segunda-feira, 22 de setembro de 2025

HISTÓRIA DE UM PAI

                    

                   FALANDO DE DEUS              

              HISTÓRIA DE UM VERDADEIRO   PAI

 

                    No início da minha  vida profissional, um neófito médico, fui  plantonista de um importante Pronto Atendimento.

                   Nestes plantões eram  lotados dois médicos. Os atendimentos eram para pacientes de urgências, os casos mais graves, as emergências, eram transferidos e recebidos pelos plantonistas da unidade Hospitalar, anexo ao PA.

                 Naquela época, como nos dias atuais, era discutido o que é um atendimento de urgência, o que deve o médico atender, até que ponto era ético o médico discernir  o que era  urgência ou emergência. O plantonista atendia a todos, o acolhimento era universal. Efetuados os primeiros socorros, acionava-se a unidade hospitalar.  É de bom alvitre  lembrar, que muitos pacientes, devido a gravidade, as ambulâncias e viaturas iam direto à emergência do Hospital, contíguo ao Pronto Atendimento.   

                   Era um dia de domingo, 03h30min da manhã, chovia torrencialmente  e a cidade estava deserta.  Não se sabe  o motivo, a pediatria  encontrava-se desativada, recomendado cautela.  

                   Os pacientes eram atendidos alternadamente, até a meia noite era intenso o movimento, depois caia consideravelmente.  Neste horário chegou um senhor de uns 40 anos de idade, trazia embalado nos braços, envolto num grosso lençol, uma criança de 3 a 4 anos, foi até a recepção, disse que o filho estava com febre e dor na garganta.

                   A recepcionista explicou que não se tratava de urgência ou emergência, e que deveria procurar  o serviço adequado logo que o dia clareasse, o ambulatório de otorrinolaringologia ou o de pediatria, que também ficava próximo.

                    Humildemente, sem saber o que era um ambulatório e até mesmo o que significava a complicada palavra  otorrinolaringologista,  o senhor sentou numa cadeira defronte a televisão, que passava a noite ligada.  Pensou, refletiu, voltou para a recepcionista, tentou explicar a sua presença naquele horário, não logrou   sucesso, voltou à sua insignificância. Sentou-se na última cadeira protegida pela grande porta   de vidro temperado, protegia cuidadosamente a sua cria do frio e dos respingos da torrencial chuva que banhava o solo soteropolitano  da  Bahia de meu Deus.

                  Com o menor aconchegado ao colo e cheio de amor,     solicitou que lhe mostrasse quem eram os médicos, queria falar e solicitar pelo o amor de Deus que atendessem o seu filho. O médico da vez respondeu que aquele caso não configurava uma emergência e poderia muito bem esperar até o amanhecer.

O esculápio pensou:  "Amigdalite às 3h30  da manhã, era brincadeira, porque não levou o garoto durante o dia no ambulatório apropriado, resmungou para si, amigdalite às 3 e 30, é demais!

                  Ao ver a cena e sentir naquele pai um semblante de diminuição, de inferioridade e de desvalorização como cidadão, chamei o  colega, solicitei que atendesse, porém  foi irredutível,  como Pilatos, o colega   lavou as mãos.

                  Não pensei duas vezes, mandei fazer a ficha, solicitei que colocasse o pai e o filho no consultório, chamei o colega e frente a frente iniciei a consulta, não uma consulta médico-clínico, mas uma consulta médico-social.

                 O pai revelou que morava na periferia, que saíra de casa às 06 horas da manhã, trabalhava numa empresa encostada noutra, nem mais era terceirizada, o transporte era uma casinha adaptada sobre a carroceria de um caminhão, não tinha alimentação,  nem garantia de emprego, era o último a chegar em casa, no subúrbio ferroviário,  depois de uma peregrinação por toda a cidade.

                 Naquele dia havia deixado a fábrica às 22h, rodara por mais de 150 quilômetros. Ao chegar em casa, sem almoço, jantar, banho e possuído pelo cansaço, foi avisado pela esposa que o menino estava com febre e esperava o pai para levá-lo ao médico. Matou a sede, encostou a mochila e a marmita, embalou a criança e debaixo de chuva  andou a pé três mil metros, pegou o trem suburbano que se conectava com o último ônibus e depois de rodar 30 quilômetros atingiu o fim de linha, um turístico logradouro.  Desceu a pé um íngreme, enladeirado, longo e deserto percurso, da grande praça ao longínquo serviço de urgência que funcionava numa grande e estratégica  avenida. 

