sábado, 29 de junho de 2024

A Resposta do Jeca. Catulo da Paixão Cearense para o Ruy Barbosa, Eleição 1909.

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A Resposta do Jeca de Catulo da Paixão Cearense para o imortal Ruy Barbosa.

            HISTÓRIA DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DO BRASIL 1910 

Em 1910 o senador RUY BARBOSA, grande baiano,  lançou a sua candidatura à  Presidência da Republica e foi derrotado pelo  o gaúcho de SÃO GABRIEL,  marechal  HERMES RODRIGUES DA FONSECA, filho de um alagoano, o marechal HERMES ERNESTO DA FONSECA.

 

Em plena campanha,  em 1909,   no púlpito do senado, num discurso inflamado sobre o voto do analfabeto e baseado na Lei Saraiva, de 1881,  da qual foi o relator,  o Senador Ruy Barbosa    falou que o roceiro, o homem do campo  vivia no ócio com a mão debaixo do queixo, era um indolete. O seu voto não tinha o mesmo peso do homem alfabetizado, era um voto de cabresto.

 O voto do capiau era o voto do patrão, do coronel do café com  leite e da cana de açúcar, era o voto do medo e da subserviência.

 

CATULO DA PAIXÃO CEARENSE, seu amigo do peito, vendo o seu candidato numa atitude politicamente incorreta, pois unformava que o candato tem que falar o que o povo quer, tem usar palavtas que agradem ao maior numero de pessoas , não pode ferir nenhum segmento social e vaticinou a derrota do culto senador.     Enviou uma carta ao grande senador, intitulada : "A RESPOSTA DO JECA" .

                                           Salvador, 29 de Ju7nho de 2024

                                               Iderval Reguinaldo Tenório 

 

A Resposta do Jeca de Catulo da Paixão Cearense

 


Seu dotô, venho dos brêdo,
Só pra mode arrespondê
Toda aquela fardunçage
Qui vancê foi inscrevê!

Num teje vancê jurgano
Qui eu sô argum cangussú!
Num sô não, Seu Conseiêro.
Sô norte, sô violêro
e vivo naquelas mata,
como veve um sanhaçu!
Vassucê já mi cunhece:
Eu sô o Jeca Tatu!

Cum tôda essa má piáge,
Vassucê, Seu Senadô,
Nunca, um dia, se alembrô,
Qui, lá naquelas parage,
A gente morre de fome
E de sêde, sin sinhô!

Vassuncê só abre o bico,
Pra cantá, como um cancão,
Quano qué fazê seu ninho,
Nos gáio duma inleição!


Vassuncê é um Senadô,
É um Conseiêro, é um Dotô,
É mais do qui um Imperadô,
É o mais grande cirdadão,
Mais, porém, eu lhi agaranto,
Qui nada disso siría,
Naquelas mata bravia,
Das terra do meu Sertão.



Priguiçôso? Maracêro?
Não sinhô, Seu Conseiêro!

É pruquê vancê nun sabe
O qui seja um boiadêro
Criá cum tanto cuidado,
Cum amô e aligria,
Umas cabeça de gado...
E, dipôis, a impidimia
Carregá tudo, cos diabo,
In mêno de quato dia!...

É pruquê vancê nun sabe
O trabáio disgraçado
Qui um home tem, Seu Dotô,
Pra incoivará um roçado...
E quano o ôro do mío
Vai ficano inbunecado,
Pra gente, intoce, coiê,
O mío morre de sêde,
Pulo só isturricado,
Sequinho, como vancê!

É pruquê vancê nun sabe
O quanto é duro, um pai sofrê,
Veno seu fio crescendo,
Dizeno sempre:
Papai, vem mi insiná o ABC!



Eu trabáio o ano intero,
Somente quando Deus qué!
Eu vivo, no meu roçado,
Mi isfarfando, como um burro,
Pra sustentá oito fio,
Minha mãe, minha muié!



