Desde o início do século XX, todo e qualquer ser humano já utilizou
algum produto que tinha um zíper. Para quem pratica esportes de
montanha, o fecho de correr chamado de zíper, ou fecho-éclair em Portugal, é quase onipresente.
Basta reparar que diversos equipamentos outdoor possuem zíper, como
barracas, mochilas e roupas para atividades de montanha, surf e camping.
Apresentado ao público pela primeira vez no ano de 1893, na Exposição Mundial de Chicago, desde então foi incorporado na indústria de maneira quase que absoluta.
A Feira Mundial de Chicago
foi organizada para celebrar os 400 anos da chegada de Cristóvão
Colombo ao continente americano e impactou o imaginário norte-americano
no final do século XIX. Mais de 27 milhões de pessoas frequentaram a
exposição, que aconteceu por seis meses na cidade.
A feira foi uma excelente oportunidade para inventores da época
exibirem suas mais recentes invenções. Para se ter uma ideia, na feira
estava um dos maiores inventores da história: Nikola Tesla.
Tesla contribuiu para o desenvolvimento das tecnologias mais
importantes dos últimos séculos, como da transmissão do rádio, da
robótica, do controle remoto, do radar, da física teórica e nuclear e da
ciência computacional.
A Feira Mundial de Chicago
promoveu o início do debate e da consciência sobre diversas dimensões
da problemática urbana e de suas possíveis soluções. Na mesma feira
foram apresentadas algumas novidades para a época como a máquina de
lavar louça, a roda-gigante, as lâmpadas fosforescentes, a iluminação
pública com energia de corrente alternada, o telautógrafo (máquina de fax primitiva), as esteiras rolantes, a tinta em spray, as roupas cortadas por eletricidade e o zíper.
O início
Elias Howe – Inventor da máquina de costura com ponto fixo
O conceito básico do zíper passou pelas mãos de vários inventores na
revolução industrial, embora nenhum tenha convencido o público em geral a
aceitar produto como parte da vida cotidiana. A história começa a mudar
quando Elias Howe,
inventor da máquina de costura com ponto fixo, registrou uma patente em
1851 de um “fechamento automático e contínuo de roupas”.
Como Elias Howe já tinha tido sucesso com a máquina de costura
(patenteada em 1846) que fez, o inventor não procurou comercializar o
sistema de fechamento de roupas. O produto sequer foi fabricado. Por
este descaso, Howe perdeu a chance de se tornar o “pai do zíper”.
Ironicamente, também não pode sequer desfrutar muito do grande sucesso
de seu invento, já que Howe morreu aos 48 anos, em outubro de 1867, de
gota e um coágulo sanguíneo.
Somente 40 anos depois, um outro inventor, Whitcomb Judson,
comercializou um dispositivo chamado “clasp locker”, semelhante ao
sistema descrito na patente Elias Howe de 1851. Porém, foi o primeiro a
ser fabricado e disponibilizado no mercado. Por este detalhe, de ter
lançado o produto no mercado, é que Whitcomb ganhou o crédito de ser o
“inventor do zíper”. No entanto, como citado acima, sua patente de 1893
não usava a palavra “zíper”, mas “clasp locker”.
Whitcomb Judson e seu “clasp locker”
O produto do inventor, que era natural de Chicago, o “clasp locker”,
era um complicado e relativamente frágil sistema de ganchos e olhos
fixadores. Juntamente com o empresário Colonel Lewis Walker, Whitcomb fundou a Universal Fastener Company para fabricar o novo dispositivo.
O dispositivo estreou na Feira Mundial de Chicago em 1893 e
foi recebido com pouco sucesso comercial. O motivo da empolgação contida
do público era que o sistema se mostrava delicado demais e sujeito a
estragar muito facilmente. Infelizmente para Whitcomb e para os
consumidores, foi um pouco difícil vender o produto. Enquanto a ideia
estava lá, o marketing e a praticidade não estavam, e o “clasp locker”
não conseguiu engrenar no mercado. Foi quando a empresa de Whitcomb se
mudou para Hoboken, Nova Jersey, EUA, é que a história mudou.
