UM PRATO PARA O ANO NOVO.
Esqueça as comidas sofisticadas e coma um bom baião de dois, faça a sua escolha.
Zezinho é um catingueiro do nordeste, muitas vezes catinguento.
A civilização e os bancos escolares não
conseguiram podar, polir e nem boliá-lo, continua semi analfabeto e meio rústico.
É TOTALMENTE NORDESTINO MODELO 1930, NASCIDO NA DÉCADA DE 50.
BAIÃO DE DOIS - UM PRATO DO CEARÁ
Zezinho informa que tem lido e escutado um cento de citações sobre o nordeste brasileiro. Sente que na sua grande maioria são relatos teóricos, vividos no papel, nos livros, em anedotas e muitas vezes preconceituosos.
Resolveu criar uma página no blog do Dr Iderval Reginaldo Tenório, para mostrar ao Brasil o verdadeiro Nordeste. O Nordeste forte, resiliente e lutador, o nordeste vivo e vivido por um nordestino nato.
Inicará os seus relatos com o Baião de Dois, uma comida forjada pelo homem do campo que valoriza o básico da alimentação campesina, o feijão com arroz, este ultimo era chamado de ARROZ DO MARANHÃO, amarelado, poroso, gordinho, pequeno e ainda com uma fina camada de pó, um arroz rústico, o puro. Muitas vezes, deste arroz tirava-se o caldo de arroz e a mãe perguntava: quem quer caldo de arroz?". Este tal de ARROZ AGULHA, branquinho, polido, parbolizado ou malekizado, era coisa de decentes, vinha do Sul, era coisa de estrangeiros.
O menino relata, que escuta que o baião de dois é isso, aquilo e aquilo outro, muitas vezes estão sendo enganados, pois o
baião de dois não é nada disso que se tem lido por
aí. Este que se propaga é o baião de dois sofisticado, da grã-finagem,
é o baião inventado, é o baião de restaurante, é o baião turístico, o baião de dois dos letrados.
Falarei algo sobre o verdadeiro baião de dois, o baião raiz, aquele que encontra-se ao alcance do sertanejo.
O Baião de dois é um prato típico do povo cearense, teve a sua origem na Paraíba, porém o Ceará encampou como um dos seus símbolos, tem mais de um século de vida.
O Baião de dois já está dizendo, é constituído de dois cereais, o arroz e o feijão, geralmente é servido à noite na casa do nordestino.
Na sua
essência, foi criado para aproveitar o
arroz e o feijão que sobravam do almoço, uma vez que refrigerador, para
conservar estes ingredientes, não existia na casa do catingueiro, daí o nome de
Baião de dois. Na mesma panela do feijão, que é a maior, coloca-se mais
água e quando estiver fervendo mistura o arroz que sobrou ou ainda cru. Zezinho frisa muito bem e relata que chuveiro, cama, garfo, arroz, pão e macarrão no seu arrebol eram coisas de poucos grã-finos, como se falava: COISAS DE DOUTOR.
Nas casas com melhores posses, acrescenta-se um queijo coalho, um tempero
verde, uma linguiça e por aí vai, até terminar neste baião turístico, porém o verdadeiro
é aquele servido nas casa mais simples. Nós aqui da caatinga
chamamos estes ingredientes sofisticados de MUSTURA.
Quando a mãe colocava o Baião de dois, o legítimo, o sujeito perguntava: "MAMÃE , CADÊ A MUSTURA?" A mãe pegava uma frigideira, gritava um ovo ou fritava um naco de carne, contado matematicamente e colocava por cima do Baião de dois, estava pronto o mais simples e gostoso jantar do Ceará.
O cearense é o povo que mais come baião de dois no Brasil, tanto que o Rei Luiz Gonzaga cantou em verso e prosa. Agora quem mais sedimentou este costume foi o João Silva, um pernambucano de Arco Verde, o maior compositor do Luiz Gonzaga, autor de Pagode Russo, Tá Danado de Bom, Viva meu Padim, Nem se Despediu de mim e por aí afora, quando numa de suas músicas ele falou e fala :
” Quer matar um cearense invenenado, bote um pouco de veneno num prato de baião de dois pra você vê um caboco morto”. João Silva
Este prato foi muito saboreado por este mortal em Bodocó, Exu, Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e na minha Serra do Araripe. Este outro baião de dois sofisticado e turístico, também comi e como muito nas casas dos grã finos da região, também é muito gostoso, continua sendo Baião de dois em alusão aos dois principais ingredientes: O FEIJÃO E O ARROZ, desta vez especialmente cozido para este fim, eles deixaram de ser sobras para ser o prato principal.
Agora, Baião de dois o legítimo, é aquele que se comia e a ainda se come no jantar por este sertão nordestino de meu Deus, no máximo um ovo estrelado ou um taco de carne assada, que hoje chama-se de carne do sol.
Zezinho deu o meu recado e espera críticas.
Iderval Reginaldo Tenório
Luiz Gonzaga - Baião de Dois - YouTube
Nem se despediu de mim - Luiz Gonzaga - YouTube