quinta-feira, 12 de agosto de 2021

“As Laranjas da Sabina” -ESTUDANTES DE MEDICINA .TEATRO DE REVISTA_2

 ARQUIVO MARCELO BONAVIDES - Estrelas que nunca se Apagam - : AS LARANJAS DA  SABINA - 1889

ARQUIVO MARCELO BONAVIDES - Estrelas que nunca se Apagam - : AS LARANJAS DA  SABINA - 1889

As laranjas da Sabina – Rio Memórias

ARQUIVO MARCELO BONAVIDES - Estrelas que nunca se Apagam - : AS LARANJAS DA  SABINA - 1889

Quitandeiras em rua do Rio de Janeiro, fotografia colorizada de Marc Ferrez  1875.: brasil

TEATRO DE REVISTA_2: “As Laranjas da Sabina”

Manifestação de estudantes republicanos contra proibição de venda de laranjas, ainda no Brasil Império, virou grande sucesso das Revistas de Ano.

Meses antes do fim da Monarquia, Sabina (uma vendedora de laranjas negra vinda da Bahia) armava seu tabuleiro em frente à Imperial Escola de Medicina, na Rua da Misericórdia, Rio de Janeiro. Estudantes republicanos atiraram suas laranjas contra a carruagem de um Ministro do Império que passou em frente à escola, num protesto contra o regime. O subdelegado Jacome Lazary confiscou o tabuleiro da baiana e Sabina foi proibida de vender suas laranjas no local, considerado subversivo. Na manhã do dia 25 de julho de 1889, os jovens fizeram uma bem-humorada passeata pelas ruas do centro da cidade, que terminou com vivas à República e aplausos de uma multidão entusiasmada.

 

 Com Sabina à frente, o cortejo saiu da Faculdade de Medicina, ganhando mais adeptos por onde passava. Bem-humorados, os estudantes carregavam laranjas espetadas em suas bengalas, uma coroa feita de legumes, bananas e chuchus e uma faixa criticando a autoridade policial, chamada de “O eliminador das laranjas”. Passaram também pelas redações dos principais jornais da cidade denunciando a arbitrariedade, o que renderia grande repercussão para o caso. Terminaram por deixar a coroa e as laranjas na entrada da delegacia, como presente para o subdelegado, que não se encontrava no local. Os jornais deram grande cobertura ao acontecido e a repercussão fez com que a polícia recuasse da proibição e Sabina voltou a vender suas frutas. A história da ex-escrava converteu-se em bandeira republicana.

 

Os jornais publicados logo após a passeata foram unânimes em destacar o caráter cômico e pacífico da manifestação. A maioria recorreu à palavra “préstito” para defini-la – um jargão típico do vocabulário carnavalesco do período. Segundo a Gazeta da Tarde, tudo ocorreu “na melhor ordem possível, e sem ocorrência alguma desagradável”; o Jornal do Commercio concordava, observando que “não houve da parte dos que a promoveram e levaram a efeito intuito de desprestígio a ninguém, nem de desobedecer a nenhuma autoridade”. Já a Gazeta de Notícias afirmou que a passeata fora “genuinamente acadêmica, alegre, barulhenta e inofensiva”. Apenas 3 dias depois do protesto, o jornal foi profético: “Um viva aos rapazes, que acabam de escrever a melhor cena das próximas revistas de ano”.

 

As REVISTAS DE ANO eram peças teatrais cômicas e musicadas que mostravam cenas independentes inspiradas nos eventos mais marcantes do ano anterior, passando-o “em revista”. Em 1890, os irmãos escritores Artur e Aluízio Azevedo encenaram “A República”, uma revista musical sobre o novo sistema de governo adotado pelo país no mesmo ano do “caso Sabina”. Noite após noite, os cariocas corriam até o Teatro Variedades Dramáticas para ver a atriz e soprano grega Ana Manarezzi cantando o lundu As Laranjas da Sabina”. A atriz branca se caracterizava como a ex-escrava, algo próximo do hoje polêmico recurso Black Face. Há rumores de que “A República” marcou a aparição da primeira “mulata”, personagem típico da história do teatro brasileiro.

 

Nas décadas seguintes, as figuras da “baiana” e da “mulata” se tornaram populares no teatro musicado e nos programas de rádio. No início do século XX, as agremiações carnavalescas mantinham grupos formados por homens que saíam às ruas fantasiados de baianas e mulatas nos dias de folia. Numa homenagem à velha quitandeira da porta da Escola de Medicina, eles eram chamados de “Sabinas da Kananga” no grupo Kananga do Japão e simplesmente de “Sabinas” pela sociedade dos Fenianos.

