domingo, 21 de abril de 2024

Condutas para reflexão . O outro

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Condutas para reflexão.

O outro


Quando completei quatro anos de medicina, no final da Residência Médica, olhei para os lados e encontrei o ambulatório coalhado de pacientes, todas as macas ocupadas e das 10 salas de cirurgias, 06 estavam com pacientes sendo operados. Não consegui "ficar parado a ver navios" ou "esperar sentado com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar", ativei os demais residentes, os médicos do plantão, os diaristas e os dos ambulatórios.

Naquele dia tive a certeza, que a compaixão, a benevolência, a beneficência e a ética são os pilares da medicina. Recuperado e aliviado daquela nefasta situação, à noite, elaborei um regimento que hibernava na cabeça de um neófito cirurgião com quatro anos de aprendizado prático, luta, briga, sonhos sociais e de humanidade, porém eivados de decepções, incapacidades resolutivas, precariedades das emergências e da falência do sistema de saúde do Estado.

O conteúdo deste regimento não proíbe pensar em si, porém aduz que a essência da vida é lutar pelo bem do outro, é viver sempre pensando em melhorar, em resolver e jamais complicar as demandas pertinentes à vida, apesar da impotência peculiar ao ser humano.

Deve o humano pensar no outro como parte de sua vida, é como um corpo no qual todos os órgãos, todas as estruturas laboram para um equilíbrio pleno, todos juntos para o bem da vida. Não esqueça que ao pensar no outro, está pensando em si, uma vez que para o próximo você é o outro. Falo sempre que, uma unha encravada e infectada pode levar esta infecção para todo o corpo, ela não vive isolada, vive em sociedade com os demais órgãos.

Iderval Reginaldo Tenório



Condutas para reflexão

O outro


1-

Zele pelo que é do outro, não perturbe, não atrapalhe, auxilie e não peça nada em troca ao outro.


2-

Tudo que se aprende é para o bem do outro, ofereça o seu melhor e não pense primeiro em você, pense no outro.
3-

Ajude, cuide, zele, seja cortez e abnegado, faça tudo e procure gostar do outro.
4-

Não queira nada fácil. Sirva e faça tudo para não ser servido pelo outro,vibre e trabalhe para o sucesso do outro.


05-

Faça o melhor, dê conforto e o que for possível para o engrandecimento do outro, seja solidário. Nunca pense em levar vantagem e nada espere de recompensa do outro.


06

Pratique o bem. Seja amigo de sua mãe, do seu pai, do seu irmão, do seu amigo, do outro e do amigo do outro. Aceite o outro como o outro é.


07-

Procure fazer a coisa certa e o que for bom para o outro. Lembre que para o outro, você é o outro.


08-

Quem ajuda o outro, um dia será ajudado pelo outro, pelo filho do outro, pelo neto do outro ou pelo amigo do outro, mesmo sem saber e sem querer será ajudado.


09-

Pratique esta cartilha e o mundo será mais humano e o outro terá mais sucesso, a vida será melhor, conquiste o seu espaço, respeitando o espaço do outro.

10-

Faça ao outro o que espera que o outro faça por você. Seja solidário, tenha compaixão e nunca esqueça da gratidão.



Salvador, 18 de março de 1986

Do amigo

Iderval Reginaldo Tenório


Residente de Cirurgia Geral 1982 a 1986





ESCUTEM NA VOZ DE NANA MOUSKOURI

Volver, volver”, la dramática historia de la canción más escuchada de Vicente Fernández Gómez. Cantor, produtor e ator mexicano. Já vendeu mais de 50 milhões de cópias em todo O mundo.
Lōánna Moúschouri . Embaixadora da boa vontade da UNICEF, mundialmente conhecida como Nana Mouskouri, é uma cantora, ativista política e pacifista grega. Foi deputada da Grécia no Parlamento Europeu, de 1994 a 1999, através do Nova Democracia, o principal partido político de centro-direita de seu país. Famosa e consagrada no mundo todo, Nana tornou-se uma das cantoras com maior número de vendas em toda a história da música, com mais de 400 milhões de cópias vendidas





Nana Mouskouri: Volver volver

Nana Mouskouri: Volver volver



segunda-feira, 8 de abril de 2024

Rir da desgraça alheia: a perversidade que nos habita (e intoxica)

 

Rir da desgraça alheia: a perversidade que nos habita (e intoxica)

Segundo psicóloga, desejar o mal a alguém e celebrar a morte do outro é um veneno que adoece a alma de quem toma

Por Bruno Mateus | @eubrunomateus Publicado em 9 de novembro de 2022 | 06h34 - Atualizado em 9 de novembro de 2022 | 09h17
Segundo a psicóloga Valquiria Alcântara, desejar o mal alheio e celebrar a morte de alguém é um veneno que adoece a alma de quem toma - Foto: Shutterstock
Segundo a psicóloga Valquiria Alcântara, desejar o mal alheio e celebrar a morte de alguém é um veneno que adoece a alma de quem toma — Foto: Shutterstock.
 

