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O REBENTO
Ao sentir as ondas vibratórias nas paredes do seu mundo, pressentiu que não estava só. Além do escuro casulo, das rajadas que sopravam o
seu corpo e os tum tum tum que encantavam o seu mergulho, existia algo
diferente, outro mundo próximo ao seu. Jura que
se sentia seguro no seu quente e aconchegante
ecossistema.
Sentia diariamente, que o seu mundo ia ficando menor ou ele estava crescendo, pois ocupava mais espaço. Notou que algo sobrenatural afagava o seu dorso, abdômen, face, corpo e o esboço do cérebro.
Notou algo novo com o passar dos tempos, decifrava ruídos, sons noturnos de cordas vocais, sempre os mesmos e sons diurnos, múltiplos e diferentes. Passou a decifrar e saborear sons de animais não humanos, de metais, tambores, pratos, surdos, sopros e de vozes, todos revelados pelas ondas geradas nas águas do seu pequeno e escuro oceano no qual encontrava-se mergulhado. Estes sons aos poucos foram apurados pelos seus ouvidos e impregnados na sua tênue massa cinzenta.
O mais interessante é que estes sons sozinhos ou em conjunto faziam bem ao seu neófito encéfalo, organizavam os seus pensamentos, traziam paz e tranqüilidade, incluisve imaginava que contribuíram e influenciarão para a sua trajetória de vida.
Num belo e estranho dia estes sons sumiram, o seu ecossistema secou, abriram-se as cortinas dos céus e uma claridade invadiu o seu novo mundo. Os tuns tuns tuns foram silenciados, as rajadas de ventos cessaram e de imediato foi envolto em uma macia e fofa pluma de algodão.
De olhos semi abertos, narinas
a captarem os odores do novo mundo, sentiu o cheiro do amor vindo daqueles que o geraram e o acolheram, cada um tinha o seu odor. Nasceu entre os
cheiros dos dois genitores e que os levarão até os últimos dias de sua vida.
A voz noturna, que o acompanhou por nove meses, estava agora ao seu lado, os baticuns, tum tum tum, de outrora e que nunca o abandonaram, estão agora encostados aos seus.
Circulando no seu claro casulo, diversas vozes e para a sua surpresa, as velhas, constantes e
conhecidas sintonias de Bach,
Beethoven, Mozart, Vivaldi e Paganini, como também as vozes do Caetano, Gonzaga, Gil, Belchior, Ivone
Lara, Kathleen Battle, Pavaroti, Bob Dylan,
Nana Mouskouri e outras a encherem os seus ouvidos, o
encéfalo, a alma e a sua consciência.
Neste dia mudou de casulo, continuou no mesmo mundo, porém noutro ecossistema, no mesmo planeta, sistema, galáxia e universo. Neste dia consolidou a sua vida junto à sua família.
Naquele sublime momento, nascia mais um Zezinho para a verdadeira labuta diária pela vida. Nascia para um mundo desconhecido, no qual as leis são vulneráveis, em eternas metamorfoses e que brotam do imaginário dos homens.
SSA, 18 DE MARÇO DE 2000
Iderval Reginaldo Tenório
Dio come ti amo - YouTube
COM NANA MOUSKOURI
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