Conheça a história de Santo Amaro da Purificação, a epidemia de Cólera na Bahia e na cidade do reconcavo Santo Amaro da Purificação. Conheça a história do Médico Dr CIPRIANO BARBOZA BETÂMIO, uma das vítimas da epidemia .
O brasileiro precisa saber deste episódio que ceifou muitas vidas da cidade.
20 de Agosto de 2023
Iderval Reginaldo Tenório
CIPRIANO BARBOZA BETÂMIO (CIPRIANO BETÂMIO)
CIPRIANO BARBOZA BETÂMIO
(CIPRIANO BETÂMIO)
CÓLERA MÓRBUS
Nasceu em Salvador, em 3 de março de 1818, sendo seus pais Jerônimo Barbosa e Cristódia Maria Pires.
Aos vinte e três de idade, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual foi diplomado em 1847.
Exercendo a clínica como modesto profissional, e dirigiu um pequeno colégio, até 1855.
Em agosto daquele ano, irrompeu no Brasil, grave epidemia de cólera morbus, a qual alastrou-se rapidamente por quase todas as províncias do país.
Na Bahia, a situação mais grave era a de Santo Amaro da Purificação. “Serpenteando a capital, zigzagueando pelo sertão, pelo Recôncavo, pelo interior, a epidemia em pouco se alastrou, de modo a tornar temerosos todos os ânimos, todas as almas aflitas” (Sá).
O governo tomou as providências cabíveis, mas a terrível doença, em meados de agosto, ameaçava de extinção Santo Amaro e redondezas.
O pânico dominou todos os habitantes. Os médicos negaram seus serviços, as autoridades desertaram seus postos, os escravos fugiram apavorados, os engenhos de açúcar fecharam suas portas, os maridos largaram as mulheres, os pais abandonaram os filhos e os cadáveres, às centenas, ficaram amontoados nas ruas.
Ao tomar saber do sofrimento daquele povo preso ao pavor coletivo, apresentou-se espontaneamente ao presidente da província, para prestar seus serviços profissionais, o Dr. Cipriano Betâmio, médico que não exercia nenhuma função pública.
Ao comparecer diante do presidente, disse :
“Senhor Presidente, fique certo que vou trabalhar sem descanso, vou tomar a dianteira dos trabalhos mais arriscados; não me lembrarei de minha vida, nado exijo em recompensa de meus sacrifícios, se o puder vencer, mas se sucumbir, V. Exa. e o governo olhem para meus filhos” (Ibidem).
Nomeado, seguiu Betâmio a 29 de agosto para Santo Amaro, acompanhado de dois colegas.
Ao despedir-se de sua esposa e filhos, Cipriano, exclamou, emocionado: “Felismina, até a volta, se não for torta !”
No dia seguinte à sua chegada, tomou a jurisdição policial da cidade e, com apenas três escravos, iniciou a exumação de, aproximadamente, trezentos cadáveres, amontoados nas ruas da cidade.
A luta contra a cólera continuou renhida, do amanhecer ao por do sol. Os recursos eram exaustos; a higiene, precária; a água, quase não existia; os mortos, incontáveis; comércio, fechado; a cidade, despovoada.
Afinal, depois de uma semana de luta terrível, faleceu em Santo Amaro, às quatro e meia da tarde de 5 de setembro de 1855, Cipriano Barboza Betâmio.
Cumprida a sua colheita, a cólera havia ceifado mais de quarenta mil baianos, dos quais cinco mil, em Santo Amaro!
O Imperador, concedeu, para a viúva e filhos, uma pensão anual de um conto e seiscentos mil reis.
Indaga o Dr. Irabussu Rocha: “Não será Cipriano Betâmio digno de ser considerado o exemplo, o paradigma, o herói, o primeiro dos sanitaristas brasileiros?” ( 2 )
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
1. Novaes, Menandro – Cipriano Barbosa Betâmio. A Purificação de um Apóstolo, Mártir e Herói. Anais da Academia de Medicina da Bahia, Volume III, junho de 1981.
