, onde chegou em julho de 1930. Faria 18 anos só em dezembro.



· Gonzaga se alistou no Exército porque mentiu a idade. A lei só permitia depois dos 21 anos e como não exigiram a certidão, Gonzaga se alistou no 23o Batalhão de Caçadores e já no mês seguinte (agosto) estava participando da Revolução de 30 no interior da Paraíba.



· Quando completou 1 ano de Exército, Gonzaga foi mandado para servir no Sul do país e embarcou para o Rio de Janeiro em dezembro de 1931. Depois foi para Belo Horizonte em agosto de 1932 e integrou o 12o regimento da Infantaria. Foi lá que ele ficou sabendo que Nazarena, sua paixão de Exu, havia se casado.



· Em janeiro de 1933, Gonzaga fez um concurso para corneteiro e passou. Adquiriu algumas noções de harmonia, aprendeu a tocar corneta e foi elevado a tambor-corneteiro da 1a classe. Foi quando recebeu o apelido de Bico de Aço.



· Durante o serviço militar, Gonzaga aprendeu a tocar violão. Mas não tomou gosto pelo instrumento.



· Em 1936 era ouvinte da Rádio Tupi e admirava um baiano que começava a fazer sucesso: Dorival Caymmi. Conheceu naquele mesmo ano um colega soldado que tinha uma sanfona. Tomou gosto novamente pelo instrumento e pediu a Carlos Alemão, fabricante de sanfonas, que lhe fizesse uma. Demorou três meses. Tinha 48 baixos.








 

· Passou a tocar nas festas de Juiz de Fora e, depois, em Ouro Fino, para onde se transferiu em 1937. Nessa cidade, havia um advogado, o dr. Raul Apocalipse, que organizava espetáculos no clube Éden, e chamou Gonzaga para tocar lá. Foi a primeira vez que o exuense cantou num palco de verdade. Tocava músicas de Almirante, Antenógenes Silva e Augusto Calheiros.


· Completados dez anos de Exército, Gonzaga teve que sair por força da lei. Então, no dia 27 de março de 1939, Gonzaga embarcou num trem para o Rio de Janeiro e, na mala, uma passagem de volta para o Recife (de navio) e daí até Exu.



· MAS Gonzaga resolveu dar uma esticada ao bairro do Mangue, no Rio, onde havia muitos bares, verdadeiros "inferninhos" cariocas, e por ali passava muita gente.



· Passou a tocar no meio da rua, juntando gente, passando o prato, e chamou a atenção dos donos de bares. Conheceu o músico baiano Xavier Pinheiro e foi morar com ele, no Morro de São Carlos.



· Gonzaga se apresentou no programa Calouros em Desfile, de Ary Barroso, tocando valsa e tango e só recebia nota 3. No dia em que tocou "Vira e Mexe", recebeu nota 5. E foi muito aplaudido. Percebeu, então, que o negócio era tocar a música nordestina.



· A primeira participação de Gonzaga num disco aconteceu no dia 5 de março de 1941. Foi chamado, então, para fazer o acompanhamento na música "A Viagem do Genésio", na Victor (depois, RCA). O disco saiu em maio.



· Mas o primeiro disco com Luiz Gonzaga artista individual nasceu no dia 14 de março de 1941 quando foi chamado não mais para acompanhar outro artista, mas ele próprio sendo a figura principal. Seu primeiro disco, portanto, saiu em maio. Era um 78 rotações com a mazurca "Véspera de São João" e a valsa "Numa serenata". Em junho, Gonzaga foi lançado com o xamego "Vira e Mexe" e a valsa "Saudades de São João del=Rei".



· A primeira reportagem com Luiz Gonzaga saiu na revista Vitrine e tinha por título: "Luiz Gonzaga, o virtuoso do acordeon". Era assinada por Aldo Cabral, jornalista e compositor.



· Ainda em 1941, Gonzaga lançou mais dois 78 rotações. No primeiro, gravou "Nós queremos uma valsa" e o chorinho "Arrancando caroá", de sua autoria. No segundo disco, gravou "Farolito" (Augustin Lara) e "Segura a polca" (Xavier Pinheiro).



· Em meados de 1943, Luiz assinou o seu primeiro contrato para se apresentar fora do Rio de Janeiro. Era uma temporada no Cassino Ahú, em Curitiba. A imprensa local o chamou de "o maior acordeonista brasileiro". Lá, Luiz se apresentou durante 45 dias e se revelou também intérprete de suas canções. Luiz tornou-se cantor.



· Mas, ao chegar na Rádio Tamoio, da qual era contratado, Gonzaga viu o seguinte aviso: "Luiz Gonzaga está terminantemente proibido de cantar, por ter sido contratado como sanfoneiro". O aviso era assinado por Fernando Lobo, que anos depois se arrependeu da besteira que fez com Luiz.



· Aí Luiz foi tentar a sorte na Victor (depois RCA Victor)_. E lá, a obstinação era a mesma. Todo mundo só admitia Gonzaga como sanfoneiro, nunca como cantor. Gonzaga passou a acompanhar Bob Nélson em várias temporadas e tornaram-se amigos.



· Como Gonzaga não conseguia cantar, passou a dar suas músicas para outros artistas cantarem. Sua primeira intérprete foi Carmem Costa, que gravou "Xamego" em fevereiro de 1944.



· Alguns anos depois, Carmem Costa negou que tivesse sido um dos "casos" de Luiz Gonzaga.



· Ainda em 1944, Carmém gravou "A mulher do Lino", de Luiz Gonzaga e Miguel Lima (este, o primeiro grande parceiro de Gonzaga) e, no ano seguinte, gravou "Bilu, Bilu" e "Sarapaté".



· Aí Luiz conheceu Manezinho Araújo, pernambucano como ele, embolador já de nome. No dia 12 de fevereiro de 1945, Manezinho gravou "O xamego de Guiomar", com música de Gonzaga e letra de Miguel Lima. Depois veio "Dezessete e Setecentos".



· Gonzaga só conseguiu cantar num disco quando mentiu dizendo que ia gravar na Odeon como cantor. Aí Vitório Latari, seu diretor, se rendeu e perguntou: "O que você tem aí pra gravar?"



· Gonzaga tinha um bocado de músicas. Naquele dia, ele contou: participara de 25 discos como sanfoneiro. E pela primeira vez, realizaria seu sonho de ser cantor.

· No dia 11 de abril de 1945 Gonzaga entrou no estúdio da Victor para gravar sua primeira música como cantor: "Dança Mariquinha", uma mazurca de sua autoria, com letra de Miguel Lima. No lado B gravou a instrumental "Impertinente".





· O lançamento não teve nenhuma repercussão. Mas em junho, Gonzaga voltou ao estúdio da Victor para gravar seu segundo disco como cantor. Gravou o xamego "Penerô Xerém" (parceria com Miguel Lima) e "Sanfona Dourada", um instrumental.




· Em setembro, vai Luiz de novo para o estúdio e grava a mazurca "Cortando o pano", com letra de Miguel Lima e Jeová Portella. Em novembro, a música foi lançada e estourou nas paradas. Aí Luiz se fez cantor de verdade.



· Em setembro, Luiz já assinara contrato com a Rádio Nacional, e realizou assim seu grande sonho, que era cantar na emissora dos maiores talentos.



· Nessa época, Gonzaga tinha como companheira Odaléia Guedes (que conhecera em 44), mais conhecida como Léa, que tornou-se mãe de LUIZ GONZAGA DO NASCIMENTO JÚNIOR. O Gonzaguinha nasceu no dia 22 de setembro de 1945.



· Gonzaga disse certa vez à sua última mulher, Edelzuíta Rabelo, que só hospedou Odaléia na sua casa porque ela estava sozinha e grávida, sem ninguém que lhe socorresse. Por isso, sabe-se hoje, que Gonzaguinha não era filho biológico do Rei do Baião.



· Gonzaga também nunca negou que era estéril.



· Uns diziam, na época, que Gonzaguinha era filho de Armando, violonista da Nacional, e outros asseguravam que o menino era filho de Nelsinho do Trombone.



· A relação de Gonzaga e Odaléia foi muito agitada, com muitas brigas. Gonzaga chegou a levar uma surra dos irmãos dela. E foi morar com o irmão José Januário na casa de uma cafetina.



· Mas Gonzaga queria cantar as coisas do Nordeste e procurou um parceiro que lhe desse as letras falando de sua origem. Até que encontrou HUMBERTO TEIXEIRA, um cearense de Iguatu nascido em 1915 e que vivia no Rio desde 1930. Humberto começou estudando Medicina, mas se decidiu mesmo por Direito.



· Os dois se conheceram em agosto de 1945 e, em dez minutos, fizeram, juntos, "No meu pé de serra" e se emocionaram quando concluíram a música, porque afinal os dois eram nordestinos e sentiam a mesma saudade da terra natal.



· Mas a música só seria gravada em novembro do ano seguinte (1946).



· A segunda música que fizeram juntos colocou Gonzaga nas paradas e fez surgir um novo gênero na música popular brasileira. "Baião" (Eu vou mostrar pra vocês como se dança o baião) era o nome da música e tornou-se também o ritmo que faria sucesso dali em diante.



· "Baião" foi lançada de forma planejada, para levar o gênero ao Nordeste partindo do Sul, sempre chegando às capitais, para que a música nordestina fosse urbanizada. O lançamento foi em outubro de 1946.



· Mas, para surpresa de todos, Gonzaga deu a música para que o grupo os Quatro Ases e um Coringa gravasse e a fizesse conhecida pelo país todo.



