A PANDEMIA VIROU A CASACA DA CASERNA
Desde menino, nos confins deste país continental, a população tinha a polícia como uma instituição protetora dos homens de bem .
Ser dos seus quadros era motivo de orgulho para o policial, sua família, seus amigos e todos os seus conhecidos, enquanto mais alto fosse o posto ocupado, maior era o orgulho, o policial era um herói, tanto que ao perguntar a uma criança daquela época, rara era a que não queria ser policial quando crescesse.
Naquela época as penitenciárias das pequenas e médias cidades ficavam vazias e muitas vezes eram preenchidas por bebuns, pequenos furtos caseiros , por cidadãos que abusavam da cachaça , por jovens que entravam em brigas e até por cidadãos com distúrbios psíquicos, hoje consideradas distúrbios de comportamento e passíveis de diálogos, não deveriam ser presos.
A maior vergonha que um cidadão passava era ter a sua cabeça raspada com máquina zero, só este ato o afastava do convívio social por maias de 90 dias, tempo suficiente para o cabelo crescer e a sua prisão cair no esquecimento, grande era o constrangimento da família e dos seus amigos.
Era o policial o guardião do cidadão de bem, era orientado a prender os baderneiros, os desonestos, os bebuns arruaceiros e para orientar os demais , era um cidadão apaziguador.
Nesta PANDEMIA a coisa mudou, a orientação mudou de foco, policial passou a fazer tudo contra a sua formação acadêmica, passou a executar o inverso do que aprendeu.
Como pode um policial bater ou prender um colega de infância, de escola, um antigo professor, um compadre ou uma comadre dos seus pais, um vizinho , um comerciante formal ou informal ou qualquer um cidadão de bem? é confuso para a sua cabeça.
É estranha esta mudança de comportamento, o que leva a entender que o humano deixou de ser humano e passou a ser apenas uma coisa, um insignificante.
É impressionante a obediência cega, sem contestação e linear das ordens emanadas dos superiores para toda a cadeia hierarquicamente abaixo, é estranho. Mesmo que as ordens sejam para atuar duro e sem piedade no pai, no irmão, no amigo, no padre, no professor ou em qualquer cidadão são cumpridas ao pé da letra, parece até que o Praça tem que perder o seu eu para ser um componente da guarnição, apenas executa.
Existe algo de estranho neste comportamento, merece reflexão, uma vez que o policial existe para proteger o cidadão contra os que possuem comportamentos perigosos e prejudiciais ao convívio social.
É bom lembrar e relembrar que é de bom alvitre o dialogo, é o entendimento o melhor modus de apaziguamento e para colocar as coisas nos seus devidos lugares .
Existe algo de estranho em todos os escalões da pacificadora Policia Militar, do comandante mor aos mais simples dos Praças.
Manter a ordem não é pregar o medo, o ódio, o desrespeito, o pânico e promover agressões morais e físicas aos seus verdadeiros patrões , o povo, este contribuinte que paga os seus soldos, à reflexão.
Existe algo de estranho, está muito estranho.
Urge diálogo
Iderval Reginaldo Tenório
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