quinta-feira, 19 de maio de 2011

RETOCOLITE ULCERATIVA


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Retocolite Ulcerativa

Autores: Gustavo Carneiro Gomes Leal1, Dra. Genoile Oliveira Santana2
1-Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Medicina
2-Médica Gastroenterologista e Professora da Universidade Federal da Bahia

O que é? Qual a causa?
A retocolite ulcerativa (RCU) é uma doença que atinge o intestino grosso (cólon) e reto dos pacientes e compõe, junto com a doença de Crohn, um grupo de doenças do intestino chamado de doença inflamatória intestinal.
A RCU acontece devido a um processo inflamatório de causa desconhecida na parede interna do intestino grosso e reto. Ou seja, por algum motivo que ainda não se conhece bem, as células de defesa da pessoa começam a “atacar” o intestino, causando as lesões típicas da doença, que podem variar de lesões leves a úlceras, porém sempre se mantendo na superfície interna do intestino, sem atravessar a parede.
A extensão do intestino grosso atingida pela doença varia de paciente para paciente. A extensão do acometimento é descrita por termos médicos cujo significado é interessante conhecer:
  • Proctite se refere à doença restrita ao reto
  • Proctossigmoidite ou colite distal quando se estende até a metade do cólon sigmóide (esquerdo).
  • Colite esquerda quando já chegou até à flexura esplênica (dobra do intestino grosso à esquerda, que separa o cólon ascendente do transverso).
  • Colite extensa ou pancolite é usada para o acometimento além da flexura esplênica, podendo ou não atingir o ceco (início do intestino grosso).

A quem atinge?
Quanto à idade, a RCU acomete mais indivíduos entre os 15 e 25 anos, mas também pode ter uma frequência mais elevada entre os 55 aos 65 anos. Também pode ocorrer na infância, embora seja incomum. Quanto ao sexo, a ocorrência de RCU varia, embora pareça ser mais comum entre as mulheres.
O principal fator de risco para RCU conhecido é a presença de outros casos na família, porém outros possíveis fatores podem incluir: dieta pobre em fibras, viver em zona urbana, uso de antiinflamatórios ou anticoncepcionais e infecções intestinais prévias.
A doença inflamatória intestinal é uma enfermidade típica de países industrializados, indicando que existem fatores ambientais interferindo no desenvolvimento da doença, porém ainda não são completamente conhecidos. O Brasil é considerado um país de baixa frequência, porém esse cenário vem mudando nos últimos anos.

Quais os sintomas?
Os sintomas da RCU podem variar de acordo com os locais do intestino mais atingidos, quanto menor a extensão atingida, mais leves serão os sintomas, embora diarréia e sangue nas fezes estejam presentes na maioria das apresentações. A doença normalmente se apresenta com a ocorrência de “crises” dos sintomas, intercalados por períodos assintomáticos de duração variável.
Na doença limitada ao reto e à parte mais distante do intestino grosso, o sangue geralmente vem em volta das fezes (e não misturado a elas), que contêm também muco. É comum também a presença de cólicas abdominais e tenesmo (uma necessidade urgente de defecar, com dor intensa na região do ânus, obrigando o paciente a defecar várias vezes ao dia, com pequena quantidade de fezes). Nesse caso a diarréia não é muito intensa e pode haver alguns períodos de “prisão de ventre” intercalados.
À medida que a doença atinge uma área maior do intestino, a diarréia se torna mais intensa e aumenta a quantidade de sangue nas fezes (que passa a vir misturado) podendo causar anemia. É possível também aparecer febre leve.
Quando todo ou quase todo o intestino grosso está acometido, a doença pode se apresentar de uma forma bastante grave, com diarréia muito intensa (mais de 10 vezes ao dia), forte dor abdominal, febre alta e sangramento intestinal grave. Pessoas com esse quadro podem precisar de transfusão sanguínea e podem estar desnutridas. Nesse caso, geralmente a pessoa também apresenta cansaço e fraqueza generalizada. Quando essa forma grave aparece de forma súbita ou como a primeiro crise pode ser chamada de colite fulminante.