                                                    I

Recentemente, ao participar de um protesto pró-Bolsonaro, o ex-piloto de Fórmula 1 e tricampeão mundial Nelson Piquet, notório apoiador do atual presidente da República, não se intimidou ao ser gravado por um manifestante com seu celular. Em alto e bom som e com um sorriso na boca, Piquet vociferou: “Vamos botar esse Lula filho de uma p… para fora. E Lula lá no cemitério”.

Em janeiro deste ano, o escritor Olavo de Carvalho foi mais uma das vítimas da Covid-19. Olavo menosprezou a pandemia e a vacina, mas sucumbiu à doença. Logo que a notícia da morte do ideólogo da extrema direita brasileira caiu nos principais portais e nas redes sociais, uma onda de memes invadiu a web para comemorar o óbito de Olavo.

Psicóloga especialista em saúde mental e luto, Valquiria Alcântara diz que vivemos tempos de muita intolerância, e discursos de ódio são disseminados, muitas vezes, de forma gratuita. Para ela, celebrar a morte de alguém, ainda que seja comum, é uma postura reprovável.

A psicóloga pondera que é fundamental saber lidar com sentimentos que vêm acompanhados de violência, raiva e repulsa pelo outro. Entre pensar e agir na prática para fazer mal a outro indivíduo, há uma linha tênue. “Esse é o grande ‘x da questão’. 

Há pessoas que levam para a prática a questão da violência no comportamento. São desejos de atacar o outro a partir do momento em que ela se sente em perigo ou injustiçada”, analisa a especialista.

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                                                  II

Há quem admita, no entanto, que instintos raivosos e violentos sejam despertados sem que isso seja uma tomada consciente de atitude. Colaboradora do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Mires Camilo, 56, conta que já teve reações de desejar o mal ao outro e até vibrar quando uma pessoa que não lhe era benquista se deu mal.

“Claro, a minha primeira reação, enquanto ser humano, é querer dar o troco, fazer justiça com as próprias mãos, mas a gente tem que se conscientizar que estamos evoluindo. Ninguém nasce pronto”, ela afirma.

Para barrar a cólera, o ódio e o desejo pela desgraça alheia, Mires reconhece que é preciso muito esforço. Ela cita o caso do ex-ator e pastor Guilherme de Pádua, que faleceu nesta segunda-feira (7). Pádua e sua então esposa, Paula Thomaz, foram condenados pelo assassinato da atriz Daniella Perez, filha da autora de novelas Gloria Perez. O crime aconteceu em dezembro de 1992 e gerou uma profunda comoção no país, revivida recentemente com o lançamento da série documental “Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez”, disponível na HBO Max.

Com a morte de Guilherme de Pádua, vítima de um infarto aos 53 anos, o que se viu na internet foram reações de celebração pelo ocorrido. “Sou mulher e mãe e, num primeiro momento, tive aquela reação de ‘olha, que bom (que ele morreu)’, mas eu não sou julgadora do universo. Preferi jogar (esse sentimento) no limbo do meu pensamento para não sentir essa energia”, conclui Mires Camilo.

Saúde mental sob riscos

“O ódio é um veneno que adoece quem toma”. É com essa frase que a psicóloga Valquiria Alcântara comenta sobre os prejuízos à saúde mental que uma postura sempre reativa, violenta e brutal em relação ao outro pode causar. Quando falamos do desejo de que o alguém próximo seja prejudicado de alguma maneira, a lista inclui desde a torcida para que ele perca o emprego ou não consiga aquela tão sonhada vaga no concurso, até a morte e o sofrimento dessa pessoa, que se transforma em alvo da ira de quem o vê como um ser humano que merece o pior.

Neste contexto, a internet e as redes sociais são terreno fértil para discursos contaminados de preconceito, intolerância e truculência. O ambiente no qual estamos inseridos também tem muita influência sobre nosso comportamento e nossas atitudes.

“A morte seria a punição mais severa do ponto de vista do julgamento social e o ambiente virtual virou um território sem lei. É um espaço aberto que muita gente encontrou para destilar veneno e ódio em nome de uma suposta liberdade de expressão. O comportamento do indivíduo é resultado de vários fatores, entre os quais o meio cultural e social”, ressalta Valquiria Alcântara.

