quarta-feira, 27 de novembro de 2024

O DOMÍNIO DO HOMEM SOBRE A MULHER

 


 O DOMÍNIO DO HOMEM SOBRE A MULHER

As relações de gênero, raça/etnia, classes e as suas conexões formam um nó e que juntos constituem o alicerce do domínio do homem sobre a mulher. Nó dificil de ser disfeito apesar de  frouxo, exatamente para proprocionar a flexibilidade da situação.  

Estas três propriedade se entralaçam, se embricam e fortalecem-se segundo a Heleieth Saffioti, acrescenta ainda:   

"Reforçado pelo  sistema Patriarcal".

O sistema Patriarcal interfere diretamente nas relações sociais da sociedade, uma vez que domina o setor econômico e o gênero por dupla propriedade:  A exploração de classe e a dominação de genero, induzido e aplicado por centenas de anos, principalmente aqui no Brasil, desde o tempo da colônia. 

Durante séculos, os   meninos eram forjados para serem homem no falar, andar, nas brincadeiras, nas atitudes, para seren chefes e substituírem os pais como as cuminheiras da família, enquanto as mulheres para serem donas de casa, cuidar dos filhos e servirem ao homem. Este era um sistema de dominação, de subserviência e de anulação total como cidadã. Exemplos fidedignos são os coronéis do gado,  do café e da Cana-de-açúcar.

A Heleieth Saffioti, socióloga marxista, professora, estudiosa da violência de gênero e militante feminista brasileira, é uma das teóricas do campo do feminismo que vai na contramão dessa tendência, pois ao mesmo tempo que absorve o conceito de gênero, insiste na utilidade do patriarcado para análise das relações entre homens e mulheres.

"O patriarcado deve ser situado historicamente e pensado como uma forma específica de relações de gênero dentro de um sistema", segundo a autora. 

"Na base do julgamento do conceito como histórico reside a negação da historicidade  do fato social. Isto equivale a afirmar que por trás desta crítica esconde-se a presunção de que todas as sociedades do passado mais próximo e do momento atual comportaram-se/comportam-se a subordinação das mulheres aos homens "(SAFFIOTI, 2015,
p. 111).


Para Saffioti (2015) o conceito de gênero não explicita necessariamente a desigualdade entre homens e mulheres, assim como o patriarcado da forma como foi cunhado, não pressupõe uma relação de exploração. Para a autora estas duas dimensões constituem faces de um mesmo processo de dominação-exploração ou exploração-dominação. Isso porque para Saffioti a dimensão econômica do patriarcado não repousa apenas na desigualdade salarial, ocupacional e na marginalização dos importantes papéis econômicos e políticos, mas inclui o controle da sexualidade e a capacidade reprodutiva das mulheres. Por isso, o abandono do uso do patriarcado é inconcebível e Saffioti argumenta da seguinte forma:


Por que se manter o nome patriarcado?  "Sistematizando e sintetizando o acima exposto, porque: 

1) Não se trata de uma relação privada, mas civil; 

2) Dá direitos sexuais aos homens sobre as mulheres, praticamente sem restrição. 

3) Configura um tipo hierárquico de relação, que invade todos os espaços da sociedade; 

4) Tem uma base material; 

5) Corporifica-se; 

6) Representa uma estrutura de poder baseada tanto na ideologia quanto na violência" (SAFFIOTI, 2015, p. 60). 

 

Heleieth Iara Bongiovani Saffioti

                          (Ibirá, 4 de janeiro de 1934 - 13 de dezembro de 2010)

Nasceu no dia quatro de janeiro de 1934 em uma família humilde em Ibirá, na região de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Sua mãe era costureira e seu pai marceneiro. Sua família morava na zona rural, onde à época não havia acesso à escola, fato que a fez, desde cedo, morar longe de seus pais para que pudesse estudar. Primeiramente foi alfabetizada em casa por suas tias professoras até ingressar na escola. Heleieth Saffioti morou com diversos familiares até concluir seus estudos na tradicional Escola Caetano de Campos, em São Paulo, onde se formou normalista.

