segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Histórias do Nordeste- A educação e as artes.

                                                 Bela combinação fogão a lenha e panela de barro | Fogão a lenha, Forno  fogão a lenha, Fogão 

                                      Quase 30% das famílias mato-grossenses usam lenha ou carvão para cozinhar,  aponta IBGE | Mato Grosso | G1

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Como os pinguins na geladeira conquistaram os brasileiros?

Histórias do Nordeste

Conta  um artista paraibano , que ao voltar do Rio de Janeiro com um diploma  de nível superior,  em música, outorgado por mérito pela  Universidade  Federal  do Rio de Janeiro, quis  melhorar o conforto e o nível habitacional dos seus pais .

Relata que explanou os seus pensamentos  e expôs as grandes novidades , todos ficaram abismados com o que ouviram.   Moravam no campo e ele pretendia comprar uma casa na cidade , implantar o modernismo para a sua família e colocar todos os sobrinhos na escola, o  sítio continuaria sendo o porto seguro e lugar de descanso nos fins de semana.

A sua avó, uma senhora de setenta anos, foi muito dura e resistente a aceitar as mudanças, fez várias indagações ,  exigia convincentes respostas.

1- “Com esta tal de geladeira, que conserva os alimentos por dias , o que ela iria fazer durante o dia , se o seu trabalho era catar o feijão, lavar, temperar , botar na panela de barro  e depois colocar no fogão a lenha para cozinhar”

2- “Com este tal de fogão a  gás, que inclusive é muito perigoso, o que iria ela fazer, se o que faz  é pegar lenha na capoeira, cortar com um machado, fazer o feixe , levar para casa, colocar no fogão a lenha ,  ascender o fogo com querosene   , assoprar com a boca e ajudar com um  abano de palha, depois  pôr  a panela na trempe, olhar de vez em quando e completar com água para não secar  ou queimar”

3- “Como pode trocar as panelas de barro por panelas deste tal de alumínio, panelas de metal, será que não faz mal à saúde? será que não contamina a comida? Será que o barro não é mais sadio?”

4- “Como pode fazer uma sentina ( privada, casinha, sanitário) dentro de casa?,  o fedor deverá ser de amargar, pois no quintal já se sente na sala , imagine dentro da própria casa, vai ser de torá, vai deixar de ser privada e se transformará num verdadeiro chiqueiro e aqui ninguém é porco”.

A sua mãe  também fez as suas reclamações e cheias de propriedades.

1- “Onde vou criar galinhas,  porcos ,  perus,  gatos e os cachorros ?”

2- “Com esta tal de geladeira como vou conversar com os meus amigos nas feiras, nas bodegas , nas vendas e nas mercearias?.  Vou todos os dias fazer as compras e saber de tudo que está acontecendo com o mundo, pois muitos têm até este tal de rádio, que fala até pelos cotovelos. Deste jeito não  preciso caminhar mais, nem falar com os amigos, vou viver presa, isolada do mundo e sem conhecimentos, vou mofar, posso até adoecer com este isolamento”

3- “O tal do fogão a gás, o que  mãe falou está tudo certo,  vai ficar encostado, feijão só pega gosto se for cozido no fogão a lenha.  Disse o rádio que o gás  é muito perigoso,  se não tiver cuidado corre o risco de incêndio e  o botijão pode explodir,  se trouxer  vai ser instalado no quintal,  dentro de casa não quero esta bomba, ainda quero vê os meus netos se formarem , não confio nestas modernidades. Outra coisa estranha  é o tal de sanitário. Como pode uma pessoa almoçar sabendo que tem outra defecando bem pertinho de você, quem vai aguentar o fedor? a ideia não foi boa , este modernismo está muito  moderno para o gosto daqui do interior.” 

Segundo o grande músico, foi duro convencer os familiares. Mesmo depois de tudo pronto, arrumado, instalado  e explicado foi difícil aceitarem. Imagine que naquela época não existiam na região máquina  de lavar, microondas, televisão, ar-condicionado e nem o computador, caso existissem seria mais difícil, seria mergulhar noutro mundo. 

A geladeira ficou apenas para gelar a  água, todos os dias a sua avó reclamava, “ só serve para encarecer a energia e dá  choque, água gelada doe nos dentes”.

O fogão só para fazer  café,  chá  ou uma emergência.  Para o feijão e comidas pesadas o gasto de gás era muito grande, e é caro, tanto que o botijão só foi substituído por outro cheio seis anos depois. O velho fogão a lenha passou a queimar  carvão vegetal  depois de muita luta, já foi uma modernidade encampada. 

 O sanitário da sala só para micção, escovar os dentes , lavar o rosto e tomar banho, as evacuações continuaram no banheiro tradicional , no quintal , mantido por exigência  de todos, só assim continuou  sendo  um ato privado, pessoal e sem compartilhamentos.

Os avós morreram, os pais já estão velhos .  Hoje usufruem de uma bela casa construída pelo filho artista  e com diversos equipamentos domésticos . Vivem sem amarras, incorporaram o mundo moderno e são rodeados por muitos descendentes de nível superior, fruto da saga deste dileto amigo paraibano. Um  lutador contumaz dos sertões do Seridó.

O progresso às vezes deixa a cabeça das pessoas a pensar e que nos ensina muito. Mesmo com poucos conhecimentos, pouca educação do imaginário humano  ou mesmo sem nenhum estudo já era um alerta para o sedentarismo , o isolamento social , o consumismo  e as  suas  consequências.   

Respeitar  o tradicionalismo com moderações, os costumes dos mais velhos sem corrompê-los, implantar a modernidade vagarosamente  sem substituir a ferro e fogo o passado é tarefa da civilização moderna . 

A humanidade vive em eterna metamorfose.  O hoje, com esta vida cibernética  e eletrônica, já pode ser considerado arcaico para o ontem.

O micro está sendo substituído pelo nano, os fios pelos raios,  o trabalho presencial pela tarefas  online e  os homens pelos ciborgues. 

O homem pela teoria da evolução natural Darwiniana se aprimora,  cria várias subespécies, diferentes castas,   que se distanciam cerebralmente uma das outras . 

Pela teoria da evolução artificial da computação, da física e da matemática, o homem  é um    humanoide, um CIBORGUE. 

  Não tem mais volta, nasce  uma nova civilização.

Iderval Reginaldo Tenório.

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