sábado, 16 de setembro de 2023

A minha homenagem a Cidade de Paramirim, 145 anos de vida .Parabéns.

Paramirim, receba os meus  mais efusivos parabéns. 

São 145 anos de luta e de emacipação.

Iderval Reginaldo Tenório


Hino do município de Paramirim

Letra por Gilberto Martins Brito 

Melodia por Ito Moreno Filho

 

Linda serra te contorna,

Rio pequeno te corta inteiro

Dando nome a tu que és forte,

Terra minha, amor primeiro.

 

Teu solo diverso em formação,

Cobre-se em relva aquarela.

Refletindo a cor do povo,

Mestiço matiz mais bela.

 

Paramirim, amada terra,

Hei de lutar, lutar vencer,

És fonte de força viva,

Por ti eu hei de ser.

 

Teus filhos sempre a lutar

Para o bem, por teu crescer

Sem tréguas, unindo as forças

Buscam a glória o saber.

 

Oh! Senhor, protetor universal,

Abençoa este pedaço de chão.

Dá força, paz, conforto.

Inspira a todos, traze união.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

ZEZINHO E OS ABANDONADOS DO CARIRI CEARENSE

 

ZEZINHO E OS   ABANDONADOS DO CARIRI CEARENSE
                                    
                                                     
          CEGO OLIVEIRA-JUAZEIRO DO NORTE-ESTE  O ZEZINHO  ESCUTOU MUITO.

Conta Zezinho, que quando criança,  na sua cidade natal, Juazeiro do Norte,  lá no Sul do  Ceará, ficava impressionado e sempre que podia passava horas a observar os mendigos, os   perambulantes e os moradores de rua   da  cidade.  Estes cidadãos, sem cidadanias,  eram chamados  de esmolés. Todos que pediam eram colocados no mesmo patamar, no mesmo balaio. Bastava um defeito físico, visual, auditivo ou mental para serem tachados de mendigos.

Depois que atingiu a fase  adulta,  passou a entender o quadro sociológico e de invisibilidade daqueles humanos. Muitos eram doentes  psiquiátricos e neurológicos  esquecidos  pela sociedade, alguns, vitimas do alcoolismo crônico, outros eram idosos e  crianças   abandonadas pelos familiares e pelos poderes publicos. A maior parte oriundo da camada mais baixa da pirâmide social, o que existia de comum era que todos  viviam abaixo da linha de pobreza, no limbo social, na nação dos excluídos. 
 
Agora pasmem,  diversos deles  eram verdadeiros gênios das artes, das crendices populares e das matrizes religiosas universais. Muitos eram artistas natos, ícones do regionalismo herdado das tradições milenares dos  povos autóctones( os indíos,  dos invasores estrangeiros, notadamente os portugueses e os holandeses, e dos africanos sudaneses originários  da Nigéria, Daomé e Costa do Marfim, dos bantus capturados no Congo, Angola e Moçambique  descarregados  no país a partir do século XVI.  
 
Estes abnegados poços de cultura, por serem deficientes físicos, auditivos ou visuais   utilizavam-se das artes,  oferecidas por Deus, para as suas  sobrevivências. Tocavam flautas, pífanos, pandeiros, lâminas de serrotes, cítaras, foles artesanais  de oito baixos, a famosa pé de bode; rabecas, triângulos, berimbaus, apitos, pratos, tambores, reco-recos, maracás, realejos, violões, cavaquinhos e diversos outros instrumentos,  às vezes, simultaneamente. 
 
Perdia horas e horas a ouvir os seus instrumentos, suas músicas  e as suas vozes. Depois  de consciente e adulto, aquelas horas,  de perdidas  não tinham nada,  foram  horas  achadas e importantes no forjamento  da cidadania. Horas  gravadas na mente e importantíssimas para a  formação humana, social   e cultural dos privilegiados que tiveram acesso aos legados daqueles descompromissados espetáculos.

O que mais apreciava,  eram as histórias cantadas nas suas características vozes anasaladas, choradas, gemidas e arrastadas, como a pedir clemência. 
 