            No ano de 1956 ingressou no curso de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP) e se casou com o químico Waldemar Saffioti, de quem herdou o sobrenome. Em decorrência do trabalho de Waldemar, assim que se casou foi morar nos Estados Unidos. Na sua volta ao Brasil, um ano depois, retornou ao curso de Ciências Sociais e se formou no ano de 1960. Dois anos depois de sua formatura, Heleieth Saffioti mudou-se para a cidade de Araraquara, no interior do Estado de São Paulo, para acompanhar Waldemar na formação do curso superior de Química, que mais tarde iria se transformar na Universidade Estadual Paulista. Na mesma cidade também se consolidava a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, lugar em que Heleieth Saffioti atuou por 21 anos, tendo começado a lecionar em 1962, a convite de Luis Pereira. Do seu casamento com Waldemar teve um filho, que veio a óbito precocemente, aos 17 anos de idade..

 

ESCUTEM E VEJAM A LETRA. 

ESTA MÚSICA É DE ONTEM E DE HOJE. 

SERÁ DO AMANHÃ?. 

 Iderval Reginaldo Tenório

Martinho da Vila - Mulheres

Martinho da Vila - Mulheres. 2.7M views · 4 years ago ...more. Moacir Simpatia. 427K. Subscribe. 27K. Share. Save.
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Mulheres
Canção de Martinho da Vila
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Letra
Já tive mulheres de todas as cores

A História da Música A TRISTE PARTIDA/Patativa do Assaré e Luiz Gonzaga

 


Sempre aos domingos: A Triste partida – Patativa do Assaré – Luiz Gonzaga |  AGROemDIA

A TRISTE PARTIDA
Do poeta Patativa do Assaré, o Cearense do Século
e do Imortal Luiz Lua Gonzaga , O Pernambucano do Século

LUIZ GONZAGA O MAIOR ARTISTA BRASILEIRO DE TODOS OS TEMPOS. 

A  História
 da Música 
A TRISTE PARTIDA
Patativa do Assaré e Luiz Gonzaga

Brasil 1964  Ditadura Militar.
 
O  Brasil passava por um  entrave político, saia da Presidência da República  o Juscelino Kubitschek,  entrava   o Jânio Quadros no dia 31 de janeiro 1961, renunciando   no dia 25 de agosto de 1961, governou por sete meses.
 
Em agosto de 1961, assumia interinamente, o Presidente da Câmara,  o Dep. Federal por São Paulo,  Ranieri Mazzilli por 14 dias, uma vez que o vice, João Belchior Marques Goulart(JANGO)  encontrava-se na China a convite do governo chinês, ao chegar assumiu no dia 08 de setembro 1961 e governou até  01 de abril de 1964, quando foi deposto pelo golpe militar, articulado pelo alto comando.   Voltou à presidência,  mais uma vez,   o Deputado Federal Ranieri Mazzilli, do dia 02 de abril de 1964  até o dia 15 de abril, por 13 dias,  quando em definitivo  o General  cearense   Humberto de Alencar  Castelo Branco sentou na cadeira até 15 de  março de 1967.  O país  fervia com os comandos das forças armadas  e o início de uma ditadura militar.

No sertão do Ceará, terra de grandes poetas, ouvia-se uma música muito penosa, porém realista,   cantada por duplas de violeiros, cantadores e repentistas nas feiras livres  das cidades  cearenses. Uma verdadeira ladainha de sofrimento,  arrastada e em  cantilena.  Documentava o desrespeito com o povo, a fome, o êxodo rural e a procura do pão  nas terras do Sul, principalmente São Paulo e Paraná. 

Era eu menino nas terras do Padre Cicero,  quando muitos parentes, romeiros  e trabalhadores, da minha Serra do Araripe e do Cariri,  iam  para o Sul do país nas carrocerias de caminhões Pau de Arara.  O intento era escapar da seca. Famílias inteiras, tais quais  as asas brancas, partiam em busca de dias melhores.