· Com esse grupo, mais estilizado, Gonzaga achou que a música chegaria mais longe, sem preconceitos. E chegou mesmo. É tanto, que Luiz só a gravaria de verdade três anos depois.



· A mãe de Gonzaga, dona Santana, esperou 16 anos para ver o filho de volta a Exu e, como ele não voltava, resolveu visitá-lo em meados de 1946. Santana viajou com a filha Geni num navio a vapor, durante 17 dias, até chegar ao Rio.



· Gonzaga tirou férias da Rádio Nacional e quis visitar Exu. Foi quando viajou de avião pela primeira vez. A mãe e a irmã voltaram de vapor.



· No Araripe, Gonzaga ficou 12 dias. Foram doze dias de festas, de bailes, de alegria na família do rei.



· Passando nessa viagem por Recife, Gonzaga gravou um comercial para as Casas Pernambucanas. Ganhou muitos tecidos e mandou para a família em Exu. Com o cachê, Gonzaga comprou seu primeiro carro zero quilômetro, uma Nash, que despachou de navio para o Rio de Janeiro.



· Foi aí que Gonzaga conheceu ZÉ DANTAS, filho de Carnaíba, estudante de Medicina e conhecedor das coisas sertanejas. Gonzaga estava hospedado no Grande Hotel e Zé Dantas foi lá para conhecê-lo, levando uma música pela qual Gonzaga logo de apaixonou: "Vem Morena".



· A amizade de Luiz e Zé Dantas só se consolidaria em 1950, quando o médico/compositor foi morar no Rio de Janeiro para estagiar no Hospital dos Servidores.



· Mas, voltando à viagem de Gonzaga: quando ele retornou ao Rio em 1947, depois das férias em Exu, gravou "A moda da mula preta", de Raul Torres.



· Em março, Lua gravou um 78 rotações que tinha, no lado A, "Vou pra Roça" e, no lado B, "Asa branca".



· Pronto: Asa branca! Mas era uma música que ele e Humberto Teixeira fizeram sem muita expectativa, sem alarde, porque achavam que seria mais uma.



· E não foi. Asa branca seria o marco principal na carreira e na vida de Luiz Gonzaga. Foi cantando essa música que Gonzaga participou do seu primeiro filme, Esse Mundo é um Pandeiro, de Watson Macedo, o rei das chanchadas.



· Helena das Neves Cavalcanti: esse era o nome de uma contadora e tiete de Gonzaga que ele conheceu no vigésimo-segundo andar da Rádio Nacional em julho de 1947. Helena era pernambucana de Recife e havia perdido o pai, farmacêutico em Gravatá, aos 5 anos de idade.



· Helena fora morar no Rio em 1944. Depois que conheceu Gonzaga, para quem escrevera a fim de conhecê-lo, tornou-se sua secretária. Afinal, também era contadora e poderia administrar a fortuna de Gonzaga.



· Na temporada que Gonzaga fez na Rádio Clube, em Recife, no final de 1947 (era 15 de dezembro, quando desembarcou no Aeroporto dos Guararapes), trouxe Helena com ele e mandou chamar sua mãe, Santana, para conhecê-la. Aí a velha se engraçou muito de Helena e aprovou o casamento.



· As irmãs de Gonzaga dizem hoje que Gonzaga não parecia muito empolgado com o casamento. A verdade é que em fevereiro de 48, já noivo de Helena, Gonzaga mantinha um caso com Elza Laranjeira, cantora na Record em São Paulo.



· No dia 16 de junho de 1948, Gonzaga se casou com Helena no Rio de Janeiro, na Igreja de Nossa Senhora de Aparecida, no bairro de Cachamby. Os padrinhos de Gonzaga foram Miguel Lima e esposa; e os de Helena foram Mário Reis (que não era o cantor) e esposa.



· Ao se casarem, Gonzaga ia completar 36 anos (no dia 13/12) e Helena tinha 22.



· O casal e a mãe de Helena, dona Marieta, foram morar na rua Vereador Jansen Muller, 425, no bairro de Cachamby. (Naquela época se escrevia com y)



· Em 1948, a RCA Victor não tinha onde prensar seus discos porque havia rompido com a firma inglesa responsável pela prensagem.



· Só em 1949 é que Gonzaga voltou a fazer sucesso com "Légua Tirana", uma toada triste.


· Em junho daquele ano, Gonzaga inaugurou a prensa "zero quilômetro" da RCA com a música "Mangaratiba" de um lado do disco, e "Lorota Boa" do outro.



· No mesmo dia, Gonzaga deixou gravada "Juazeiro", cuja melodia o velho Januário já tocava quando Gonzaga era menino, e Humberto botou uma nova letra.



· Uma curiosidade: "Juazeiro" chegou a ser gravada pela cantora americana Peggy Lee, numa versão dos compositores Harold Steves e Irving Taylor.



· O cantor Francisco Carlos chegou a fazer sucesso com duas músicas de Gonzaga/Humberto Teixeira: "Me deixa em paz" e "Meu brotinho".



· Quando Gonzaga resolveu levar toda a família para o Rio de Janeiro, bateu de frente com um impasse: Santana não iria de barco porque queria levar toda a mudança; e Januário não viajaria de avião porque, segundo o velho, não era urubu para voar no céu. Aí Gonzaga alugou um caminhão pra pegar todo mundo. Era o dia 1o de novembro de 1949 quando a família de Gonzaga se mudou para o Sul.



· Em janeiro de 1950, o médico Zé Dantas deixou Recife para também morar no Rio de Janeiro.



· A música "Vem Morena" tem a parceria de Luiz Gonzaga, mas na verdade é toda de Zé Dantas. É que Gonzaga botou seu nome pra ver se amenizava qualquer polêmica que surgisse entre Zé Dantas e seu pai, que poderia suspender sua mesada e proibir seus estudos por ter se tornado compositor. O pai não queria isso.



· Zé Dantas foi recebido no Rio por Gonzaga, Humberto e Péricles.



· Um dia, Humberto Teixeira, que era um bom orador, recebeu incentivo para se candidatar a deputado federal. E acabou entrando para a política, deixando uma brecha providencial para Zé Dantas como compositor.



· Zé Dantas era obstetra e trabalhava no Hospital dos Servidores, do Rio de Janeiro. Gonzaga sempre achou Zé Dantas mais sertanejo, mais telúrico do que Humberto Teixeira, embora este compusesse em qualquer tema.



· A primeira banda que Gonzaga formou para acompanhá-lo tinha dois componentes: Zequinha, no triângulo, à sua esquerda, e João André Gomes, vulgo Catamilho, na zabumba, à sua direita.



· Depois de dois anos de casados, e sem ter menino em casa, Gonzaga fez um exame médico e descobriu que era estéril. Aí o casal adotou uma menina de nome Rosa Maria, mais conhecida como Rosinha, que Helena sempre tentava apresentar como filha legítima do casal.



· Uma vez correu o boato que Gonzaga havia matado Helena porque havia encontrado a mulher atrás de um piano agarrada com Assis Chateubriand. O boato depois é que teria só cortado a orelha de Helena. Quando Helena mostrou a orelha, disseram que era de plástico. Quem contou isso foi a própria Helena.



· O irmão mais novo de Luiz, José Januário, sempre teve o apoio de Gonzaga no Rio de Janeiro. Foi o Rei do Baião que sugeriu a Januário que mudasse o nome dele para Zé Gonzaga, pra todo mundo saber que ele era seu irmão e, assim, dar-lhe oportunidade de fazer sucesso.



· Em maio de 1951, Luiz Gonzaga sofreu um acidente de carro e quase morre. Zequinha estava dirigindo e, em vez de seguir para a Via Dutra, entrou na avenida Brasil. Como Zequinha estava com sono, Gonzaga pediu o volante com raiva e, dentro de quinze minutos, bateu com o carro e caiu de uma altura de 15 metros. Eram 5 horas da manhã.



· Saldo do acidente: Gonzaga quebrou seis costelas e a clavícula; Zequinha quebrou o queixo e Catamilho arrebentou as costas.



· Ainda em 1951, Gonzaga sofreu outro acidente de carro, mas nada sério com ele e os músicos. Dona Santana foi quem mais sofreu: perdeu um dedo, porque a mão dela estava pra fora. O acidente foi provocado por uma roda que saltou do carro.



· Zé Dantas, Humberto Teixeira e Gonzaga faziam o programa No Mundo do Baião, na Rádio Nacional. O compositor e médico Zé Dantas era também produtor do Cancioneiro Rayol. O sertanejo sabia contar estórias, imitar as vozes dos animais e falar feito matuto.



· Zé Dantas e Humberto Teixeira apenas se aturavam. Até que um dia os dois brigaram feio e se intrigaram de verdade. Gonzaga também se aborreceu com Humberto e os dois brigaram.



· Dizem que Humberto Teixeira achava que, na parceria, ele deveria ganhar mais do que Gonzaga porque sua participação era mais importante. Helena se metia achando que não. A família de Gonzaga, por outro lado, reclamava dizendo que Asa Branca, Juazeiro e No Meu Pé de Serra eram músicas feitas pelo velho Januário, e era ele que deveria receber os direitos autorais. Nessa época, os sucesso fazia todos brigarem entre si.



· Gonzaga então declarou abertamente que sua nova paixão musical era Zé Dantas. E mais ninguém. Essa decisão de Gonzaga foi ruim, porque Humberto era o homem dos direitos autorais, homem de conhecimentos, que impediu Gonzaga de receber corretamente seus direitos.



· Mesmo assim, Gonzaga preferiu ficar com Zé Dantas.