Minha muié tá morrendo,
Só pru farta de mezinha!
E pru farta de um dotô!
Minha fia, qui é bunita,
Bunita, como uma frô,
Seu Dotô, nun sabe lê!

E o Juquinha, qui inda tá
Cherano mêmo a cuêro,
E já puntêia uma viola...
Si entrasse lá, pruma iscola,
Sabia mais que vancê!



Eu sei que sô um animá,
Eu nem sei mêmo o que eu sô.
Mais, porém, eu lhe agaranto
Qui o qui vancê já falô,
E o qui ainda tem de falá,
O qui ainda tem de inscrevê,
Todo, todo o seu sabê,
E toda a sua saranha...
Não vale uma palavrinha,
Daquelas coisa bunita,
Qui Jesuis, numa tardinha,
Disse, inriba da montanha!..

..

A MATERIA COMPLETA , PARA OS INTERESSADOS.

A Resposta do Jeca de Catulo da Paixão Cearense


Seu dotô, venho dos brêdo,
Só pra mode arrespondê
Toda aquela fardunçage
Qui vancê foi inscrevê!

Num teje vancê jurgano
Qui eu sô argum cangussú!
Num sô não, Seu Conseiêro.
Sô norte, sô violêro
e vivo naquelas mata,
como veve um sanhaçu!
Vassucê já mi cunhece:
Eu sô o Jeca Tatu!

Cum tôda essa má piáge,
Vassucê, Seu Senadô,
Nunca, um dia, se alembrô,
Qui, lá naquelas parage,
A gente morre de fome
E de sêde, sin sinhô!

Vassuncê só abre o bico,
Pra cantá, como um cancão,
Quano qué fazê seu ninho,
Nos gáio duma inleição!

Vassuncê, qui sabe tudo,
É capaiz de arrespondê
Quando é que se ouve,
Nos mato,
O canto do zabelê?

Em qui hora é qui o macuco
Se põe-se mais a piá?
E quando é que a jacutinga
Tá mio de se caçá?
Quando o uru, entre as foiage,
Sabe mais asubiá?

Qualé, de todas as arve,
A mais derêita, inpinada?
A qui tem o pau mais duro,
E a casca mais incorada?

Hem?

Vancê nun sabe quá é
A madêra qui é mais boa,
Pra se fazê uma canôa!

Vancê, no meio das tropa,
Dos cavalo, Seu Dotô,
Oiano pros animá,
Sem vê um só se movê,
Num é capáiz de iscuiê
Um cavalo iquipadô!

Eu quiria vê vancê,
No meio de uma burrada,
Somente pur um isturro,
Dizê, em conta ajustada,
Quantos ano, quantas manha,
Quantos fio tem um burro!

Vancê só sabe de lêzes,
Qui si faiz cum as duas mão!
Mais, porém, nun sabe as lêzes
Da Natureza, e qui Deus
Fêiz pra nóis, cum o coração!

Vancê nun sabe cantá,
Mais mió qui um curió,
Gemeno à bêra da istrada!
Vancê nun sabe inscrevê,
Num papé, feito de terra,
Quano a tinta é o do suó,
E quano a pena é uma inxada!

Se vancê nun sabe disso,
Num pode me arrespondê:
Óia aqui, Seu Conseiêro:
Deus nun fêiz as mão do home,
Somente pra ele inscrevê

Vassuncê é um Senadô,
É um Conseiêro, é um Dotô,
É mais do qui um Imperadô,
É o mais grande cirdadão,
Mais, porém, eu lhi agaranto,
Qui nada disso siría,
Naquelas mata bravia,
Das terra do meu Sertão.

A miséria, Seu Dotô,
Tombém a gente consola.
O orgúio é qui mata a gente!
Vancê qué sê persidente?
Eu sô quero ser...
Rocêro e tocadô de viola!

Você tem todo dereito
De ganhá cem mil pru dia!
Pra mió podê falá.
Mais, porém, o qui nun pode
É a inguinorânça insurtá,
A gente, Seu Conseiêro,
Tá cansado de isperá!