O  poeta Patativa do Assaré, um agricultor auto didata, num dia de muito trabalho e suor,  debaixo do sol causticante da Serra de Santana, no municipio de Assaré ,  documentou na sua mente o que realmente acontecia à  época e   inteligentemente  batizou  de  A TRISTE PARTIDA. 
 
A músca   com os seus meu Deus, meu Deus, os seus  AI, AI,  os meses do ano, setembro, outubro, novembro e dezembro..., o sol, o vento,  a peste, a fome, o natá, seu berço, seu lá, os gemidos, as águas dos óios,  a cigarra,  o carro de boi, o caminhão, o patrão, a boneca, a roseira,  a menina, a seca, o mês de março, as pedras de sá, a barra, o escravo, o sul, as caras estranhas, o norte, a ausência de cidadania, o desprezo, a lama, o paú,  o choro, o milagre, a saudade, o cachorro, meu gato, meu mimi, meu pé de fulô,  a poeira, o meu Ceará, São José, o burro, o cavalo, o galo, a poeira, a saudade, a morte,  Sum Palo, o feliz fazendeiro, a vida e o êxodo rural invadia os sert~çoes nordestino num pedido de socorro.  O poeta  mostrou  o BRASIL esquecido, o BRASIL invisível, o Brasil dos abandonados. 

O Rei do Baião, Luiz Gonzaga,  já meio triste com a sua carreira em 1964,  numa de suas viagens pelo Sertão ouviu, gostou e perguntou quem era o autor.  Os violeiros disseram : 
 
"É de um agricultor de Assaré, um rapaz muito simples que vive da lavoura, o Antonio Gonçalves, o Patativa do Assaré."
 
 O Rei Luiz, já famoso,  tomou o endereço e foi até Assaré. Uma pequena cidade na micro região Sul do Ceará, chegando lá se identificou e o poeta   Patativa emocionou-se e disse quase em lágrimas: 


"Luiz Gonzaga,  o Rei do Baião,  na minha casa? O que se assucede?"

Luiz Disse :
 
"Sim senhor, o Rei do Baião, Luiz Gonzaga na sua casa."

Patativa quase em soluço falou:
 
"E o que quer o senhor, este monstro importante,  na minha casa?"

Luiz disse:
 
"Venho pedir permissão para gravar a música, A Triste Partida,   no meu próximo disco e também botar o meu nome como um dos  autores."

O Patativa deu um pulo da moléstia e falou:
 
"Como é  mesmo seu Luiz? gravar e dizer que a poesia é sua?  qualquê, qualquê seu Luiz, qualquer coisa, isso  jamais, a poesia seu Luiz  é como  um filho, só possui um pai e o pai sou eu,  não vai gravar."

Seu Luiz rebate:
 
"Homem,  esta música eu tenho que gravar,  é a música mais bonita que já vi na minha  vida e eu tenho que gravar, conta a vida dos nossos irmãos nordestinos, conta a minha e a sua história, é um documentário."

Patativa do Assaré completa
 
"Só grava se for assim e se colocar o meu nome. Tem mais seu Luiz, eu não quero nenhum tostão do senhor, sei que vai fazer sucesso."

Este foi o histórico diálogo.

Depois de muitos acertos, gargalhadas e   selado as pazes, o Luiz disse ao  Patativa que a música era muito bonita, porém não poderia gravar seca e sacudida, ao pé da letra, era muita ofensa ao sul,  tinha que modificar algumas coisas, foi quando o Patativa se irritou ainda mais, fechou a cara e ficou turrão.
 
 O Luiz tomou uma cachaça e um café com o poeta,  sentou-se no pátio, fez uma pequena modificação e assim se justificou ao mestre Patativa diplomaticamente. O rei não era rei à toa, o Luiz Gonzaga era um visionário, nasceu para ser o que foi e continuará sendo   a maior expresssão da música brasileira. LUIZ GONZAGA,  O IMORTAL. 
 
Assim o Rei se pronunciou ao gigante  e também imortal Patativa do Assaré, o Antonio Gonçalves da Silva  ( Nascido em Assaré, 5 de março de 1909 — Falecido em  Assaré, 8 de julho de 2002)
 
Assim falou o Luiz Gonzaga

"Patativa me diga uma coisa, quando o mestre  fala na estrofe 10,  no último verso  rimado, só se aplica ao seu Ceará ou se aplica a todos os nordestinos que vão escapar em São Paulo? 
 