Quais os riscos e complicações?
A retocolite ulcerativa pode causar tanto complicações intestinais, quanto extra-intestinais. As complicações locais (intestinais) incluem a hemorragia intestinal severa e a formação de estenoses (estreitamentos), podendo levar à obstrução intestinal. As mais temíveis complicações locais são o megacólon tóxico e a progressão para câncer. O primeiro se refere a uma dilatação súbita do cólon que pode ter alta mortalidade, principalmente quando há também perfuração do intestino. A existência de RCU grave e de longa duranção (mais de 7 anos) aumenta as chances de desenvolvimento de câncer de cólon (adenocarcinoma colorretal). Para detecção precoce do câncer se recomenda a realização periódica de colonoscopia a intervalos que podem variar caso a caso.
As complicações fora do intestino são as mais variadas e incluem inflamação de estruturas dos olhos (uveíte e episclerite), artrite de grandes articulações como o quadril, enrijecimento da coluna (espondilite anquilosante), acometimento do fígado e vias biliares (colangite esclerosante), lesões de pele (manchas avermelhadas, feridas ou nódulos), trombose de veias, dentre muitas outras, como acometimento de rins e pulmões.

Como é feito o diagnóstico?
O médico pode suspeitar da doença conhecendo os sintomas e a história de vida e familiar do paciente, porém, como outras doenças como Crohn e infecções do intestino podem se apresentar de forma semelhante, para confirmar a suspeita e para avaliar o grau de acometimento intestinal geralmente é realizado uma endoscopia do intestino grosso, que pode ser uma colonoscopia (que observa todo o intestino grosso) ou uma retossigmoidoscopia (que visualiza o reto e a parte inicial do cólon), durante o exame podem ser colhidas biópsias para melhorar a avaliação.
Além do exame de imagem, geralmente são colhidos exames de sangue rotineiros e exames de fezes. Em caso de dúvidas, outros exames de sangue como sorologias e de imagem como enemas e ultrassonografia podem ser pedidos.

Como é o tratamento?
A escolha do tratamento da retocolite ulcerativa depende principalmente da gravidade e da extensão da doença, além da presença ou não de complicações. O objetivo do tratamento na doença não complicada é atingir e manter a remissão dos sintomas pelo maior tempo possível, geralmente requerendo remédios de uso prolongado.
Na maioria das vezes o tratamento consiste no uso de medicações que “controlam” a processo de inflamação no intestino. Geralmente são usadas por via oral, porém, nos casos de doença restrita ao reto e cólon sigmóide podem ser usadas por via anal, na forma de supositórios ou enemas, melhorando a eficácia. Tem se conseguido bons resultados com as medicações, com melhora dos sintomas em poucas semanas e remissão por longos períodos e hoje em dia a maioria das pessoas consegue levar uma vida normal. Outros medicamentos podem ser usados em suporte ao tratamento principal, como medicamentos para tratar ou prevenir anemia.
É importante frisar que os medicamentos para o tratamento da retocolite ulcerativa são fornecidos pelo SUS e para ter acesso a eles basta que o paciente procure um serviço de referência na sua cidade ou estado.
Apresentações graves (com sangramento ou dor abdominal intensos, perda de consciência, queda rápida do estado geral) são raras e devem sempre ser tratadas em emergência hospitalar, visando evitar ou detectar precocemente o aparecimento de complicações. Nunca postergar a procura ao médico no caso de gravidade.