                     Na solidão do caminho, na escuridão da noite, sob o frio da úmida e torrencial chuva, arriscando as suas vidas mergulhou na realidade.  Na cabeça um turbilhão de pensamentos, todos de baixa estima: Pobre, não bonito, suburbano, pertencente a uma categoria sem valor, afro descendente,   naquele dia sem se alimentar e cansado foi tomado pelo desânimo, porém, tinha um filho, possuía um rei, possuía uma das razões que justificava viver, que justificava todo e qualquer sacrifício, aliás, levar o seu filho a um médico não era sacrifício, era um prazer apesar da imensa tristeza.

                       Pensava no seu trabalho, na sua família e  no seu pai, via e sentia naquela hora, naquele momento como era difícil a vida, como era dura, como era insignificante diante do mundo, ainda bem que existia o médico, este sim me compreendia, este sim era homem de coração bom, este sim atendia a toda hora, atendia em todos os momentos, nos momentos de necessidades e sempre alegre, sempre rindo, ainda bem que existia o médico, neste mundo só o médico, somente o médico era verdadeiramente humano.

                    Quem era ele para ser atendido, para receber a atenção daquela espécie de homem, homem estudado e importante, o homem de branco, inclusive por ser ele um simples operário, era condição suficiente para não ser atendido, ainda assim o médico atendia,  atendia porque era humano, porque era bom, porque era gente, mesmo estudado, era gente e foi assim que veio pensando em todo o seu longo e difícil trajeto.  

               Imaginava encontrar um amigo, um amigo que lhe escutasse, que lhe estendesse as mãos, que lhe acolhesse, que lhe desse  atenção e  que lhe desse socorro, ainda bem que existe o médico. Disse também que saiu preocupado como voltaria, com que carro, com qual dinheiro e para ir ao trabalho no outro dia, sem dormir, sem comer, sem condições de faltar e se fosse demitido? Porém, nada disso era mais importante do que aquele filho, nada tinha mais importância do que a saúde do seu filho, ainda bem que existe o médico, ainda bem que ainda existe a compaixão, ainda bem.

            O colega frente a frente com o relato, cara a cara com o menor  e o pai, silenciosamente escutava o relato paterno.

 

            Aquele depoimento era mais um desabafo, um desabafo social, um desabafo para com ele mesmo, um desabafo quem sabe, talvez para com DEUS, e o colega escutava calado, silencioso e olhar perdido. O colega estava noutro mundo, o colega viajava, estava  bem distante, não sei onde, num lugar longínquo e  cabisbaixo. Repentinamente, com os olhos marejados, voz trêmula, rompeu o silêncio, abraçou o guerreiro pai e balbuciou: 

“PAI, AH SE TODOS OS PAIS FOSSEM ASSIM! COMO SERIA DIFERENTE”.

                   Pegou as rédeas do atendimento, arranjou energia não sei aonde, atendeu, conversou, riu, ofereceu o seu lanche noturno e o café da manhã para aquele pai exemplar.  Alimentou a criança, pediu-me que passasse o plantão pela manhã e com a criança medicada, a bolsa cheia de amostras e muita disposição foi conhecer na periferia onde morava um homem, onde morava um cidadão, onde morava um verdadeiro pai e saíram os três na mesma condução, tendo como motorista o médico assistente.

               Ainda hoje, nos encontros da vida escuto do nobre e gentil colega : “Meu amigo, muito obrigado, a medicina não é só conhecimentos científicos, é muito mais. A medicina é o social, o humanismo, a ética e o altruísmo.  A medicina é a essência da cidadania e  compaixão. A medicina é uma das representantes fiel de Deus”.

             Ser médico enfim, é ser um misto de tudo quanto é de bom, ser médico é ser provedor, acolhedor,  compreender os encontros e os desencontros do homem e da vida, ser médico é apenas ser Médico.

APENAS.