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
Adeus meu  CEARÁ
 Se aplica ao Pernambucano, ao Baiano, ao Paraibano, ao Potiguar, ao homem do Piauí, do Maranhão e de outros recantos secos do Brasil? ou é só para o Ceará? Só para o sofredor cearense?"

O Patativa reforça que pode ser para qualquer  nordestino que deixa a sua terra, pode ser usado para todos os  que saem de sua terra natal e vão escapar no Sul.  

Então Luiz , com a sua educação e sabedoria diz ao poeta:
 
"Então Poeta, em vez de gravar como o mestre criou, eu vou fazer a seguinte modificação, veja se o mestre concorda.

O rei modificou o último verso da décima estrofe que dizia:
............................
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
Adeus meu  CEARÁ
e modificou para

.............................. 
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
ADEUS MEU lugar.

Antes do Patativa fumar o segundo cigarro de palha  o Luiz disse:
 
"Tem mais poeta, nos últimos versos da   última estrofe, o poeta diz que o nortista vai ser escravo e vai sofrer no sul.  O poeta não acha que ele sofre mais aqui do que  lá? pelo menos lá   ele come,  trabalha e terá um fio de esperança, enquanto aqui ele sofre, não come e morrerá no abandono. Então ele sofre cá e sofre lá,  mais cá do que lá, então eu queria fazer esta simples modificação  ".   
 
Assim o poeta Patativa escreveu no original:


"  Faz pena o nortista
Tão forte e  tão bravo
Viver como escravo
Nas Terras do Sul."
 
"Eu queria fazer esta pequena modificação, porque se não fizer, eu , você e o retirante, nós todos juntos   estaremos fazendo uma injustiça com o Sul e sendo muito ingrato. Poeta Patativa , a  gratidão é uma das virtudes do homem, principalmente  com os  Estados de São Paulo e do Paraná  que nos acolhem muito bem, acredito que não receberão bem a música e será um fiasco."


O Luiz, o Rei do Baião, apresentou a seguinte modificação. Modificou de "Nas Terras do Sul"   para "no norte e no sul"
 
 
Faz pena o nortista
Tão forte E  tão bravo
Viver como escravo
No norte e no sul

No fim do encontro, choro e abraços,  o Patativa disse ao Rei:
 
"Seu Luiz, pode colocar o seu nome, estas modificações deram vida e alma ao poema e à música, era isso que eu queria falar, uma música de paz e de socorro."
 
 Assim foi selado uma parceria de respeito- A Triste Partida de Patativa do Assaré e Luiz Gonzaga.

A Triste Partida foi imortalizada pelo Rei e muitos outros ícones. 
 
Considerada pelo próprio Luiz Gonzaga do Nascimento  a sua mais importante música sem se esquecer da ASA BRANCA.

Durante muitos anos chovia de direitos autorais alguns trocados na conta do Antonio Gonçalves, o  mestre Patativa do Assaré, que pessoalmente me disse , que  foi o Raimundo Fagner quem mais lhe enviou recursos para a sua subsistência financeira sem  se esquecer  que o Rei Luiz também mandava.


            E assim falou o PATATIVA
 
"o Fagner é um grande homem"
Patativa do Assaré.


Iderval Reginaldo Tenório

Livros do Patativa da Editorta Vozes- 
1- Cante Lá que eu canto cá. 
2-Espinho e Fulô
e outros 
PESQUISEM - PATATIVA DO ASSARÉ.
 

A TRISTE PARTIDA - PATATIVA DO ASSARÉ

www.youtube.com › watch
Um retrato da alma nordestina. Música de Luiz Gonzaga e Poema de Patativa do Assaré.
YouTube · senhorincrivel · 25 de jun. de 2009
 

terça-feira, 26 de novembro de 2024

A TERCEIRA MARGEM DO RIO - João Guimarães Rosa

 

Apenas escute, apenas veja, apenas reflita. Seja apenas humano, apenas.