Gideon Sundback e o zíper moderno
O governo norte-americano incentivava o processo migratório com ações
como a Lei do Povoamento em 1862. Com isso, muitos europeus, com
educação formal e à procura de ganhar dinheiro nas indústrias dos EUA
migraram para o país. Dessa maneira existia cada vez mais no país, mão
de obra qualificada e o estabelecimento da fábrica em Hoboken, permitiu à
Universal Fastener Company contatar mais pessoas com conhecimentos técnicos e industriais para diversas funções na empresa.
Foi então que um engenheiro elétrico sueco chamado Gideon Sundback, ajudou a tornar o zíper o sucesso que é hoje. Originalmente contratado para trabalhar para a Universal Fastener Company no chão de fábrica, suas habilidades na área de design, além do casamento com a filha do gerente da fábrica, Elvira Aronson, levaram-no a uma posição como designer chefe na empresa.
Quando a esposa morreu em 1911, Gideon Sundback em luto se ocupou das tarefas de planejamento de design, em uma espécie de fuga da realidade de sua parte. Foi então que em dezembro de 1913, Sundback criou o que se tornaria o zíper moderno.
Um acessório semelhante ao de Sundback foi desenvolvido e patenteado,
no mesmo ano, por Catharina Kuhnmoos e Henri Forster, na Europa.
Entretanto, o produto desenvolvido por eles nunca chegou a ser
fabricado.
O sistema novo e aprimorado de Gideon Sundback aumentava o número de
elementos de fixação de quatro por polegada para 10 ou 11, tinha duas
fileiras de dentes que puxavam uma única peça pelo controle deslizante e
aumentavam a abertura para os dentes guiados pelo controle deslizante.
Sua patente para o “prendedor separável” foi emitida em 1917.
Gideon Sundback também criou a máquina de fabricação do novo zíper, e
isso foi o que fez toda a diferença para a fabricação em massa do
produto. A “SL”, ou máquina raspadora, pegou um fio especial em forma de
“Y” e cortou as conchas, em seguida, perfurava a covinha e a ponta da
concha e prendia cada concha em uma fita de pano, para produzir uma
corrente contínua de zíper. No primeiro ano de operação, a máquina de
fabricar zíperes da Sundback produzia algumas centenas de metros por
dia.
A marinha norte-americana foi a primeira a adotar o zíper, o qual
começou a fazer parte dos uniformes dos pilotos. Já na década de 1920 e
1930, começou a fazer parte das roupas masculinas e femininas. Na IIª
Guerra Mundial, o zíper foi usado em sacos de dormir, uniformes, malas e
sacolas para transporte de mortos. Na década de 1950, a calça da marca Lee, procurando concorrer com a Levis’s, fez, a união do zíper com o jeans, quando lançou a calça de jeans feminina.
O nome popular “zíper” veio da BF Goodrich Company, que decidiu usar o aparato de Gideon em um novo tipo de botas de borracha, conhecidas como “Zipper Boots”.
Foi este produto que popularizou o fecho deslizante e pelo nome
prático, acabou popularizando-o. Botas e bolsas de tabaco com fecho de
zíper, foram os dois principais usos do zíper, durante seus primeiros
anos de fabricação. Foram necessários mais de 20 anos para convencer a
indústria da moda a utilizar seriamente o novo fechamento de peças de
vestuário.
Antes da criação dos modelos de zíperes, as roupas contavam com
fileiras de botões, que dificultavam o ato de abotoar e desabotoar. Um
momento marcante aconteceu na história do zíper em 1937, quando o
acessório foi peça chave no apertou o botão na “Batalha das braguilhas”.
Este foi o momento que estilistas franceses adoraram o uso de zíperes
nas calças masculinas e a revista Esquire declarou o zíper a “mais nova ideia de alfaiataria para homens”.
A Levi’s lançou seu primeiro modelo com um zíper em 1947. A partir
disso, o próximo grande passo para o uso de zíper, aconteceu quando
chegaram às jaquetas.
A gigante YKK
Como descrito acima, o zíper começou a ser produzido em massa a partir da década de 1920. Foi quando a Universal Fastener Company mudou o nome para Talon Zipper. Até a década de 1960, sete em cada dez zíperes eram da Talon Zipper.
Mas 10 anos depois, na década de 1970, a Talon Zipper havia
perdido metade de sua participação no mercado e hoje em dia mal pontua
no mercado, tendo participação de apenas alguns pontos percentuais. Mas o
que aconteceu para perder tanto mercado no mundo?