· Dona Iolanda, viúva de Zé Dantas revela hoje que muitos sucessos da parceria Gonzaga/Zé Dantas eram na verdade só de Zé Dantas, que as gravava num gravador enorme e mostrava para Luiz quando este passava pelo Rio.



· E Zé Dantas dava a parceria sem reclamar. Pelo menos para Gonzaga, porque para os amigos o médico chegou a lamentar essa situação.



· Helena, muito sabida, e percebendo a fisionomia contrariada de Zé Dantas, chegava a dizer a este: "Ô doutor, o senhor não acha que fica mais bonito quando se bota no disco Luiz Gonzaga e Zé Dantas?" Afinal, era ela que controlava o dinheiro que entrava dos direitos autorais.



· Tanto que, em 1952, Gonzaga só gravou duas músicas com a participação de Zé Dantas: Imbalança e São João na Roça. Naquele ano, Gonzaga arrumou um novo parceiro: Hervê Cordovil, que era maestro da Record. Foi Carmélia Alves que apresentou um ao outro.



· No final de 1951, os Laboratórios Moura Brasil contrataram Luiz Gonzaga para fazer uma excursão pelo país todo, de Porto Alegre a Belém. E tudo isso de caminhonete. A turnê durou um ano.



· Na passagem pelo Recife, Gonzaga estreou na Rádio Tamandaré e bateu o recorde de bilheteria. Teve que fazer mais dois shows, o que valeu uma renda fabulosa de 80 mil cruzeiros.



· Além do cachê, Gonzaga recebeu do Moura Brasil um Jipe, quando o prometido era um Cadillac.



· Zé Dantas se reconciliou com Gonzaga e passou a freqüentar a casa de Januário e Santana que Gonzaga lhes deu de presente em Santa Cruz da Serra, no Rio. Foi ali que Zé Dantas, ao lado da família de Gonzaga, num ambiente sulista que mais parecia roça nordestina, que ele voltou a compor.



· Quem fez a introdução da música "São João na Roça" foi o velho Januário. Gonzaga e Zé Dantas pelejaram e não acharam um jeito de dar uma boa introdução à música. Januário fez isso em poucos minutos na sua safoninha de oito baixos.



· Uma vez, Gonzaga juntou o velho Januário e mais cinco irmãos e fez um grupo chamado Os Sete Gonzaga para se apresentar na Rádio Tamoio. O sucesso foi tanto que a temporada se prolongou por dois meses.



· Em 1953, Catamilho, que bebia muito, foi posto pra fora do grupo e até surgiu um boato de que Gonzaga havia matado o músico por causa de Helena. Os boatos foram tantos que Gonzaga se viu obrigado a contratar Catamilho de novo só para provar ao povo que o homem estava vivo!



· Mas Catamilho continuou bebendo muito e acabou saindo de vez. No seu lugar entrou o anão Osvaldo Nunes Pereira, que Gonzaga conheceu trabalhando num posto de gasolina, em Jequié, na Bahia.



· Zequinha, solidário com Catamilho, também pediu pra sair do grupo em plena excursão pelo Ceará. Gonzaga se viu de repente sem acompanhantes. Mandou buscar um engraxate engraçado de nome Juraí Miranda, que morava no Piauí. Antes de um show em Santo Antonio de Jesus, Gonzaga parou num riacho para ensaiar com os dois novos componentes que nem de música entendiam.



· Aquele era o dia 23 de outubro de 1953. Luiz botou nome artístico nos dois recém-formados músicos. Osvaldo, o anão, iria ser chamado de Xaxado. E Juraci seria chamado de Cacau.



· O anão Xaxado depois ficou sendo chamado de Salário Mínimo.



· Gonzaga, nessa época, viajava demais. Não parava em casa. Helena é que ia se encontrar com ele nos locais onde fazia show.



· Foi, por isso, que Hervê Cordovil fez a música "Vida de Viajante".



· Ainda em 1953, Gonzaga e Zé Dantas fizeram o Xote das Meninas, A letra I, ABC do Sertão, Algodão e Vozes da Seca. A música A Letra I era uma referência à noiva de Zé Dantas, Iolanda, com quem ele viria se casar no dia 26 de junho de 1954.



· Durante uma segunda excursão da Moura Brasil, Gonzaga cantou em Garanhuns/PE e conheceu o sanfoneiro Dominguinhos, de 14 anos, fazendo parte de um trio chamado Os Três Pingüins. O da sanfona era Nenén, que depois seria conhecido por Dominguinhos.



· Em 1955, Gonzaga tomou conhecimento de uma tal Patrulha de Choque de Luiz Gonzaga, um trio de imitadores de Luiz Gonzaga formado por Marinês, que cantava e tocava triângulo; Abdias, seu marido, na sanfona, e Chiquinho, o cunhado, na zabumba.



· Em 1955, numa festa em Propriá, o prefeito Pedro Chaves promoveu o encontro de Marinês com Gonzaga.



· Em março de 56, a convite de Gonzaga, Marinês e Abdias desembarcaram no Rio de Janeiro e ficaram hospedados na casa do rei do baião, que coroou Marinês a Rainha do Xaxado, numa apresentação na Rádio Mayrink Veiga.



· Por fim, Gonzaga formou um grupo para acompanhá-lo, com Marinês, Abdias, Zito Borborema e Miudinho. Era chamado de Luiz Gonzaga e seus Cabras da Peste.



· Por conta do ciúme que Helena tinha de Marinês, o grupo logo se desfez no final daquele mesmo ano.



· Aí a cantora formou um grupo chamado Marinês e sua Gente, com Abdias e Cacau, e conseguiu fazer sucesso nos palcos brasileiros. Ela ainda hoje diz que foi a primeira mulher a cantar forró. Gravou seu primeiro disco pela Sinter, em 1957.



· Nesse mesmo ano, Helena idealizou a criação de um novo grupo inspirado no trabalho de Gonzaga. Aí juntou Zito Borborema, Miudinho e Dominguinhos, que aquela altura já estava morando no Rio, tentando gravar um disco. O grupo passou a se chamar Trio Nordestino e era empresariado por Helena, a mulher de Gonzaga.



· No final dos anos 50, Gonzaga entrou numa fase de declínio, com a chegada da bossa-nova e do rock and roll tupiniquim. A classe média e as elites deixaram Luiz Gonzaga de lado e quiseram sepultar o baião. Foi então que Gonzaga passou a cantar mais no interior, onde sempre foi e seria eterno ídolo. Contratou o anão Oswaldo, de novo, para tocar triângulo, e mais Azulão na zabumba, e fez muitos shows pelo interior do Brasil.



· Foi numa dessas andanças, em Mato Grosso, que ele reencontrou-se com Nazarena, seu primeiro amor, já casada e mãe de família.



· Helena, a mulher de Gonzaga, foi ficando cada vez mais ciumenta e disposta a tomar conta da carreira do marido. Diziam que ela era autoritária e vivia criticando os amigos mais próximos de Gonzaga.



· Ela também queria ser popular. Em 1958, Helena entrou na política e, pela UDN, elegeu-se vereadora de Miguel Pereira, no estado do Rio.



· A partir de 1958, Gonzaga gravou pouca coisa de Zé Dantas, que, por sua vez, passou a registrar suas criações apenas em seu nome, não dando mais a parceria a Gonzaga.



· Santana, a mãe de Gonzaga, sofria do Mal de Chagas e faleceu no dia 11 de junho de 1960 no Rio de Janeiro, onde foi enterrada. Depois, seus restos mortais foram transferidos para o cemitério de Exu.



· Ainda em novembro de 1960, o velho Januário voltou a casar. Conheceu Maria Raimunda de Jesus, de 32 anos e, no dia 5 daquele mês, selou sua segunda união na Igreja de Exu, mas só depois do consentimento de Gonzaga.



· Esse casamento de Januário e Maria Raimunda durou 18 anos.



· Gonzaga já não vendia tantos discos como antes, e, para continuar sustentando a família, vendeu seu palacete e comprou um apartamento pequeno, na rua Pereira Alves, 255, em Cocotá, na Ilha do Governador.



· Em 1961, Gonzaguinha, com 16 anos de idade, passou a morar com o pai em Cocotá.



· O anão Osvaldo, que tocava triângulo no grupo de Gonzaga, contou que o patrão trabalhou na campanha de Jânio Quadros de graça! Só os músicos recebiam o cachê.



· Em 1961, na cidade de Sumé, na Paraíba, Gonzaga conheceu o compositor José Marcolino, com muitas músicas prontas. Aí Gonzaga mandou buscá-lo depois para, no Rio de Janeiro, prepararem o repertório do LP daquele ano.



· Gonzaga sofreria um outro acidente de carro em 1961. Andando num carro velho, a porta se abriu, Gonzaga bateu com a cabeça no chão, sofreu uma fratura no crânio e teve o olho direito gravemente ferido. A sorte dele foi que havia uma farmácia por perto, onde recebeu os primeiros socorros, ou, segundo dizem, teria morrido.



· Nesse acidente, Gonzaguinha e Osvaldo sofreram leves arranhões. Mas Gonzaga ficou um mês internado. Isso fez com que o disco ficasse para ser gravado em janeiro de 1962.



· Era o LP Véio Macho, que tinha seis parcerias dele com José Marcolino, duas músicas de Zé Dantas, uma de Onildo Almeida, outra de Rosil Cavalcanti e uma parceria de João do Vale com Helena, que na verdade só entrou porque João era de uma sociedade autoral diferente e teve que colocar o nome de Helena, em vez do nome de Gonzaga.