Um conto que vale talvez bilhões e bilhões de  contos, porém é apenas um conto,  apenas,  porém de um dos  maiores contistas do mundo,   JOÃO GUIMARAES ROSAS. 

Fique em silêncio num aposento privado e mergulhe neste conto, já falei, é apenas um conto, mas que conto. 

Depois conte para os amigos a existencia deste conto.

Enviado a este pecador pela Professora mineira:

Dra. Maria do Carmo Friche Passos, Presidente na Gestão 2015/2016, compartilha a sua trajetória e detalhes sobre o período em que presidiu a Federação Brasileira de Gastroenterologia.

Iderval Reginaldo Tenório

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

ZE DANTAS, O POVO DO NORDESTE, A CAATINGA E LUIZ GONZAGA.

 zé dantas

Luiz Gonzaga do Nascimento, o Rei Luiz.

Um fenômeno da Natureza

O Nordeste, os costumes e os seus paradigmas.
Zé Dantas, Luiz Gonzaga e Samarica Parteira, uma viagem à ancestralidade Nordestina.

 
Quem na Caatinga  nasceu, cresceu e arribou para outras plagas, em busca de melhores dias, conhece muito bem os sertões e os seus mistérios. 

José de Souza Dantas Filho, conhecido como Zé Dantas, nasceu em 1921, na cidade de Carnaíba,  Pernambuco e faleceu em 1962, aos 41 anos de idade no Rio de Janeiro. 

Considerado um dos principais compositores deste país, um dos alavancadores  do Rei Luiz Gonzaga. Maestralmente documentou os costumes dos sertões. 

Registrou o afloramento dos hormônios sexuais na adolescência do ser humano, em Xote das meninas; a lida diária do povo sofrido, o nascimento de nobres e de desconhecidos nordestinos em Samarica parteira. 

Registrou a hierarquia pétrea dos homens rústicos,  o Vale do Pajeú, o Rio Riacho do Navio, o Pajéu e o São Franbcisco, perpetuando os episódios peculiares aos catingueiros do Brasil.

Na região do Pajeú, nos sertões pernambucanos, os seus pais eram considerados ricos. Eram pecuaristas e agricultores, tinham influências políticas, inclusive o seu pai foi prefeito da cidade de Flores, município do qual, o   distrito de Carnaíba se desgarrou,  elevado-se  a cidade em 1953. Nesta época  o Zé estava com 32 anos de idade, residia  no Rio de Janeiro e trabalhava no Hospital do IPASE, onde chegou a ser Vice-Diretor da Maternidade.

No ano de 1936, aos 15 anos de idade, foi morar no Recife para  cursar  Medicina. Era considerado um jovem culto, estudioso do folclore, dos problemas ambientais, humanos, sociais e dos costumes regionais. Tanto que em 1937, aos 16 anos, escrevia sobre os costumes e as coisas do sertão. As suas crônicas eram publicadas nos jornais da escola, em periódicos regionais  e da capital pernambucana.

Em 1947, quando o Rei  Luiz Gonzaga, já famoso, iria realizar diversas apresentações no Recife, o Zé foi até o  hotel onde se hospedava e conseguiu mostrar-lhe algumas de suas composições. 

O visionário sanfoneiro gostou e não deu outra, gravou duas que se transformaram em pérolas do cancioneiro brasileiro: “O forró de Mané Vito” e “Vem morena”, que estrondaram no Sul e depois em todo o território nacional, ali nascia uma profícua parceria com o Rei do Baião.

Em resposta à pérola "Asa Branca", de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, gravada em 1945, considerada o hino do Nordeste, que documentava a seca, o êxodo rural, o sofrimento  e o anonimato dos homens do campo, Zé Dantas apresentou ao Rei Luiz  a “Volta da Asa Branca”, gravada em 1950. 

Em, A Volta da Asa Branca, o Zé documenta o retorno do nordestino aos primeiros lampejos de chuva. 

