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João Roberto Marinho pediu encontro com os senadores do PT, na última quarta-feira
Dos 13, nove aceitaram.
(entrevista publicada no portal Viomundo)
Durou quase duas horas. Ele abriu, dizendo-se muito preocupado com as “maluquices” de Eduardo Cunha na Câmara, que não comprometem apenas o próximo
governo, mas o futuro do País; afirmou, ainda, que o que ele defende é que Dilma seja sucedida por quem ganhar as eleições de 2018, ou seja, impeachment, não.
Recados que foram dados a ele:
1) não mexam com Lula, pois o Brasil pode pegar fogo e eles não vão ser bombeiros; na mesma
direção, não temos controle sobre nossa base social e é imprevisível a reação que se virá ante uma hipotética prisão de Lula.
Disse ainda que, realmente, a cumplicidade entre jornalistas e procuradores de Curitiba, hoje, representa um fator de instabilidade, mas jogou a culpa no PT, “que deu início a essa parceria”. Ao final,
pediu para o governo controlar sua base na Câmara.
A
iniciativa partiu dele. O convite foi feito ao líder do PT no Senado, senador Humberto Costa (PT-PE), que o estendeu aos demais colegas. Dos 13 senadores da bancada petista, a maioria participou.
Viomundo – Que motivo João Roberto Marinho alegou para pedir essa conversa com o senhor?
Humberto Costa – Havia uma homenagem à Rede Globo em Brasília e, pelo que eu entendi , ele aproveitou para ter algumas conversas. Não sei se chegou a ter reunião com outras bancadas, mas certamente tinha reuniões marcadas com alguns ministros. Uma delas era com o ministro Ricardo Berzoini [das Comunicações], que acabou não acontecendo, porque a nossa conversa demorou muito.
Ele foi na linha de querer ouvir o que a gente tinha a dizer sobre esse momento político.
Na verdade, não era um convite só para mim. Era um convite para quem eu achasse que valesse a pena participar dessa conversa. Como a nossa bancada é pequena, eu convidei todo mundo. Ninguém se recusou, não. Alguns não puderam participar, porque já tinham outros compromissos agendados naquele horário.
Viomundo – O que ele conversou com os senhores? O que saiu no Diário do Centro do Mundo procede?
Humberto Costa — Mais ou menos. Algumas coisas que estão ditas têm alguma procedência. Outras, não.
Ele falou apenas que tinha interesse em ouvir a bancada do PT sobre o momento político que nós estamos vivendo, especialmente no que diz respeito à instabilidade política.
Ele queria saber a nossa opinião. Ele não falou de “maluquices” do Eduardo Cunha, não. Ele falou da preocupação com algumas decisões que estavam sendo tomadas no Congresso, que iam na contramão do ajuste e estavam produzindo inseguranças.
Então, foi um pouco por aí. Foi uma conversa cordial.
Nós, da bancada, colocamos a nossa preocupação com a questão do impeachment da presidenta Dilma. Ele disse que a posição dele e da empresa não é de defender o impeachment da presidenta Dilma. Disse que considerava que não havia elementos que justificassem uma coisa como essa, mas que o governo precisava garantir a governabilidade. Falou ainda que ele estava muito preocupado com a governabilidade e queria saber de que maneira a gente estava imaginando que isso [a governabilidade] acontecesse.
Viomundo – O que os senhores disseram a ele?
Humberto Costa – Várias dessas coisas que estão ditas [no artigo do DCM], foram faladas por nós, principalmente essa questão do impeachment da presidenta Dilma.
Alguns senadores falaram que a Globo não fazia uma cobertura isenta. Ele negou.
Ele disse, de certa forma, até “ou a gente está errando” ou “vocês estão percebendo errado”.
Não foi uma coisa de ele admitir: “olha, nós estamos errados”. Ele passou a ideia de que era um problema de interpretação da nossa parte e da dele também.
Ele disse: “Olha, nós vamos inclusive conversar com o nosso conselho editorial … Se está passando isso [cobertura não isenta], não é o que nós queremos. Foi o que ele disse”.
Viomundo – E a questão do ex-presidente Lula como foi colocada?
Humberto Costa — Nós colocamos para ele o seguinte. Para quem está preocupado com a estabilidade política, o impeachment da presidenta Dilma não é a saída. Podem inventar uma razão qualquer que não seja historicamente defensável, que não tenha uma base que se sustente… Pode até, no primeiro momento após a saída, você ter um quadro de perplexidade na base social de esquerda do governo.
Mas não leva 30 dias para que a instabilidade seja instalada, seja quem for o presidente –Temer, Eduardo Cunha…
Quanto a uma nova eleição, além de não ter uma base constitucional para poder se realizar, também tem esse outro componente aí de instabilidade.
Nós colocamos: o pior de tudo é, além de derrubar o governo, destruir o único interlocutor político que num momento de crise aguda tem legitimidade para se sentar a uma mesa e participar de um acordo, poder falar para milhões de pessoas… Então, era um erro que alguém pretendesse, além de derrubar a presidente Dilma, destruir a liderança de Lula. Foi um pouco por aí também a nossa conversa.
Viomundo – Senador, a Globo faz campanha diuturna contra a presidenta Dilma, o ex-presidente Lula e o PT. Agora, o senhor João Roberto Marinho procura os senhores, aparece com o discurso de que nem ele nem a Globo defendem o impeachment da presidenta. Ele estaria preocupado com possibilidade de a Globo ficar com a imagem de golpista, como aconteceu em 1964, quando ela apoiou o golpe e apoiou a ditadura civil militar?
Humberto Costa — Eu não sei. O que eu senti foi mais uma preocupação com esse momento de instabilidade política que pode produzir prejuízos do ponto de vista da economia que sejam praticamente irreversíveis. A instabilidade política está alimentando um ambiente de muita incerteza na questão econômica. Enfim, é isso.
Viomundo — Senador, uma última pergunta…
Humberto Costa — Eu estou superocupado…
Viomundo — Só mais uma, senador. Por gentileza, que colegas seus que não participaram da conversa?
Humberto Costa — Eu não me lembro, não. Alguns entraram e saíram… Eu não me lembro, não.
Segundo o Diário do Centro do Mundo do Mundo, dos 13 senadores da bancada petista, quatro não estiveram presentes à conversa. Até a publicação desta matéria, só tínhamos conseguido confirmar um dos nomes: senadora Fátima Bezerra (PT-RN).