quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Gosto do Dr. Roberto Kalil Filho, sempre gostei. André Romeo



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Gosto do Dr. Roberto Kalil Filho, sempre gostei.

Cabelos uniformemente negros, como a asa da graúna, a disfarçar-lhe calva incipiente, emolduram bochechas de querubim, dando-lhe alegre semblante de anjinho barroco.

Profissional admirável, parece ter percepção extrassensorial para saber quando um paciente requer os seus cuidados, diurnos, noturnos, pouco importa, ele está sempre à disposição dos
necessitados; “médico das antiga”, estetoscópio no pescoço, vestes alvas de romana vestal, é sempre o primeiro a chegar ao hospital e o último a sair.

Se o problema é cardíaco, o Dr. Roberto, cardiologista, comandará a equipe (quase sempre há uma “equipe”); se o paciente necessita de um transplante cardíaco o Dr. Roberto, cardiologista, comandará a equipe.

Se o problema é digestivo, nefrourinário, cirúrgico, ginecológico, neurológico, otorrinolaringológico, hematológico, oncológico, ou seja lá o que for, não há preocupação pois o Dr. Roberto, cardiologista, comandará a equipe.

Os membros da “equipe”, quem se importa com eles(?), terão seus nomes citados, em minúsculas, perdidos em longa reportagem na qual o Dr. Roberto, cardiologista, discorrerá brilhantemente sobre o tratamento digestivo, nefrourinário, cirúrgico, ginecológico, neurológico, otorrinolaringológico, hematológico, oncológico a que foi submetido o “seu” paciente. Reportagem com foto, do Dr. Roberto, é claro!

Como se diz na velha Bahia, “de parto a atracação de navio”, chama o Dr. Roberto, ele resolverá!
“Quis médico, quis profissional”, diria um nosso colega em comum, misto de anestesiologista e filósofo.

Protegido pela deusa Fortuna que lhe porta merecida sorte, trilha sua brilhante carreira entre rosas, longe de espinhos e percalços que permeiam o caminho dos mortais comuns, afinal o mundo costuma sorrir e abrir portas aos herdeiros talentosos.

Como médico, em irrestrita obediência ao juramento de Hipócrates, não faz distinção entre seus pacientes; independente de tudo e qualquer coisa trata a todos com delicadeza e fidalguia, envidando esforço máximo para curar-lhes ou minimizar-lhes a dor.

Como cidadão do mundo moderno também não faz distinção entre seus amigos, ditadores ou democratas, eleitos ou impostos, esquerda, direita, centro; gente sem máculas conhecidas, gente processada, gente condenada priva da cortês atenção do Dr. Roberto; verdadeira cornucópia, caleidoscópio, coleção de pensamentos, palavras e gestos encontra abrigo em sua devotada amizade.

Complementando os seus brilhantismos técnico e científico o Dr. Roberto também escreve, além de trabalhos de pesquisa, comenta fatos do dia a dia da nação. Recentemente sacou do coldre a caneta, ou remunerou a um ghost-writer qualquer, e discorreu com elegância, sem citar nomes, sobre recente episódio envolvendo a divulgação não autorizada de resultados de exames de uma paciente em estado grave, comentários sobre o caso e as repercussões daí advindas.

E pede punição, punição exemplar, aos responsáveis pela divulgação e referidos comentários.

Num país onde centenas mofam em masmorras infectas enquanto aguardam julgamento que pode enviar-lhes ao cadafalso, ou, caso comprovada sua inocência, libertar-lhes sem nem mesmo um pedido de desculpas, o Dr. Roberto Kalil Filho despe-se de suas alvas vestes e enverga, sem pejo, a negra toga acusatória, dedo em riste, sem demonstrar preocupação em tudo ouvir, tudo ler, tudo apurar, princípios básicos de justiça, mesmo nesta pátria amada tão carente dela.

Se o citado episódio choca, e choca sim, revolta, e revolta sim, nauseia, e nauseia sim em sua forma e conteúdo, Torquemadas dos trópicos encaminhemos então, sumariamente, os responsáveis ao paredón?

Parece ser o que o Dr. Roberto pede, e como é o Dr. Roberto Kalil Filho quem pede, ele deve ter razão
Gosto do Dr. Roberto Kalil Filho, sempre gostei.

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