A música mostra a alegria, o orgulho de ser do Nordeste, a vontade de voltar ao seu torrão e ao seu povo, é uma injeção de valorização e autoestima. Afirma e reafirma, que basta chover para o sertão virar riachos, barreiros, lagoas, açúdes, mar, pomar, fartura, vida, casamentos e novos rebentos. O cinza muda para o verde, os pássaros cantam, os sapos coaxam, os homens renascem e realizam os seus sonhos. É sublime quando tem certeza da fartura e  afirma sem ter medo de errar: 

" E se a safra não atrapaiá meus planos, que quer há senhor vigáro, vou casar no fim do ano"

“A Volta da Asa Branca”, de Zé Dantas, é considerada, tal qual a “Asa Branca”, mais um hino do Nordeste, porém repleto de autoestima, felicidade e fidelidade.  Traz alegria, esperança, prosperidade, expectativas, sonhos e o nascimento de milhares de nordestinos.

Em 1949, aos 28 anos,  o filho de Carnaíba colou grau em Medicina em Recife-Pe; em 1950 migrou para o Rio de Janeiro para fazer residência em Ginecologia e Obstetrícia. 

Na capital do país aproximou-se mais ainda de Luiz Gonzaga e de Humberto Teixeira, a ponto de apresentarem um programa radiofônico, no qual o trio contava e cantava coisas do Nordeste.

Segundo Luiz Gonzaga, o Zé Dantas se instruiu com esmero e virou Doutor da Medicina, porém não despregou os pés da caatinga. Mesmo com todo o polimento educacional, continuou com a autenticidade do Vale do Pajeú. 

O homem era um trovão, um caipira, um capiau, um rupestre, um grande médico repleto de sabedorias e experiências de vida. 

Sabia  escrever, compor, cantar e  contar causos como também tudo de sua especialidade médica: Cuidar da saúde das mulheres e da família brasileira.  

"O homem ainda cheirava a bode apesar de ser médico e morar na capital do país, o homem era autêncitico, trazia dentro de si o cheiro, a voz e os costumes  do Pajeú."  Palavras do Luiz Gonzaga

Zé Dantas era uma enciclopédia nordestina mesclada nas ciências humanas, sociais, psicológicas, antropológica e geopolítica. Era um ser humano do mais alto quilate, era  de extrema sinceridade e leal à suas raízes.

Luiz Gonzaga conta que um dia Zé Dantas apareceu com duas composições musicais. A primeira, uma peça científica que versava sobre a transição feminina da adolescência para a fase adulta; falava dos desejos femininos com o desabrochar dos hormônios sexuais e que a batizou com o nome de “Xote das Meninas”, a segunda, batizada  de “Samarica Parteira”, gravada em 1973, onze anos após a sua  morte, documentava os encantos, os segredos, as práticas e as crenças na realização dos partos nos mais longínquos grotões brasileiros. Frisava os mistérios, os costumes e as diligências aplicadas por mulheres parteiras, verdadeiras lendas, num dos  momentos mais  sublime da vida, lendas estas  que  durante toda a vida, o nordestino   as transformavam na segunda  mãe, tal era a gratidão de vir ao mundo por suas mãos. Milhares eram  as  mães Samaricas   por estes sertões  governandos por coronéis e abandonados pelo Estado: Mãe Manuela, mãe Maria, mãe Totonha, mãe Nenzinha, mãe Francisca, mãe Zefinha, mãe Dodó e outras milhares de mães. Ainda hoje chamo a minha parteira de mãe Manoela, que me trouxe ao mundo, numa noite chuvosa,  em 1954 no topo da Chapada do Araripe.

No “Xote das Meninas” Zé Dantas aplica os conhecimentos fisiológicos e psíquicos; relata as metamorfoses e os desejos na formação de uma mulher, depois de ensopadas pelos hormônios estrógeno e progesterona. 

Em “Samarica parteira”, descreve as diligências, os costumes, as crenças e o papel de cada ser no universo da caatinga, dos coronéis às parteiras, perpassando pelos diversos tipos de ajudantes; dá voz aos animais e ao solo, com destaque aos sons das cancelas( paaaà, paaaaà ao bater no mourão), dos lajedos (teteque-totoque, teteque-totoque,  piririco-ticotico, piririco-ticotico, patataco-pataco ao serem pisados pelos cascos dos animais ) e às vozes dos sapos nas lagoas e riachos ( quage qui cae).