· Zé Dantas não chegou a ouvir esse disco. Morreu no dia 11 de março de 1962, após longa doença na coluna vertebral que o mantivera hospitalizado durante quase um ano. Morreu aos 41 anos de idade. Gonzaga não compareceu ao enterro, em Pernambuco, porque ainda estava se recuperando do acidente de carro. Diziam até que a família de Zé Dantas ficou magoada com a ausência de Gonzaga.



· Ainda nesse ano em que perdia Zé Dantas, Gonzaga conheceu um parceiro importante na sua carreira: João Silva.


· Gonzaga acabou sendo contratado pela Mayrink Veiga para uma temporada entre 62 e 63, com sucesso.


· Em 1963, Gonzaga lançou "A Morte do Vaqueiro", uma música de protesto e de homenagem a seu primo legítimo Raimundo Jacó, que fora assassinado em 1954. Essa música foi composta na rua Vidal de Negreiros, número 11, no Recife. Gonzaga deu o mote a Nelson Barbalho e a música saiu ligeiro, nos acordes de Luiz e nos versos de Barbalho.



· Gonzaga entrou para a maçonaria, no Rio, e chegou ao terceiro grau. Ficou sem tempo para continuar.



· Em 1964, Gonzaga comprou um terreno em Exu. Naquele ano gravou dois LPs. Lançou Sanfona do Povo, um lamento pela sanfona roubada no Rio, e cuja história todo mundo ficou sabendo. Luiz Guimarães fez a letra e tornou-se o novo parceiro de Gonzaga.



· O segundo LP trouxe uma das músicas mais conhecidas do seu repertório: A Triste Partida, uma mistura de lamento e de protesto escrita por Antonio Gonçalves da Silva, o popular Patativa do Assaré. A música tem 152 versos.



· Gonzaga ainda pediu a parceria da música a Patativa, que, indignado, mandou o sanfoneiro "plantar feijão". Assim mesmo, Gonzaga gravou e fez sucesso. Depois, não gravou mais nada do compositor cearense.



· Em 1966 saiu um livro com a biografia de Luiz Gonzaga escrito por Sinval Sá. O livro não foi às livrarias. Era Gonzaga mesmo quem vendia.



· Em 1967, Gonzaga andava meio esquecido. A Jovem Guarda estava na onda. Aí, junto com José Clementino, fez o Xote dos Cabeludos, um protesto gravado no disco Ói Eu Aqui de Novo, que trazia a participação de João Silva, compositor que o acompanharia pelos próximos 20 anos.



· É bom registrar que, em 1965, Geraldo Vandré, esquerdista convicto, gravara Asa Branca, de um Luiz Gonzaga chamado de direitista. Aí Gonzaga retribuiu gravando, em 1968, um compacto simples com a música Caminhando, grande sucesso de Vandré.



· Gonzaguinha se formou em Economia para atender a um desejo do pai. Mas nem sequer foi buscar o anel da formatura. Queria mesmo era ser músico, sobretudo letrista. Em 1968, Gonzagão gravou quatro músicas do filho.



· Nesse disco entrou também o pernambucano Rildo Hora, que teria grande importância na carreira de Gonzaga.



· Ainda em 1968, Luiz fez as pazes com Humberto Teixeira, que o trouxe de volta à UBC (União Brasileira de Compositores). Saiu logo um disco intitulado Meus Sucessos com Humberto Teixeira.



· Um dia, Carlos Imperial criou um boato dizendo que os Beatles iriam gravar Asa Branca. Aí a imprensa começou a procurar Luiz Gonzaga, fazer entrevistas, gravar programas, pagando cachê, um rebuliço geral. E então Luiz voltou a ser notícia, ainda mais depois de Gil e Caetano terem dito que suas influências teriam sido as músicas de Luiz Gonzaga.



· A partir de 1969, Dominguinhos já fora do Trio Nordestino (agora com Lindu) passou a acompanhar Gonzaga em seus shows. Era a segunda sanfona e também seu chofer. Numa dessas andanças, Dominguinhos conheceu Anastácia, e aí começou uma relação de amor e música.



· Com padre João Câncio, Gonzaga criou a Missa do Vaqueiro, em homenagem a Raimundo Jacó, o vaqueiro assassinado em 1954, e que era seu primo legítimo. A missa tinha a participação dos irmãos Bandeira e dos vaqueiros da região.



· Um disco de Caetano Veloso, gravado no exílio, era cantado todo em inglês, menos uma música: Asa Branca. Ao ouvir a música pela primeira vez, numa loja de disco, Gonzaga chorou.



· Gonzaga gravou um disco produzido por Rildo Hora chamado O Canto Jovem de Luiz Gonzaga, interpretando só músicas de Caetano, Gil, Antonio Carlos e Jocafi, Edu Lobo, Vandré, Dori Caymmi e Gonzaguinha. A moçada da MPB estava redescobrindo o velho Lua.



· Em agosto de 1971, Luiz Gonzaga deu uma entrevista ao Pasquim, que o chamou de "a figura mais importante da música popular brasileira".



· Em março de 1972, Gonzaga se apresentou no Teatro Teresa Raquel num show chamado Luiz Gonzaga Volta Pra Curtir, produzido por Capinam. Os estudantes foram sua platéia.



· Mas Gonzaga não estava cantando mais o que queria, do que realmente gostava. E queria voltar às suas raízes.



· Em 1972, pediu à RCA um adiantamento para comprar uma Veraneio, para usar em suas andanças pelo país. A RCA negou o dinheiro e Gonzaga se afobou: rompeu um contrato de 32 anos e foi bater na Odeon, onde Fernando Lobo o esperava com o dinheiro do carro Veraneio.



· Na Odeon, Luiz ficou dois anos. Lá, gravou cinco discos, mas apenas 26 músicas inéditas. O único grande sucesso pela odeon foi Samarica Parteira, do LP Sangue Nordestino (1974), uma obra escrita por Zé Dantas que Gonzaga cantava em seus shows mas nunca havia gravado.



· Em 1973, Gonzaga recebeu o título de Cidadão Paulista.



· Ainda naquele ano, recebeu uma missão das mãos do governador de Pernambuco, Eraldo Gueiros: como mediador, Gonzaga tentaria pacificar a cidade de Exu, onde imperava a violência entre as famílias Sampaio e Alencar.



· Para isso, Gonzaga inventou de se candidatar a deputado federal pelo MDB. Foi salvo por um conselho do amigo Padre Câncio, que o fez ver da besteira que poderia ser aquela decisão. Padre Câncio disse a ele que Gonzaga era o cantor, o sanfoneiro consagrado; que, se eleito, seria só mais um deputado. E nem votaria nele! Aí Gonzaga despertou e desistiu de ser candidato.



· Gonzaga era, bem declarado, adepto dos militares. Cantava para eles, era querido por eles, e vivia perto deles, sempre. Já o filho Gonzaguinha era da esquerda, andava com os universitários que repudiavam a ditadura, e, por isso, os dois a partir de certo momento ficaram de relações cortadas.



· Gonzaga, o pai, chegou a defender a Censura e deixou seus seguidores meio atordoados. Ele chegou a dizer que "essa coisa de tortura é jogada dos comunistas".



· Durante o Governo Médici, Gonzaga recebeu a notificação que haviam sido censuradas três músicas dele: Asa Branca, Vozes da Seca e Paulo Afonso. Helena defendeu Gonzaga na Censura e conseguiu reverter a situação.



· Em 1972, Gonzaga criou a casa Forró Asa Branca, na Ilha do Governador, onde fez muitos shows até 1974, quando Helena e as cunhadas brigaram e puseram tudo a perder.



· Em 1975 não foi lançado nenhum disco inédito.



· Helena, como empresária, lançou naquele ano Os Novos Gonzaga (com os sobrinhos de Lua) e As Januárias (as sobrinhas).



· Saiu Dominguinhos e entrou Joca, seu sobrinho, para acompanhar Gonzaga. Ficou 1 ano ao lado do tio e depois, com o nome de Joquinha Gonzaga, seguiu sua própria carreira.



· Numa viagem que fez do Recife para Brasília, em 1975, Gonzaga conheceu Edelzuíta Rabelo, que seria sua última companheira.



· Edelzuíta já conhecera Gonzaga em Caruaru, onde, nessa ocasião, estava noiva do radialista Ludogério, que acabou morrendo num desastre de avião três anos antes do segundo encontro de Gonzaga e Edelzuíta.



· De volta à RCA, Gonzaga lançou em 1976 o LP Capim Novo. A música que dizia "Certo mesmo é o ditado do povo: pra cavalo velho o remédio é capim novo" retratava o momento que ele vivia ao lado da namorada Edelzuíta, então com apenas 35 anos, e ele já com 63.



· Capim Novo acabou entrando na trilha sonora da novela Saramandaia e Luiz entrou também nas paradas de sucesso. Nesse mesmo ano, a TV Globo fez um especial com ele. Foi exibido em duas partes, nos dias 13 e 20 de agosto de 1976.



· Em 1977, Gonzaga fez o projeto Seis e Meia ao lado de Carmélia Alves, no Teatro João Caetano. Foi lançado um LP com os dois em agosto daquele ano.



· Em abril de 77 já havia sido lançado o LP Chá Cutuba, na mesma veia de Capim Novo e Ovo de Codorna. Nesse disco, Gonzaga gravou uma música de gratidão a Benito di Paula, que havia citado seu nome em Charlie Brown e feito a bela Sanfona Branca em homenagem a Luiz.



· Nesse LP, uma curiosidade: duas músicas assinadas por Humberto Teixeira, sozinho, sem a parceria de Gonzaga.



· Gonzaga entrou em 1977 na versão brasileira da famosa Enciclopédia Universal Britânica.