Muitos foram os clássicos e os benditos gravados na mente de cada espectador, que durante  a  vida,  inconscientemente, repete e vive cada instante relembrado, cada rosto, cada gesto, cada acorde e cada tom de voz  daqueles  guerreiros Caririenses.

Zezinho tem gratidão eterna aos  abnegados e injustiçados gênios do seu Cariri, de sua serra do Araripe, de sua   Juazeiro do Norte e  do seu abençoado Ceará. 
 
Ao Cego Oliveira e a todos os cantadores de rua, agradece pelas aulas não valorizadas à época e que hoje cora de vergonha a face daqueles  que  viveram, nada fizeram e não souberam valorizar aqueles professores que contavam a a história do seu povo  através das artes. 

Agradece aos professores da universidade da  vida, aos difundidores  das belas  e democráticas culturas dos seus  ancestrais. 
 
Viva os ícones que ficaram no esquecimento, mas que brotam de vez em quando  dos infindáveis canteiros e pomares  da sua  mente. 

                                Palavras do Zezinho:                              
"O meu muito obrigado aos  meus eternos professores".

      Salvador,18 de Março de 2023

          Iderval Reginaldo Tenório

 

Adendo importante.

O que caracteriza a cidade de Juazeiro do Norte, é que foi fundada pelo Padre Cicero Romão Batista, padre que nasceu na cidade do Crato, da qual foi desgarrada a cidade de Juazeiro após o milagre da hostia sagrada em 1889, o estopim para a guerra da emacipação, chamada   A SEDIÇÃO DE JUAZEIRO.

Muitos idosos, de todo o nordeste, tinham um compromisso com o Padim Ciço: Viver os seus últimos dias  ao lado do fundador na meca do Cariri  e lá ser sepultado no mesmo cemitério onde encontram-se os seus restos mortais.

Então, todos os anos, no mes de Novembro, dia de finados, muitos nordestinos visitam  o Padre Cicero e uma parte finca residencia no município. Diferente das cidades praieiras como Santos, João Pessoa e Aracaju, nas quais migram para lá os grandes aposentados, homens e mulheres com boas rendas e muitos levam as suas familias. Para  o Juazeiro migram os  idosos pobres, doentes e sem paradeiros com a finalidade de honrarem  o compromisso com o milagroso Padim. 

É uma cidade  com gente de todos os Estados do Nordeste. Muitos artesãos, violeiros, beatos, analfabetos e  pedintes. Grandes comerciantes e industriais, centenas  professores universitários e milhares de estudantes de nível técnico e  superior de todo o país,  por ser hoje um dos  pólos universitarios,  religioso e turístico do Brasil.   É Juazeiro do Norte, hoje com 300mil habitantes, a  metrópole finanaceira e aeroviária da região do Cariri Cearense. Num raio de 300 quilometros, é o seu moderno aeroporto, a ligação de mais de 1,5 milhão de habitantes  com o resto do país.

Tudo tem que passar pela Meca do Cariri, A Capital da Fé.

Nas decadas de 50 , 60 e 70 iniciou o seu real crescimento para se transfornar na metrópole da região. 

Era o seu slogan nestas  décadas :

" Juàzeiro do Norte, a cidade que mais cresce no Nordeste e no Brasil"

Iderval Reginaldo Tenório

Cego Oliveira - Memória do Povo Cearense Volume II (1999 ...

Pedro Oliveira nasceu em 1905, cego de nascença. Foi pedinte por muito tempo, quando aos 24 anos teve o primeiro contato com a rabeca, ...
YouTube · Wu Ming · 8 de jan. de 2016

 

Reduflação-Diminuir o volume, o peso e manter, elevar ou dimuir o preço

 

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Reduflação

Hoje é comum  chegar ao mercado e nas prateleiras encontrar os seus produtos de preferência  modificados.

Tamanho,Volume, Peso, Embalagem, Forma e Quantidade de unidades, porém os preços continuam os mesmos ou ficam mais altos, a este fenômeno dar-se o nome de     REDUFLAÇÃO.

