quinta-feira, 11 de julho de 2024

Carta do menino Zezinho aos seus professores do curso fundamental

 


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Carta do menino Zezinho aos seus professores do curso fundamental

Queridos professores nasci na roça, tenho 14 anos de idade e  a minha primeira escola foi no campo.  Os meus professores e colegas , além dos meus pais, foram os fenômenos da natureza, as plantas,  os insetos,  os repteis e os animais do sítio dos meus pais.

Brinquei muito com as formigas,  tanajuras, libélulas,   gafanhotos e as borboletas,  levei muitas carreiras das galinhas chocas, das cadelas paridas, das cobras,  das abelhas e de bodes pais de chiqueiro.

Sei que os senhores não vão acreditar, nenhum deles sabiam ler, escrever ou contar, até mesmo os meus pais  não tinham boa leitura. Acho que os senhores vão estranhar, pois foi graças a todos eles que percebi a grandeza da vida, da natureza e da cidadania. Ensinaram-me a importância  de cada um e que  cada um merece respeito. Ficou claro que todos possuem primordial participação na formação de um cidadão, fator preponderante para se viver  em sociedade com interatividade e harmonia.

Os animais classificados como irracionais, brutos, simples   e sem conhecimentos filosóficos atentaram-me para a importância da vida, do bem estar e como comportar-me diante da natureza.  Ensinaram-me como  viver em sociedade e   harmoniosamente  com as diferenças e as diversidades, tanto os seres animados como os inanimados, precisamente  os morros, as águas, o sol, a lua, as  estrelas, as chuvas, o fogo, as florestas, os ventos, as capoeiras e tudo quanto  emana da terra,  inclusive ela própria.

Ao entrar nesta escola imaginava encontrar um ambiente livre,  que deixasse o meu cérebro voar como um pássaro e fizesse brotar miríades de perguntas sobre a complexidade da vida e do universo. 

Imaginava que a escola dos humanos  trouxesse  orientações para concatenar as minhas ideias, que me mostrasse novos caminhos e como desenvolver  novos pensamentos.

Imaginava que nesta escola  iria encontrar  muitos orientadores,  tais quais os meus amigos de infância    que, mesmo   sem   falar a língua pátria, contar ou escrever enriqueceram o meu saber.

Tinha eu, nesta minha cabeça, que cada colega  passasse  alguns conhecimentos  e num contínuo compartilhamento fôssemos somando,  e no coletivo melhorando a capacidade de viver em comunidade.

Juro aos senhores  que, ao saber que existiam  diversas disciplinas como a língua pátria, a aritmética, a história, as ciências sociais  e  outras,    iria  compreender  as suas  importâncias, a necessidade de me aprofundar e entender a participação de cada uma na vida do cidadão ou cidadã.

Acreditava que,  sozinho ou em equipe,  iria procurar maneiras de explorá-las. Voaria, como um alado livre, por todos os recantos procurando respostas  para as interrogações da vida. Porém, o que encontrei foi uma prisão, uma verdadeira gaiola, um engessamento, tendo que seguir literalmente demandas do imaginário humano.  Clausura esta  que me fará  desaprender  o ato de voar, cantar, da liberdade e de discernir  o que é bom ou ruim para vida. 

Lembro que  todos os engaiolados possuem donos e eles os levarão para onde quiser, posto que  prisioneiros  não são donos de si.

Aqui com todas as invenções  do homem, e  o intuito de colocar o cidadão no topo da pirâmide  ou encontrar um lugar ao sol neste mundo desigual,  induz e aduz  reflexões  sobre o futuro da humanidade. 

Tenho a impressão que o modelo desta escola contribuirá para a exclusão no ensino e criará mais degraus na estratificação social e humana, distanciando mais ainda  as camadas sociais, pois existem diferenças nos conteúdos escolares. Enquanto maior o poder aquisitivo melhor o ensino, maior o prato, maior o número de nutrientes e o espirito de superioridade.  

Este  modelo faz com que cada  um aprenda  a ser um desagregador, um concorrente ou um eterno advsersário.  Irá despertar,  no Eu  de cada um,  a propriedade de ser o melhor, o mais competente, um eterno ganhador  e o número hum  em tudo, mesmo que tenha  que puxar o tapete do próximo. 

Não tenho cerimônia  de falar  que, com este modelo  o mundo a cada dia ficará mais desigual. É assim que se constroem as famigeradas pirâmides  sociais  em todas as demandas da vida.

Caros professores, peço encarecidamente  que apenas  mostrem os  caminhos para a vida, que apontem a melhor maneira de utilizar o cérebro, pois a de racionar todos são capazes.  Com   estas ferramentas  cada um destes seres humanos,  em formação, saberá encontrar a verdadeira importância da vida. Tenham certeza que cada um continuará o aprendizado sem se afastar dos princípios sociais, filosóficos, éticos e  de como participar de um mundo mais justo  em busca  da cidadania plena.

Meus abnegados professores, peço  que deixem as crianças  raciocinarem e se desenvolverem. Saibam   que cada uma tem e vem de um mundo diferente, todos estão cheios de conhecimentos pertinentes ao nível social e da convivência infantil, isto é, da primeira infância.   Está no compartilhamento de suas vivências e ideias  a chave  para um mundo mais equânime. Sempre escutei e ainda escuto que cada cabeça é um mundo.

Deixem as crianças criarem, pensarem, comunicarem-se e contribuírem para encontrar  muitas respostas para o bem desta civilização.

Sei que este modelo não é culpa dos professores, faz parte da conjuntura e da vontade política.  Cabe aos senhores  apenas executarem  a grade curricular num pequeno espaço de tempo, num ambiente muitas vezes inadaquado, cheio de amarras invisíveis, sem segurança, sem uma remuneração condizente e  valorização pertinente à função.

Mestres, não falei mais porque ainda sou rude, capiau e quase um animal do campo, quase um analfabeto nas coisas da vida. Acredito que ao entrar no curso do ensino médio darei continuidade  a esta simples missiva. 

.                                    Brasil,  18 de Março de 1968

Assina :Zezinho

 

                                    Fotografia 3x4

 

ESCUTEM DE OLHOS FECHADOS E VIAGEM NO TEMPO COM O GRANDE BELCHIOR .

 

ESCUTEM A MELODIA E A GRANDE BARERIA TÁ TÁ TÁ TÁ TÁ TÁ. 

REPASSEM ESTA LETRA PARA O MUNDO. 


Iderval Reginaldo Tenório


 

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Um comentário:

Anônimo disse...

👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