segunda-feira, 17 de julho de 2023

ZEZINHO, O PAI AUSENTE E OS NOVOS PARADIGMAS .

 

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 ZEZINHO E O PAI AUSENTE.


Conta Zezinho, que quando criança,  a sua escola organizou uma palestra para explicar   o que era um pai presente. Muitas foram as definições e algumas mexeram com  a cabeça das crianças. A do Zezinho ficou  marcada por uma  das definições, de um palestrante, que   o levou a concluir  que o  seu  pai, o seu maior ídolo, era um pai ausente. A criança ficou entediada depois da palestra. 

Disse a psicóloga Sabildes Alarmina: 

 "pai presente é aquele que anda de bicicleta, joga bola, brinca todos os dias com os filhos, viaja  com a família, presenteia os filhos nos seus aniversários e no natal. Para socializá-los,  leva-os aos  restaurantes, cinema, shopping e futebol.    Para que os filhos não fiquem deprimidos, presenciando os colegas portarem objetos  modernos, compra quase todas as novidades do entretenimento. Este é o verdadeiro pai presente, não tendo este perfil, é um pai ausente"

O menino contou esta história à sua mãe e esta de imediato contou-lhe  outra versão, uma vez que o seu pai vivia da lavoura e sempre estava no trabalho. 

O menino estranhou a definição da psicóloga e matutou que o seu  pai, o seu herói,  era  um ausente, porém atentamente escutou a versão de sua  mãe.

A matriarca, sem pestanejar,  falou que o  pai citado pela psicóloga é aquele que teve a chance de estudar,  possui  emprego com carga de trabalho padronizada, tem direitos trabalhistas, férias, licenças remuneradas, feriados e fins de semana. Muitos    exercem cargos importantes na sociedade, postos conquistados por concursos, méritos ou nomeados por  políticos, outros  são   empresários ou já nasceram ricos. Estes pais  não dependem  das chuvas, não trabalham com a terra, com os animais ou a lavoura e quando envelhecem têm garantido a aposentadoria. Chova ou faça sol, receberão os seus salários, salvo numa catástrofe financeira. 

Outros,  como o seu pai, têm uma vida diferente.  Acordam cedo, trabalham  diáriamente  debaixo do sol causticante, chuvas, poeira e outros riscos  para propiciar melhores dias aos filhos.  Labutam de segunda a sábado, no domingo vão para a cidade vender a produção, comprar os utensilhos  e ficar com a família por um ou dois dias. O domingo  é mais um dia de trabalho. Muitos não estudaram, não entendem de futebol, de piscina, circos ou parques, nunca foram ao cinema, teatro ou a um estádio de futebol, todos  os  dias são dias de trabalho, não têm nem o direto de adoecer.

Diferente do pai ausente,  o seu pai está presente em toda a sua vida.  O que você come e bebe, as  vestes, os calçados,  a escola,  livros, cadernos, lápis e o sabonete   têm a   presença do seu pai. O seu pai está presente   no que  falei e noutras propriedades,  como   a honestidade, ser um  trabalhador incansável, guardar  fidelidade para com a família, ser responsável,  ético, justo, respeitador,   solidário com os familiares, com os amigos e com a sua comunidade.  

O seu pai é um dos exemplos de um pai  presente.   Vive da terra e enfrenta todas as dificuldades.  Tudo na lavoura  depende da sua presença e são muitas as dificuldades que aparecem. Quando chove tem fartura, quando não chove ou  chove demais as coisas ficam ruins. A lida  na lavoura tem muitas incertezas, nada é garantido, o que se ganha em dez anos, a seca come  em apenas um.  A vida é dura, o trabalho e a responsabilidade falam mais alto. Os brinquedos do seu pai são o cabo da enxada, do enxadeco, da foice e a lida com os animais. 

Muitos pais, Zezinho, mesmo com diplomas, profissões defininidas e  morando nas cidades têm que seguir  esta  mesma trajetória, trabalham todos os dias, inclusive aos domingos.  Muitos são funcionários de grandes fábricas, farmácias, supermercados,  jornais,   rádios,   hospitais e do estado. Outros são   vendedores ambulantes, motoristas de coletivos, ambulâncias ou taxistas, policiais, bombeiros,  pequenos comerciantes   e dedicam a vida, quase que obrigatoriamente, ao trabalho. Muitas profissões exigem que sejam assim. Mesmo que quisessem, jamais seriam iguais a este pai arquitetado pela psicóloga.  Existem várias  maneiras de definir um pai presente.  É  um assunto complexo e não é fácil definí-lo.

O Zezinho então resolveu divulgar o fato para os seus colegas e assim se pronunciou: 

"o meu Pai nunca  se ausentou da minha vida e está presente em todos os meus momentos.

Minha mãe afirmou que ele nunca foi um pai ausente. Quando não está em casa, encontra-se  na labuta em busca do pão, da segurança, da saúde e da educação de sua prole e de todos os agregados que dependem do seu suor. 