                         Iderval Reginaldo Tenório

crmpr VALE A PENA SER MÉDICO #medicina

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Vale a Pena Ser Médico? Portal CRM-PR: https://www.crmpr.org.br/ Vídeo Institucional produzido em 2004, com participação de Rubem Azevedo ...
YouTube · CRM-PR · 23 de out. de 2013

domingo, 21 de setembro de 2025

O GALO GIRINEUDO- OS HOMENS TAMBÉM SOFREM DE BANZO

       Galo grande na grama imagem de stock. Imagem de grande - 32798219

                                                              UM SÍTIO COM GRANDE VARIEDADE DE ANIMAIS E FRUTIFERAS - MARIO PEGORARO


                            OS HOMENS TAMBÉM SENTEM

   O GALO GIRINEUDO-  OS HOMENS TAMBÉM SOFREM DE BANZO

Nos meados dos anos 50, o Brasil ainda era uma nação rural, vivia-se da agricultura e da pecuária de subsistência; e puramente da exportação das commodities. Foi perdendo esta característica depois de 60, sedimentando após a copa do mundo, na década de 70, e hoje, 2025, é uma nação urbana.

No decorrer desta transição, muitos hábitos rurais foram transplantadas e aplicadas  nas cidades em formação.

A procura dos direitos sociais como  saúde, educação, empregos e entretenimentos, atrelado aos  desejos dos pais no setor educação para os seus filhos, aconteceu o êxodo rural, uma vez que se acreditava que só a educação poderia tirar o homem do campo, do analfabetismo,  e a  sair do fosso do qual se encontrava, da trabalhosa e desvalorizada agricultura.

É de bom alvitre entender, que esta prática ocorreu nos pequenos, médios e nas grandes municípios, notadamente no Norte e Nordeste, como também nos Estados brasileiros responsáveis pelo agronegócio.

O mais comum era encontrar casas com criatórios de galinhas, patos, galinhas d'angola, porcos, bodes, carneiros, ovelhas, papagaios, cágados e pássaros engaiolados, além dos animais domésticos de origem nacional( pejorativamente chamados de Pé Duro, vira-lata), cães e gastos. Salvador não fugiu à regra, principalmente nos bairros periféricos, nos quais as casas eram construídas em terrenos devolutos e de grandes áreas, eram pequenas chácaras.

Naquela época, o ato de criar, apesar de cada animal ter um nome, não existia uma ligação familiar como nos tempos atuais, mesmo escolhendo um dos membros da família para cuidar de tal animal.  Cada um tinha um tutor: O galo é de Maria, o porco baé de José, o carneiro de Chiquinho, a galinha Ximbica de Vicente e o bode de Toim, o importante era que cada animal tinha um dono responsável, mesmo sabendo que um dia iria virar comida. Cônscio deste desfecho, era comum o responsável apegar-se ao seu protegido.

Na minha cidade, em épocas de festas, um colega meu levava o seu galo "pinduquinha" para a casa da avó, da vizinha ou para a escola  para não virar assado no centro da mesa.

Ao assunto- Os homens também sentem

Num bairro suburbano de Salvador, um senhor tinha uma família de mais de 12 filhos e possuía muitos tipos de animais, cada um com o seu nome e um tutor. Estes animais eram as alegrias da família, no dia que entravam no cardápio, seu tutor entrava em banzo.

Nesta família havia um galo de estimação, propriedade da quase caçula e o um carneiro de raça, propriedade do dono da casa, era o seu chamego. Não vendia, não emprestava e não alugava, inclusive dava banhos de quando em vez e usava uma tinta vermelho claro na sua lã, era um dos seus orgulhos. Quando um amigo chegava na sua casa, o dono chamava o seu carneiro, o  Colorildo, que era assunto para o dia todo.

A casa não possuía muros, como era comum naquela época. As galinhas ficavam nos seus galinheiros de varas ou telas, os pássaros em grandes gaiolas, os porcos num chiqueiro bem distante da casa, os bodes e os carneiros eram amarrados num belo pé de manga que existia nos fundos, funcionava como um grande parque de diversão para toda a família.

Um belo dia de domingo, dia do banho, ao abrir a porta não encontrou o seu estimado carneiro, viu apenas  a corda. Caiu em depressão, botou os seus filhos para procurá-lo em toda a redondeza, não logrou sucesso, além do quadro inicial, ficou esquecido e agressivo por mais de uma semana, só recuperando a consciência um mês depois. Falava para os amigos, que foi um dos maiores traumas de sua vida.