No seu relato registra a geografia, a história, as congratulações e as interações de um povo  com a terra, os animais, as águas, o sexo e as tradições, até mesmo os costumes dos animais: 

" Lula o meu  cavalim é  magro e sua égua é gorda, eu vou na frente" Samarica.

" Pra gente não chegá hoje, já viu cavalo andar na frente de égua, Samarica". Gonzaga

Zé Dantas nada mais fez do que documentar, letra por letra, ponto por ponto, o falar, o viver e o comportar dos verdadeiros catingueiros autóctones do País. Foi sublime na documentação, no recado e na autenticidade de um povo. 

O Zé foi o Zé de corpo e alma. Ressuscitou  os ancestrais cariris, tapuias e tupiniquins. Trouxe à baila o trabalho de parto e as heranças dos indígenas brasileiros, nossos ancestrais. Foi assim que todos os catingueiros nasceram, inclusive o fenomenal médico compositor. 

Zé Dantas mostrou que os sertanejos são frutos das secas e das chuvas; das alegrias e das tristezas; dos ventos e das calmarias; da lua prateada e do sol causticante; das terras e dos céus, são todos componentes de um rebanho de esperanças; são verdadeiras Asas brancas.

São todos Zés, Luízes, Humbertos e sertão, são retirantes sobreviventes,  são gentes nordestinas, geneticamente oriundos  dos cariris, tapuias, pataxós, potiguares, xucurus, tupinambás e coremas, são frutos da terra. 

São gemas brasileiras e brasileiros da gema.

 

Salvador, 25 de novembro de 2024

Iderval Reginaldo Tenório

1-

"Assim fala o pobre do seco nordeste, com medo da peste e da fome feroz" 

Antônio Gonçalves, o PATATIVA DO ASSARÉ  em  A Triste Partida, gravada em 1964. 19 estrofes, cada uma com 8 versos, cantada em  08 minutos e 51 segundos. Segundo o prórpio Luiz, a mais importante múscia de sua trajetória.

 

2-

Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d'água, perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Entonce eu disse: Adeus, Rosinha
Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão

 Humberto Teixeira, em ASA BRANCA, 1947

 

3-

"Já faz três noites
Que pro norte relampeia
A asa branca
Ouvindo o ronco do trovão
Já bateu asas
E voltou pro meu sertão
Ai, ai eu vou me embora
Vou cuidar da plantação

A seca fez eu desertar da minha terra
Mas felizmente Deus agora se alembrou
De mandar chuva
Pra esse sertão sofredor
Sertão das muié séria
Dos homes trabaiador"

José de Souza Dantas, em A VOLTA DA ASA BRANCA, 1950   

4-

"De tardezinha quando eu venho pela estrada
A filharada tá todinha a me esperar
São dez filhinho é muito pouco é quase nada
Mas não tem outros mais bonitos no lugar

Vai boiadeiro, que o dia já vem
Levo o teu gado e vai pensando no teu bem.

E quando eu chego na cancela da morada
Minha Rosinha vem correndo me abraçar
É pequenina é miudinha é quase nada
Mas não tem outra mais bonita no luga"

Klécius Caldas / Armando Cavalcante, em Boiadeiro gravada em 1950


 

  • Sabiá
  • O Xote das Meninas
  • Riacho do Navio
  • Vozes da Seca
  • Forró de Caruaru
  • A Dança da Moda
  • Samarica Parteira
  • O forró de Mané Vito  
  • A Volta da Asa Branca
  • Vem morena e outras do mesmo quilate.

Luiz Gonzaga, Miguel Lima, Humberto Teixeira, José Dantas, Patativa do Assaré, José  Marcolino, Onildo Almeida, João Silva e outros gênios do cancioneiro brasileiro.

 

 Escutem esta pérola sociologica

Luiz Gonzaga - Samarica Parteira - YouTube