· No dia 11 de junho de 1978 morreu o velho Januário, pai de Gonzaga, exatamente 18 anos depois da morte da mulher, Santana. No ano seguinte, Gonzaga gravou o disco Eu e Meu Pai em homenagem ao velho.



· Ainda nesse disco foi gravada a última música que Humberto Teixeira compôs para Gonzaga: Orélia.



· Também nesse ano morria Humberto Teixeira, seu grande parceiro.



· Nessa mesma época, Gonzaga e Gonzaguinha fizeram as pazes e gravaram juntos Vida de Viajante.



· Uma vez, Gonzaga teve um encontro com o general João Figueiredo e este lhe perguntou: "Cadê seu filho? Por que ele não gosta de mim? Diga a ele que me deixe em paz".



· Gonzaga falou certa vez em lançar Helena, a esposa, candidata a prefeita de Exu. Helena não quis.



· No início de 1980 participou da temporada Sabor Brasil, promovida pela Souza Cruz, ao lado de Clara Nunes, Altamiro Carrilho, Waldir Azevedo, João Nogueira e João Bosco.



· Nesse ano foi lançado o disco Homem da Terra, sem grandes novidades, a não ser os dispensáveis violinos, sem contar que a faixa título era um comercial para o Bamerindus.



· Mas em 1981 veio um LP bonito, intitulado A Festa, com a participação de Gonzaguinha, Emilinha Borba, Dominguinhos e Milton Nascimento, este último em dueto com Gonzaga na música Luar do Sertão.



· Foi nesse ano que Gonzaga passou a ser chamado de Gonzagão. Ele viu numa faixa de um de seus shows em São Paulo esta legenda: Gonzaguinha e Gonzagão a maior dupla sertaneja do Brasil.



· Aos 70 anos de idade, Gonzaga resolveu fazer uma cirurgia plástica no olho arrebentado pelo acidente sofrido em 1961.



· Um acidente urinário durante a operação revelou câncer na próstata, doença que Helena preferiu esconder do marido.



· O LP Danado de Bom, lançado em fevereiro de 84, lhe deu O PRIMEIRO DISCO DE OURO DA SUA CARREIRA. O disco ainda lhe daria um segundo disco de ouro.








 

· Foi uma orientação de Onildo Almeida à RCA que botou Gonzaga pra vender discos. Onildo disse ao pessoal da gravadora que a música de Gonzaga não precisava de sofisticação, que o disco tinha que ser bem produzido mas com poucos arranjos, e bem originais, para o preço ser bem popular. Aí Gonzaga passou a vender não mais 25 mil discos a cada lançamento, mas 200 mil.


· Ganhou um novo produtor: Oséas Lopes, conhecido também como Carlos André, cantor popular.



· A música Forrofiar, João Silva e Gonzaga fizeram em menos de 10 minutos. João Silva passou a ser parceiro cada vez mais presente na obra de Gonzagão.



· Sanfoninha Choradeira, com Elba Ramalho, se tornou um grande sucesso. O pot porrui com Fagner também foi outro sucesso enorme.



· Em 1984 ganhou o prêmio Shell e parou de segurar a sanfona, porque não agüentava mais o peso. Gonzaga achava que estava com gota, mas era o câncer que já lhe abalava a saúde.



· Agora se apresentava no palco acompanhado de dois sanfoneiros: Joquinha, seu sobrinho, e Mauro, um jovem de Exu que tocava no coral da Igreja.



· Em 1985, ganhou mais dois discos de ouro com o LP Sanfoneiro Macho, que tinha a participação de Dominguinhos, Gonzaguinha, Sivuca, Gal Costa e Elba Ramalho. Havia oito músicas de João Silva.



· O disco de 86, Forró de Cabo a Rabo, deu mais um disco de ouro a Luiz Gonzaga. A música-título era uma parceria dele e João Silva. Os dois compuseram a música num quarto de hotel. E João Silva com a cara cheia de uísque.



· No disco de 87, De Fia Pavi, a música que estourou mesmo foi "Nem se despediu de Mim", outro grande sucesso do velho Lua.



· No final de 87, Gonzaga já sentia fortes dores, provocadas pelo câncer de próstata. Já havia metástase nos ossos. Gonzaga chegou a dizer, um dia, que se mataria se soubesse que tinha câncer. Diziam-lhe que tinha osteoporose.



· No começo de 88, Gonzaga resolveu que viveria definitivamente ao lado de Edelzuíta Rabelo e deixaria Helena, sua esposa. Estava com 75 anos de idade. Essa decisão deixou-o até mais disposto, mais saudável.



· Nesse ano, gravou o disco Aí Tem Gonzagão. A voz de Gonzaga já não era a mesma. Estava diferente, cansada. Ainda em 88, a RCA lançou 50 Anos de Chão, uma caixa com cinco LPs, uma obra de despedida da gravadora com o seu cantor de 47 anos de trabalho.



· Gonzaga ainda chegou a gravar o LP Vou te Matar de Cheiro, na Copacabana. O último da sua vida.



· Em 1989, já bastante doente, Gonzaga ainda tinha na agenda vários shows marcados para o São João daquele ano.


· Mas, no dia 21 de junho, o velho Lua foi internado no Hospital Santa Joana, no Recife.



· No dia 16 de julho seria feito o divórcio de Gonzaga e Helena, que não aconteceu a pedido da família. Gonzaga pediria o divórcio alegando maus-tratos.



· Mas chegou o dia. Em 2 de agosto de 1989, Gonzaga faleceu no Hospital Santa Joana.



· Dizem as enfermeiras que ele sentia tantas dores, que, muitas vezes, soltava gemidos que mais pareciam aboios, aquelas toadas cantadas pelos vaqueiros em tom de lamento.



· No seu enterro, com a presença de muita gente, a música mais cantada foi "Nem se Despediu de Mim".






 






quinta-feira, 31 de março de 2011

ILDO SIMÕES E PATATIVA DO ASSARÉ


DO GRANDE POETA BAIANO- ILDO SIMÕES

 MÉDICO PNEUMOLOGISTA EM ATIVIDADE

                         Dr ildo Simões,ex-Preseidente da

                          Sobrames- Bahia.

 

Um certo doutor tinoco

Já chegado nas idades

Paquerô menina nova

Uma verdadeira beldade

Mas em matéra de janero

Só tinha dele a metade.

 

Viajaram pra Paris

Pra passar lua de mé

Todo mundo comentava

Da menina e o coroné

Sete dias de passeio

Sendo cinco no moté

 

No começo aquele fogo

Verdadeira patuscada

Dava três em cada tarde

E mais cinco por noitada

No quinto dia o vexame

Começou a fraquejada.

 

Cuidou da alimentação

Mas cada dia pió

Apelou pra bruxaria

Nem assim ficou mio.

Foi correndo ao celular

E pediu vaga no incó.

 

O coroné tomou o vou

Lá pro  incó de sun Palo

Depois de muitos ixames

Na barriga acharam um calo

O coração disparado e

O sangue muito ralo.

 

Jutaro os especialista

De Jatene ao diretor

E fizeram o veredicto

Sem ninguém se contra por

A sua doença é esclerose

Cum estravagança de amor.

 

É doença passagera

Pió se fosse maleita

Fique Carmo e confiante

Brochada nunca é disfeita

Vá correndo a sarvador e

Mande aviá esta receita.

 

Um litro de catuaba

Nós moscada e pixulim

Vinte grama de castanha e

Um quilo de  amedoim

Erva de são Cipriano

Da feira são Joaquim

 

 

Hoje em dia o coroné

Miorô  seu furunfá

Aprendeu que mingau quente

Só se come devagá

E fogo de mué nova

Tem que saber apagá.









AGORA  O AMIGO TERÁ ALGUMAS DO GRANDE PATATIVASEU DOUTOR ME CONHECE?  

   VEJA A PROFUNDIDADE DAS PALAVRAS, SÓ QUEM SOFREU SABE FAZER UMA ESTADO FALAR.SINTA  A SÊCA ENTRELAÇADA NESTAS PALAVRAS. SINTA  O APELO DE UM POVO QUE MORRE A MINGUA.  MENTALISE.

 

 

Esta poesia o grande Patativa  dando voz ao Estado do Ceará, cobra do Brasil, cobra dos homens poderosos uma resposta,cobra mais atenção, cobra uma solução  centenária.Roga humildemente o sofrimento de um povo, não só do Ceará mais de todo o país. Esta página é profunda.

 

Falo sempre que Patativa do Assaré( Antonio Gonçalves) Homem rude do sertão cearense, homem sem estudo, foi um dos maiores desta terra.   Hoje vive na mente de um povo sofrido, de um povo que perdeu um verdadeiro guerreiro.Porém digo, para um povo  de vergonha, O VELHO PATATIVA  continua vivo e cotidianamente cresce,  acorda com a sua voz alta, com as suas palavras fortes e contundentes muitos que  conseguem beber deste poço de sabedoria e de ensinamentos. Viva o Brasil, viva  a literatura Brasileira. Vá fundo.   Conheça os literatos brasileiros.

 

Amigo: CONHEÇA O SEU BRASIL. CONHEÇA O SEU NORDESTE. CONHEÇA O NORTE. CONHEÇA O SUL.  ENFIM:    CONHEÇA ESTE PAÍS. SEJA BRASILEIRO.  TOME CONHECIMENTO DAS OUTRAS LITERATURAS, MAS, PRIMEIRO CONHEÇA A SUA.

 

 

SEU DOUTÔ ME CONHECE?