Pode acontecer outro fator importante: a retirada de um componente caro por um mais barato e que faça o mesmo efeito- Manteiga por margarina, castanha  por amendoim, chocolate por achocolatado, couro e madeira  por derivados de petróleo e por aí vai andando o mercado .

Um litro de óleo agora são 870 ml, uma dúzia de ovos são dez, um pacote de chocolate de 1kg, hoje vem com 870g, uma barra de 200g vem com 70 ou 90, o leite não é mais 01kg, vem com 800, 750 e 390g. O importante é informar na embalagem a mudança por três meses e nem sempre o consumidor tem a curiosidade de olhar.

Exemplo : um óleo que era de milho, o consumidor só nota que é de soja quando chega em casa. Um pacote de chocolate que está mais barato do que o principal  concorrente, geralmente vem com 10 unidades a menos, o consumidor só percebe depois.  Isto é a          REDUFLAÇÃO .

Mais informações, causas e  efeitos, na mídia escrita e televisiva.

Iderval Reginaldo Tenório

 

REDUFLAÇÃO

"Em economia, a reduflação é o processo em que os produtos diminuem de tamanho ou quantidade, enquanto que o seu preço se mantém inalterado ou aumenta.

 O efeito é uma consequência do aumento do nível geral dos preços dos bens, manifestado por unidade de peso ou volume, causado por inúmeros factores, principalmente a perda do poder aquisitivo da moeda e a queda do poder de compra dos consumidores e/ou do aumento do custo dos insumos, cuja resposta da oferta é a redução do peso ou tamanho dos bens transacionados.

A reduflação concebe-se, portanto, como uma forma de adaptação da oferta à pressão inflacionária, e surge para evitar uma perturbação na dinâmica de transferências para o mercado, ante a concorrência. Por causa e efeito, apresenta-se destarte como uma forma encapotada de inflação".

 

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Reduflação: saiba como esse conceito afeta diretamente o seu bolso

Pague 4, leve 3: como consumidores e empresas encaram a reduflação |  Reportagem | OPOVO+

Procon de São Pedro da Aldeia alerta consumidores para a “reduflação”

Reduflação

Hoje é comum  chegar ao mercado e nas prateleiras encontrar os seus produtos de preferência  modificados.

Tamanho,Volume, Peso, Embalagem, Forma e Quantidade de unidades, porém os preços continuam os mesmos ou ficam mais altos, a este fenômeno dar-se o nome de     REDUFLAÇÃO.

Pode acontecer outro fator importante: a retirada de um componente caro por um mais barato e que faça o mesmo efeito- Manteiga por margarina, castanha  por amendoim, chocolate por achocolatado, couro e madeira  por derivados de petróleo e por aí vai andando o mercado .

Um litro de óleo agora são 870 ml, uma dúzia de ovos são dez, um pacote de chocolate de 1kg, hoje vem com 870g, uma barra de 200g vem com 70 ou 90, o leite não é mais 01kg, vem com 800, 750 e 390g. O importante é informar na embalagem a mudança por três meses e nem sempre o consumidor tem a curiosidade de olhar.

Exemplo : um óleo que era de milho, o consumidor só nota que é de soja quando chega em casa. Um pacote de chocolate que está mais barato do que o principal  concorrente, geralmente vem com 10 unidades a menos, o consumidor só percebe depois.  Isto é a          REDUFLAÇÃO .

Mais informações, causas e  efeitos, na mídia escrita e televisiva.

Iderval Reginaldo Tenório

 

REDUFLAÇÃO

"Em economia, a reduflação é o processo em que os produtos diminuem de tamanho ou quantidade, enquanto que o seu preço se mantém inalterado ou aumenta.

 O efeito é uma consequência do aumento do nível geral dos preços dos bens, manifestado por unidade de peso ou volume, causado por inúmeros factores, principalmente a perda do poder aquisitivo da moeda e a queda do poder de compra dos consumidores e/ou do aumento do custo dos insumos, cuja resposta da oferta é a redução do peso ou tamanho dos bens transacionados.