A violência e a agressividade podem ser escudos que as pessoas usam para se proteger do outro e esconder fragilidades, medos e inquietações. Muitas vezes, há dores malresolvidas, traumas não cuidados e conflitos existenciais tamanhos que a única solução que a pessoa vê é explodir em ódio e fúria. É necessário dominar nossas reações para viver em sociedade, caso contrário a barbárie se instala definitivamente.

Segundo a psicóloga, a terapia é um caminho para aprendermos a lidar com nossos sentimentos. Valquiria pontua que percebe as pessoas com uma dificuldade muito grande de gerenciar as próprias emoções.

“Quando não temos essa ferramenta, nos tornamos reféns das nossas emoções, das nossas limitações, da nossa impulsividade. A agressividade, quando aprendemos a canalizá-la, pode ser direcionada para um caminho que seja saudável, como faz um atleta, por exemplo”, finaliza Valquiria Alcântara. (Com colaboração de Alex Bessas)

domingo, 7 de abril de 2024

 Populismo de direita ou de esquerda: qual é o pior? | Ensaios e Notas

                        

HOLOCAUSTO BRASILEIRO - 60 Mil Mortes No Maior Hospício do Brasil

 

                                                                 

             



                                                                           


                                                                                                                                   


HOLOCAUSTO BRASILEIRO - 60 Mil Mortes No Maior Hospício do Brasil

 

 


 Ciência e fé: Quando Jesus ainda era um embrião

Cosmos - 7 provas de que você e todo o universo estão interligados

              

 

A GRANDE VIAGEM

Aninhado   em posição fetal sobre uma macia espuma e coberto por um branco lençol, Humanus foi em busca do acalento no silêncio  da noite. Luzes em penumbra,  portas e janelas abertas,   cortinas em bailarina a esvoaçarem, música erudita quase imperseptível,  respiração  silenciosa e meticulosamente executada,   entrou  em interação com o infinito. 

Olhos cerrados e em meditação iniciou a imaginária viagem. Paulatinamente  foi se afastando e saindo do corpo, flutuando e se desligando  da matéria projetou-se no espaço sideral. Através dos tempos e  em sono profundo, em levitação,  mergulhou  no cosmo.

Tangenciando os planetas, vazou o sistema   solar e alcançou outras estrelas da via láctea. Atravessou bilhões  de sistemas  e mergulhou na escuridão intergalática.   Aprofundou-se em bilhões de galáxias e  atravessou o universo.  Mergulhando  e saindo  passou a conhecer a imensidão  do cosmo e a infinitude do multiverso.

Longa foi a viagem, deu voltas através dos tempos e fez um verdadeiro regresso aos mistérios da vida. Chegou à primeira estação, 18 de setembro de 1914, choro de  criança,  uma sexta-feira chuvosa, cinco e trinta da manhã.  Naquele dia nascia uma menina,  mais um ser humano, mais uma semente para germinar e gerar outras vidas na Terra.

Vilarejo, casa e aposentos  simples. Posicionou-se  no canto da sala ao lado de um jarro, no qual  havia uma roseira.  Entravam e saíam viventes humanos, umas novas e outras mais velhas. Da cozinha, um cheiro convidativo do verdadeiro café, torrado no caco e pisado num grande pilão feito de tora de jatobá, e que inundava todos os  ambientes.  O dia clareou, ninguém notou a sua presença, continuou no mesmo cantinho,  ao lado do grande jarro com a sua bela roseira, observando o chegar, o sair, os sorrisos, os abraços e os cumprimentos das visitas. Choro de criança,  casa cheia,  dia de fartura,  muita comida, bebidas e   alegria. Tiros de bacamartes anunciaram a chegada de mais um rebento. O  invisível viajante,    no cantinho, silenciosamente  a observar, era um dia de festa. 

O sol apontou no horizonte,  o orvalho salpicava  as folhas da densa e verde mata, os pássaros voavam e chilreavam alegres com a torrencial aguada da noite. Os raios clarearam  o sertão. 

De repente, saiu pela porta do quarto, afagada e protegida  nos braços da parteira,   uma bela  menina que irradiava esperança, saúde e prosperidade para a umanidade. Uma criança linda, cabelos lisos, pele cor de jambo e que chorava copiosamente, era uma criança chorona.  Ao chegar à sala, observou, olhou, arregalou os olhos castanhos e os fixou sobre o nobre visitante. Só ela o enxergava, o que a  fez silenciar o choro. Ao mover-se nos braços  da parteira,   virava a cabecinha para onde ele se  encontrava e  sempre a sorrir.  Veio um pequeno silêncio, a cena foi se desfazendo,  a luz foi cedendo espaço à penumbra  até escurecer.  O mortal continuou a sua longa viagem  no infinito  multiverso, navegou pelo vasto espaço sideral, no cosmo. 