A quase caçula arranjou um noivo e inventou de se casar, os pais  e os irmãos concordaram. Veio o dia do casamento, todos foram à igreja e ao voltarem iriam saborear um festivo almoço. Mesa posta, toalha e guardanapos de linho brancos, pratos, talheres e copos nos seus lugares. No centro da mesa, numa bandeja de aço, enfarofado e algumas azeitonas, um grande frango assado, mais de dois quilos, com duas grandes coxas, peitos estufados de tão gordo e um pescoço de mais de 20 centímetro, era um frangão mais de metro, pois comia do bom e do melhor no colo da tutora. A quase caçula, com uma afiada faca e um garfo tridente, ao iniciar o corte do animal, parou, pensou e em voz alta gritou e caiu no choro: " Não acredito que é o meu galo Girineudo", desmaiou no centro da sala e o almoço só teve o seu começo quando a noiva recuperou-se do trauma. 

A noiva não comeu o seu galo de estimação, o afeiçoamento a outro ser vivo, tem mostrado grandes mudanças nos paradigmas sociais.

O mais interessante é que o Galo Girineudo era valente para todos da casa, menos para a quase caçula, a noiva,  e o velho  dono do Carneiro Colorildo.  O Girineudo era ajuizado.

Dizem que os homens não sentem.

Salvador, 21 de Setembro de 2025

Iderval Reginaldo Tenório

Escutem Dona Ivone Lara.

Quando criança, a Ivone ganhou um passarinho e era sua alegria. Para chateá-la, o seu pai escondia e a menina Ivone ao chegar da escola chorava copiosamente sem o seu TIÊ, o pai o devolvia e a alegria voltava para menina Ivone. Um dia, não se sabe que o aconteceu, o pássaro sumiu. Depois de adulta e grande artista compôs esta música para homenagear o seu querido amigo TIÊ.

Aproveite os maiores sucessos da música brasileira! Inscreva-se no canal: https://goo.gl/ueMJf0 Acesse nosso site, conheça nosso portfólio!
YouTube · RWR · 3 de dez. de 2015

OS HOMENS TAMBÉM SENTEM E CHORAM

 

OS HOMENS TAMBÉM SENTEM

                                                UM SÍTIO COM GRANDE VARIEDADE DE ANIMAIS E FRUTIFERAS - MARIO PEGORARO

                 Galo grande na grama imagem de stock. Imagem de grande - 32798219

                                OS HOMENS TAMBÉM SENTEM

Nos meados dos anos 50, o Brasil ainda era uma nação rural, vivia-se da agricultura e da pecuária de subsistência; e puramente da exportação das commodities. Foi perdendo esta característica depois de 60, sedimentando após a copa do mundo, na década de 70, e hoje, 2025, é uma nação urbana.

No decorrer desta transição, muitos hábitos rurais foram transplantadas e aplicadas  nas cidades em formação.

A procura dos direitos sociais como  saúde, educação, empregos e entretenimentos, atrelado aos  desejos dos pais no setor educação para os seus filhos, aconteceu o êxodo rural, uma vez que se acreditava que só a educação poderia tirar o homem do campo, do analfabetismo,  e a  sair do fosso do qual se encontrava, da trabalhosa e desvalorizada agricultura.

É de bom alvitre entender, que esta prática ocorreu nos pequenos, médios e nas grandes municípios, notadamente no Norte e Nordeste, como também nos Estados brasileiros responsáveis pelo agronegócio.

O mais comum era encontrar casas com criatórios de galinhas, patos, galinhas d'angola, porcos, bodes, carneiros, ovelhas, papagaios, cágados e pássaros engaiolados, além dos animais domésticos de origem nacional( pejorativamente chamados de Pé Duro, vira-lata), cães e gastos. Salvador não fugiu à regra, principalmente nos bairros periféricos, nos quais as casas eram construídas em terrenos devolutos e de grandes áreas, eram pequenas chácaras.

Naquela época, o ato de criar, apesar de cada animal ter um nome, não existia uma ligação familiar como nos tempos atuais, mesmo escolhendo um dos membros da família para cuidar de tal animal.  Cada um tinha um tutor: O galo é de Maria, o porco baé de José, o carneiro de Chiquinho, a galinha Ximbica de Vicente e o bode de Toim, o importante era que cada animal tinha um dono responsável, mesmo sabendo que um dia iria virar comida. Cônscio deste desfecho, era comum o responsável apegar-se ao seu protegido.