Quando é necessário fazer cirurgia?
O tratamento inicial na RCU é sempre feito inicialmente com medicações, porém em alguns casos a cirurgia se torna necessária. As principais indicações de cirurgia são:
  • Falha do tratamento medicamentoso; quando, apesar de usar as melhores medicações, o paciente não tem melhora ou então tem piora progressiva dos sintomas.
  • Quando só se consegue manter sem sintomas com o uso contínuo de corticóides (que a longo prazo é prejudicial ao organismo)
  • Intolerância aos medicamentos devido aos efeitos colaterais.
  • Aparecimento de complicações intestinais que representem risco de vida para o indivíduo. Dentre essas a principal é a presença de câncer ou lesões pré-cancerosas.
No caso de falha do tratamento não existe um momento exato para se desistir dos remédios e partir para a cirurgia, essa é uma escolha que deve ser tomada pelo paciente junto com o médico.
Existem diversas técnicas de cirurgia no tratamento da RCU, a escolha vai depender do tipo do acometimento, da preferência do paciente e da experiência do cirurgião. Porém todas as técnicas envolvem a retirada do cólon e reto ou de parte deles.
Antigamente a cirurgia quase sempre envolvia a realização de uma ileostomia, onde é feita uma abertura no abdomem por onde o conteúdo intestinal (fezes líquidas) é eliminado dentro de uma bolsa (ileostomia). Porém cada vez mais se vem utilizando técnicas onde se faz uma bolsa com o intestino delgado que é então ligada diretamente ao ânus. Isso permite que a pessoa continue a defecar pelo ânus, apesar de poder ocorrer diarréia e incontinência fecal. Nessa técnica é comum que uma ileostomia seja feita temporariamente.
Apesar da cirurgia parecer uma abordagem muito extremada e agressiva, ela pode realmente eliminar a doença e na maioria das vezes a pessoa tem uma melhora significativa na qualidade de vida.

Que cuidados devo ter durante o tratamento?
É importante lembrar que o tratamento da RCU geralmente é para a vida toda e se a pessoa em tratamento não vem mais tendo sintomas é porque os remédios estão funcionando, então devem ser continuados! Então por melhor que o paciente se sinta, não deve nunca suspender o tratamento sem o conhecimento do seu médico, pois isso pode acarretar retorno dos sintomas e tornar o controle mais difícil. Também não deverá tomar remédios sem o conhecimento médico, já que medicamentos como antiinflamatórios e anti-diarréicos podem piorar os sintomas.
A RCU não impede a mulher de engravidar nem está diretamente associada a problemas na gravidez, porém um acompanhamento mais rigoroso da gestação e maior fidelidade ao tratamento da RCU são recomendados.
A
retocolite ulcerativa é uma doença que altera o funcionamento intestinal, portanto o paciente com RCU deve cuidar para ter uma dieta bastante variada e saudável, algumas vezes o médico pode receitar também um polivitamínico ou outros suplementos alimentares.
Não está ainda comprovado que comidas específicas melhorem ou piorem os sintomas ou o curso da doença, porém alguns paciente se dão melhor ou pior com certos tipos de alimento, variando bastante. O ideal é que a própria pessoa analise e perceba os alimentos que lhe fazem bem ou mal e a partir daí elaborar sua dieta, mas atentando que só deverá eliminar alimentos que repetidamente causem sintomas, e só depois de conversar com um médico ou nutricionista.
Evitar o estresse também pode ser uma boa maneira de atenuar os sintomas da doença e aumentar o período sem sintomas. Por isso evitar fatores estressantes, procurar praticar exercícios físicos regularmente e relaxar sempre que possível são sempre boas dicas. É claro que isso nem sempre é fácil, como em qualquer doença prolongada. Por isso a pessoa nunca deve se envergonhar de procurar ajuda de profissionais, como psicólogos, psiquiatras, ajuda de grupos de pessoas com doenças similares ou mesmo dividir com amigos e familiares as suas preocupações e angústias.
A retocolite ulcerativa pode ser uma doença difícil em alguns casos, mas com um bom acompanhamento médico e de outros profissionais, auxílio da família e amigos e esforço próprio, a maioria das pessoas consegue levar uma vida saudável e agradável

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