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AQUI EM SALVADOR, UM COLEGA FALOU ALGO SOBRE O FOGÃO DE SUA CASA EM ITABUNA E ZEZINHO MANDOU A MINHA VERSÃO.
No meu tempo de menino, isto é, de criança, lá na minha chapada do ARARIPE, o fogão era a lenha. Uma parede lateral de tijolos, uma maior, contra lateral, chamuscada de fuligem, uma trempe de ferro com tres bocas e uma chaminé nos fundos que saia na parede externa, a fumaça voava para os céus deixando um dedo de fuligem preta impregnada na parede.
Uma panela grande, de barro, feijão com toicim de porco, uma lata de óleo, vazia, amarrada com arame, pendurada num dos caibros do preto e baixo telhado, que servia para fazer o café. Logo à frente, um espaço vazio que servia para colocar as toras de lenha, de pé, muitas delas quase verde, para alimentar o fogo.
Mamãe falava- " fogão não é lugar de menino"
Nunca esqueço de uma mesa de madeira escura, com frestas entre uma tábua e outra, um batedor de carne, um pote de barro, preto, que cabia 1 quilograma de sal grosso, uma lata para colocar o açúcar, outra para colocar o café e um tábua para colocar a caixa de fósforo, que chamávamos de CAIXA DE FOSCO.
Nesta mesma mesa, vários pratos esmaltados, alguns com as beiradas pretas de tanto cair e descascar, não esqueci das colheres, garfos não se conheciam naquelas brenhas, todos comiam com colher, uma eram cor de metal prata e outras amarelas.
Sou ou não sou um bicho do mato? O estranho é que aprendi a ler, escrever e contar.
Papai dizia : " Eita meninos inteligentes"
Por isso que sempre falo : " PAI É PAI E MAMÃE É MÃE, SÃO OS MAIORES DESTE MUNDO".
Quem eram os amigos?
Os carneiros, cabritos, ovelhas, bezerros, cães, gatos e os animais silvestres, sem contar com os vegetais: dois pés de tangerina, dois de goiabas, uma centena de umbuzeiros, alguns cajueiros, dois de canafistas e dois gigantes pés cedros, que ainda estão lá.
Sou e fui um animal do mato e acho que ainda não fui civilizados, continuo agreste. Iderval . Naquela época DEVAL GRANDE, um a vez que o meu irmão caçula chama-se EDVAL, e o povo o chamava de : DEVAL PEQUENO.
Falei apenas do fogão e da pequena sala que o mesmo era instalado, chão de tijolo cru. O pote tinha uma grossa tampa de madeira, com um tôco no meio, onde se colocava o caneco de latão.
Peço venha, esqueci de um grande gato chamado mimoso, que só vivia deitado, e da gata ceguinha, a mãe do mimoso, esta de vez em quando trazia uma prenda para o seu preguiçoso filho, geralmente um pequeno pássaro. A gata perdeu um dos olhos com um espinho de mandacaru.
O bicho não caçava, vivia deitado, comia do bom e do melhor.
O Gato era MIMOSO E A GATA ERA CEGUINHA.
Aquele menino cabeçudo, buchudo, que fechava os olhos ao olhar para sol devido a fotofobia, prurido,vermlhidão, sensação de corpo estranho, secreção e lacrimejamento, e que ficava sentado no batente da porta, ao lado da gata ceguinha, jogando milho para as galinhas, era eu.
A casa continua a mesma, todavia sem vida, sem o mimoso, sem a ceguinha, sem os corpos dos viventes, porém tenho certeza, continua na mente de todos que por ali gozaram parte de sua vida e que foram muitos. Ela continua sendo a cara e a alma dos dois genitores da família.
Iderval Reginaldo Tenório
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