Na minha cidade, em épocas de festas, um colega meu levava o seu galo "pinduquinha" para a casa da avó, da vizinha ou para a escola  para não virar assado no centro da mesa.

Ao assunto- Os homens também sentem

Num bairro suburbano de Salvador, um senhor tinha uma família de mais de 12 filhos e possuía muitos tipos de animais, cada um com o seu nome e um tutor. Estes animais eram as alegrias da família, no dia que entravam no cardápio, seu tutor entrava em banzo.

Nesta família havia um galo de estimação, propriedade da quase caçula e o um carneiro de raça, propriedade do dono da casa, era o seu chamego. Não vendia, não emprestava e não alugava, inclusive dava banhos de quando em vez e usava uma tinta vermelho claro na sua lã, era um dos seus orgulhos. Quando um amigo chegava na sua casa, o dono chamava o seu carneiro, o  Colorildo, que era assunto para o dia todo.

A casa não possuía muros, como era comum naquela época. As galinhas ficavam nos seus galinheiros de varas ou telas, os pássaros em grandes gaiolas, os porcos num chiqueiro bem distante da casa, os bodes e os carneiros eram amarrados num belo pé de manga que existia nos fundos, funcionava como um grande parque de diversão para toda a família.

Um belo dia de domingo, dia do banho, ao abrir a porta não encontrou o seu estimado carneiro, viu apenas  a corda. Caiu em depressão, botou os seus filhos para procurá-lo em toda a redondeza, não logrou sucesso, além do quadro inicial, ficou esquecido e agressivo por mais de uma semana, só recuperando a consciência um mês depois. Falava para os amigos, que foi um dos maiores traumas de sua vida.

A quase caçula arranjou um noivo e inventou de se casar, os pais  e os irmãos concordaram. Veio o dia do casamento, todos foram à igreja e ao voltarem iriam saborear um festivo almoço. Mesa posta, toalha e guardanapos de linho brancos, pratos, talheres e copos nos seus lugares. No centro da mesa, numa bandeja de aço, enfarofado e algumas azeitonas, um grande frango assado, mais de dois quilos, com duas grandes coxas, peitos estufados de tão gordo e um pescoço de mais de 20 centímetro, era um frangão mais de metro, pois comia do bom e do melhor no colo da tutora. A quase caçula, com uma afiada faca e um garfo tridente, ao iniciar o corte do animal, parou, pensou e em voz alta gritou e caiu no choro: " Não acredito que é o meu galo Girineudo", desmaiou no centro da sala e o almoço só teve o seu começo quando a noiva recuperou-se do trauma. 

A noiva não comeu o seu galo de estimação, o afeiçoamento a outro ser vivo, tem mostrado grandes mudanças nos paradigmas sociais.

O mais interessante é que o Galo Girineudo era valente para todos da casa, menos para a quase caçula, a noiva,  e o velho  dono do Carneiro Colorildo.  O Girineudo era ajuizado.

Dizem que os homens não sentem.

Salvador, 21 de Setembro de 2025

Iderval Reginaldo Tenório

Escutem Dona Ivone Lara.

Quando criança, a Ivone ganhou um passarinho e era sua alegria. Para chateá-la, o seu pai escondia e a menina Ivone ao chegar da escola chorava copiosamente sem o seu TIÊ, o pai o devolvia e a alegria voltava para menina Ivone. Um dia, não se sabe que o aconteceu, o pássaro sumiu. Depois de adulta e grande artista compôs esta música para homenagear o seu querido amigo TIÊ.

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YouTube · RWR · 3 de dez. de 2015


ZEZINHO AS COMPLEXIDADES E OS ENIGMAS SOCIAIS

          


              ZEZINHO  AS COMPLEXIDADES E OS ENIGMAS  SOCIAIS

Zezinho não compreendia a diferença entre as classes sociais.  Cresceu ouvindo que Deus é o pai de  todos os homens e que todos  têm os mesmos direitos, pelo menos   por parte do CriadorIndagava para si, o porquê  da fome, dos sofrimentos financeiros e de outras  demandas peculiares aos pobres.  Não digeria a ideia de tanta diferença entre as pessoas no tocante as dificuldades da vida, se todos têm o mesmo Pai, e ainda milagrosoSe Deus é  pai de todos, quais são os  motivos de tantas diferenças?.  