Vancê diz que a gente
Véve cum a mão no quêxo,
Assentado, sem fazê causo das coisa
Qui vancê diz no Senado.
E vassuncê tem razão!
Si nóis tudo é anarfabeto,
Cumo é que a gente vai lê
Toda aquela falação?

Priguiçôso? Maracêro?
Não sinhô, Seu Conseiêro!

É pruquê vancê nun sabe
O qui seja um boiadêro
Criá cum tanto cuidado,
Cum amô e aligria,
Umas cabeça de gado...
E, dipôis, a impidimia
Carregá tudo, cos diabo,
In mêno de quato dia!...

É pruquê vancê nun sabe
O trabáio disgraçado
Qui um home tem, Seu Dotô,
Pra incoivará um roçado...
E quano o ôro do mío
Vai ficano inbunecado,
Pra gente, intoce, coiê,
O mío morre de sêde,
Pulo só isturricado,
Sequinho, como vancê!

É pruquê vancê nun sabe
O quanto é duro, um pai sofrê,
Veno seu fio crescendo,
Dizeno sempre:
Papai, vem mi insiná o ABC!

Si eu subesse, meu sinhô,
Inscrevê, lê e contá,
Intonce, sim, eu havéra
Di sabê como assuntá!
Tarvêis vancê nun dexasse
O sertanejo morrendo,
Mais pió qui um animá!

Pru módi a puliticaia,
Vancê qué qui um home saia
Do Sertão, pra vim... votá?...
In Juaquim, Pêdo, ou Francisco,
Quano vem a sê tudo iguá?...

Priguiçôso? Madracêro?
Não!.. Não sinhô, Seu Conseiêro!

Vancê nun sabe di nada!
Vancê nun sabe a corage
Qui é perciso um home tê,
Pra corrê nas vaquejada!
Vossa Incelênça nun sabe
O valô di um sertanejo,
Acerano uma queimada!

Vamicê tem um casarão!
Tem um jardim, tem uma cháca.
Tem um criado de casaca
E ganha, todos os dia,
Quer chova, quer faça só,
Só pra falá... cem mirré!

Eu trabáio o ano intero,
Somente quando Deus qué!
Eu vivo, no meu roçado,
Mi isfarfando, como um burro,
Pra sustentá oito fio,
Minha mãe, minha muié!

Eu drumo inriba de um côro,
Numa casa de sapé!
Vancê tem seu... ortromóvi!
Eu, pra vim no povoado,
Ando dez légua, de pé!

O sór, têve tão ardente,
Lá pras banda do sertão,
Qui, in meno de quinze dia,
Perdi toda a criação!

Na semana retrasada,
O vento tanto ventô,
Qui a paia, qui cobre a choça,
Foi pus mato... avuô!

Minha muié tá morrendo,
Só pru farta de mezinha!
E pru farta de um dotô!
Minha fia, qui é bunita,
Bunita, como uma frô,
Seu Dotô, nun sabe lê!

E o Juquinha, qui inda tá
Cherano mêmo a cuêro,
E já puntêia uma viola...
Si entrasse lá, pruma iscola,
Sabia mais que vancê!

Priguiçôso? He... Madracêro?
Não... Não sinhô, Seu Conseiêro!...

Vancê diga aus cumpanhêro,
Qui um cabra, o Zé das Cabôca,
Anda cantano esses verso,
Qui hoje, lá no Sertão,
Avôa, de boca em boca:

(cantado)

Eu prantei a minha roça,
O tatu tudo cumeu!
Prante roça, quem quisé,
Qui o tatu, hoje, sou eu!

Vassuncê sabe onde tá o buraco
Adonde véve o tatu esfomeado?
Han?... Tá nos paláço da Côrte,
Dessa porção de ricaço,
Qui fêiz aquele palaço,
Cum sangre do disgraçado!

Vancês tem rio de açude,
Tem os dotô da Ingêna,
Qui é pra cuidá da saúde...
E nóis?... O qui tem? Arresponda!

