Dr. James Ramalho Marinho,Tem
sido cada vez mais frequente a solicitação de exame de endoscopia para investigação de causas de anorexia,
anemia e emagrecimento em pacientes
idosos, muitas vezes dependentes de cuidados paliativos e sem queixas digestivas. Quais as suas indicações para colonoscopia , as recomendações e os cuidados?
Com o aumento da expectativa de vida, a população idosa tem crescido significativamente em todo o mundo. Esse grupo populacional, geriátrico, frequentemente é acometido por uma concomitância de várias afecções, de forma que se deve dar atenção especial para o risco de comorbidades mais graves, como as disfunções cardíaca e pulmonar.
Embora vários estudos tenham analisado o uso geral e a segurança dos procedimentos endoscópicos, incluindo endoscopia digestiva alta, colonoscopia, CPRE e ultrassom endoscópico, há uma escassez de literatura focando exclusivamente os idosos.
A idade avançada não deve ser considerada uma contraindicação absoluta para qualquer procedimento de endoscopia gastrointestinal. Entretanto, a decisão de realizar uma investigação endoscópica em idosos e, especialmente, em paciente frágil, deve sempre refletir a idade biológica, a presença de comorbidades e os ganhos potenciais de uma intervenção. Ainda assim, tem sido observada uma falta de critério para a indicação, ou mesmo abuso na solicitação desses procedimentos endoscópicos.
Diversos estudos demonstraram o elevado rendimento, a segurança e a eficácia da endoscopia digestiva alta na população idosa. Em muitos casos, os riscos da preparação e da sedação podem ser maiores do que os do próprio procedimento. Os pacientes idosos toleram a endoscopia diagnóstica não sedados melhor do que pacientes mais jovens.
Todos os sedativos, incluindo midazolam, meperidina e propofol, em baixas doses, foram demonstrados como seguros em idosos e, com titulação cuidadosa, devem ser usados quando indicado. Recentes publicações apresentam em suas conclusões que colonoscopia de triagem para câncer colorretal tem pouca eficácia em pacientes com mais de 80 anos. Entretanto, é melhor tomar decisões para cada paciente individualmente.
Colonoscopias indicadas para investigação de hemorragia ou de anemia por deficiência de ferro têm um rendimento mais elevado em doentes idosos.
Duas revisões sistemáticas recentes, da US Preventive Services Task Force e do American College of Physicians, recomendam parar o rastreamento do câncer colorretal, através da colonoscopia, aos 75 anos, dado ao benefício limitado. Os pacientes mais velhos têm um risco maior de eventos adversos durante uma colonoscopia, preparações intestinais menos adequadas e taxas de exames completos inferiores. O uso de preparações utilizando o picossulfato de sódio pode levar a mais hiponatremia que o polietilenoglicol, além do risco de hiperfosfatemia.
Os pacientes idosos submetidos à CPRE apresentam riscos semelhantes de sangramento e perfuração e um menor risco de pancreatite em comparação com pacientes mais jovens.Existem poucos estudos sobre riscos e complicações da ultrassonografia endoscópica em idosos. Contudo, os dados publicados revelam baixas taxas de eventos adversos, o mesmo acontecendo quando da utilização da cápsula endoscópica e da enteroscopia por duplo balão. Apesar de toda a evolução do instrumental endoscópico, suporte à vida nas salas de endoscopia e qualificação das equipes profissionais envolvidas nesses procedimentos, cabe ao médico assistente exercer o seu principal critério quando da tomada de qualquer conduta: o bom senso.
Baseado nas atuais evidências, a resposta mais adequada ao questionamento que me foi feito encontra-se numa afirmação extraída do guideline da American Society for Gastrointestinal Endoscopy, 2013, referente às modificações na prática endoscópica para os idosos: “para os pacientes em qualquer faixa etária, a endoscopia deve ser realizada apenas quando os resultados puderem interferir na conduta ou na evolução.
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