Diz  minha mamãe, que em tudo o meu pai está presente.  Está presente na mensalidade da escola, nos livros,  cadernos,  lápis,  borrachas,  alimentos, roupas e nos calçados.  Está presente  nas redes, lençóis,  sabonetes, pasta de dentes e em  diversas contas que aparecem.  Enfim,  tudo que  consumimos tem o suor do meu pai.

Muitas vezes, minha mãe pega uma colher,  raspa a pele do seu rosto, mostra aos seus filhos o suor que vem na colher, e complementa que aquele suor  é fruto do seu trabalho, depois afirma  que em nossa casa, tudo que  nela  existe, é fruto do suor do  meu  Papai. 

Lembro-me de um dia muito especial.  Estava eu saboreando um gostoso doce de leite, e no final da última colherada olhei para a  minha mãe e falei : 

” Mamãe,  este doce está estranho, a senhora  acredita que no final desta última colherada percebi um gostinho  de sal? tenho certeza que foi colocado sal  neste  delicioso doce”

Minha mãe, de imediato falou.:

“meu filho, nunca esqueça que este doce foi feito e temperado com o suor do seu pai, está aí este gostinho de sal no final da última colherada. Seu pai está presente em tudo. Tenha certeza que este sal não é um sal   qualquer,  é um sal  oriundo do  suor de seu Pai

Só depois de adulto consegui decifrar as suas  palavras. Minha mãe ensinou muito, a muitos, era uma filósofa realista.

Todos os dias  são dias dos pais.

Abraços para todos

 Zezinho

Iderval Reginaldo Tenório

Acordo às Quatro - YouTube

Composição: Marcondes Costa E LUIZ GONZAGA

Música Acordo às Quatro com Luiz Gonzaga. ... Luiz Gonzaga - Homenagem a seu primo vaqueiro. zitosouza Elias de Souza.
YouTube · Pedro · 23 de mar. de 2012

 



 

 

 

sábado, 15 de julho de 2023

ZÉ DANTAS, LUIZ GONZAGA E SAMARICA PARTEIRA

 

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Zé Dantas, Luiz Gonzaga e Samarica Parteira

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Zé Dantas, Luiz Gonzaga e Samarica Parteira

 

Blog do Mendes & Mendes: A VISTA ESQUERDA DE LAMPIÃO

O Nordeste, os costumes e os seus paradigmas.

 
Zé Dantas, Luiz Gonzaga e Samarica Parteira, uma viagem à ancestralidade Nordestina.

 
Quem nas Caatingas do Nordeste nasceu, cresceu, e arribou para outras plagas em busca de melhores dias, conhece muito bem os seus sertões e os seus mistérios. 

José de Souza Dantas Filho, conhecido como Zé Dantas, nasceu em 1921, na cidade de Carnaíba, estado de Pernambuco. É considerado um dos principais compositores deste país, um dos alavancadores do sucesso do Rei Luiz Gonzaga, e soube muito bem documentar os costumes do sertão. Registrou o afloramento dos hormônios sexuais na adolescência do ser humano; a lida diária de um povo sofrido; e o nascimento de nobres e de desconhecidos nordestinos. Registrou a hierarquia pétrea dos homens rústicos e diversos eventos do Vale do Pajeú e do Vale do rio Riacho do Navio, episódios peculiares a todos os povos catingueiros do Brasil.

Na região do Pajeú, nos sertões pernambucanos, os seus pais eram considerados ricos. Eram pecuaristas e agricultores, tinham importancia política na região, inclusive o seu pai foi prefeito da cidade de Flores, município do qual se desgarrou Carnaíba, o seu distrito natal, que foi elevado a cidade em 1953, quando o mestre estava com 32 anos de idade, já residindo no Rio de Janeiro.

No ano de 1936 foi morar no Recife, para estudar e cursar a Medicina. Zé Dantas era considerado um jovem culto; estudioso do folclore, problemas ambientais, humanos, sociais e dos costumes regionais. Tanto que, já em 1937, aos 16 anos, escrevia sobre os costumes e as coisas do sertão. Naquela época suas crônicas eram publicadas nos jornais da escola e em periódicos regionais, até mesmo da capital pernambucana.

Em 1947, quando o Rei do Baião, já famoso, iria realizar diversas apresentações no Recife, o Zé foi até o hotel onde se hospedava o rei Luiz e conseguiu mostrar-lhe algumas de suas composições. O visionário sanfoneiro gostou; e não deu outra, gravou duas que se transformaram em pérolas do cancioneiro brasileiro: “O forró de Mané Vito” e “Vem morena”, que estrondaram no Sul e depois em todo o território nacional. Ali, nascia mais uma grande parceria com o Rei Do Baião.