Quarenta anos depois, entrou numa nova estação,  18 de março de 1954,  quinta feira chuvosa,  sete horas da manhã.  Aquela criança, de 1914,  era mais uma vez a estrela da cena. 40 anos de idade,  cabelos pretos, voz segura, forças nos pulmões,  um rebento nos braços  e de olhos fixos na sua cria, assim   se pronunciou :

--” Seja bem-vindo ao reino dos humanos”.

Silêncio celestial, o perfume materno, o olhar e os sorrisos de uma criança afloraram da sua mente e se apossaram do ambiente. Em levitação, o viajante  mergulhou no espaço, dando continuidade ao misterioso deslocamento.

Viajou por outras plagas a observar as estrelas,  a profundidade do desconhecido e fez uma nova parada, estação    11 de setembro de 2013.   A estrela era  a mesma menina de 1914 e de 1954, agora  uma centenária  de coque branco, tez macia, olhos fixos e brilhosos, voz em veludo, serena e musical.  Foi  ao seu encontro,  o fixou no  seu olhar, o abraçou, o beijou  e após os afagos, mansamente balbuciou  nos seus ouvidos: 

   --“ Fique calmo,  o Senhor está me chamando, irei pessoalmente  ao seu encontro, morarei definitivamente na casa do Pai”

Se esvaindo das suas  mãos, dos seus braços  e dos seus olhos, foi se afastando, se distanciando, rindo, dançando e cantarolando,   cheia de vida e de alegria   tomou o caminho da casa de Deus, o Criador lhe chamou.

O solitário fez a viagem de volta, reviu tudo o que foi visto, entrou no quarto pela mesma  janela, olhou aquele corpo imóvel, inerte, descoberto e  vazio, agasalhou-se  nas suas entranhas  e mais uma vez nele se albergou. O sol bateu no seu rosto, o viajante abriu descansadamente os olhos e ao seu lado ouviu uma voz: 

___” Seja bem-vindo ao seu mundo, estou  ao lado do Senhor, estou   bem e  olhando por todos. Aquele menino que  nasceu no  dia 23 de julho,  no ano de 1914,    numa manhã chuvosa de uma  quinta-feira,  manda lembranças.  Aqui estamos juntos, orando e rogando por todos, estamos cotidianamente com vocês.  Onde estamos podemos continuar próximos de todos, somos onipresentes, uma vez que só Deus, o nosso Pai,  é onipotente, onipresente e onisciente”. 

Serenamente, o andarilho, ainda inebriado,  moveu o corpo, mirou  bem para onde vinha a voz  e irrefutavelmente  balbuciou:  

                 __"A benção, mamãe."

                                  Salvador, 31 de Dezembro  de 2023

                                                              Iderval Reginaldo Tenório

                    

HOLOCAUSTO BRASILEIRO - 60 Mil Mortes No Maior Hospício do Brasil

 

 Ciência e fé: Quando Jesus ainda era um embrião

Cosmos - 7 provas de que você e todo o universo estão interligados

              

 

A GRANDE VIAGEM

Aninhado   em posição fetal sobre uma macia espuma e coberto por um branco lençol, Humanus foi em busca do acalento no silêncio  da noite. Luzes em penumbra,  portas e janelas abertas,   cortinas em bailarina a esvoaçarem, música erudita quase imperseptível,  respiração  silenciosa e meticulosamente executada,   entrou  em interação com o infinito. 

Olhos cerrados e em meditação iniciou a imaginária viagem. Paulatinamente  foi se afastando e saindo do corpo, flutuando e se desligando  da matéria projetou-se no espaço sideral. Através dos tempos e  em sono profundo, em levitação,  mergulhou  no cosmo.

Tangenciando os planetas, vazou o sistema   solar e alcançou outras estrelas da via láctea. Atravessou bilhões  de sistemas  e mergulhou na escuridão intergalática.   Aprofundou-se em bilhões de galáxias e  atravessou o universo.  Mergulhando  e saindo  passou a conhecer a imensidão  do cosmo e a infinitude do multiverso.

Longa foi a viagem, deu voltas através dos tempos e fez um verdadeiro regresso aos mistérios da vida. Chegou à primeira estação, 18 de setembro de 1914, choro de  criança,  uma sexta-feira chuvosa, cinco e trinta da manhã.  Naquele dia nascia uma menina,  mais um ser humano, mais uma semente para germinar e gerar outras vidas na Terra.