Olhando pelo prisma de negócios, a Talon Zipper é o
caso clássico de quando uma patente expira e o monopólio acaba, depois
de muitos anos desfrutando dos louros. Outro exemplo, mas não ligado à
indústria de moda, é a Xerox. Produtos como o zíper são incluídos nas Patentes de Invenções
e sua validade é de 20 anos, a partir da data do depósito. Cabe ao
inventor ir aprimorando seu produto. Neste detalhe é que está o motivo
da queda da Talon Zipper.
Qual foi o grande pecado da Talon Zipper? Não fez o
suficiente para melhorar a produtividade, seus preços eram muito altos,
não inovou, negligenciou novas aplicações como bolsas, malas ou
equipamentos outdoor. Sua miopia de mercado e das possibilidades de uso
do zíper, fez com que seu alcance ficasse limitado e a qualidade do
produto inferior, se comparado ao de um concorrente que chegou ao
mercado com inovações, preço e produtividade: YKK.
Fundada no Japão em 1934, uma empresa chamada YKK (as iniciais significamYoshida Kōgyō Kabushiki gaish) foi fundada por Tadao Yoshida no distrito de Higashi Nihonbashi,
Tóquio. Desde antes da Segunda Guerra Mundial a empresa se especializou
na comercialização de produtos de fixação. Fazia botões de pressão,
ganchos, fivelas e zíperes. Como dito acima, a patente do zíper foi
criada em 1920 e justo em 1940 venceu, permitindo aparecer outros
fabricantes do produto.
Inicialmente, os zíperes da YKK eram feitos à mão e tinham uma qualidade inferior se comparados aos automatizados da Talon Zipper.
Uma grande mudança tecnológica ocorreu em 1950, quando a empresa
comprou uma máquina de costura dos EUA, que permitiu a automação do
processo de fabricação de zíperes. Desde então a YKK passou a inovar em
seus produtos e implementar um processo de expansão agressivo.
Neste processo de expansão, a YKK abriu uma nova fábrica em Kurobe (Japão) em 1955. Naquele mesmo ano a YKK lançou seu novo produto Conceal,
um zíper que não mostrava os dentes. Já em 1959 a empresa inaugurou a
primeira fábrica fora do Japão, na Nova Zelândia, e em 1960 um
escritório de distribuição nos EUA, em Nova York. A primeira unidade de
produção da YKK nos EUA ocorreu 12 anos depois.
Para se ter uma ideia da qualidade dos produtos japoneses em relação aos da Talon Zipper,
basta dizer que os uniformes usados pelos dois primeiros astronautas a
andar na lua, foram equipados com zíperes YKK. Sim, a NASA preferiu
utilizar zíperes japoneses em seus trajes, do que os de uma tradicional
fábrica norte-americana.
A partir da década de 1960 a YKK começou a implementar vários
produtos inovadores, dentre os quais o zíper extra forte e durável para
calças jeans. Como as calças jeans se popularizaram imensamente nesta
década, a utilização dos zíperes YKK como “padrão de mercado” fez com
que a empresa começasse dominar a indústria. Desde então a marca começou
a abrir fábricas em diversos países do mundo. Atualmente YKK possui
instalações de fabricação em 71 países.
Dentre as inovações da YKK, está em vislumbrar o mercado de produtos
outdoor. Qualquer comprador mais atento irá perceber que os zíperes da
marca são onipresentes em todos equipamentos outdoor: barracas,
jaquetas, fleeces e mochilas. Em termos de processo de fabricação, a YKK
opera de maneira semelhante à Michelin, fabricante de pneus francesa, guardando de perto o segredo de seus processos e fazendo melhorias constantes.
Mas agora existem cerca de uma dúzia de grandes empresas fabricantes
de zíperes, todas com nomes de três letras. Alguns, como YCC ou YQQ, não
fazem segredo que tentam imitar de perto seu grande rival japonês.
Argentina de nascimento e brasileira de coração, é apaixonada pela Patagônia e Serra da Mantiqueira.
Entusiasta de escalada, trekking e camping.
Tem como formação e profissão designer de produto e desenvolve produtos para esportes de natureza.