Venezuela elimina seis zeros de sua moeda pela hiperinflação
Publicado em: 01/10/2021 09:33
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Foto: Yuri CORTEZ / AFP |
A
cotação oficial do dólar passou de 4,18 milhões de bolívares na
quinta-feira (30) para 4,18 nesta sexta-feira (1). Recuperação milagrosa
da moeda da Venezuela? Não... O país caribenho, atolado na
hiperinflação, removeu seis zeros para facilitar as operações.
"Tudo
expresso na moeda nacional se dividirá em um milhão", comunicou o Banco
Central da Venezuela (BCV) ao anunciar a terceira reconversão realizada
neste país em crise desde 2008. Em treze anos, 14 zeros foram
eliminados do bolívar.
Acompanhando a medida,
que entrou em vigor nesta sexta-feira, entra em circulação um nova linha
monetária (conjunto de notas e moedas), com uma moeda de um bolívar e
notas de 5, 10, 20, 50 e 100.
A denominação máxima será equivalente a cerca de 24 dólares de acordo com as taxas do BCV.
A
maior nota da velha família, de um milhão, mal representa 25 centavos
de dólar e não compra nem uma bala. Ela permanecerá em circulação com as
novas por alguns meses.
A situação reflete "a
pouca capacidade que os atores econômicos da Venezuela têm para
controlar a hiperinflação", um fenômeno que "empobreceu muito a
população", comentou à AFP Luis Arturo Bárcenas, economista da empresa
Ecoanalítica.
Três em cada quatro famílias
venezuelanas estão na extrema pobreza, com renda insuficiente para
cobrir suas necessidades alimentares, de acordo com os resultados da
Pesquisa Nacional de Condições de Vida, coordenada por uma das
principais universidades do país, divulgada na quarta-feira.
A primeira reforma do bolívar foi lançada pelo ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013), que retirou três zeros da moeda.
Seu
sucessor, Nicolás Maduro, empreendeu uma nova em 2018, com cinco zeros a
menos, e agora tira mais seis zeros da equação apenas três anos depois.
A
inflação, projetada em 1.600% em 2021 pela Ecoanalítica, tem sido
destrutiva, e combinada com desvalorizações gigantescas e depreciações
constantes, 73,34% só este ano, esvaziou o bolívar de valor.
Tudo
isso levou a uma dolarização informal, na medida em que os venezuelanos
tentam proteger sua renda com a moeda estrangeira, que Maduro chamou de
"válvula de escape" em um país que está em recessão há oito anos.
Embora
o líder socialista não tenha suspendido formalmente o controle cambial
imposto em 2003, ele foi forçado a flexibilizá-lo devido ao colapso da
receita do país causado pela queda da indústria do petróleo e às
restrições de financiamento devido às sanções do Estados Unidos para
tentar retirá-lo do poder.
Os bancos locais,
apesar das limitações, têm permissão para movimentar dólares após uma
proibição de 15 anos. Dois terços das transações na Venezuela são feitas
em dólares, segundo a Ecoanalítica.
Nervosismo
Nas
24 horas anteriores à reconversão, o dólar disparou no mercado paralelo
que surgiu em resposta aos controles cambiais, embora tenha permanecido
estável nos preços oficiais do BCV.
As taxas de câmbio paralelas dispararam de 4,3 milhões de bolívares por dólar para mais de 5 milhões.
Com
medo de problemas operacionais devido à reconversão, muitos comércios
em Caracas limitaram as transações em bolívares, a grande maioria com
cartões de débito ou transferências bancárias devido à falta de
dinheiro.
O governo de Maduro pediu calma.
"(O
bolívar) não vai valer mais, não vai valer menos, é apenas uma escala
monetária que estamos aplicando suprimindo seis zeros para facilitar as
transações", disse a vice-presidente Delcy Rodríguez na segunda-feira.
O
presidente Nicolás Maduro fala em "bolívar digital", pedindo a
"digitalização" total dos pagamentos. Essa ideia é uma rendição
antecipada, afirma Luis Arturo Bárcenas, da Ecoanalítica.
"Certamente
não haverá caixa suficiente (...). Está reconhecendo que não tem
capacidade de emitir todas as notas do bolívar de que precisa", explica o
economista.
As reconversões eram comuns na
América Latina, especialmente em tempos de hiperinflação em países como
Argentina, Brasil e Peru nas décadas de 1980 e 1990.