 

 

SEU DOTÔ,SÓ ME PARECE

QUE O SINHÔ  NÃO ME CONHECE,

NUNCA SÔBE QUEM SOU EU,

NUNCA VIU MINHA PANHOÇA,

MINHA MUÉ,MINHA ROÇA

E NEM OS FIO QUE DEUS ME DEU.

 

SE NÃO SABE,ESCUTE AGORA,

QUE VOU CONTÁ MINHA HISTÓRA,

TENHA A BONDADE DE UVI,

EU SOU DA CRASSE MATUTA,

DA CRASSE QUE NÃO DISFRUTA,

DA RIQUEZA DO BRASI.

 

SOU AQUELE QUE CONHECE

AS PRIVAÇÃO QUE PADECE

O MAIS POBRE CAMPONÊS:

TENHO PASSADO NA VIDA

DE CINCO MÊS EM SEGUIDA

SEM COMER CARNE UMA VEZ.

 

SOU O QUE DURANTE A SUMANA,

CUMPRINDO A SINA TIRANA,

NA GRANDE LABUTAÇÃO,

PRA SUSTENTAR A FAMIA,

SÓ TEM DEREITO A DOIS DIA,

E O RESTO,O RESTO DO PATRÃO.

 

SOU O QUE NO TEMPO DA GUERRA

CRONTRA O GOSTO SE DESTERRA

PRA NUNCA MAIS VORTAR,

E VAI MORRÊ NO ISTRANGERO,

COMO POBRE BRASILÊRO

LONGE DO TORRÃO NATÁ.

 

SOU O SERTANEJO QUE CANSA

DE VOTÁ COM ESPERENAÇA

DO BRASI FICÁ MIÓ:

MAS O BRASI CONTINUA,

NA CANTIGA DA PIRUA,

QUE É       ___ PIÓ,PIÓ,PIÓ...

 

 

SOU O MENDIGO SEM SUSSEGO,

QUE POR NÃO ACHÁ EMPREGO

SE VÊ FORÇADO A SEGUI

SEM DEREÇÃO E SEM NORTE,

ENVERGONHADO DA SORTE,

DE PORTA EM PORTA A PEDI.

 

SOU AQUELE DESGRAÇADO

QUE NOS ANOA ATRAVESSADO,

VAI BATÊ NO MARANHÃO,

SUJEITO A TÔDO MARTRATO,

BICHO DE PÉ CARRAPATO

E ATAQUE DE SEZÃO.

 

SEU DOTÔ, NÃO SE ENFADE,

VÁ GUARDADNDO ESTA VERDADE

NA MEMÓRA ,E PODE CRÊ

QUE EU SOU AQUELE OPERARO

QUE GANHA UM POBRE SALÁRO

QUE NÃO DÁ NEM PRA CUMÊ.

 

SOU ÊLE TODO,EM CARNE EM OSSO,

MUTA VEZ NÃO TEM ARMÔÇO

E NEM TOMBÉM O JANTAR,

EU SOU AQUELE ROCÊRO,

SEM CAMISA E SEM DINHEIRO

CANTADO POR JUVENÁ.

 

 

SIM POR JUVENÁ GALENO,

O POETA ,AQUELE GENO,

O MAIOR DOS TROVADÔ,

AQUELE CORAÇÃO NOBRE

QUE MINHA VIDA DE POBRE

MUNTO SENTIDO CANTÔ.

 

HÁ MAIS DE CEM ANO EU VIVO,

NESTA VIDA DE CATIVO

E POTREÇÃO NÃO NÃO CHEGOU:

SOFRO MUNTO E CORRO ESTREITO,

INDA TÔ DO MÊRMO JEITO

QUE JUVENÁ ME DEIXOU.

 

 

SOFRENDO A MÊRMA SENTENÇA,

TOU QUAGE PERDENDO A CRENÇA,

E ´RA NIGUÉM SE ENGANÁ

VOU DEXÁ MEU NOME AQUI;

EU SOU FIO DO BRASÍ,

E O MEU NOME É CEARÁ.


domingo, 20 de março de 2011

LEIAM TODOS OS ARTIGOS-

COMO USUFRUIR DESTE BLOG

AMIGOS DEPOIS QUE TERMINAR UMA LEITURA PASSEM PARA AS OUTRAS E NO FIM DA´PAGINA EXISTEM MAIS TEXTOS, SEMPRE NO FIM DE CADA JANELA UMA MENSAGEM. POSTAGEM ANTIGAS, POSTAGEM ANTIGAS´,POSTAGEM ANTIGAS, SÃO MAIS DE 60 TEXTOS , LEIAM,DESCANSEM, VOLTEM PARA  OUTROS SITES E LOGO DEPOIS ACESSEM O BLOG PARA NOVAS LEITURAS, SÃO MUITOS. UM ABNRAÇO DO AMIGO IDERVAL.  LEMBREM-SE-   NO FIM DE CADA PÁGINA OU JANELA-  ACESSEM: PSOSTAGEM MAIS ANTIGAS NO FIM DA PAGINA À DIREITA.

INICIAREI ESTE BLOG COM ALGUNS TEXTOS.

APELO DE UM BRASILEIRO.
AS GARGALHADAS DE SEU MOCIM.
HISTÓRIAS QUE MINHA MÃE  CONTA.

 SÃO TEXTOS  DE NARRAÇÕES EFETUADAS POR MINHA MÃE COM O INTUITO DE MOSTRAR PARA OS FILHOS  COMO OS PAIS LUTAM PARA OFERECER DIAS MELHORES PARA OS SEUS REBENTOS.

COLOQUEI TAMBÉM ALGUNS FATOS VIVIDOS POR ESTE SIMPLES MORTAL DURANTE A SUA FORMAÇÃO PROFISSIONAL.

PUBLICO TAMBÉM FATOS IMPORTATES DA HISTORIA DO BRASIL .


POR DERRADEIRO AGRADEÇO  A OPORTUNIDADE DE SER VISTO POR VOCÊ QUE HOJE ABRIU ESTE BLOG.

AMIGO MUITO OBRIGADO E ESPERO POR CRÍSTICAS E  UMA BOA AULA DE PORTUGUÊS .
 SEI QUE O AMIGO É CAPAZ DE OFECERER.

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IDERVAL REGINALDO TENÓRIO
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IDERVAL REGINALDO TENÓRIO 

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CALABAR

QUEM FOI CALABAR


Domingos Fernandes Calabar

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Domingos Fernandes Calabar (c. 16001635) foi um senhor de engenho na capitania de Pernambuco, aliado dos neerlandeses que invadiram o Nordeste do Brasil.

Índice

[esconder]

[editar] Biografia

Pouco se sabe desse personagem controverso da História do Brasil: nasce em Porto Calvo, Alagoas, então parte integrante da Capitania de Pernambuco, por volta de 1600. Foi batizado na fé católica no dia 15 de março de 1610. Mulato, estudara com os jesuítas e, fazendo dinheiro com o contrabando, chega a tornar-se senhor de terras e engenhos. Vários cronistas qualificam, no entanto, Calabar de mameluco e não de mulato.

[editar] Contra os Holandeses

Em 1580, Portugal passara para o domínio espanhol. A Holanda era, até então, aliada dos lusos mas, ao contrário, grande inimiga dos espanhóis. Estes, dada a intensidade do comércio lusitano com os holandeses, estabelecem uma trégua, que vigora até 1621, quando retomam os embates.
Funda-se, então, na Holanda, a "Geoctroyerd Westindische Companie" - A Companhia das Índias Ocidentais. Tendo invadido a Bahia, dali foram expulsos, em 1625. Continuaram atacando naus ibéricas e, a 13 de fevereiro de 1630 iniciam o ataque a Olinda.
O neto de Duarte Coelho, Matias de Albuquerque, vindo da Espanha, viaja ao Brasil a fim de coordenar a defesa do país. Pouco auxílio deram-lhe em Portugal (27 soldados), mas chegando arregimenta dentre os nativos homens que pudessem auxiliar na defesa. Apesar disto, perde primeiro Olinda, e depois o Recife. Retirando-se, iniciando um combate em guerrilhas, que duras derrotas infligiam aos invasores.
Para estas emboscadas, muito contribuíra Domingos Fernandes Calabar, profundo conhecedor do território - composto, no litoral, de baías, mangues, rios e praias - aos quais os neerlandeses estavam acostumados - e no interior pelas matas, às quais este povo costeiro não se adaptara.
Comerciante e contrabandista, Calabar vivia a percorrer aqueles caminhos, e com seu auxílio viram-se os neerlandeses forçados a abandonar Olinda, que incendeiam, concentrando-se no Recife.