Não aceitava os ditados: Filho de peixe, peixinho é e sempre será, filho de gato, gatinho será. Para os animais não humanos, o Zezinho achava  natural, uma vez que uma piaba jamais evoluirá para uma  baleia ou um tubarão, um  gato jamais se transformará em um leão ou em um   tigre de bengala, ao nascer gato, morrerá gato. 

Na  espécie humana, é literalmente  diferente, o filho do  pedreiro, marceneiro, gari ou zelador pode muito bem ser  professor,  médico,  advogado,  jornalista, filósofo, técnico qualificado, empresário de sucesso ou ter outros diplomas,  basta ser assistido pelos poderes públicos, pela sociedade   e  fazer a sua parte, estudar,  dedicar esforços nas suas tarefas e ser aceito sem amarras  e não ser subserviente, não perder a a sua cidadania. 

O Zezinho, apesar de ainda ser uma criança, tem  pensamentos cientificamente comprovados e com lucidez.  Revela para a sociedade, notadamente para os de sua convivência e os gestores,  que todos os seres humanos normais  nascem com inteligência, são capazes de  evoluir, precisa apenas explorar o cérebro com todos os meios disponíveis e serem tratados com equanimidade. 

Perguntava o porquê alguns tinham escolas, casas, hospitais, roupas, mordomias e outros são desprovidos destas demandas e propriedades, mesmo sendo filhos do mesmo pai( Deus) e protegidos pela mesma constituição. Na sua cabeça estes fatos não encontravam paradeiros e fugiam seus pensamentos. 

Um pai tem que olhar para todos os filhos sem diferenciação e a nação dedicar os mesmos cuidados. A sua referência era a família, os seus pais olhavam com os mesmos olhos para todos os descendentes. Chegava em casa e não encontrava os utensílios domésticos que existiam na casa do patrão do seu pai, não entendia porque teria que dormir num girau, enquanto o filho do patrão dormia numa cama alta, cheirosa e fofa.  Como explicar, se Deus é o pai de todos? Será que Deus gosta mais de um filho do que de outro? Será que ele só gosta dos ricos? Será!?.  A cabeça do Zezinho vivia em eterna polvorosa, vivia em  voçoroca.

O Menino cresceu, passou a entender o teorema da vida, as engrenagens sociais, a enxergara existência das classes sociais. 

Encontrou indícios de   que, as poderosas oligarquias faziam e fazem de tudo para que cada indivíduo se perpetue na sua clausura social. Preso, fechado e blindado, ali nasceu e ali morrerá, principalmente nas nações do terceiro mundo, onde o coletivo é suplantado pelo individual, o sobrenome é um fator de peso social, cabe ao pobre apenas obedecer e ser domesticado a não pensar. Será força trabalho para produzir riquezas com eficiência e sustentar o consumo exacerbado dos ricos. Deve se conformar com  a vida, pão e  circo, viver já é uma dádiva, é o normal.

Passou a entender que para passar de um degrau a outro, de uma classe  a outra, o indivíduo tem que ser ousado e ir em busca  dos seus  direitos.  Entendeu que o humano  não pode baixar a cabeça, não deve rezar na cartilha da subserviência e sempre dizer amém numa ladainha decorada e conformativa.   

O homem tem que lutar e insistir contra os pensamentos dominantes,  partir para uma luta democrática e exigir melhores dias.  

Para sair do fosso, tem que usar as ferramentas que as castas superiores  utilizam, tem que estudar, esforçar-se e não cair nas tentações impostas pelos dominantes. 

Deve ser resistentes e contra   aos oferecimentos crônicos do pão e circo, de ser proibido pensar, como se a vida fosse apenas entretenimento, obediência, deveres   e bucho cheio. 

Zezinho reforça o velho ditame imposto aos desprivilegiados:  "Como reclamar de barriga cheia!?. Ainda reclamam!?"