Vilarejo, casa e aposentos  simples. Posicionou-se  no canto da sala ao lado de um jarro, no qual  havia uma roseira.  Entravam e saíam viventes humanos, umas novas e outras mais velhas. Da cozinha, um cheiro convidativo do verdadeiro café, torrado no caco e pisado num grande pilão feito de tora de jatobá, e que inundava todos os  ambientes.  O dia clareou, ninguém notou a sua presença, continuou no mesmo cantinho,  ao lado do grande jarro com a sua bela roseira, observando o chegar, o sair, os sorrisos, os abraços e os cumprimentos das visitas. Choro de criança,  casa cheia,  dia de fartura,  muita comida, bebidas e   alegria. Tiros de bacamartes anunciaram a chegada de mais um rebento. O  invisível viajante,    no cantinho, silenciosamente  a observar, era um dia de festa. 

O sol apontou no horizonte,  o orvalho salpicava  as folhas da densa e verde mata, os pássaros voavam e chilreavam alegres com a torrencial aguada da noite. Os raios clarearam  o sertão. 

De repente, saiu pela porta do quarto, afagada e protegida  nos braços da parteira,   uma bela  menina que irradiava esperança, saúde e prosperidade para a umanidade. Uma criança linda, cabelos lisos, pele cor de jambo e que chorava copiosamente, era uma criança chorona.  Ao chegar à sala, observou, olhou, arregalou os olhos castanhos e os fixou sobre o nobre visitante. Só ela o enxergava, o que a  fez silenciar o choro. Ao mover-se nos braços  da parteira,   virava a cabecinha para onde ele se  encontrava e  sempre a sorrir.  Veio um pequeno silêncio, a cena foi se desfazendo,  a luz foi cedendo espaço à penumbra  até escurecer.  O mortal continuou a sua longa viagem  no infinito  multiverso, navegou pelo vasto espaço sideral, no cosmo. 

Quarenta anos depois, entrou numa nova estação,  18 de março de 1954,  quinta feira chuvosa,  sete horas da manhã.  Aquela criança, de 1914,  era mais uma vez a estrela da cena. 40 anos de idade,  cabelos pretos, voz segura, forças nos pulmões,  um rebento nos braços  e de olhos fixos na sua cria, assim   se pronunciou :

--” Seja bem-vindo ao reino dos humanos”.

Silêncio celestial, o perfume materno, o olhar e os sorrisos de uma criança afloraram da sua mente e se apossaram do ambiente. Em levitação, o viajante  mergulhou no espaço, dando continuidade ao misterioso deslocamento.

Viajou por outras plagas a observar as estrelas,  a profundidade do desconhecido e fez uma nova parada, estação    11 de setembro de 2013.   A estrela era  a mesma menina de 1914 e de 1954, agora  uma centenária  de coque branco, tez macia, olhos fixos e brilhosos, voz em veludo, serena e musical.  Foi  ao seu encontro,  o fixou no  seu olhar, o abraçou, o beijou  e após os afagos, mansamente balbuciou  nos seus ouvidos: 

   --“ Fique calmo,  o Senhor está me chamando, irei pessoalmente  ao seu encontro, morarei definitivamente na casa do Pai”

Se esvaindo das suas  mãos, dos seus braços  e dos seus olhos, foi se afastando, se distanciando, rindo, dançando e cantarolando,   cheia de vida e de alegria   tomou o caminho da casa de Deus, o Criador lhe chamou.

O solitário fez a viagem de volta, reviu tudo o que foi visto, entrou no quarto pela mesma  janela, olhou aquele corpo imóvel, inerte, descoberto e  vazio, agasalhou-se  nas suas entranhas  e mais uma vez nele se albergou. O sol bateu no seu rosto, o viajante abriu descansadamente os olhos e ao seu lado ouviu uma voz: 

___” Seja bem-vindo ao seu mundo, estou  ao lado do Senhor, estou   bem e  olhando por todos. Aquele menino que  nasceu no  dia 23 de julho,  no ano de 1914,    numa manhã chuvosa de uma  quinta-feira,  manda lembranças.  Aqui estamos juntos, orando e rogando por todos, estamos cotidianamente com vocês.  Onde estamos podemos continuar próximos de todos, somos onipresentes, uma vez que só Deus, o nosso Pai,  é onipotente, onipresente e onisciente”. 

Serenamente, o andarilho, ainda inebriado,  moveu o corpo, mirou  bem para onde vinha a voz  e irrefutavelmente  balbuciou:  

                 __"A benção, mamãe."

                                  Salvador, 31 de Dezembro  de 2023

                                                              Iderval Reginaldo Tenório

                                                      

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