[editar] Calabar muda de lado

Por razões de ser um herói brasileiro e ambicioso que só queria causar problemas, ele muda de lado, em abril de 1632. Por ambição, desejo de alguma recompensa entre os invasores, convicção de que estes seriam vitoriosos ao final, ou ainda mesmo por supor que aqueles colonizadores trariam maiores progressos à terra que os portugueses - o fato foi que Calabar traiu seus antigos aliados.
Durante dois anos havia servido entre os seus conterrâneos, foi ferido duas vezes e ganhou alguma reputação. Dele afirma Robert Southey (História do Brasil, vol. I, página 349):
Se, cometido algum crime, fugiu para escapar ao castigo; se o tratamento recebido dos comandantes o desgostou; ou, se o que é mais provável, com a traição, esperou melhorar de fortuna, é o que se não sabe. Mas foi o primeiro pernambucano que desertou para os neerlandeses, e se a estes fosse dado dentre todos fazer seleção de um, não teriam escolhido outro, tão ativo, sagaz, empreendedor e desesperado era ele, nem havia quem melhor conhecesse o país e a costa.
A vantagem mudara de lado - e os holandeses passam a conquistar mais e mais territórios, agora tendo ao seu lado o conhecimento de que necessitavam: conquistaram as vilas de Goiana e de Igaraçu, a ilha de Itamaracá e até o forte do Rio Formoso.
Seu auxílio foi tão precioso que até o forte dos Três Reis Magos, no Rio Grande do Norte, caiu sob domínio dos invasores que, com participação direta de Calabar destroem o engenho do Ferreiro Torto. Seu domínio estendia-se, então, do Rio Grande até o Recife. Além de Calabar, aderem à proposta cristãos-novos, negros, índios e mulatos.
Pudsey, mercenário inglês à serviço da Holanda, descreve Calabar com grande admiração:
Nunca encontramos um homem tão adaptado a nossos propósitos (…), pois ele tomava um pequeno navio e aterrava-nos em território inimigo à noite, onde pilhávamos os habitantes & quanto mais dano ele podia ocasionar a seus patrícios, maior era sua alegria.(Robert Southey, História do Brasil, vol. I)

[editar] A captura

Forçado a recuar cada vez mais, Matias de Albuquerque retira-se para Alagoas, durando as lutas já cinco anos. Levava Albuquerque cerca de oito mil homens. Próximo ao Porto Calvo encontra um grupo de aproximadamente 380 neerlandeses, dentre estes o próprio Calabar. Um dos moradores deste lugar - Sebastião do Souto - oferece-se para um ardil e as coisas começam a tomar novo rumo.
Utilizando-se deste voluntário, fiel aos portugueses, o plano consistia em infiltrar-se nas fileiras inimigas. Souto vai ao comandante holandês Picard, dizendo haver mudado de lado, convencendo-o a atacar as forças de Albuquerque, que informou não terem mais que 200 homens.
Armada a cilada, nela caem Picard e os seus, dentre os quais o trânsfuga Calabar - os neerlandeses se rendem, e Calabar é feito prisioneiro.

[editar] Execução exemplar

Tratado como o mais vil traidor dos portugueses - Calabar é punido com a morte. Foi garroteado (não havia como montar-se uma forca, naquelas circunstâncias) e esquartejado e as suas partes expostas na paliçada da fortaleza - demonstrando assim a quem mudasse de lado o destino que lhe estava reservado.
Sobre este episódio narra Robert Southey (História do Brasil, vol. I):
Com tanta paciência recebeu a morte, dando tantos sinais de sincera contrição de todos os seus malefícios, acompanhada de tão devota esperança de perdão, que o sacerdote que lhe assistiu aos últimos momentos nenhuma dúvida conservou sobre a salvação do padecente. O confessor foi Fr. Manuel do Salvador, que mais tarde tomou não vulgar parte nesta longa contenda, de que nos deixou singular e interessantíssima história.
Interrogado se sabia de algum português que estivesse em traiçoeira correspondência com o inimigo, respondeu Calabar que sobre este capítulo muito sabia, não sendo das mais baixas as pessoas implicadas
Em Porto Calvo, agora sob comando de Arciszewski, os neerlandeses prestaram-lhe honras fúnebres - àquele a quem efetivamente deviam grande parte de seu sucesso.
Dois anos depois, em 1637, chegaria ao Brasil o príncipe Maurício de Nassau. Nassau contribui para que muitos tenham, hoje, idéia de que a colonização holandesa seria melhor que outras, algo inconsistente ante mesmo o olhar sobre sua retirada do Brasil, acusado de dar prejuízo à Companhia das Índias Ocidentais, e terem retomado o clássico modelo de exploração exaustiva - aos quais forçaram a revolta dos brasileiros, dentre os quais André Vidal de Negreiros, Felipe Camarão e Henrique Dias - tratados como heróis da expulsão dos neerlandeses.

[editar] Outros olhares

O compositor Chico Buarque, junto a Ruy Guerra, fez em 1973 uma peça teatral intitulada: "Calabar: o Elogio da Traição" onde pela primeira vez a condição de traidor de Calabar era revisitada. Mas este posicionamento dava-se muito mais para denunciar a situação da época ditatorial, do que uma visão historiográfica sobre os fatos do século XVII.
Em Salvador (Bahia), há bairros com o nome "Calabar". Ao largo dessas "homenagens", alguns historiadores procuram justificar a atitude de Calabar, sem entretanto observar que este primeiro era aliado dos portugueses, granjeara-lhes a confiança - para depois servir aos inimigos numa privilegiadíssima posição.

[editar] Bibliografia

  • SOUTHEY, Robert (1774-1843). História do Brasil (Traduzida por Luís Joaquim de Oliveira e Castro). Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1981.

[editar] Ligações externas

CONTROVERSIAS NA HISTÓRIA DO BRASIL-CALABAR

CALABAR-HEROI OU TRAIDOR -LEIAM.

CALABAR HERÓI OU TRAIDOR?

 “O conhecimento é um processo e, portanto, a verdade também o é”. Adan Schaff (1913-2006), filósofo polonês

- O nome de FERNANDES CALABAR sempre esteve ligado à idéia de traição desde o período em que teve a consciência de que era melhor lutar do lado dos holandeses (1630-1654) do que permanecer do lado da União Ibérica (Portugal e Espanha). Não podemos nos esquecer que o atual Estado brasileiro foi uma colônia da Espanha[1] por 60 anos, ou seja, de 1580 a 1640.
- Será que realmente esse senhor mestiço, que desconhecia quem era o seu genitor, com boa educação ministrada pelos jesuítas, que era dono de engenhos de açúcar e descriminado pelos brancos portugueses pela cor da sua pele pode ser chamado de traidor? Graças à possibilidade de revisão de documentos históricos e fatos históricos recentemente revelados essa visão de que ele seria um traidor vem sendo revista.
- Atualmente com a possibilidade de estarmos vivendo dentro de um regime democrática livre, sem a interferência de um Estado ditatorial[2], hoje se pode revisar documentos, fatos históricos e analisar novos vestígios desse período mal contado da nossa História sem pressões corporativas ou, pelo menos, bem mais atenuadas.
- Nesse sentido, muitos revisionistas já consideram O Major Fernandes Calabar como um verdadeiro herói[3] pela perspicácia de ter tido a consciência de que o território colonial desde o ano de 1500 d.C., o qual um dia seria o atual Estado brasileiro, sempre tinha sido explorado pelos portugueses com muita opressão e dentro desse tempo por seis décadas pela União Ibérica, ou seja, de 1580 d.C a 1640 d.C., quando Portugal foi anexado a Espanha.
- No período do Senhor Calabar, os impostos eram escorchantes e, diga-se de passagem, até hoje os impostos são elevados e o retorno um tanto duvidoso pelos efeitos da corrupção. Nesse período colonial, as viagens eram controladas, quando não proibidas pelos portugueses. Havia a proibição para a produção de tecidos, a educação escolar não existia, proibiam o comércio com os estrangeiros. Profissões ligadas a arte aplicada e a posse de livros eram severamente proibidos, com exceção dos livros religiosos católicos, pois ajudavam na manutenção do controle social e manutenção de um senso comum sobre o povo da época.
- Além do mais, apenas a religião Católica Apostólica Romana era permitida na colônia, a qual adotava terríveis castigos para os acusados de heresia. O medo da inquisição católica e das suas técnicas de torturas mantinha o povo calado e submisso.
- Para os historiadores revisionistas, com o advento das invasões holandesas e a fixação do domínio holandês, Calabar e outros colonos mestiços, bem como muitos índios e “cristãos novos” (judeus convertidos compulsoriamente ao catolicismo romano), viram que com a presença dos holandeses os padrões de justiça, liberdade religiosa, melhorias acentuadas nas condições econômicas e sociais deram um salto gigantesco. O domínio português da época, atrelado com a Espanha, jamais iria permitir tal desenvolvimento sob o seu comando.
- Por esta linha, alguns pesquisadores[4] tentam lançar mais luz nos motivos que levaram Calabar e outros colonos a passar para o lado dos holandeses. Quais seriam as reais motivações? Seriam religiosas, econômicas ou o surgimento de uma manifestação de patriotismo dos autóctones? Vários documentos lançam luz nesses emaranhados de interesses, dos quais muitos são favoráveis a Calabar. Estão a ensejar a possibilidade de que se comece a mudar a idéia da acusação de traição divulgada pelos opressores portugueses da União Ibérica.
- O certo é que os holandeses trouxeram, para as regiões por eles ocupadas, o desenvolvimento econômico, a liberdade religiosa, permitiram o surgimento de escolas fundamentais, possibilitaram a vinda de homens de ciência[5], urbanizaram Recife, construíram pontes e obras sanitárias. Estenderam vários benefícios para outras regiões. Para os autóctones que ousavam ter um raciocínio crítico era impossível não ver as melhorias e não precisariam ser muito inteligentes para saber em qual dos lados se deveria ficar e lutar.
- Convém ressaltar que existiram traidores que não foram tão escorchados como Calabar, por terem muito prestigio e conhecimento. Entre esses traidores temos o nome do padre jesuíta Manoel de Moraes, “estrela de uma longa constelação de traidores”[6], o qual cometeu diversos atos de traição mais infames do que aquele atribuído a Calabar, mas sempre acabava escapando das punições, inclusive da própria inquisição.
- Pelos dados já coletados e revisados deverá haver algumas mudanças substanciais na continuação ou não da visão de Calabar como traidor. Obviamente os historiadores levaram em conta as interpretações feitas em décadas passadas e de quem as elaborou. A partir de uma analise criteriosa, esses pesquisadores revisionistas, estarão formulando novas verdades isentas de paixões para prevalecer à versão mais correta.
Sendo assim, talvez o mestiço autóctone Fernandes Calabar esteja muito mais próximo da imagem de um herói do que a de um reles traidor.
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[1] GOMES, Rafael. História pode revelar um novo Brasil. Disponível em <http://www.bbc.co.uk/portuguese/esp_bra­_historia.htm>. Acessado em 08 mar 2009.
[2] A peça “Calabar – Elogia de uma traição” de Chico Buarque de Hollanda e Ruy Guerra foi proibida em 1973 pelo governo militar, mas liberada em 1980 ( Veja, 14/05/1980, PP 60 ss).
[3] LUNA, Mozart. Calabar, herói desconhecido completa 370 anos da sua morte. Disponível em <http://www.maragogi.tur.br/noticia_calabar.htm>. Acessado em 17 mar 2009.
[4] SCHALKWIJK, Frans Leonard. Por que, Calabar? O motivo da traição. Disponível em <http://www.thirdmill.org/files/portuguese/47093~9_18_01_4-13-56_PM~calabar.htm>. Acessado em 15 mar 2009.
[5] FIGUEIRA, Divalte Garcia. História. São Paulo: Ática, 2002, p. 166