A reduflação concebe-se, portanto, como uma forma de adaptação da oferta à pressão inflacionária, e surge para evitar uma perturbação na dinâmica de transferências para o mercado, ante a concorrência. Por causa e efeito, apresenta-se destarte como uma forma encapotada de inflação".

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

O VELHO CAVALO, A FALTA DE ESCOLA E O FUTURO DE CADA UM

 

           Saber e Saberes: O cavalo e o burro / Fábula de Monteiro Lobato                     

 

 Conheça os cavalos que mais viveram no mundo e outras curisidades —  CompreRural

                                                                                           

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                                                        O VELHO CAVALO                                                        

   Sertão do Ceará, 1915 .

1915, um almocreve de meia idade negociava nos cafundós e nos grotões da esturricada Serra do Araripe, divisa do Ceará com Pernambuco. Possuia uma parelha de animais, um belo equino, bom de marcha e um musculoso muar, bom de carga.  Longas eram as distâncias e belos os lugares percorridos na lida diária, o muar para as cargas, o equino para os passeios.

Junto ao patrão, o garboso cavalo sempre nas festas, nos namoros, nas comemorações e nas grandes corridas, era com orgulho que o belo animal desfilava naqueles sertões. Bem tratado, bem alimentado, bom capim, boa alfafa, excelente milho e tortas de caroços de algodão, era vida de rei.

Impecáveis arreios e vistosos ornamentos, manta vermelha, sela macia, peitoral ornado com estrela de metal, rédeas e alforjes de couro  de carneiro, rabicho trançado com fio de seda, boqueira e estribos de pura prata, polidos, encerados e bem conservados, vivia época de glórias.

Orgulhava-se quando nas paragens recebia preços e apreços, recebia avaliação, elogios e jamais o cavaleiro pendia para negociação. Era um animal faceiro, elegante, orgulhoso e cheio de brios, na sua garupa as mais belas donzelas e as mais macias das nádegas, era motivo de festas onde chegava com os seus passos, galopes e trotes numa demonstração de força e virilidade, qualidades estas que lhe credenciavam a cruzar semanalmente com uma bela égua ou uma formosa e elegante asinina, assim era o pomposo e pabo cavalo, cheio de garbo.

O muar, coitado, a subir ladeiras e a cortar caminhos, dois a três sacos na pesada cangalha pregada no lombo, cabresto de cordas de croá, rabicho de agave e duas puídas viseiras de couro cru em cada lado da cabeça obstruindo, tapando, abortando, escurecendo e a impedir a visão lateral, no pescoço um pesado chocalho para a sua identificação.

Nos fins de semana, durante o dia, quatro cambitos para o carregamento de lenha e feixes de canas, à noite dois caçuás para o transporte de frutas, garrafas e diversas mercadorias no seu lugarejo.

Como pastagem capim seco, algumas relvas, palhas de milhos encontradas nos arredores e nos monturos das casas. Não sabia se vivia para comer e trabalhar ou só teria comida se trabalhasse.

Longas eram as conversas entre os dois animais, o muar piado nas duas patas direitas, triste e a lamentar, porém conformado por lhes sobrar a vida para o trabalho; o outro, solto pelos terreiros, falante, garboso e risonho; ambos confabulavam sobre as suas vidas, as injustiças e quão ingrata era a vida para um deles, a diferença era exorbitante, era de fazer pena e foi assim durante muitos anos, um sempre sorrindo e a gargalhar, o outro... o outro só Deus para socorrer.

Como o tempo é o pai, o aconselhador e o diluidor dos sofrimentos, e a esperança a mãe de todos os animais, uma década se passou, os dois viventes sempre a dialogar.

Com a falta das chuvas, foram escasseando as vendas e aumentando as despesas, motivo mais do que suficiente para o almocreve diminuir os momentos de festas e de alegrias. Primeiro se desfez dos belos arreios, diminuiu a compra de alimentos especiais e como necessitava aumentar o volume das cargas passou a utilizar os dois animais na lida diária, os passeios recreativos do equino passaram a ser coisas do passado.

