quinta-feira, 20 de outubro de 2022

O sonho de liberdade no Irã- Ditadura Iraniana em cheque .

 


O sonho de liberdade no Irã

20/10/2022 07h55
Ainda é cedo para afirmar se protestos provocarão mudanças no regime, mas movimento nas ruas evoca memórias de um passado democrático no país
O sonho de liberdade no Irã

Setenta anos depois de o Reino Unido e os EUA terem derrubado um governo democraticamente eleito no Irã, dando início a quase três décadas de ditadura monárquica seguida por mais de quatro de uma teocrática, os iranianos podem sonhar com a democracia caso o movimento de protestos contra o regime de apartheid antimulher mantenha o fôlego mesmo diante da sanguinária repressão. Pode parecer um sonho impossível, mas claramente o atual sistema ditatorial iraniano está cada vez mais insustentável e falido como o do xá Reza Pahlevi, no final dos anos 1970.

Meses antes de fugir em um avião, o xá demonstrava estar sólido no poder, assim como o dos aiatolás meses atrás. Um dos maiores aliados dos EUA no planeta, parecia imbatível e até mesmo popular internamente. Jimmy Carter viajou a Teerã para passar o réveillon de 1977 para 1978 ao lado de Pahlevi. No brinde, o então presidente norte-americano afirmou que o Irã “era uma ilha de estabilidade em uma das regiões mais complicadas do mundo”. Afirmou que o xá era uma “grande liderança”, acrescentando que esse “era um brinde a ele (o xá), sua majestade, e ao respeito, admiração e amor que seu povo tem por você”. Além disso, sua polícia secreta, a Savak, amedrontava a população iraniana.

Já o aiatolá Ruhollah Khomeini vivia na pequena vila francesa de Neauphle-le-Château. De lá, sem nenhuma arma, a não ser seu carisma, conseguiu organizar um movimento capaz de derrotar uma das mais poderosas ditaduras do planeta. Décadas antes da emergência da internet e das redes sociais, gravava fitas cassete que eram reproduzidas, contrabandeadas e distribuídas no Irã para seus seguidores.

Estes, somados a outros grupos da população iraniana, incluindo muitos marxistas e liberais, passaram a protestar contra o regime do xá nas ruas. A Savak e as forças do regime tentaram reprimir o movimento, e muitos no Ocidente, incluindo o governo Carter, avaliaram que Pahlevi se sustentaria no poder. Estavam errados.

O Xá sabia que seu momento havia chegado ao fim e fugiu – posteriormente, seria internado com câncer em Nova York. Acabou expulso para o Panamá em meio à tomada da Embaixada dos EUA em Teerã, antes de ir para o Egito, onde morreu como um frágil ex-ditador no exílio. Já Khomeini foi recebido no aeroporto da capital iraniana por uma das maiores multidões da História da humanidade. Naquele momento, muitos iranianos sonhavam com a democracia. Terminaram com uma ditadura ainda mais sanguinária do que a do xá. Para piorar, os novos ditadores adotaram um regime de segregação contra as mulheres.

Passados mais de 40 anos, os iranianos mais uma vez se levantam contra a ditadura. Em vez de gritos "Marg Bar Shah" ("Morte ao Xá", em persa), como em 1979, falam "Marg Bar Khamenei", que é o sobrenome do líder supremo do Irã. Não toleram mais a repressão. Não toleram mais que as mulheres sejam obrigadas a usar o véu. Alguns argumentam, com cautela, que a Guarda Revolucionária, ainda mais poderosa do que a Savak, conseguirão reprimir o movimento.

Outros afirmam que não há um líder claro nas manifestações. Pode ser. Talvez tudo termine ainda mais triste com a ditadura iraniana permanecendo no poder – no máximo, com a Guarda Revolucionária ainda mais forte do que os clérigos. Mas não custa sonhar com um Irã democrático como o existente até 1953, antes de Washington e Londres derrubarem a democracia em Teerã. Quem sabe, com uma mulher no comando da nação persa.

Autor: Por Guga Chacra

Fonte: oglobo.globo.com

 

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