No tempo das inleição,
Qui é o tempo da bandaiêra,
Nós só tem uma cangaia,
Qui é pra levá todas porquêra,
Dos Dotô Puliticáia!...

Sinhô Dotô Conseiêro,
De lêzes, eu nun sei nada!
Meu derêito é minha inxada,
Meu palaço é de sapé!
Quem dá lêzes pra famía
É a minha boa muié!

Vancê qué ser persidente?
Apois, seja!
Apois seja, Meu Patrão!
A nossa terra, o Brasí,
Já tem muita inteligênça,
Muito home de sabença,
Qui só dá pra... ó, ispertaião!
Leva o Diabo, a falação!
Pra sarvá o mundo intêro,
Abasta tê... coração!

Prus home di intiligênça,
Trago comigo essa figa:
Esses home tem cabeça.
Mais, porém, o qui é mais grande
Do que a cabeça... é a barriga!

Seu Conseiêro... um consêio:
Dêxe toda a birbotéca dos livro!
E, se um dia, vancê quisé
Passá ums dia de fome,
De fome e, tarvêiz de sêde,
E drumi lá, numa rêde,
Numa casa de sapê,

Vá passá comigo uns tempo,
Nos mato do meu sertão,
Que eu hei de lhe abri a porta
Da choça... e do coração!

Eu vorto pros matagá...
Mais, porém, oiça premêro:
Vancê pode nos xingá,
Chamá nóis de madraçêro.
Purquê nóis, Seu Conseiêro,
Nun qué sê mais bestaião!
Não!.. Inquanto os home di riba
Dexá nóis tudo mazombo,
E só cuidá dos istombo,
E só tratá di inleição...

Seu Conseiêro hái de vê,
Pitano seu cachimbão,
O Jeca-Tatu se rindo,
Si rindo... cuspindo
Sempre cuspindo,
Co quêxo inriba da mão!

Eu sei que sô um animá,
Eu nem sei mêmo o que eu sô.
Mais, porém, eu lhe agaranto
Qui o qui vancê já falô,
E o qui ainda tem de falá,
O qui ainda tem de inscrevê,
Todo, todo o seu sabê,
E toda a sua saranha...
Não vale uma palavrinha,
Daquelas coisa bunita,
Qui Jesuis, numa tardinha,
Disse, inriba da montanha!..

 

MUSICA DE FUNDO .

LUAR DO SERTÃO  DE JOÃO PERNAMBUCO

João Teixeira Guimarães, mais conhecido como João Pernambuco (Petrolândia 2 de novembro de 1883Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1947),  músico, compositor e violonista brasileiro.

Filho de Teresa Vieira[2][3] e do português Manuel Teixeira Guimarães, com o falecimento do pai em 1891 a mãe casou-se novamente, transferindo-se com a família para o Recife. Começou a tocar viola na infância, por influência dos cantadores e violeiros locais.

 

A comida do dia a dia . Feijão, Arroz, Frutas, carnes, verduras leite...

domingo, 23 de junho de 2024

O BRASIL DOS 20 E DOS 80%- 0, 5% DOS RICOS, 29,5% DOS MÉDIOS E 70% DOS POBRES

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                 Um  viajada  nos diversos  Brasis. 

    Um país de 500 anos e  que ainda não é nação

Brasil, um país  idealizado para ser explorado e vilipendiado, um país que nasceu com o intuito de não crescer, de não ter alma e para que a suas riquezas fossem exauridas pelo resto do mundo, notadamente os Europeus que aqui aportaram e os apadrianhados do rei de D.João VI que, por intermédio  das capitanias hereditárias foram presenteados com milhares de glebas de terra. 

Um país planejado para não ter  coesão entre os seus habitantes por séculos, um país eivado de todos os tipos de preconceitos, um país em que ser índio, negro ou deles descendentes são motivos mais do que suficente para circular à margem da civilização, este é o país do hoje, fruto de todas as atrocidades sociais do país do ontem. O país dos 20% megulhados na riqueza e dos 80% sem vida digna, saúde, educação, segurança e respeito.