O belo e orgulhoso equino passou a andar na vala comum, lado a lado com o muar, a garbosa sela foi substituída por uma cangalha, um saco de cada lado e o dono escanchado no meio. Desta vez contando os passos, pulando grotas, subindo e descendo ladeiras; na ida produtos da lavoura, na volta especiarias para abastecer as bodegas da região: querosene, peixes salgados, açúcar, café e outros mantimentos, com o novo ofício desapareceram as belas éguas, as formosas asininas e os saborosos manjares. O equino passou a sobreviver nos grotões e nos monturos do esturricado sertão.

O muar continuou a sua batalha, agora como coadjuvante, apenas como complemento de cargas. Quando o produto era pouco ficava a pastar, a perambular pelas capoeiras à procura de uma relva mais hidratada, vivia a pensar na sua atual e inútil vida. Costas batidas, boca mucha, dentes falhos, amarelados, desgastados e com raias escuras. Bicheiras no lombo, espinhaço pelado, cascos rachados e juntas calcificadas, sobrevivia a perambular caatinga adentro. Como era do trabalho, se sentia um inútil. Intediado mergulhou no mundo da tristeza.

O velho equino fazia a vez do muar nas feiras livres dos vilarejos serranos. Dois sacos, o dono escanchado no meio da cangalha e o filho na garupa, subia e descia os penhascos do Araripe, já não possuía belas boqueiras de prata.

O rabicho de seda fora substituída por um de cordas a cortar a borda anal. As cilhas, agora de couro cru, com suas grosseiras fivelas a lhes causar mossas na barriga e a traumatizar os bagos aposentados, a força era agora a sua maior virtude, força para não sofrer com as pontiagudas esporas que tangenciavam os órgãos genitais, muitas vezes ferindo-os quando desacertava os passos, fruto dos janeiros acumulados e da  perda da massa muscular.

A vida endureceu para o faceiro e garboso animal, trouxe à memória os momentos de bonança ao lado do zeloso patrão nos tempos das vacas gordas, das chuvas, das farturas e dos grandes bailes. Olhava para os lados e não mais enxergava os pomares verdejantes do caminho, pois os tapa olhos laterais do muar, agora encontravam-se na sua cabeça, vedando os seus olhos, limitando a visão .

O velho cavalo não mais participava dos acontecimentos e nem das quermeces, passou a ser um animal de cargas, puramente para comer e para o trabalho, não tinha direito a pensar. Seguia a dura e pétrea regra, obediência sem contestação, vivia silente aos puxavancos do puído cabresto que lhe cortava as moídas narinas, do rabicho que magoava o tronco da calda e a borda anal, das cilhas que feriam a barriga, as virilhas e machucavam os inúteis bagos, o animal vivenciava a mais espúria entidade criada pelo dominador, o mais baixo golpe sofrido por um ser vivo, obedecer sem contestar, vivia a mais degradante forma de vida, a escravidão.

Os três foram minguando. O esquálido muar sem trabalho,  esquecido, menosprezado, deprimido e abandonado foi requisitado pelos asiáticos para a produção de  charque. O faceiro equino, agora não mais belo, sem a força da juventude, com a estima em baixa caiu no ostracismo. Calda imóvel a proteger o fim dos intestinos, esfíncter este que sofria compressões musculares periódicas ao menor grito. Relinchos abafados, olhos sempre para o chão, dentes desgastados, puídos e rentes às gengivas, musculatura minguada, pele áspera e pelos ressecados. Sem força, sem brio e sem pernas foi substituído por sangue novo, mergulhou na solidão. Não mais requisitados ao trabalho se embrenhou nos carrascos e nunca mais soube do seu paradeiro, sumiu.

O cavaleiro em crise e em desacerto envelheceu. Sem os seus amigos e provedores animais, com a chegada do progresso, dos bulidos das motocicletas e dos motores mergulhou no esquecimento e na solidão da vida.