Deduziu que  para os irracionais esta é a receita do sucesso, porém para os humanos não, os humanos possuem cérebro e não existem diferenças entre as etnias ou gênero, seja    negro,  branco, indígena, masculino, feminino  ou outros gêneros. 

O modus de subserviência  coaduna com os irracionais domésticos,   notadamente os cães, pois os silvestres lutam cotidianamente pela vida e pela  liberdade. Muitos chegam à morte na defesa de sua prole e na continuidade dos seus genes.  

Veja  a perspectiva de vida de um leão. Na floresta vive no máximo 14 anos e em eterna luta, já no zoológico, com casa, comida, roupa lavada, sombra, cuidados diários, fotografias, filmagens  e   médicos pode  atingir os 40 anos.  

Prolongo os mesmos pensamentos para os  pássaros, estes vivem em eterna autovigilância na natureza, a se defenderem  do predadores ou assistidos  de pão e água numa gaiola, alheios à natureza.  Será que escolherão a submissão do zoológico e da gaiola ou a vida alforriada  na natureza, mesmo vivendo mais e seguros dos predadores?.

Zezinho entendeu que, apesar de existir uma carta nacional, chamada Constituição Federal, só lutando, brigando, exigindo, cobrando, esforçando-se, dedicando-se e correndo  é que conseguirá subir na escala social e sair do fosso no qual  nasceu. 

Compreendeu que o único e melhor caminho é no aproveitamento escolar, principalmente na base, na raiz, no caule, na primeira fase da vida, dos zero aos dezoito anos, notadamente nos primeiros oito anos, diz que esta é chave para um mundo melhor. 

 Compreendeu que até os 18 anos  tem que dedicar todos os esforços no aprendizado. O aprendizado de uma profissão, uma atividade esportiva ou artística com a tutela da Escola e alforriado das amarras dominantes. Sem estes predicados continuará eternamente na base da pirâmide social, sempre fazendo força e sendo esmagado pelas demais camadas. Continuará na famigerada renda baixa, viverá sem pensamentos próprios e sem autoestima. Sobreviverá das ajudas sociais e sem personalidade, viverá como folhas secas entregues aos ventos.

O Zezinho descobriu  que existe uma caixa preta para se alforriar e tem que sair desta clausura .  A caixa é  blindada, escura, quente e  as paredes  grossas, porém existe uma saída, uma porta  estreita, esguia, quase invisível, dolorosa e requer muitos esforços, coragem, olhos atentos e força de vontade para transpô-la.

Requer foco, resiliência e determinação,  é a única comunicação honesta   entre as classes sociais. A porta existe e cabe a cada um encontrá-la. A chave, segundo Zezinho, encontra-se nos bancos escolares, que é  uma das propriedades para a sua conquista, ao vencer esta etapa a porta deixa de ser invisível. 

O que deixava e ainda deixa  o Zezinho indignado é  que ainda hoje, o ingresso numa boa escola, para encontrar a chave, é o normal para os que estão nas classes sociais mais altas e para os da raia baixa as dificuldades são abissais, não se conforma com este modelo. Se antes a preocupação era com a cama, o estômago e as vestimentas, hoje a sua preocupação é com a mente, a liberdade, os direitos e deveres, a isonomia nas oportunidades  e o futuro da humanidade . 

Zezinho faz uma observação  cabal, diz que as crianças que nascem nas   altas classes sociais e de pais que estudaram, ao sair do útero da mãe recebem uma ferramenta para abrir a tão importante porta, uma  chave mestra  universal,  muitos não dão importância  e ficam perambulando  sem rumo, inebriados pelas facilidades encontradas ao nascer, porém é claro para os nascem nas camadas baixas, estes  têm que lutar, e muito,   à procura da sua chave e ao encontrá-la, não podem  perder  a oportunidade de utilizá-la com sabedoria e dedicação durante a vida. Com esta chave universal todas as outras portas ficarão mais fáceis de abrir.

Viva o Zezinho e que os outros sigam o seu caminho.

 Basta força, insistência, coragem e resiliência.   

Basta ser mais um ZEZINHO.

Salvador, 21 de Setembro de 2025 

Iderval Reginaldo Tenório


VEJA O QUE FALOU O LUIZ GONZAGA E MARCONDES BENEDITO FARIAS COSTA  

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YouTube · Luiz Gonzaga - Topic · 10 de abr. de 2017