É o único país do mundo ligado ao mercantilismo leonino e ao extrativismo secular, um aglomerado de pessoas  que tem o seu nome oriundo de uma mercadoria,   o pau Brasil, que significa  extrativismo vegetal, matança das florestas, dos gentílicos, para ocupar as suas terras, e para produzir sob a chibata, no lombo dos escravos, para abastecer os  usurpadores civilizados.

A  exploração foi tão severa,  que ainda,  em pleno século XXI,  não se firmou como uma nação, continua sendo propriedade das elites endógenas e exógenas, tanto da direita como  da esquerda. Elite da esquerda,  que na verdade também é da direita, e  tem o  capitalismo a seu beneficio  e a benefício dos seus. São   amontoados de homens que propagam e encenam   mentirosas  ações  sociais para enganar e ludibriar  o seu sofrido povo, os  seus governados   trabalhadores sem voz. Povo este   que caminha mansamente sem coesão e a  passos lentos para  constituir  uma nação, imagine quando será uma democracia,  se nem raízes este povo conseguiu  possuir desde 1500.

A esquerda caviar brasileira a se fundir com a direita capitalista, ano após ano, juntas,  minam os cofres públicos em seus benefícios,  têm nas tetas da viúva os seus infindáveis, nababescos e vergonhosos  sustentos, como também as rédias do poder. Os antes pobres pseudoesquerdistas, hoje fazem parte das elites ricas e políticas, fruto de ações contra o erário público, mostrando que ao chegar nas elites ou nos seus quintais, passam a se comportar como siameses. Sobra dinheiro sujo nas suas contas e nos seus buchos, e faltam pão, escola, saúde, segurança e respeito para os outros  80% que ficam abaixo do ápice da pirâmide social e que são presenteados com circo e circo.

Os congeladores e as dispensas dos dirigentes, quase todos pseudo socialistas, estão abarrotadas de comestíveis do mais alto valor, enquanto falta até a farinha  nos lares dos trabalhadores, tudo pago pelo suor e pelo sangue  do povo.

É vergonhoso. O pior é que   ainda possuem apoiadores e   idólatras, que funcionam como combustíveis  a alimentar as desfaçatez cometidas pelos  proprietários e donos da pseudo nação. 

Iderval Reginaldo Tenório

domingo, 16 de junho de 2024

O MENINO CORAJOSO E O ESPINHO NO DEDÃO DO PÉ

 

 


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Menino Dos Desenhos Animados De Pé Em Seu Ombro Segurando Os Dois Dedos  Para Cima Vetor,acima,garoto Segurando,segurando Desenhos Animados PNG  Imagens Gratuitas Para Download - Lovepik

Dor nos dedos dos pés - Principais causas e como tratar

Adentrou à sala claudicando, isto é, mancando. O dedão do pé direito  não lhe dava apoio no andar. Ao pisar com este pé, a face logo demonstrava prenúncio e a concretização de uma indesejável dor.

O paciente era uma criança de 03 anos e meio  de idade, bem vestida, cabelos impecavelmente cortados e em uso de uma alpercata azul, de puro couro. Sentado no colo da mãe, não se acanhou em contar a sua história, apesar da pouca idade expressava-se muito bem. Firme e consciente   declarou:

"Na praia,  pisei num capinzal e ao chegar em casa, o dedo  já estava doendo, não posso andar direito".

Falei para o menino que os pés são órgãos importantes, tudo nele é fundamental para se locomover, principalmente o calcanhar e os cinco dedos, notadamente o dedão,  eles são chamados de artelhos ou pododáctilos.  O primeiro dedo do pé, o dedão, é   o único que tem nome próprio  e é chamado de hálux, os demais recebem um estranho nome: segundo, terceiro, quarto e quinto pododáctilo ou artelho.