Em resposta à pérola "Asa Branca", de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, gravada em 1945, considerada o hino do Nordeste, e que documentava a seca, o êxodo rural, o sofrimento de um povo e o anonimato dos homens do campo, Zé Dantas apresentou ao Rei Luiz Gonzaga a “Volta da Asa Branca”, gravada em 1950. Nesta canção o autor documenta o retorno do nordestino aos primeiros lampejos de chuva. A música mostra a alegria, o orgulho de ser do Nordeste, a vontade de voltar para casa, seu torrão e seu povo. É uma injeção de valorização e autoestima. Afirma, e reafirma, que basta chover para o sertão virar riachos, barreiros, lagoas, açudes, mar, pomar, fartura, vida, casamentos e novos rebentos. O cinza muda para o verde; os pássaros cantam, os sapos coaxam; os homens renascem e realizam os seus sonhos. 

“A Volta da Asa Branca”, de Zé Dantas, é considerada, tal qual a “Asa Branca”, mais um hino do Nordeste, porém repleto de autoestima e fidelidade à terra, pois traz alegria, esperança, prosperidade, expectativas, sonhos e o nascimento de milhares de nordestinos.

Em 1949, o filho de Carnaíba colou grau em Medicina; em 1950 migrou para o Rio de Janeiro para fazer residência em Ginecologia e Obstetrícia. No Rio de Janeiro aproximou-se mais ainda de Luiz Gonzaga e de Humberto Teixeira, a ponto de apresentarem um programa radiofônico durante o qual o trio contava e cantava coisas do Nordeste.

Segundo Luiz Gonzaga, o Zé Dantas se instruiu com esmero e virou Doutor da Medicina, porém não despregou os pés da caatinga. Mesmo com todo o polimento educacional, continuou com a autenticidade do Vale do Pajeú. O homem era um trovão, um caipira, um capiau, um rupestre travestido de um grande médico por mérito, sabedoria e experiência de vida. Sabia tanto escrever, compor, contar causos, como tudo de sua especialidade médica de cuidar da saúde da mulher.

Zé Dantas era uma enciclopédia nordestina encravada nas ciências humanas, sociais, psicológicas, antropológica e geopolítica. Era um ser humano do mais alto quilate, de extrema sinceridade e leal à suas raízes.

Luiz Gonzaga conta que um dia Zé Dantas apareceu com duas composições musicais. A primeira, uma peça científica que versava sobre a transição feminina da adolescência para a fase adulta; falava dos desejos femininos com o desabrochar dos hormônios sexuais e que a batizou com o nome de “Xote das Meninas”. A segunda, batizada com o nome de “Samarica Parteira”, gravada em 1973, onze anos após a sua  morte, documentava os encantos, os segredos, as práticas e as crenças na realização de partos nos mais longínquos grotões brasileiros. Frisava os mistérios, os costumes e as diligências aplicadas por mulheres parteiras num dos  momentos mais  sublime da vida, lendas estas  que  durante toda a vida, o nordestino  também  a chama de mãe. Milhares eram  as  mães Samaricas   por estes sertões abandonados e governandos por coronéis.

No “Xote das Meninas” Zé Dantas aplica os conhecimentos fisiológicos e psíquicos; relata as metamorfoses e os desejos na formação de uma mulher depois de ensopadas pelos hormônios femininos, estrógenos e progesterona. Em “Samarica parteira” ele descreve as diligências, os costumes, as crenças e o papel de cada ser no universo da caatinga, desde coronéis a parteiras, perpassando pelos diversos tipos de ajudantes; dá voz a animais e ao solo, com destaque aos sons das cancelas, dos lajedos e à voz dos sapos. No seu relato registra a geografia, a história, as congratulações e as interações de um povo para com a terra, os animais, as águas, o sexo e as tradições.

Zé Dantas nada mais fez do que documentar, letra por letra, ponto por ponto, o falar, o viver e o comportar dos verdadeiros autóctones de todos os catingueiros do País. O carnaibano, ou o carnaibense, José Dantas foi sublime na documentação, no recado e na autenticidade de um povo. O Zé foi o Zé de corpo e alma. Ressuscitou, mentalmente, os ancestrais cariris, tapuias e tupiniquins. Trouxe à baila o trabalho de parto e as heranças dos indígenas brasileiros, nossos ancestrais. Foi assim que todos os catingueiros nasceram, inclusive o fenomenal José Dantas de Souza Filho. 

Zé Dantas mostrou que somos frutos das secas e das chuvas; das alegrias e das tristezas; dos ventos e das calmarias; da lua prateada e do sol causticante; das terras e dos céus. Somos todos componentes de um rebanho de esperanças; somos verdadeiras asas brancas.

 Somos Zé, Luiz, Humberto e sertão. Somos sobreviventes e gentes nordestinas. Somos cariris, tapuias, pataxós, potiguares, xucurus, tupinambás e coremas, somos gente. 

Somos brasileiros da gema.

Salvador, 15 de Julho de 2023

Iderval Reginaldo Tenório

 Escutem esta pérola sociologica

Luiz Gonzaga - Samarica Parteira - YouTube

 

José de Souza Dantas Filho-  Nascido em Carnaiba, Pe 1921 - Falecido no Rio de Janeiro 1962, com 41 anos de idade

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