2. Rocha, Irabussu – Disponível em http://www.google.com.br/search?h l=pt- BR&lr=lang_pt&q=cipriano+barboza+betamio&start=0&sa=N.
Acesso em 24 de janeiro de 2009.
3. Sá Menezes, Jayme – Na Senda da História e das Letras. Salador, 1994
História – Santo Amaro (BA)
A atual cidade de Santo Amaro, na Bahia, surgiu em 1557 e cresceu à margem do Rio Taripe, nas proximidades do mar. Ali viveram os primeiros colonizadores portugueses, entre eles o major João Ferreira de Araújo e membros da família Dias Adorno. Anos mais tarde, os jesuítas do Colégio de Santo Antão de Lisboa se fixaram à margem do rio Traripe e fundaram uma capela, sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário. Ao redor da capela e nas terras vizinhas cresceu o povoado.
Antes de firmarem o seu domínio na região, os colonizadores travaram sucessivas batalhas com os índios Tupinambá, antigos habitantes das margens dos rios Sergi-Mirim e Subaé. Apesar dos conflitos ocorridos no início da ocupação desse território, mais tarde, os Tupinambá colaboraram e participaram do estabelecimento da povoação de Nossa Senhora da Purificação e Santo Amaro. Esses índios - segundo o estudo Povos Indígenas no Sul da Bahia (Museu do Índio/Funai – 2002) -, habitavam a região que abrange os atuais municípios acima de Salvador, as terras ao redor da Baía de Todos os Santos e uma grande área do atual Estado da Bahia.
Os engenhos do Recôncavo Baiano - A economia do município esteve vinculada - entre o século XVI e as primeiras décadas do século XX - à cultura da cana-de-açúcar: em 1757 existiam 61 engenhos funcionando na região. Durante o século XVII, intensificou-se a colonização, com a criação de sesmarias (lotes de terra que a Coroa Portuguesa cedia a um sesmeiro/agricultor). A região se transformou em uma grande produtora de cana, fumo e mandioca, com o surgimento de engenhos e casas de farinha.
No século XIX, duas vias terrestres que interligavam o Brasil e atravessavam os sertões, pelo Maranhão e Minas Gerais, tinham a vila de Santo Amaro como entroncamento. Isto possibilitou que o local funcionasse como um importante entreposto comercial e principal porto açucareiro do Recôncavo Baiano. Além a importância econômica, oriunda dos engenhos de cana-de-açúcar, a população local e seus governantes participaram ativamente da vida política do Brasil (Revolução dos Alfaiates, Sabinada, Guerra do Paraguai e Independência do Brasil) organizando batalhões, fornecendo soldados e suprimentos. Em 1837, a vila foi elevada à categoria de cidade com o nome Leal Cidade de Santo Amaro.
A navegação a vapor regular, entre Santo Amaro e Salvador, começou a ser feita em 1847. O aumento das viagens e do fluxo de visitantes trouxe, também, uma epidemia de cólera que dizimou mais de metade de sua população, em 1855. No século XX, foram implantadas novas culturas (dendê, cacau e bambu) e instaladas indústrias metalúrgicas, açucareiras, papeleiras e de óleos vegetais, entretanto essas atividades não se consolidaram. Atualmente, uma das principais fontes de renda do município é o turismo.
SAIBA O QUE GEOGRAFICAMENTE É COMPOSTA A REGIÃO DO RECÔNCAVO DA BAHIA
Geograficamente, o Recôncavo Baiano inclui a Região Metropolitana de Salvador, onde está a capital do estado da Bahia, Salvador, e outras cidades circundantes à Baía de Todos-os-Santos, entre elas, as de maior representatividade histórica e econômica são: Santo Antônio de Jesus, Santo Amaro, Amargosa, Nazaré, Salinas da Margarida, Cachoeira, Jaguaripe,[1] São Félix, Castro Alves, Maragojipe e Cruz das Almas.[2] Entretanto, o termo Recôncavo é constantemente utilizado para referir-se às cidades próximas à Baía de Todos-os-Santos, limitando-se ao interior, ou seja, excetuando-se a capital do estado, Salvador, no limite norte.