Os dias ficaram mais longos, a falta de afazeres lhe consumiram os brios e a cidadania, caiu no esquecimento. De resto, com o exodo e à procura da sobrevivencia, os deseducados filhos, os sofridos netos e os demais descendentes migraram para as  cidades  a fim  de alimentar, como lenhas verdes,  as grandes metrópoles, ora na construção civil, ora na desconstrução da cidadania e ora a forjar uma nação servil,  sem rumo, sem prumo e sem paradeiro. 
 
Em terras estranhas batalham, lutam e sobrevivem, muitos mergulham nos mares dos desvios de condutas.  
 
                       Salvador, Ba 18 de março de 2010

Iderval Reginaldo Tenório 
 

Belchior - Populus - YouTube

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YouTube · Alfredo Pessoa · 2 de out. de 2010
 
 
 

 

 

O VELHO CAVALO , A FALTA DE ESCOLA E O FUTURO DE CADA UM.

 

 

                                            Mangalarga mineiro registrado em Holambra | Clasf animais                                                                   

 

Как ослик учился уважать старших - Михаил Пляцковский

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                         A guerrilheira Rousseff e os antolhos de Juan Arias | Ficha Corrida                                                                   

                                                                 O VELHO CAVALO                                                           

                                                                        Sertão do Ceará, 1915 .


1915, um almocreve de meia idade negociava nos cafundós e nos grotões da esturricada Serra do Araripe, divisa do Ceará com Pernambuco. Possuia uma parelha de animais, um belo equino, bom de marcha e um musculoso muar, bom de carga.  Longas eram as distâncias e belos os lugares percorridos na lida diária, o muar para as cargas, o equino para os passeios.

Junto ao patrão, o garboso cavalo sempre nas festas, nos namoros, nas comemorações e nas grandes corridas, era com orgulho que o belo animal desfilava naqueles sertões. Bem tratado, bem alimentado, bom capim, boa alfafa, excelente milho e tortas de caroços de algodão, era vida de rei.

Impecáveis arreios e vistosos ornamentos, manta vermelha, sela macia, peitoral ornado com estrela de metal, rédeas e alforjes de couro  de carneiro, rabicho trançado com fio de seda, boqueira e estribos de pura prata, polidos, encerados e bem conservados, vivia época de glórias.

Orgulhava-se quando nas paragens recebia preços e apreços, recebia avaliação, elogios e jamais o cavaleiro pendia para negociação. Era um animal faceiro, elegante, orgulhoso e cheio de brios, na sua garupa as mais belas donzelas e as mais macias das nádegas, era motivo de festas onde chegava com os seus passos, galopes e trotes numa demonstração de força e virilidade, qualidades estas que lhe credenciavam a cruzar semanalmente com uma bela égua ou uma formosa e elegante asinina, assim era o pomposo e pabo cavalo, cheio de garbo.

O muar, coitado, a subir ladeiras e a cortar caminhos, dois a três sacos na pesada cangalha pregada no lombo, cabresto de cordas de croá, rabicho de agave e duas puídas viseiras de couro cru em cada lado da cabeça obstruindo, tapando, abortando, escurecendo e a impedir a visão lateral, no pescoço um pesado chocalho para a sua identificação.

Nos fins de semana, durante o dia, quatro cambitos para o carregamento de lenha e feixes de canas, à noite dois caçuás para o transporte de frutas, garrafas e diversas mercadorias no seu lugarejo.

Como pastagem capim seco, algumas relvas, palhas de milhos encontradas nos arredores e nos monturos das casas. Não sabia se vivia para comer e trabalhar ou só teria comida se trabalhasse.

Longas eram as conversas entre os dois animais, o muar piado nas duas patas direitas, triste e a lamentar, porém conformado por lhes sobrar a vida para o trabalho; o outro, solto pelos terreiros, falante, garboso e risonho; ambos confabulavam sobre as suas vidas, as injustiças e quão ingrata era a vida para um deles, a diferença era exorbitante, era de fazer pena e foi assim durante muitos anos, um sempre sorrindo e a gargalhar, o outro... o outro só Deus para socorrer.

