Filosoficamente a vida pela vida, para os humanos, seria uma aberração.
A vida pela vida, dando vida à matéria, seria uma pífia propriedade, uma vez que, a vida é uma dádiva pertinente a todos os seres vivos, dos mais simples ao mais complexo ser do universo.
Sendo assim, a vida pela vida, só precisaria da saúde e dos cuidados corporais para a sua existência, com o envelhecimento iria sumindo, murchando, desbotando, esfraquecendo e se esvaindo até a morte, levando com ela o insignificante homem e a perecível massa, seria vazia em lembranças, luto, alma e legados.
Explana-se que o cérebro racional é a única diferença entre o homem e os demais seres vivos.
O encéfalo é uma estrutura complexa, constituída de segmentos nobres, com múltiplas funções, interligado a um cérebro primitivo, constituído de estruturas menos nobres, literalmente responsáveis pela vida.
Na evolução cerebral, todos os seres vivos possuem um cérebro básico, uma estrutura mínima para se viver. Este cérebro econômico e básico é constituído do tronco cerebral, cerebelo e gânglios basais, estruturas responsáveis pelos movimentos, equilíbrio, respiração, digestão, batimentos cardíacos, pressão arterial, reprodução, enfrentamentos e territorialidade, enfim, pela sobrevivência, este é o cérebro reptiliano, o responsável direto pela vida. Dando prosseguimento à evolução natural, os mamíferos inferiores ganharam outros elementos cerebrais dando origem ao cérebro emocional, presente nos mamíferos irracionais .
No decorrer da evolução da humanidade, os animais superiores foram acoplando novos componentes cerebrais até chegarem ao cérebro racional, o humano, perpassando evolutivamente aos hominídeos australopithecus, habilis, erectus, neanderthal até o homem contemporâneo, O HOMO SAPIENS. No H Sapiens o cérebro pesa em média 1,5 quilograma, equivale a 2% do peso corporal e consome energeticamente, em repouso, 20% do oxigênio humano, chegando a 30% em plena atividade e mais de 25% de toda a glicose corporal.
Os seres vivos nasceram para comer, crescer, se reproduzir e morrer, são as propriedades básica da vida pela vida, levando a entender que para o homem, este modus operandi não teria sentido, uma vez que seria igual às outras espécies.
Para a abissal diferenciação, o homem foi acoplando novos componentes até chegar a um cérebro desenvolvido e em eterna evolução. Ganhou diversos segmentos como o tálamo, o hipotálamo, a pituitária, o hipocampo, os lobos frontais, laterais, occipitais e temporais distribuídos em dois hemisférios, o direito e o esquerdo, interligados pelo corpo caloso, estrura esta que faz com que o cérebro humano seja considerado o mais perfeito e complexo órgão de toda a natureza. Possui mais de 96 bilhões de neurônios com os seus dendritos, corpo, núcleo, axônios e terminais formando quintilhões de conexões chamadas de sinapses. Calcula-se que cada neurônio pode conecatar-se com mais de 20 mil outros neurônios.
O cérebro é blindado por três camadas nobres: as meninges pia-mate, aracnóide e a dura-mater, protegido pela calota craniana. A calota e as meninges impedem a penetração de muitas subtâncias estranhas, protegem contra choques e amortecem a pressão neste complexo órgão. Apenas o ser humano possui um cérebro complexo, misterioso, desconhecido, coordenador das funções dos demais órgãos e que mergulham o homem no imaginário da vida social, política, das crenças e das propriedades do universo. É no ser humano a estrutura que pensa, sofre, memoriza, vinga, inventa, chora, ama, odeia, rir, canta, encanta, cria fantasias, sente, conversa, prevê, calcula, prepara e se comunica com seres racionais, irracionais e inanimados.
Estas propriedades, pertinentes ao homem, apontam que além da vida material, existem as imateriais, tão importantes como a corporal. Propriedades que vagaram pelo abstrato e que hoje encontram-se no seio da sociedade científica, cultural, emocional, védica, das crenças religiosa, superstições, da criação, das incógnitas e das artes.
Evidencia-se que, para o humano, a vida pela vida, seria uma aberração da natureza e um descaso para com o homo sapiens.
Seria um desperdício de massa encefálica se a vida pela vida, para o homem, fosse tal qual é, a vida pela vida para as demais espécies.
O que seria da humanidade, se o homem se resumisse ao ato da vida material. Se o cérebro e os neurônios fossem apenas para eletrizarem o corpo e usufruir mecanicamente das coisas do mundo? Provavelmente seria mais um irracional a alimentar as espécies mais robustas, nasceria apenas para trabalhar irracionalmente pelo pão de cada dia, seria apenas mais um dos milhões de animais a compor a cadeia alimentar.
A humanidade, tem claras evidencias cristalinas, que o homem além da vida foi presenteado por algo sublime, contagiante e emocionante, que com estas características só poderia ser as artes. As artes em todas as suas variantes, vertentes e sutilezas, as artes da poesia, prosa, música, canto, dança, pintura, do executar, da criação, do falar, interpretação, do equilibrio, da simplicidade, da filosofia, da sociologia, dos pensamentos, das dúvidas, das lembranças e das incógnitas da vida.
Vai a massa com a vida, vão os elementos da natureza, classificados fisica e quimicamente na tabela periódica; ficam as artes, os legados, os ensinamentos, a cultura e as memórias para a imortalização do homem pós morte para a humanidade.
O que seria se Beethoven, Bach, Mendelssohn, Newton, Einstein, Tesla, Sabin, Frederick Banting, Cervantes, Shakespeare, Gonzaga, Belchior, Caetano, Drumond, Freud, Dylan, Leonard Da Vince, Van Gogh, Picasso, os Professores, os artistas profissionais, os amadores e os populares de todo o mundo, se os seus cerebros não fossem fecundados pelas artes? Tem-se plena convicção que, para a humanidade, as suas e as nossas vidas não teriam sentido se a vida pela vida fosse apenas para nascer, viver, se reproduzir e depois morrer. O que seria a espécie humana, se não mais uma a compor a cadeia alimentar?
Será que a vida teria fundamentação se não fossem as crenças, os medos, os deuses dos antepassados, os da mitologia, os pensamentos, os legados filosóficos, as ciências, as artes e a crença num deus superior? Deus, o Criador de tudo que exite de concreto e abstrato no Universo e, no hipotético Multiverso.
O homem não veio ao universo apenas para consumir literalmente a vida e a matéria em todas as suas vertentes. O homem tem consciência da sua própria vida e está à procura de desvendar o mundo concreto e o mundo abstrato. O Homo Sapiens pensa no pretérito, presente e no futuro.
O homem é corpo, alma, mistérios, dúvidas, trabalho, memórias, tristezas, alegrias, lembranças, raiva, solidão, cultura e artes.
Viva a vida, porém com muita arte, o homem é arte.
Iderval Reginaldo Tenório
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