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O VELHO CAVALO


                                          O VELHO CAVALO
                                        .
                                Foi no meado de 1915 no sertão do Ceará quando das chuvas, nem prenúncios.
                              
                               Relata minha avó , que nos sertões do Ceará havia um almocreve de meia idade, negociava nos cafundós e nos grotões da esturricada Serra do Araripe,  divisa do Ceará com o Estado de Pernambuco, para o ganho do pão de cada dia utilizava como meio de transporte uma parelha de animais, um belo eqüino e um musculoso muar.

                              Grandes eram as distancias a percorrer e belos os lugares visitados, o muar para as cargas e o eqüino para os passeios junto ao patrono, sempre nas festas, nos namoros, nas comemorações e nas grandes corridas, era com orgulho que o belo animal desfilava naqueles sertões, bem tratado, bem alimentado, bom capim, boa alfafa, excelente milho e muitas vezes tortas de resíduos de caroços de algodão, era uma vida de rei, cheio de arreios e ornamentos, manta vermelha, sela nova, peiteira de couro com uma bela estrela de metal no centro, rédeas do puro couro curtido, alforjes do macio couro de carneiro, rabicho trançado  com fio de seda, boqueira do melhor metal, estribos de pura prata, polidos, encerados e bem conservados, vivia época de glórias, se orgulhava ,  quando nas paragens recebia preço, recebia avaliação, elogios  e jamais o seu dono pendia para negociação, era um animal orgulhoso e cheio de brios, na sua garupa as mais belas donzelas, as mais macias das nádegas, era  motivo de festas aonde chegava com o seu baixo, com o seu galope, trotando, chispando ou com os seus admiráveis  passos sempre a esquipar demonstrando a sua bela marcha, qualidades estas que lhe credenciavam a cruzar semanalmente com uma diferente e bela égua, com uma formosa e elegante asinina, todo faceiro, todo pabo. 

                             O muar, coitadinho, a subir ladeiras, a cortar caminhos, dois a três sacos na pesada cangalha encastoada no lombo, cabresto de cordas de croá, rabicho de agave e umas puídas viseiras laterais de couro cru, impedindo, tapando, obstruindo, abortando, escurecendo a visão lateral, pendurado no pescoço o seu crachá: um pesado chocalho bovino para a sua identificação, nos fins de semana os sacos são substituídos   por quatro cambitos  para o carregamento de lenhas e à noite por dois caçoas no transporte  de  frutas , garrafas ou feixes de canas caiana muito apreciadas naquela redondeza, como pastagem ,  capim seco, algumas relvas nos arredores e monturos das casas, não sabia se vivia para comer e trabalhar ou só teria comida se trabalhasse.

                             Longas eram as conversas  entre os dois animais nos seus encontros, um peado nas duas patas direitas, as vezes triste a lamentar  , mas sempre conformado por lhes sobrar a vida e o trabalho ; o outro , solto pelos terreiros, falante, garboso, risonho; discutiam as suas vidas, as injustiças e quão ingrata era a vida para um deles, a diferença era exorbitante, era de fazer pena e foi assim durante muitos anos, foi assim, um sempre  sorrindo, a gargalhar; e o outro... o outro só Deus.

                             Como o tempo  é o pai, o aconselhador e o diluidor dos sofrimentos como a água é diluidor  universal e a esperança a mãe de todos os animais,  uma década se passou , e os dois viventes sempre a dialogar, com a falta de chuvas foram escasseando as vendas, os compradores cotidianamente caindo, motivo mais do que suficiente para o almocreve diminuir os momentos de festas e de alegrias, primeiro se desfez dos belos arreios, diminuiu as compras de alimentos  especiais e necessitava  aumentar o volume das cargas para suprir as suas despesas azeitando a sua sobrevivência. O belo e orgulhoso eqüino passou a andar na vala comum lado a lado com o muar, a sela foi substituída por uma cangalha e  dois sacos, um de  cada  lado e por ser um exímio esquipador o dono escanchado no meio, desta vez subindo e descendo ladeiras, pulando grotas, na  ida produtos da lavoura para a venda e na volta especiarias para abastecer as bodegas da região: como querosenes, peixes salgados, açúcar, café e outros mantimentos, com a idade desapareceram as belas éguas, as formosas asininas e os manjares nos terreiros dos esturricados sertões.

                               O muar continuou a sua batalha, agora como coadjuvante,  apenas como complemento de carga, quando o produto era pouco ficava a pastar, a perambular pelas capoeiras à procura de uma relva  mais hidratada pensando na sua atual e inútil vida, costas batidas, boca mucha, dentes amarelos, desgastados, bicheiras nos ombros, espinhaço pelado, cascos rachados, juntas calcificadas, perambulando caatinga adentro. E lá ia o velho eqüino, dois sacos, o dono escanchado no meio da cangalha, o filho na garupa, subia e descia os penhascos do Araripe, já não possuía belas boqueiras, o rabicho de cordas a cortar a borda anal, as cilhas de couro cru com suas grosseiras fivelas a lhes causar mossas na barriga caindo pelo vazio e a traumatizar os bagos aposentados, força era agora a sua maior virtude, força para não sofrer com as esporas que tangenciavam os órgãos genitais, muitas vezes ferindo-os quando desacertava os passos, a vida endureceu e trouxe à memória os momentos vividos ao lado do amigo muar nos tempos das bonanzas, das vacas gordas, das grandes chuvas, das farturas e dos grandes bailes, olhava para os lados e não mais enxergava os pomares verdejantes do caminho, pois os tapa olhos laterais do muar agora se encontravam na sua cabeça, vedando os seus olhos, a visão agora era limitada, uma visão de subserviência, não mais participava dos acontecimentos, agora, apenas um animal de cargas, vivia puramente para comer e para o trabalho, não tinha direito a pensar, seguia a dura e pétrea regra, para viver só lhes restava a obediência sem contestação, seguia os puxavancos do puído e velho cabresto que dava duas voltas na focinheira cortando a pele entre os dois orifícios de sua moída  venta, vivenciava a mais espúria entidade criada pelo dominador, o mais baixo golpe sofrido por um ser vivo, obedecer sem contestar, simplesmente a mais velada forma de escravidão.

                             Os três entes aos poucos foram minguando, o muar sem trabalho foi sumindo, esquecido, menosprezado,esquálido e abandonado, até o dia em que foi  requisitado pelos  produtores de charque. O belo eqüino agora não mais belo, sem a força da juventude, com a estima em baixa,  caiu na desconfiança, calda imóvel a proteger o fim dos intestinos com compressões periódicas ao menor grito do seu condutor, olhos sempre para o chão, dentes puídos rentes  às gengivas, desgastados, musculatura minguada, pelos ásperos, relinchos abafados; sem força, sem brio, sem pernas foi substituído por sangue novo, mergulhou na solidão, não mais requisitados ao trabalho  se embrenhou nos carrascos das matas que ainda existiam e nunca mais soube do seu paradeiro.
                           O dono caiu numa crise de desgraça, envelheceu sem os seus maiores amigos, engolido pelo bafo do progresso trazidos pelos bulidos dos motores de dois tempos nos velhos aviamentos e nos transportes  das poucas mercadorias, mergulhou no esquecimento, no solitarismo da vida, os dias ficaram mais longos, a falta de afazeres lhe consumiram os brios e de resto os deseducados  filhos, os sofridos netos e sobrinhos alimentando as grandes metrópoles com a sua prole na construção e desconstrução de uma nação que continua sem rumo, sem prumo e sem um paradeiro ou porto seguro para os que nela batalham e lutam. Os três se foram, continua a condescendência e as condutas sem uma instituição sustentada, sem nenhuma criação institucional que traga garantias futuras para um povo sofrido que trabalha até os setenta e depois vaga pelos valados da vida, basta vê os liberais e autônomos de ontem, hoje  abandonados, como os de hoje os abandonados do futuro.  Hoje na mesma serra do Araripe, nos mesmos grotões do Nordeste ainda vagam muitos Três Entes à espera do mesmo futuro.    

                        O Mundo gira e com ele a repetição, mostrando que na natureza nada se constrói, tudo se transforma, apenas o tempo como diluidor  universal é quem dita e conduz o destino de cada um, pedindo  que   viva a vida como o seu único patrimônio.
                         Iderval Reginaldo Tenório   2010


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domingo, 30 de janeiro de 2011






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