Estimulada pelo enorme sucesso da aparição da “mulata Sabina”, em 1892, uma companhia portuguesa em excursão pelo Brasil incluiu um número em seu espetáculo, onde a estrela espanhola Pepa Ruiz levava a platéia ao delírio ao se caracterizar como baiana vendedora de rua e cantar um lundu. O nome de Sabina não era mencionado na peça, mas a inspiração do quadro era óbvia. Em 1915, o governo Wenceslau Brás enfrentava uma grave crise financeira. O Ministro da Fazenda, Sabino Barroso (tio de Ary Barroso), tornou-se o centro das atenções. Seu nome serviu de mote para o autor teatral J. Brito escrever a peça “A Sabina”, fazendo referências ao ministro e também à “mulata” popular. Nela, as letras do Tesouro eram denominadas “sabinas” e a personagem era vivida pela estrela Maria Lino – uma italiana – a terceira estrangeira a representar a lendária vendedora ambulante.

Em 1923, mais de 30 anos após a passeata e a peça dos irmãos Azevedo, um artigo de “A Notícia” lembrou o ato de desagravo que os estudantes de Medicina prestaram à “preta velha”, “trazendo-a de passeata e mais ao seu tabuleiro, entre vivas e brados, pelas ruas da cidade. Foi quando surgiu aquela canção, cujo estribilho muita gente trauteia [cantarola], sem conhecer-lhe a origem”. O autor escolheu o histórico “caso Sabina” para argumentar sobre as mudanças no novo mundo do trabalho, comparando-o aos tempos da escravidão. Sua argumentação dizia ainda que algo considerado “coisa de pretos” no passado, agora era aceito com naturalidade. Muito tempo depois, um relato escrito pelo jornalista Ferreira da Rosa voltou a descrever o episódio, desta vez apresentando-o como um comício republicano. A injustiça sofrida por Sabina teria sido usada como pretexto pelos estudantes para armar um evento de cunho republicano sem que seu conteúdo político ficasse muito explícito. Aproveitando-se de seu alto status social, esses jovens brancos filhos da elite brasileira se apresentaram como defensores dos mais pobres e humildes sem serem importunados pela polícia ou pelos monarquistas mais exaltados. Aparentemente, tratava-se apenas de defender uma vítima inocente da arbitrariedade policial.

AS LARANJAS DA SABINA foi um dos maiores sucessos musicais do final do século XIX e uma das primeiras gravações musicais feitas no Brasil. Em 1902, quando a indústria fonográfica chegou ao país, foi gravada ainda no sistema de cilindros pelo cantor Cadete e já em disco por Bahiano, ainda nesse mesmo ano. Em 1905, a atriz Pepa Delgado gravou o lundu. Em 1906, a cantora Nina Texeira, em gravação com Geraldo Magalhães, canta um verso do estribilho na música Rapsódia. Nos anos 40, Dircinha Baptista, acompanhada pela orquestra de Pixinguinha, faria uma gravação não comercial para o rádio com o nome de Fadinho da Sabina. Em 1999, a cantora Maricenne Costa faz uma gravação comercial da música, 94 anos depois de Pepa Delgado.

A letra cantada em 1890 fazia alusão a um costume de D. Pedro II, que quando ia aos teatros, sempre tomava uma canja de galinha no intervalo do 1º para o 2º ato.  Já a letra gravada por Pepa Delgado substitui a palavra monarca por mulata. No final da 2ª estrofe, também há uma mudança: os versos originais “deste modo provaram como o ridículo mata”, foram substituídos por “deste modo provaram como gostam da mulata.
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Sou a Sabina, sou encontrada
todos os dias lá na calçada
lá na calçada da Academia
da Academia de Medicina
Um senhor subdelegado
moço muito resingueiro
Ai, mandou, por dois soldados
retirar meu tabuleiro, ai…
Sem banana macaco se arranja
Mas não passa o Monarca [a mulata] sem canja
Mas estudante de medicina
nunca pode
passar sem a laranja
a laranja
a laranja da Sabina.
Os rapazes arranjaram
uma grande passeata
Deste modo provaram
como o ridículo mata [como gostam da mulata]
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Pepa Delgado e piano - AS LARANJAS DA SABINA - Artur Azevedo.Gravação de 1906.Mais uma ...
19 de mar. de 2013 · Vídeo enviado por luciano hortencio
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14 de dez. de 2020 · Vídeo enviado por Som em Bom Tom
 

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