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O belo e orgulhoso equino passou a andar na vala comum, lado a lado com o muar, a garbosa sela foi substituída por uma cangalha, um saco de cada lado e o dono escanchado no meio. Desta vez contando os passos, pulando grotas, subindo e descendo ladeiras; na ida produtos da lavoura, na volta especiarias para abastecer as bodegas da região: querosene, peixes salgados, açúcar, café e outros mantimentos, com o novo ofício desapareceram as belas éguas, as formosas asininas e os saborosos manjares. O equino passou a sobreviver nos grotões e nos monturos do esturricado sertão.

O muar continuou a sua batalha, agora como coadjuvante, apenas como complemento de cargas. Quando o produto era pouco ficava a pastar, a perambular pelas capoeiras à procura de uma relva mais hidratada, vivia a pensar na sua atual e inútil vida. Costas batidas, boca mucha, dentes falhos, amarelados, desgastados e com raias escuras. Bicheiras no lombo, espinhaço pelado, cascos rachados e juntas calcificadas, sobrevivia a perambular caatinga adentro. Como era do trabalho, se sentia um inútil. Intediado mergulhou no mundo da tristeza.

O velho equino fazia a vez do muar nas feiras livres dos vilarejos serranos. Dois sacos, o dono escanchado no meio da cangalha e o filho na garupa, subia e descia os penhascos do Araripe, já não possuía belas boqueiras de prata.

O rabicho de seda fora substituída por um de cordas a cortar a borda anal. As cilhas, agora de couro cru, com suas grosseiras fivelas a lhes causar mossas na barriga e a traumatizar os bagos aposentados, a força era agora a sua maior virtude, força para não sofrer com as pontiagudas esporas que tangenciavam os órgãos genitais, muitas vezes ferindo-os quando desacertava os passos, fruto dos janeiros acumulados e da  perda da massa muscular.

A vida endureceu para o faceiro e garboso animal, trouxe à memória os momentos de bonança ao lado do zeloso patrão nos tempos das vacas gordas, das chuvas, das farturas e dos grandes bailes. Olhava para os lados e não mais enxergava os pomares verdejantes do caminho, pois os tapa olhos laterais do muar, agora encontravam-se na sua cabeça, vedando os seus olhos, limitando a visão .

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Os três foram minguando. O esquálido muar sem trabalho,  esquecido, menosprezado, deprimido e abandonado foi requisitado pelos asiáticos para a produção de  charque. O faceiro equino, agora não mais belo, sem a força da juventude, com a estima em baixa caiu no ostracismo. Calda imóvel a proteger o fim dos intestinos, esfíncter este que sofria compressões musculares periódicas ao menor grito. Relinchos abafados, olhos sempre para o chão, dentes desgastados, puídos e rentes às gengivas, musculatura minguada, pele áspera e pelos ressecados. Sem força, sem brio e sem pernas foi substituído por sangue novo, mergulhou na solidão. Não mais requisitados ao trabalho se embrenhou nos carrascos e nunca mais soube do seu paradeiro, sumiu.

O cavaleiro em crise e em desacerto envelheceu. Sem os seus amigos e provedores animais, com a chegada do progresso, dos bulidos das motocicletas e dos motores mergulhou no esquecimento e na solidão da vida.

Os dias ficaram mais longos, a falta de afazeres lhe consumiram os brios e a cidadania, caiu no esquecimento. De resto, com o exodo e à procura da sobrevivencia, os deseducados filhos, os sofridos netos e os demais descendentes migraram para as  cidades  a fim  de alimentar, como lenhas verdes,  as grandes metrópoles, ora na construção civil, ora na desconstrução da cidadania e ora a forjar uma nação servil,  sem rumo, sem prumo e sem paradeiro. 
 
Em terras estranhas batalham, lutam e sobrevivem, muitos mergulham nos mares dos desvios de condutas.  
 
                       Salvador, Ba 18 de março de 2010

Iderval Reginaldo Tenório