Coloquei o corajoso menino sentado e depois deitado na maca, parecia que estava num parque. Encontrava-se  alegre e desembaraçado, porém mancando, falei que ia olhar o machucado. 

Deitado e sem a alpercata azul  apontou para o dedo que estava doendo. Falei que não iria aplicar injeção e nem iria apertá-lo, apenas iria examinar, olhar e  observar, se fosse preciso iria falar com o seu dedão e pedir para o mesmo dormir um pouco, o menino concordou. Aqui no consultório tenho amigos de todas as idades, o médico não pode e  nem deve  mentir ou enrolar os seus amigos, este relacionamento é sagrado, é o alicerce para firmar confiança e respeito.

Ao examinar encontrei um dedo edemaciado, isto é, inchado.  No peito do dedo, que se encontrava quente, avistei  uma  pequena  bolha amarela esverdeada, halo   vermelho e um ponto preto no centro, como se fosse um olho mirando este mortal. Pisquei os olhos para o dedo e falei para a criança que já sabia qual era o problema, apenas precisávamos combinar com o Hálux o que deveria ser feito, o menino aceitou o convite.

Entrei em ação,  solicitei que me ajudasse a pedir ao seu dedo que  dormisse  por um pequeno tempo e quando acordasse estaria bom.

 Juntos, Eu e o corajoso menino, falamos com o dedo hálux e este  aceitou o nosso pedido, porém com uma ressalva: “Não quero sentir dor”.  Dei um banho com água e sabão de côco, depois usei álcool a 70% e um antisséptico. Peguei uma pinça pequena e toquei no dedo, porém num lugar distante do machucado, o menino de imediato falou:

"Doutor Iderval, ele já está domindo, não está doendo"

Sem anestésico e sem seringa, peguei uma fina agulha, daquelas bem fininha e pequena.  Ele de olhos abertos e sem medo falou:

"Doutor, ele dormiu"

Com a ponta fina da agulha, isto é, com um  bisel afiado, rompi a pequena bolha, a pressão interna liberou não mais do que uma gota de secreção esverdeada, chamada de pus, com ela a ponta de um pequeno espinho. Retirei, coloquei numa gaze e presenteei a criança. Ele olhou e deu um sorriso ao avistar  a pontinha  preta  do espinho que estava no seu dedo. Lavei delicadamente mais uma vez, enxuguei e coloquei uma bandagem sem comprimir o dedão chamado de Hálux.

O menino sentou numa cadeira, a mãe na outra e a tia ficou a observar. Pedi para o mesmo pisar, o mesmo levantou, pisou firme no chão, calçou a bela alpercata e disse alegremente:

"Doutor Iderval, o meu dedão,   o Hálux, ainda está dormindo".

Foi prescrito um antibiótico por três ou quatro dias,  como a criança estava em dia com a  vacina contra o tétano, foi dado a alta para casa.

Cinco dias depois o menino voltou alegre, saltitante e  pisando firme. De imediato falou:

"Doutor o meu dedão está acordado, mas não está doendo, obrigado".

Esta criança, mesmo com os seus sete anos de idade,  é um exímio desenhista. Já é um artista promissor e gosta muito de estudar. Mostrou no ato operatório que é um cidadão centrado, paciente, seguro e predestinado ao sucesso nos atos sociais e profissionais da vida.

Vou deixar aqui o seu nome: Coragem, resiliência, exemplo e segurança, resumindo: UM SER HUMANO QUE ORGULHARÁ ESTE PAÍS.

SALVADOR 18 DE MARÇO DE 2024

Iderval Reginaldo Tenório

Asa Branca/A Volta Da Asa Branca (Ao Vivo)

Provided to YouTube by RCA Records Label Asa Branca/A Volta Da Asa Branca (Ao Vivo) · Luiz Gonzaga Luiz Gonzaga Volta Pra Curtir ℗ 1972 SONY ...
YouTube · Luiz Gonzaga - Topic · 8 de nov. de 2014